JAN/FEV 2022 - Edição 239 Ano 35 - VER EDIÇÃO COMPLETA

Censo Abrasce: shoppings registram R$ 159,2 bilhões de faturamento em 2021

9 de fevereiro de 2022 | por Solange Bassaneze | Fotos: Divulgação

O aumento de 23,6% em comparação ao ano anterior aponta para a retomada do setor. O estudo qualitativo da associação foi apresentado no início de fevereiro e traz outros dados importantes, veja abaixo

O setor de shopping centers registrou retomada gradual ao longo do ano passado. O faturamento de vendas em 2021 chegou a R$ 159,2 bilhões, o que representa um aumento nominal de 23,6% em relação a 2020, quando houve uma redução no volume de vendas em 33,2%. Os dados são do Censo Brasileiro de Shopping Centers, um levantamento minucioso e referência para o mercado, realizado pela Abrasce.

O avanço da vacinação foi primordial para que os shoppings pudessem retomar o funcionamento em horário normal e de forma plena, respeitando os protocolos sanitários implementados ainda no início da crise sanitária. Com isso, os consumidores voltaram, impactando positivamente as vendas. Foram 397 milhões de visitantes por mês, um aumento de 16,4% comparado ao ano anterior. Nos momentos mais críticos da pandemia, observou-se ainda uma mudança do comportamento do cliente, que fez compras mais programadas. Com isso, o valor do ticket médio subiu de R$ 118,57 (2020) para R$ 137,19 (2021). 

Desempenho do setor em 2021 - Censo Abrasce
Glauco Humai, presidente da Abrasce
“O resultado positivo do ano passado é um grande indicativo de como o setor se fortaleceu, após as restrições de funcionamento, e está caminhando para a recuperação total das perdas do período pandêmico. Os consumidores foram seguros às compras em 2021 e, aos poucos, vão retomando o hábito de frequentar shopping centers, com cada vez mais pessoas vacinadas e protocolos de higiene mais atrelados à rotina, o que garante maior tranquilidade e confiança a todos. Nossa expectativa é de um setor ainda mais forte este ano, impulsionado pela melhora macroeconômica do país e aumento do emprego”, declara Glauco Humai, presidente da Abrasce.

Segundo Flávia Costa, coordenadora de Inteligência de Mercado da Abrasce, os shoppings passaram a esboçar taxas de crescimento expressivas a partir do 2º trimestre de 2021, beneficiadas, sobretudo, pela redução das restrições à circulação. No entanto, esse movimento começou a apresentar uma desaceleração no 3º trimestre do ano, se estendendo até o último de 2021.

Flávia Costa, coordenadora
de Inteligência de Mercado
da Abrasce

“Apesar do avanço da vacinação e, consequentemente, do retorno do comércio à normalidade, o cenário macroeconômico – com pressões inflacionárias impactando o orçamento das famílias, a elevação da taxa de juros reduzindo a demanda por crédito e o desemprego ainda elevado – prejudicou a aceleração do consumo, refletindo no crescimento dos shoppings”, afirma Flávia.

No ano passado, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal indicador da inflação oficial no Brasil, teve a maior alta desde 2015, fechando em 10,06%.

O desemprego apresentou queda, porém, mesmo com o recuo, o país registrou 13,5 milhões de desempregados no terceiro trimestre de 2021, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). A taxa Selic atingiu 9,25%, o maior patamar dos últimos cinco anos, o que resulta em alta nos juros, que encarece o crédito e provoca uma desaceleração da economia. 

Diante de todo o cenário macroeconômico desafiador e adverso e no comparativo com outros segmentos, a Abrasce considera positivo o desempenho do setor em 2021. Nominalmente, o varejo como um todo cresceu 12,7%; os bens não-duráveis, duráveis e semi-duráveis, 12,4%; e os serviços 13,3%, de acordo com o ICVA (Índice Cielo de Varejo Ampliado).

“Os shoppings atingiram essa recuperação de 23,6%, crescendo acima da atividade econômica. Aceleramos bastante e estamos caminhando para atingir os patamares de vendas de 2019, ou seja, do pré-pandemia ”, destaca Flávia. 

Mais shoppings, ABL, lojas e empregos

O Censo Brasileiro de Shopping Centers também faz uma revisão e atualização de empreendimentos. A associação considera shopping center os modelos com Área Bruta Locável [ABL] superior a 5 mil m2, formados por diversas unidades comerciais com administração única e centralizada, que praticam aluguel fixo e percentual. Na maioria das vezes, dispõem de lojas âncoras e vagas de estacionamento compatíveis com a legislação da região onde estão instalados. Seguindo este critério, a reclassificação somada aos cinco greenfields inaugurados (Recife Outlet, Shopping Palladium Umuarama, Shopping Sinop, ParkJacarepaguá e Park Shopping Boulevard), atualizou o número de equipamentos para 620, um acréscimo de 19 shoppings.

