JAN/FEV 2021 - Edição 233 Ano 34 - VER EDIÇÃO COMPLETA

Censo Brasileiro de Shopping Centers aponta recuperação gradual e contínua do setor

15 de fevereiro de 2021 | por Solange Bassaneze | Fotos: Divulgação
Com perdas de 33,2% no faturamento em 2020, a projeção é de alta de 9,5% para 2021

Resiliência é uma palavra que sempre definiu o setor de shopping centers brasileiro ao longo de mais de 50 anos de história e desde o início da crise sanitária passou a ser ainda mais indubitável no dia a dia dos equipamentos de todo o país. O setor se adaptou rapidamente e conseguiu se organizar de uma forma muito coordenada para a retomada. Para trazer um panorama do ano passado, a Abrasce divulgou recentemente o Censo Brasileiro de Shopping Centers 2019-2020, que já está disponível aos associados no site da entidade.

Mesmo com os inúmeros desafios, aconteceram sete inaugurações, distribuídas nas regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste. Atualmente, são 601 empreendimentos em operação no país, um acréscimo de 24 shoppings em comparação a 2019, pois a Abrasce fez sua atualização periódica da base e incorporou ainda mais 17 equipamentos na contagem oficial. 

A Área Bruta Locável teve crescimento de 1,3% em comparação a 2019, chegando a 16,981 milhões de m2 de ABL. E isso refletiu diretamente no espaço disponível para locação, o que trouxe um crescimento de 5,1%, atingindo o patamar de 110 mil lojas disponíveis. 

“É importante frisar que nenhum shopping center foi fechado em 2020. Além disso, essas sete inaugurações durante uma pandemia demonstram a força do setor e o quanto é confiável para investimentos”, enfatiza Glauco Humai, presidente da Abrasce.

Outro ponto de destaque foi a parceria entre empreendedores e lojistas, que também foi fundamental para esse momento de desafios. “Em ordem de grandeza, as administradoras de shopping centers abstiveram mais de R$ 5 bilhões em adiamento e suspensão de despesas aos lojistas considerando aluguéis, condomínios e fundos de promoção”, destaca Humai. 

Censo Brasileiro de Shopping Centers Abrasce - Glauco Humai - Revista Shopping Centers
“Foi um período de incertezas, e intensos desafios. Mas também tivemos muito diálogo, aprendizado e inovação, que certamente nortearão nosso segmento daqui para frente.”

Inaugurações e expansões

O otimismo dos empreendedores também pode ser visto nas expansões. Em 2020, 7% dos empreendimentos passaram por expansão. Para os próximos anos, 26% pretendem expandir, um número muito mais elevado do que 2019, quando apenas 10% tinham planos de expansão. Esse dado demonstra o quanto o setor acredita na recuperação da economia e se sente mais seguro para fazer novos investimentos e ampliar os negócios. 

“Iniciamos 2021 com a previsão de mais 13 greenfields em quatro regiões do país. As previsões de inaugurações e de expansão refletem a confiança do empresário na economia, geram empregos e atraem novos investimentos, formando um ciclo virtuoso”, complementa Flávia Costa, coordenadora de Inteligência de Mercado da Abrasce.

Omnicanalidade

A pandemia também acelerou a transformação digital de muitos empreendimentos, que rapidamente ofereceram outros canais de vendas aos consumidores com um forte incremento no comércio on-line. O percentual de shopping centers que ganharam aplicativos chegou a 41%. Os investimentos em marketplace também passaram a fazer parte da estratégia de 29% dos empreendimentos, seja por meio de plataformas próprias ou de terceiros. Dos 71% que ainda não têm marketplace, 59% disseram que pretendem implantar nos próximos dois anos. Algumas empresas, inclusive, já anunciaram o lançamento de e-commerce para esse ano como é o caso da Terral em parceria com a Lumine. “Nos próximos cinco anos, acredito que 100% dos lojistas e dos shoppings estarão no mundo digital”, enfatiza o presidente.

De acordo com Glauco, os shoppings se inovaram no período em que estiveram fechados e se prepararam para a retomada com rígidos protocolos. “Conforme as reaberturas foram sendo realizadas, os consumidores perceberam que a limitação do fluxo de pessoas, aliada ao monitoramento da entrada e aos procedimentos de higienização reforçados, traria condições seguras dentro deste ‘novo normal’. Mesmo assim, os shoppings mantiveram as alternativas inovadoras adotadas no início da pandemia. As opções como vendas por drive-thru, delivery e locker conseguiram atender aos consumidores que ainda não se sentiam à vontade para sair de casa”, relembra. 

Desempenho no decorrer da crise

Com o fechamento dos empreendimentos em todo o país, as perdas chegaram a 89% no mês de abril, o pior índice do ano. Porém, a partir da retomada com a reabertura, o acompanhamento semanal feito pela Abrasce, por meio do Índice Cielo de Varejo Ampliado, mostrou que a recuperação tem acontecido de forma gradual e chegou em dezembro em desaceleração, com queda de 16,9%. “Em datas comemorativas também foi possível acompanhar essa retomada, as perdas foram de 91,1% no Dia das Mães quando apenas 12% estavam shoppings reabertos e chegaram a -12,3% no Natal com 100% dos shoppings abertos, quando comparadas a 2019”, detalha Flávia. 

