MAR/ABR 2020 - Edição 228 Ano 33 - VER EDIÇÃO COMPLETA

Diálogo e responsabilidade para enfrentar a atual situação causada pelo coronavírus

16 de abril de 2020 | por Solange Bassaneze | Fotos: Divulgação
Como o setor de shopping centers vem enfrentando os impactos ocasionados pela Covid-19

Desde o início dos primeiros casos da Covid-19 na cidade de Wuhan, na província chinesa de Hubei, o mundo ficou em alerta. Não demorou muito para outros países do mundo se tornarem o epicentro da doença. No Brasil, os primeiros casos confirmados ocorreram no final de fevereiro e o isolamento destes pacientes não foi suficiente conter o avanço do coronavírus. A transmissão passou a ser comunitária em 20 de março, conforme declarou Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde. 

Os governadores Wilson Witzel (RJ) e João Doria (SP) foram os primeiros a adotarem uma série de decretos como, por exemplo, suspensão das aulas nas instituições de ensino e a proibição de eventos com aglomeração de pessoas. Também recomendaram o fechamento dos shopping centers, por, segundo eles, serem áreas de alto fluxo de pessoas.

Com o número de infectados aumentando a cada dia e a previsão do pico para os meses de abril e maio, segundo as autoridades de saúde, vários setores do país pararam. Em poucos dias, a maioria dos Estados contava apenas os serviços essenciais em funcionamento, inclusive dentro dos shoppings, como, farmácias, supermercados, transportadoras, indústria, transporte público, postos de combustíveis, serviços de limpeza e segurança. 

A partir de então, os estados entraram em quarentena, pois a estratégia adotada por outros países como China, Japão e Alemanha de isolamento social foi a única que tinha dado certo até o momento. 

As ruas ficaram desertadas e a maioria das pessoas passou a respeitar a quarentena, pois acompanhavam o que acontecia na Ásia, na Europa e, agora, nas Américas. O fato de ter chegado em uma terceira etapa no Brasil ajudou nos preparativos para não sobrecarregar o sistema de saúde. Ainda não há como saber se o que foi feito é suficiente, somente as próximas semanas darão esse parâmetro. 

Os reflexos no setor

A crise do coronavírus impactou a saúde e também a economia global. Ainda não é possível mensurar todos os reflexos, inclusive, no âmbito social. Responsável por quase 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB) e mais de 3 milhões de empregos diretos e indiretos, os 577 shoppings com mais 100 mil lojistas permanecem fechados. 

Desde o início da crise, a Abrasce vem acompanhando o problema de saúde que Brasil está vivendo e jamais questionou as ações do governo, aliás, a maior preocupação sempre foi a de evitar, ao máximo, a disseminação da Covid-19.  Ao mesmo tempo, também busca soluções que possam mitigar os efeitos econômicos e sociais, pois são milhares de empresas e milhões de empregos que dependem do setor. 

Desta forma, o diálogo com lojistas, fornecedores, colaboradores e poder público tem se dado continuamente na busca de ações para a sobrevivência das empresas e para a manutenção dos empregos. “O momento precisa de serenidade, visão holística, assertividade e celeridade na tomada de decisões”, ressalta Glauco Humai, presidente da Abrasce. 

Diálogo

Humai tem conversado incessantemente com diversos grupos empreendedores e shoppings individuais para que adotassem algumas boas práticas com o objetivo de ajudar os lojistas e preservar empregos neste momento. 

Glauco Humai - Diálogo e responsabilidade para enfrentar o coronavírus - Revista Shopping Centers
Glauco Humai, presidente da Abrasce

“A orientação é negociar e adiar a cobrança do mínimo do fundo de promoção, condomínio e aluguel dos lojistas. A maior parte do setor tem feito esse esforço para a sustentabilidade dos negócios”, explica.

Depois, cada grupo pode analisar como será efetuada a cobrança: se será isentada ou parcelada. “Essas três medidas têm um impacto de R$ 1 bilhão para os shoppings. É um esforço que vai dar sobrevida a muitos lojistas”, conclui. Vale ressaltar que essas ações não se encerram aqui e podem ser revistas. 

Poder público 

Mas, apenas as medidas dos empreendedores e lojistas não bastam. É preciso de medidas contundentes dos governos nas esferas municipal, estadual e federal. Algumas das anunciadas até agora pelo governo federal ainda precisam ser aprovadas e as que foram implementadas ainda não vieram na velocidade e intensidade necessárias.

