Os destaques do 1º dia do 16º Congresso Internacional de Shopping Centers, o maior evento do setor da América Latina
A edição especial on-line trouxe debates sobre o cenário atual e futuro
De 20 a 22 de outubro, a Abrasce realizou o 16º Congresso Internacional de Shopping Centers em edição especial on-line. Seguindo todos os protocolos de segurança e operação, o evento aconteceu em um estúdio em São Paulo de forma híbrida com convidados no presencial e no virtual, paralelamente à Exposhopping Virtual.
Durante os três dias, trinta painelistas do Brasil e internacionais discutiram assuntos de extrema relevância para o setor, como o cenário internacional com a pandemia da COVID-19, os impactos de uma possível Reforma Tributária em um momento em que a economia ainda está procurando meios de se recuperar, além de inovações tecnológicas e o futuro do varejo.
Na abertura do evento, o presidente da Abrasce, Glauco Humai, fez um balanço prévio do ano. Ele frisou que o ano de 2020, apesar de difícil, será marcado pela união e resiliência do setor, tendo a Abrasce com vetor para que isso acontecesse.
Em seu discurso, o presidente do Conselho Deliberativo da Abrasce, Fernando Maia, também destacou o trabalho integrado como ponto principal durante a crise. Para Maia, mesmo que de forma remota, o trabalho de todas as equipes do setor foi essencial para o enfrentamento dos problemas causados pela Covid-19 no país. “O maior aprendizado que fica é o de nunca desistir”, resumiu.
Congresso
Com uma programação intensa, os temas discutidos foram os que mais impactam diretamente os empreendimentos e os negócios. Empresários, executivos e especialistas de diferentes áreas compartilharam as experiências vividas ao longo de 2020. Nos intervalos, entrevistas com 15 líderes de grupos empreendedores de ativos de todo o Brasil foram exibidas no quadro Raio-X. Em depoimentos, eles falaram sobre estratégias traçadas para combater a crise e as expectativas e planejamentos para o próximo ano.
Confira abaixo um breve resumo de cada painel:
Durante o primeiro dia, as palestras giraram em torno do tema principal Experiências globais e o papel da inovação no desenvolvimento do setor. A visão dos mercados Ásia e Europa foram apresentadas por especialistas internacionais.
O painel Perspectivas para o setor a partir do panorama do mercado asiático foi conduzido por Zelman Ainsworth, diretor Ásia-Pacífico da CBRE. Ainsworth conversou com Tom Andrews, head de ativos da Hongkong Land, e com Samuel Hibel, CEO da Kardan Land China.
Mercado asiático
A Hongkong Land é uma das mais maiores e mais antigas incorporadoras e detentoras de shopping centers da Ásia. Entre os empreendimentos, o que mais se destaca é o Landmark. Fica localizado no coração de Hong Kong, centro global no mercado de luxo, com 45 mil m² com dois hotéis e torre de escritórios. Andrews citou algumas das estratégias do Landmark para se manter líder no segmento de luxo, entre elas o foco no segmento de alimentação e bebidas. Essa parcela corresponde a 30% do mix, inclusive porque existe uma grande demanda dos 40 mil funcionários que trabalham nos escritórios incorporados ao complexo. Eles contam tanto com opções mais em conta até restaurantes luxuosos e estrelados pelo Michelin.
A companhia tem dado espaço ainda para o BaseHall, um conceito que já faz sucesso em Nova York e Londres. Traz pequenos varejistas do setor de alimentação e oferece uma condição diferenciada. No caso do Landmark, toda infraestrutura é montada por eles e os contratos são sazonais. Se a operação crescer, existe a possibilidade incubá-la. “A maior oportunidade para 2021 é o setor de alimentos e bebidas”, reforça o head.
A Kardan Land também divide a mesma opinião sobre o espaço voltado para o setor Alimentação e Bebidas. A companhia é europeia israelense, que tem como DNA ser uma empresa pública ao criar shoppings independentes e de uso misto. Dentro de seus malls, o segmento já conta com área maior. Em contrapartida, há uma diminuição das operações de moda, que hoje já conseguem ter lojas menores, mas priorizam um mix de produtos que corresponde a 80% do faturamento da operação.
Experiência do consumidor
A Landmark oferece ainda experiências pioneiras ao consumidor e, para isso, utiliza a tecnologia. Na plataforma de CRM, por exemplo, tem trabalhado intensamente com um programa de recompensas, o qual oferece desde brindes até experiências exclusivas – algo que o dinheiro não pode comprar. “Em uma delas, oferecemos a alguns clientes uma ida ao 8 ½ Otto e Mezzo, um dos três únicos restaurantes italianos estrelados pelo Michelin fora da Itália. Durante a experiência, os participantes, acompanhados do chef, tinham a missão de caçar trufas. Por último, o chef preparou os pratos”, exemplifica.
