Conheça as expectativas dos grupos e shoppings para a retomada dos negócios após a pandemia
Responsável por 2,7% do Produto Interno Bruto e mais de 3 milhões de empregos diretos e indiretos, o setor de shopping centers nunca viveu algo tão desafiador desde seu surgimento quanto a crise causada pelo novo coronavírus. No entanto, apesar das dificuldades, os empreendedores acreditam em uma retomada gradual, sólida e segura dos negócios. Segundo Ricardo Portela, gerente de marketing do Shopping Ibirapuera, o público ainda está se habituando ao novo ritmo das operações. “Muitos consumidores ainda não sabem o horário correto da operação do shopping, por isso temos intensificado a divulgação. Outro ponto desafiador é no ramo de vestuário, pela proibição do uso de provadores. Muitas lojas encontraram como caminho flexibilizar suas políticas de troca, estendendo o prazo de 30 para 90 dias, entre outros”, reforça.
Mas, Portela afirma que, desde 6 de julho, já houve um aumento no fluxo de pessoas. Para ele, a melhora se deu devido à reabertura das operações de alimentação, salões de beleza e clínicas de estética. “O importante é que retomamos praticamente todas as atividades comerciais, mesmo que seja em horário reduzido”, diz.
O maior polo atacadista de moda da região Centro-Oeste do país está concentrado em dois empreendimentos do Grupo Mega Moda na Região da 44 em Goiânia (GO). Foram quase quatro meses em que o Mega Moda Shopping e o Mega Moda Park permaneceram fechados. Todavia, de acordo com Carlos Luciano Ribeiro, presidente da companhia, os centros de compras focaram na comunicação e em ajudar o lojista a vender por canais digitais. “Com certeza, manter o empreendimento fechado com custos fixos e os lojistas com dificuldades para escoar os estoques foi a fase mais difícil. Neste período, buscamos permanentemente reduzir as despesas para baixar o condomínio. Felizmente, aconteceu a reabertura e nos preparamos para uma retomada segura.”
Desafios
Além do protocolo elaborado pela Abrasce, a Multiplan, uma das maiores empresas do setor no país, com 20 empreendimentos, desenvolveu um rigoroso protocolo de segurança para a reabertura, orientado por dois infectologistas. Como atua em sete estados, tem tido situações bem distintas, algumas delas bastante desafiadoras. “Para diminuir os impactos causados pela crise, buscamos apoiar os lojistas, com isenções e descontos. Mas nosso fôlego financeiro tem limite. Há locais onde os empreendimentos ficaram fechados por 120 dias e não houve redução nem postergação ou parcelamento da cobrança de tributos, por exemplo”, enfatiza Vander Giordano, vice-presidente Institucional da Multiplan.
Ele também destaca que alguns shoppings que tinham sido reabertos fecharam novamente, seguindo os decretos estaduais e municipais, como os localizados em Minas Gerais e Rio Grande do Sul, e esse movimento é ainda mais difícil para os lojistas e seus colaboradores. “O impacto econômico desse movimento é ainda pior. Os lojistas se prepararam para a reabertura, organizaram e abasteceram os estoques, tornaram a contratar funcionários que provavelmente tiveram contratos interrompidos, com suporte da Medida Provisória do governo. Ao fecharem novamente, é um grande investimento perdido temporariamente. Por isso, é essencial que a reabertura seja gradual e segura”, alerta.
Segundo Mirela Gedeon Cubilhas, diretora da Enashopp, o maior desafio na crise foi manter as despesas comuns as mais baixas possíveis para que os lojistas pudessem cumprir os compromissos. “Uma tarefa difícil, pois as negociações com concessionárias de abastecimento de água e energia, por exemplo, não têm sido fáceis. Tivemos ainda o desafio de manter os nossos lojistas fortes e determinados a uma retomada consistente. Além disso, existe muita dificuldade de o lojista ter acesso ao crédito. Isso pode refletir, para aqueles que precisam, numa indefinição da continuidade do contrato”, destaca Mirela.
Medidas para reabertura
Com 11 empreendimentos em quatro estados do Nordeste, o Grupo JCPM tinha sete empreendimentos funcionando com horários reduzidos e seguindo rígidos protocolos em Pernambuco e Ceará, até o começo da segunda quinzena de julho. Nesses locais, a retomada também tem sido tranquila e é possível notar que os consumidores estão conscientes das novas normas.
Passados quase cinco meses do início da crise, Marcelo Tavares de Melo Filho, vice-presidente de Operações do Grupo JCPM, analisa que o momento ainda é muito complexo. “A partir do momento em que não temos controle da crise, cujo fator é externo, a nossa atuação fica limitada. É uma crise sem precedentes, de motivação sanitária, com forte impacto social e econômico. A própria incerteza da renda da população gera impactos no varejo, mesmo nas praças em que retomamos o funcionamento”, destaca.
Como já estavam bem adiantados com implantação de serviços digitais, o Grupo JCPM conseguiu implementar as vendas on-line e continuar com o atendimento aos seus clientes enquanto os shoppings estiveram fechados.
Assim como todos os grupos, a Cyrela Commercial Properties (CCP) reabriu os empreendimentos conforme as regras locais determinadas pelas autoridades de saúde e com protocolos de segurança, alinhados às recomendações da Abrasce. Segundo Thiago Muramatsu, diretor financeiro e de relacionamento com investidores da CCP, os principais desafios neste momento da pandemia estão relacionados a retomada do fluxo, que reflete diretamente no desempenho dos lojistas.