“É preciso achar mecanismos para fazer com que o dinheiro chegue de forma rápida. No dia 30 de março, enviamos um conjunto de medidas com sugestões ao Banco Central e ao Ministério da Economia para que esse recurso flua de forma imediata para os lojistas de todo o Brasil”, revela o presidente da Abrasce.

Entre as demandas pedidas para o setor estão o uso da estrutura dos adquirentes de cartão de crédito com baixas taxas e com garantia dada diretamente pelo Tesouro Nacional e/ou BNDES; a criação de linhas de crédito específicas para o varejo e para o setor de franquias para serem usadas como capital de giro; desoneração da folha de pagamento e a suspensão por, no mínimo 180 dias, do PIS e Cofins; entre outras.

As cartas foram endossadas ainda por mais quatro entidades: Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV), Associação Brasileira de Franchising (ABF), Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) e Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB). As novas medidas anunciadas pelo governo federal em 1º de abril, atendem parte das propostas enviadas pelo setor. 

Com o apoio dos empresários do setor de shopping centers, a Abrasce entende que há três grandes ações que o governo precisa tomar. São elas: garantir renda para o trabalhador, a manutenção dos empregos e o crédito para o empreendedor, principalmente, para o pequeno e médio lojistas e autônomos. 

Logo na primeira semana da quarentena, a Abrasce enviou uma carta ao governo com propostas do setor de shopping centers e do varejo para enfrentar esse período com serenidade. “As medidas têm como objetivo a liberação de recursos para serem utilizados em atividades operacionais das empresas. Pois, com os recursos limitados, haverá dificuldade em se cumprir as obrigações acessórias e o descumprimento ocasiona multas pesadíssimas. Com isso, pede o diferimento dos cumprimentos sem a cobrança de encargos”, diz Humai. 

Além disso, a Abrasce tem atuado junto às prefeituras para que os custos com o IPTU possam ser adiados, assim como os de ISS. Para a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a entidade fez um pedido com algumas sugestões, já que o insumo é um dos mais importantes para o exercício da atividade de shopping centers e de lojistas. Desta forma, solicitou que o faturamento emitido seja sobre a demanda registrada a partir de março, que não haja suspensão do fornecimento diante do não pagamento, sejam suspensas multas em caso de atraso, suspensão de penalidade e processos administrativos no âmbito da Aneel e da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e a suspensão da Contribuição Associativa da CCEE. 

Humai destaca que apoio do Poder Público é essencial para que se possa atravessar esse momento tão delicado. Segundo ele, o que está faltando é coordenação dos governos federal, estaduais e municipais, o que tem gerado muita instabilidade e insegurança. “Se a classe que dirige o país nos três poderes e nas três instâncias não se coordena, empresários e trabalhadores que movem a economia do país ficam inseguros e cheios de incerteza”, explica. 

Em uma videoconferência no dia 4 de abril com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e com o presidente da União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços (Unecs), Humai também apontou que é preciso maior agilidade nas medidas implementadas pelo governo. “Não há divergência alguma nos planos do governo e nos pleitos que a gente tem feito. Há uma diferença na intensidade e na velocidade que essas ações estão sendo implementadas. Muitas vezes, a demora pela burocracia causa ainda mais ansiedade”, disse.  

A Abrasce tem mantido esse diálogo com várias entidades para que possa haver um alinhamento razoável que ajude a passar por esse período com a menor turbulência possível. “O momento é de estender a mão para os lojistas como o setor tem feito, mas precisamos pressionar o governo a isentar impostos por um período. Além disso, é preciso colocar liquidez para o lojista e para o empreendedor através de linhas de crédito subsidiadas”, reforça.

Como reabrir 

Acompanhando os impactos da Covid-19 no setor, desde o início da crise, a Abrasce tem orientado os shoppings do país a seguir todas as recomendações para manter a saúde e segurança de clientes, colaboradores e lojistas. Além de serem espaços sem aglomeração, devido à amplitude de horário de funcionamento, com limpeza e higienização frequentes, os shoppings deverão adotar medidas preventivas para manter a circulação de pessoas de forma organizada e saudável.

Pensando nisso, a Associação elaborou o Protocolo de Operações, com informações abrangentes, baseadas m experiências e boas práticas internacionais, para o momento de reabertura dos empreendimentos em todo o Brasil.

A Abrasce irá continuar a acompanhar o setor, tanto no país quanto no cenário exterior, para entender os impactos e a mudança no comportamento dos consumidores causados pela pandemia.

A pandemia no Brasil 

Para poder acompanhar como está a evolução dos casos de coronavírus, basta acessar a página www.covid.saude.gov.br no site do Ministério da Saúde.

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