O fenômeno da interiorização observado com intensidade desde a década passada também permanece. De acordo com o Censo, 44% dos shoppings ficam nas capitais e 56% em outros municípios, sendo que 42% da totalidade estão localizados em cidades com menos de 500 mil habitantes. Há empreendimentos em 237 municípios do País de um total de 5.568. Os players do mercado estudam estrategicamente essas áreas fora das capitais, que, geralmente, têm uma concorrência menor e oferecem condições melhores de aquisição de terreno e custos de construção, para ampliar os negócios. Além disso, esses malls são planejados para atender outras regiões do entorno, com uma grande área de abrangência. 

Abrasce 2021 - Presença no território

Houve ainda uma variação positiva de 1,45% na ABL, que passou de 16,981 milhões de m2 para 17.228 milhões de m2, o que reflete diretamente também no número de operações. São 112.738 lojas em 2021, uma alta de 1,5% comparado com 2020.   

Censo Abrasce 2021 - Operações e ABL

O setor também acompanhou um movimento de chegada de novas marcas. No terceiro trimestre de 2021, foram 1.221, ficando apenas atrás do quarto trimestre de 2020 quando 1.297 marcas abriram operações nos malls. As inaugurações contribuíram para que a taxa de vacância fosse declinando no decorrer do ano. Após atingir o seu pico em junho, com uma taxa de 7,9%, o índice fechou em 6,1%, bem próximo aos patamares de pré-pandemia – em fevereiro de 2020, a taxa era de 4,2%.

Com mais lojas e shoppings, o saldo também foi positivo na geração de empregos diretos. Foram criadas 21.314 novas vagas, chegando a 1.019.878 postos de trabalho, uma alta de 2,1% em relação a 2020. Ao considerar os empregos indiretos, a estimativa é que o setor empregue mais de 3 milhões de pessoas. “Estes números demonstram a pujança do setor. O ano de 2021 foi marcado pela retomada da indústria, após registrar em 2020 uma queda no faturamento sem precedentes em sua história, imposta pela pandemia”, ressalta Humai.

Censo Abrasce 2021 - Empregos

Múltiplos canais

Todo o setor teve que se adaptar ao momento inédito e acelerar a transformação digital, acompanhando o comportamento do consumidor e oferecendo novas alternativas aos lojistas. Os shoppings passaram a incorporar diferentes canais de vendas on-line em seus negócios. Antes da pandemia, em 2019, apenas 11% dos empreendimentos tinham marketplace. Em 2020, esse índice foi para 29%, e, no ano passado, 34%. “A digitalização deve continuar: 56% dos shoppings pretendem implantar a plataforma nos próximos dois anos”, revela Flávia. 

Censo Abrasce 2021 - Digitalização dos shoppings

Entretenimento

Os shoppings sempre seguem em transformação e, ao longo do tempo, se conectaram ainda mais com os clientes ao se tornarem centros de conveniência e convivência em que é possível se resolver tudo em um só lugar e ainda se entreter, encontrar pessoas queridas, se divertir. Com isso, observa-se um crescimento de restaurantes nas alamedas gourmets nos shoppings, uma tendência que seguiu mesmo com a pandemia. Atualmente, quatro em dez operações de alimentação ficam nestes espaços, muitos deles, se tornando destino dos consumidores. 

Censo Abrasce 2021 - Salas de cinema

Os cinemas, um dos pilares do entretenimento nos malls, também tiveram um aumento de 1,2% no número de salas. Atualmente, são 3.019 espaços espalhados pelo país, o que representa 95% do total de salas de cinema em funcionamento, porcentagem calculada com base nos dados divulgados pelo Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual, da Agência Nacional do Cinema (Ancine). 

Próximos meses

A expectativa da Abrasce para 2022 é otimista e se deve muito ao avanço da vacinação no território nacional. “Nossa projeção é de um crescimento de 13,8% no faturamento de vendas, o que nos aproxima dos patamares pré-pandemia. Estamos otimistas, pois temos 13 inaugurações previstas para este ano. Além disso, 28% dos shoppings pretendem expandir nos próximos anos, em especial em 2022, o que demonstra um elevado grau de confiança do setor”, indica Flávia.

Censo Abrasce 2021 - Expansão

Como destacado pela coordenadora de Inteligência e Mercado da Abrasce, o setor segue em crescimento com previsão de 13 inaugurações e intenção de expansão projetada por 28% dos shoppings para os próximos anos, sendo que a maioria, 86%, deve acontecer entre 2022 e 2023. “O setor de shopping centers movimenta uma ampla cadeia produtiva, portanto, esses novos investimentos impactam positivamente a economia, tanto na arrecadação de impostos nos três níveis (municipal, estadual e federal) como na geração de renda e empregos em um momento ainda muito desafiador”, finaliza a coordenadora.

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