Andrews acredita que o varejo de luxo irá se consolidar ainda em outras cidades, mas com poucas lojas que possam contemplar uma experiência diferenciada. Também reforça que a omnicanalidade deve ser usada também para fazer novos negócios, como quando querem trazer uma nova marca para o mix.
Já para Hibel, os empreendimentos precisam focar em experiências que não podem ser oferecidas no mundo virtual. Ele acredita que o olhar deve estar voltado para as famílias com crianças, que vão ao shopping em busca de lazer, pois essa experiência só pode ser vivida no mundo físico e é uma forma de continuar relevante diante das vendas on-line.
Ainda segundo o executivo, a pandemia trouxe também uma mudança importante no relacionamento com algumas lojas. Saíram as fracas e inadimplentes e os espaços foram ocupados por marcas que realmente podem pagar mais. “No caso de uma grande operação, que tinha condições especiais, pagando muito pouco, você consegue colocar mais lojas nesse espaço e ganhar mais.” Hibel reforçou ainda que a tendência de o shopping operar a própria rede de cinema ou supermercado é algo que já vem sendo estudado pela Kardan Land.
Mercado Europeu
Rafael Sales, diretor-presidente da Aliansce Sonae, conduziu o painel As lições do Velho Continente: mudanças que chegaram para ficar. A conversa contou com Volker Krafter, sócio-diretor da ECE Alemanha, e Leszek Sikora, diretor-geral da ECE Polônia. A ECE é a maior administradora de shoppings na Europa, com quase 200 empreendimentos e que também tem negócios com a Aliansce Sonae. Sikora trouxe um panorama da retomada na Europa Central e Oriental e Krafter mostrou como está o cenário na Europa Ocidental.
Krafter apontou que após a reabertura no fim de maio, na Alemanha, houve uma recuperação rápida, atingindo de 80 a 90% as vendas do período pré-pandemia. O consumidor voltou a comprar e o ticket médio subiu. Em agosto e setembro, houve uma alta maior do que os meses que antecederam a crise sanitária. Já na Polônia, os shoppings fora dos centros das cidades tiveram melhores performances na retomada conforme informou Sikora.
A falta de turistas e o home office são os principais fatores que impactam os empreendimentos situados em áreas comerciais. Além disso, os executivos reforçaram o quanto o entretenimento vem sendo afetado. É o caso dos cinemas, que passam por medidas restritivas e ainda sofrem com o adiamento de grandes lançamentos da indústria cinematográfica como 007- Sem Tempo para Morrer, filme de James Bond.
A integração do digital com o mundo físico também foi tema do debate e todos concordaram que os shoppings devem ser hubs de omnicanalidade e que on-line é uma grande oportunidade para o varejo físico.
Uma diferença pontuada entre o mercado europeu e o brasileiro é o perfil das operações. Na Europa, o mix é composto principalmente de marcas nacionais e internacionais que têm fôlego para enfrentar essa crise. Enquanto que no Brasil diversas operações são formadas por franquias e lojas temporárias, que sentem muito mais os impactos. Ambos reforçaram a importância de agir com cautela já que a Europa passa por uma segunda onda da Covid-19.
O último painel do dia, Do desafio à oportunidade: como o uso das tecnologias impactaram o setor, foi mediado por Pedro Daltro, CEO da CCP. Participaram do debate Cibelle Ferreira, fundadora da Shopper UM, Ernesto Villela, fundador da Mimoo e Francisco de Frutos, diretor da Brasil Plug and Play. Durante a conversa, o trio de especialistas enfatizou a importância de manter uma área de inovação dentro do shopping e de criar parcerias com startups para que elas possam entender as necessidades do empreendimento e personalizar um produto. Segundo eles, é essencial manter essa cultura da inovação.
Ao mesmo tempo, as startups não podem deixar de lado o que é mais relevante dentro de sua estrutura. Mesmo com o crescimento, devem continuar com o olhar atento para a inovação, passar esse conhecimento para os novos integrantes da equipe e também aprender com os fracassos. “É preciso manter esse mindset da inovação, pivotar, aplicar, ajustar e colocar no mercado”, enfatiza Cibelle. De acordo com eles, é fundamental que esse primeiro passo voltado para a inovação seja dado pela liderança. Segundo Frutos, a parceria é ponto fundamental para o sucesso. “Sozinho você vai mais rápido, mas juntos vamos mais longe”, pontuou.
Durante o painel, os palestrantes ainda reforçaram o quanto a pandemia foi um agente transformador para acelerar os processos de digitalização do varejo e dos shoppings. Também deram dicas de como investir e acelerar uma startup fazendo investimentos conhecidos como PoC (prova de conceito).
Confira aqui a cobertura dos outros dias do Congresso:
21 de outubro
22 de outubro