Censo Brasileiro de Shopping Centers Abrasce - Flávia Costa - Revista Shopping Centers
Flávia Costa, coordenadora de Inteligência de Mercado da Abrasce

O setor fechou 2020 com um faturamento de R$ 128,8 bilhões, o que representa uma queda de 33,2%, o menor volume de vendas registrado em 11 anos. “Acredito que levaremos cerca de três anos para retornar aos níveis de pré-pandemia”, diz o presidente. Desde 2015, o setor vinha apresentando taxas de crescimento superiores à inflação. Em 2019, a alta foi 7,9%.

“A região Sudeste foi a mais impactada justamente por ter sido a última a voltar a retomar as atividades dentro das restrições exigidas. A região Norte foi a primeira a reabrir e teve a menor variação no volume de vendas”, pontua a coordenadora de Inteligência de Mercado.

Quando comparado a outros setores, o setor de shopping centers fica bem próximo às perdas registradas do segmento de serviços (-33,3). Entre os bens duráveis e semiduráveis, o segmento de vestuário foi o mais afetado e teve queda de 25,1%, mas Glauco acredita que ao longo de 2021 será um dos que  vão se alcançar índices mais positivos. O fato das pessoas estarem mais em casa impulsionou o segmento de eletrodomésticos e móveis, que tiveram alta de 11,6%. 

A queda de 32% no número de visitantes também foi proporcional às perdas do faturamento de 2020 e se aproximou ao patamar de 11 anos atrás. Em 2020, 341 milhões de pessoas por mês foram aos shoppings do país, essa diminuição no fluxo é reflexo do fechamento, das restrições, do isolamento social e, inclusive, do medo das pessoas de saírem de casa. 

Em 2020, a taxa de vacância fechou em 9,3% – a renovação do mix de lojas com a chegada de marcas internacionais, como o caso da Carter’s, e a chegada de novos varejistas, além do alto índice de negociação de aluguéis foram fundamentais para esse índice não ser maior. “O movimento de reaberturas e novos fechamentos trouxe adversidades para varejistas e clientes. Os lojistas que estavam mais preparados resistiram aos meses em que os shoppings ficaram fechados e tiveram fôlego para retomar suas atividades após a reabertura. Por outro lado, aquele que já não vinha bem antes da pandemia teve que fechar suas portas. A ocupação desses espaços vagos foi acontecendo de maneira gradual. Acreditamos que a taxa de vacância tenderá a cair em 2021 com o retorno do setor à normalidade”, frisa o presidente da Abrasce. 

O horário de funcionamento reduzido influenciou diretamente na redução jornada de trabalho dos colaboradores e, consequentemente, gerou a perda 9,4% de empregos, o que representa 104 mil vagas a menos, depois de 10 anos de alta. O aumento da vacância também influenciou nessa perda. “Como as lojas operam em turnos, postos de trabalho foram eliminados, já que era possível operar com quadro menor de colaboradores. Os restaurantes das praças de alimentação, que passaram a operar apenas com o serviço de delivery durante o fechamento, também realizaram demissões. Soma-se a esse contexto, o cenário de crise econômica, onde é comum que as empresas diminuam seus quadros de colaboradores diante de um futuro incerto. A dificuldade para conseguir linhas de crédito também colaborou com a situação”, reforça o presidente da entidade. Em 2020, o setor gerou 998 mil empregos diretos.

Os próximos meses

Para 2021, a Abrasce projeta um crescimento de 9,5% baseado no cenário atual. “Claro que esse índice será revisto, acredito que a cada trimestre, pois o panorama ainda é de muita instabilidade”, diz Humai. 

A inflação pressionada, saída dos estímulos fiscais e monetários e perda na confiança dos agentes devem manter o consumidor mais cauteloso. “No entanto, espera-se que a atividade ganhe maior tração ao longo do ano, acompanhando a dissipação gradual das incertezas com a crise sanitária, quadro inflacionário menos pressionado e expansão do crédito e do emprego”, afirma Flávia. 

Além disso, a imunização da população é fundamental para a recuperação econômica. A Abrasce enviou uma carta aos prefeitos dos 222 municípios onde há shopping no Brasil e aos governadores. No documento, coloca o setor à disposição para auxiliar no processo de vacinação da população. O detalhamento do processo e da logística será feito por cada cidade. É importante ressaltar que os shoppings já têm experiência em outras campanhas de vacinação e sempre contribui com o setor público.

Reforma Tributária 

Outro ponto de atenção para 2021 são as propostas de Reforma Tributária em andamento no Congresso. Para a Abrasce, essa pauta deveria ser adiada pois não é viável discutir uma mudança tão profunda na forma de tributação em meio à uma pandemia, já que diversos setores foram profundamente afetados.

Para Humai, o momento exige foco total na retomada da economia e recuperação dos negócios. “Antes dessa discussão, é preciso ter a aprovação da reforma administrativa, com a detecção do tamanho do Estado e os respectivos cortes de gastos. Posteriormente, podemos conversar sobre um novo modelo de tributação”, reforça.

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