Grupo Sá Cavalcante lança marketplace, banco e administradora
O presidente Leonardo Sá Cavalcante traz detalhes dos novos investimentos da companhia
Com a crise sanitária, o Grupo Sá Cavalcante prontamente mudou o planejamento estratégico, adiou investimentos em greenfield e trouxe inovação para os empreendimentos. Um dos principais lançamentos é o Sá App, um marketplace próprio, que já está em operação em um empreendimento e, em breve, será implementado em mais um shopping.
Segundo o presidente Leonardo Sá Cavalcante, os negócios passaram a ser phygital (junção das palavras em inglês físico e digital). O foco da empresa é oferecer uma jornada completa ao consumidor nos canais on e off-line. Além disso, a companhia traz mais uma oferta de serviços aos lojistas com a criação do Banco Sá e apresenta ao mercado a administradora Sá Cavalcante, aplicando toda a expertise de 27 anos no setor.
Presente nos estados de Rio de Janeiro, Espírito Santo, Maranhão, Pará e Piauí, a companhia tem oito empreendimentos e continua com os planos de ampliar o portfólio. Em entrevista à Revista Shopping Centers, o presidente nos conta os resultados dessa transformação implantada desde o ano passado e que continua em 2021.
Revista Shopping Centers – Com a crise sanitária, o Grupo Sá Cavalcante acelerou os investimentos em omnicanalidade?
Leonardo Sá Cavalcante – Como praticamente todos os segmentos tradicionais do varejo, nós tivemos uma grande aceleração digital no último ano. O que prevíamos realizar em três anos, fizemos em seis meses, com o lançamento de nosso marketplace próprio, o Sá App. O projeto é termos uma plataforma única que atenda a todos os empreendimentos administrados pela Sá Cavalcante. Hoje, estamos ativos no Shopping Praia da Costa, no Espírito Santo. Temos um hub logístico instalado dentro do empreendimento, garantindo entregas em, no máximo, duas horas em toda a Grande Vitória. Iniciamos o processo para implementação em uma segunda unidade ainda no primeiro semestre de 2021.
RSC – Como tem sido a adesão dos clientes aos novos canais de venda on-line?
LSC – Podemos separar esta adesão em duas fases: lojistas e clientes finais. Primeiro, nos aproximamos de nossos lojistas apresentando o que temos de diferenciais. São taxas competitivas na praça, proximidade do time no processo de integração das lojas, ações de marketing pensadas para a construção segura de uma base ativa de clientes e garantia de agilidade na entrega.
Além disso, nos tornamos o canal de entrada para que os lojistas possam começar a gerar vendas através do ambiente digital. Uma vez que tivemos a adesão de nossos lojistas, iniciamos o trabalho de crescimento da base de usuários. Ainda é o começo, estamos no terceiro mês de projeto, mas estamos conseguindo ter um growth rate bastante satisfatório.
RSC – Durante a quarentena, os consumidores sentiram falta de ir ao shopping, conforme pesquisa da Abrasce realizada no ano passado. Acredita que o e-commerce é um complemento da venda física?
LSC – Acredito que não temos mais como trabalhar de maneira desassociada o varejo off e on-line. Hoje, já vivemos a realidade desses canais serem complementares. Nossos shoppings, por suas localizações privilegiadas dentro de grandes centros, atuam muito como pontos de distribuição para os canais on-line e como geradores de experiência para o off-line. Dentro da Sá, não é possível mais imaginar trabalhar apenas um dos canais. Todos os nossos projetos e processos internos estão sendo conduzidos para que a jornada dos consumidores possa ser completa e satisfatória, seja ela realizada em nossos pontos de contato físicos ou nos canais digitais.
RSC – O que motivou a criação do Banco Sá e quais vantagens oferecerá aos lojistas frente a outras instituições financeiras?
LSC – O Banco Sá é mais uma oferta de serviços que estamos trazendo para nossos lojistas. Nossa maior motivação é ter a clareza de que entendemos o nosso ecossistema e todos os atores envolvidos melhor do que qualquer instituição financeira do mercado. Nós estamos aqui todos os dias. Vemos como estão as vendas e sabemos os custos de manutenção das operações. Também pensamos e trabalhamos junto aos nossos lojistas para a criação de ações de incremento de vendas e estimulamos o processo de transformação digital para os pequenos varejistas que não têm acesso a ferramentas com custos competitivos.
Atualmente, estamos em nossa versão beta, trabalhando apenas com parceiros pré-selecionados. Mas já posso adiantar que teremos muitas vantagens, como contas digitais sem custos para nossos lojistas, adquirência e empréstimos a melhores taxas que o mercado tem trabalhado para o pequeno varejista, além de outros serviços que serão oferecidos em nossa plataforma. É um grande e inovador projeto dentro de nossa indústria e estamos bastante confiantes que teremos, em breve, boas novidades.
RSC – Gostaria que me falasse mais sobre o lançamento da administradora Sá Cavalcante e se existe alguma meta estabelecida para esse novo negócio dentro da companhia.
LSC – Esse é mais um projeto que aceleramos muito no último ano. Começamos repensando, modernizando e ampliando nossa estrutura de CSC (Central de Serviços Compartilhados), permitindo com que mais empreendimentos sejam plugados em nossa holding. Neste momento, estamos em vias de completar seis meses de nosso primeiro empreendimento de terceiros administrado pela Sá.
Os resultados estão 20% acima dos previstos pelo empreendedor. Isso chancela nosso modelo de administração que é muito focado em proximidade e transparência. Temos e damos visibilidade de todos os indicadores e administramos para terceiros da mesma maneira que administramos nosso próprio portfólio. Acredito que este seja o nosso maior diferencial: ter donos de empreendimentos do mesmo segmento do seu negócio, com 27 anos de experiência no setor, administrando o seu shopping. Então, entendemos que chegou a hora de abrir este serviço para o mercado.
RSC – Para avançar nesses novos projetos e colocá-los em prática, foi necessária uma adaptação da cultura da empresa?
LSC – Totalmente, e começando por nós, empreendedores. Agora, estamos abertos e estimulando que nosso time nos traga novas formas de fazer o que já realizávamos, além de novos projetos que conversem com nosso ecossistema. Fizemos também uma renovação de nossas principais lideranças, criamos e reestruturamos departamentos como os de transformação digital, insights, marketing, dentre outros. Assim surgiram todos estes projetos que falamos e em tão pouco tempo.
RSC – Como se deu o engajamento da equipe nesse período tão desafiador?
LSC – Usei uma frase muitas vezes com a equipe. Sempre disse que jamais gostaria de passar novamente por uma situação como a que vivemos em 2020, mas, caso tivesse que vivenciar, não teriam melhores pessoas para estar comigo nesta “trincheira” do que o nosso time. A dedicação, o comprometimento, a criatividade e a adesão aos nossos valores de todo o nosso time nos fizeram superar o ano passado, muito melhor do que havíamos projetado no início da pandemia.
RSC – Atualmente, a companhia gera quantos empregos diretos e indiretos? Foi necessário reduzir o quadro de colaboradores ou conseguiram manter todos os postos de trabalho?
LSC – Nós temos alguns braços de atuação: shoppings, construtora, franquias, comunicação, dentre outros. No total, geramos cerca de 1.500 empregos diretos e estimamos 4 mil indiretos. Por conta das medidas do Governo Federal, da austeridade condominial que implementamos em nossos empreendimentos e uma dose extra de confiança do Conselho da empresa, conseguimos passar por esse momento sem a necessidade de redução de nossos quadros na unidade de shopping centers.
RSC – Quais foram as medidas tomadas para ajudar o varejista?
LSC – Somente em renúncia, nós tivemos algo em torno de R$ 50 milhões em descontos ou isenções concedidas aos nossos lojistas. Fizemos também um grande trabalho de redução dos custos condominiais, diminuindo o impacto no caixa dos varejistas. Além disso, mantivemos uma proximidade grande com nossos parceiros, sempre buscando – dentro do que nos foi possível pelas limitações – reduzir o impacto da crise. Muitas ações inovadoras foram implementadas, permitindo com que lojistas continuassem com suas portas abertas em meio a todo o caos que vivemos.
RSC – Com a pandemia, o Grupo Sá Cavalcante adiou algum investimento ou seguiu o planejamento?
LSC – Sim, certamente tivemos que rever uma parte de nosso planejamento. Mudar o foco, acelerar áreas como a de transformação digital e prorrogar nossos prazos para outros projetos.
RSC – Há planos de expansão ou de greenfields para 2021?
LSC – Este foi um de nossos projetos que fizemos a prorrogação de prazo. Estávamos bastante animados em trabalhar nosso greenfield no Rio de Janeiro para 2021. Diante de todo o cenário de 2020 e as incertezas que ainda estamos vivendo, repensamos estes prazos. Ainda temos expectativas de, quem sabe, retomar o projeto em 2022, mas tudo dependerá de como será o desenrolar deste ano.
RSC – Como estão a taxa de vacância e o fluxo nos empreendimentos?
LSC – A rede terminou 2020 melhor do que projetamos em meio à pandemia, mas é inegável o tamanho do impacto da pandemia em todo o nosso setor. Nossa taxa de vacância fechou o ano em 9%, 2 pontos percentuais acima do início de 2020. O fluxo, altamente impactado pelos meses fechados e pelas restrições de funcionamento, terminou 2020 com uma queda de 29%.
RSC – Como avalia a recuperação das vendas desde a reabertura?
LSC – Cenário ainda bastante delicado e muito sujeito às decisões dos diferentes governos dos estados. Temos praças que estão, desde agosto de 2020 com crescimento de vendas totais e de vendas nas mesmas lojas (SSS). Mas, também temos praças que estão com quedas médias de vendas em torno de 20%. Ainda é uma realidade muito heterogênea e onde mais temos dedicado tempo para pensar em ações de incremento.
RSC – Com a vacinação, como fica a expectativa para esse ano?
LSC – Nossa expectativa é alta. Nossas metas estabelecidas para 2021 são bastante desafiadoras e contamos, muito, com a união das diferentes esferas públicas para que este processo de vacinação seja efetivo e rápido. Vidas precisam ser protegidas, empresas precisam voltar a ter o mínimo de previsibilidade para retomar seus investimentos e, com isso, retomarmos nosso ritmo de crescimento. Nossos shoppings estão todos à disposição dos entes públicos, para montagem dos postos de vacinação. Em algumas praças, já estamos vendo isto na prática, como em nossas unidades do Piauí e do Maranhão. O Brasil merece isso e nós estamos fazendo nossa pequena parte neste cenário. Está na hora de todos estarmos focados no mesmo objetivo!