O momento atual da Tenco Shopping Centers e Everest Empreendimentos
Venda de mais um ativo e novos investimentos em mixed use fazem parte da estratégia do grupo
À frente dos negócios, o casal Adriana Gribel e Eduardo Gribel comanda duas empresas do mesmo grupo econômico. A Tenco Shopping Centers tem uma tese de investimentos do Fundo Pátria Investimentos, com foco na construção e administração de shoppings em cidades do interior ou capitais como Macapá (AP) e Boa Vista (RR), ou seja, em municípios com menos de 500 mil habitantes. A Everest Empreendimentos desenvolve outros tipos de empreendimentos de real state como, por exemplo, projetos mixed use e condomínios de luxo à beira-mar.
Após um período difícil enfrentado na pandemia, os empresários recompraram a totalidade da Tenco no ano passado e, hoje, o portfólio é composto por três empreendimentos. Ao mesmo tempo, a Everest Empreendimentos tem dois projetos em estudo: o Himalaya Town Center e o Inova Parque, ambos no estado de Minas Gerais. Em entrevista à Revista Shopping Centers, Adriana Gribel, CEO da Tenco, fala sobre o cenário atual dos negócios.
RSC – Atualmente, quantos empreendimentos compõem o portfólio da Tenco e da Everest Empreendimentos?
AG – Os shoppings do Sul e Sudeste, que eram da Tenco, foram executados pelo Bradesco, e o Pátria teve que entregá-los por falta de pagamento ao financiamento. Em abril de 2022, eu e o Eduardo Gribel recomprarmos a totalidade da Tenco com os shoppings restantes que eram o Arapiraca Garden Shopping, Jaraguá do Sul Park Shopping, Amapá Garden Shopping, Roraima Garden Shopping e Juá Garden Shopping. Os dois primeiros já vendemos para a Partage no ano passado e estamos com os três últimos.
A Everest tem os seguintes empreendimentos em seu portfólio: Himalaya Town Center – mixed use com shopping, hospital, centro de convenções, teatro, três edifícios residenciais e dois edifícios comerciais; Inova Parque – mixed use com shopping, power center, hospital, cinema, 1.200 apartamentos, centro administrativo de Contagem/MG e torres comerciais; Villa Rangiroa, condomínio de casas de luxo na Praia de Mogiquiçaba no sul da Bahia; Villa Aroeira, condomínio de casas, vilas e hotel na Praia do Guaiú no sul da Bahia; Condomínio Pedra Histórica, de casas de campo em Brumadinho (MG) e tanques de estocagem da Petrobrás.
RSC – Existe uma sinergia entre a Tenco e a Everest Empreendimentos?
AG – Totalmente. Praticamente todos colaboradores da Everest são oriundos da Tenco, de forma que a cultura organizacional das duas empresas é a mesma.
RSC – A tomada de decisões se torna mais fácil por ter um casal à frente das duas empresas?
AG – Nem sempre. Eu e Eduardo temos estilos de gestão diferentes, além de competências e skills distintos. Enquanto o Eduardo é um excelente negociador, eu sou melhor na liderança. Por isso, optamos por nos complementar e cada um tomar as decisões conforme suas competências. Além disto, eu sou a CEO da Tenco e o Eduardo da Everest.
RSC – Para 2023, há planos de expansão ou mesmo de vendas e aquisições de shopping centers?
AG – A Tenco está em fase de Due Diligence para a venda do Juá Garden Shopping. Permaneceremos com o Amapá Garden Shopping e o Roraima Garden Shopping.
RSC – O que motivou a venda de ativos no ano passado?
AG – A crise do varejo motivada pela Covid fez com que a Tenco ficasse muito descapitalizada, uma vez que tivemos que garantir a saúde financeira e continuidade de muitas lojas. Ficamos muito tempo com muitos lojistas inadimplentes. A venda dos ativos feita em 2022 foi para nos proporcionar recursos para mantermos os demais.
RSC – Há investimentos sendo realizados em dois greenfields, o Himalaya Town Center e o Inova Parque. Gostaria que me contasse o que eles trazem de diferencial, o valor total do investimento feito em cada um deles e as datas previstas de inauguração.
AG – Cada um deles tem um investimento em torno de 1 bilhão de reais. Ainda não temos a data prevista para inauguração, por ainda estarmos em fase de elaboração e compatibilização de projetos. O diferencial deles é que ambos atendem o conceito de Cidade 15 Minutos da Organização das Nações Unidas, onde as pessoas conseguem percorrer em até 15 minutos a pé ou de bike todo o empreendimento, podendo se deslocar de casa ao trabalho, às compras, ao lazer, hospital e outros. São empreendimentos com baixa geração de gases efeito estufa por não necessitarem do uso de carros para os moradores e pessoas que trabalham no empreendimento, sendo somente necessário para os consumidores que se deslocam de outros bairros.
RSC – O que levou o Grupo Tenco a focar sempre em investimentos em shoppings do interior do Brasil? Acredita que o fenômeno da interiorização deve continuar? Há planos de investir em mais shoppings dominantes nessas regiões?
AG – Escolher investir em shoppings no interior foi devido à tese de investimentos desenvolvida pelo Pátria Investimentos, fundo que investiu na Tenco a partir de 2011. Acredito que o fenômeno de interiorização deve continuar, pois é um processo irreversível. A chegada dos shoppings às cidades de interior faz com que eles se tornem o ponto de oferta das experiências mais notáveis aos consumidores com conforto e segurança. Entretanto, no momento, não temos previsão de abertura de novos shoppings.
RSC – A sua paixão e de seu marido, senhor Eduardo Gribel, pelo montanhismo têm uma forte ligação com os negócios. Gostaria que me explicasse como essa experiência se comunica e é incorporada à companhia, além de estar presente no nome dos novos empreendimentos e da própria Everest e na logomarca dos ativos.
AG – As montanhas são o nosso lugar de descanso mental e exercício de autoconhecimento. De lá trouxemos muitos aprendizados que nos ajudaram a construir a cultura vitoriosa da Tenco, definir a logomarca da Tenco, instituir o Time Garden – no montanhismo o trabalho em equipe é essencial e as habilidades de cada um contribuem muito para o sucesso do projeto e da sobrevivência. Valores de um time como persistência, compromisso, criatividade, respeito às diferenças, capacidade de dialogar, foco e disciplina – comuns ao montanhismo e ao ambiente empresarial – puderam ser passados por nós aos colaboradores de forma mais orgânica e vivida. O mesmo acontece com aspectos técnicos como avaliação de risco, planejamento preciso e adequado, levantamento de fatos e dados e acompanhamento de indicadores.
RSC – Assim como praticar o montanhismo envolve vários desafios, quais são os momentos mais desafiadores atualmente nos negócios?
AG – Os momentos mais desafiadores vêm das inúmeras incertezas atuais, que são maiores que nunca, devido às sequelas deixadas pela pandemia e pela instabilidade política.
RSC – Quais foram os fatos mais marcantes desde a fundação da Tenco que deu a mesma sensação de se chegar ao topo de uma montanha?
AG – Um destes momentos foi quando em 2011 o Pátria Investimentos nos escolheu, principalmente pela nossa forte cultura, para investir 1 bilhão de reais na tese de shoppings no interior do Brasil e outro foi em 2016, quando em 7 meses inauguramos três shoppings – Via Café Garden Shopping e Juá Garden Shopping em abril e Bragança Garden Shopping em novembro.
RSC – Como está a taxa de ocupação, vendas e fluxo dos shoppings?
AG – As vendas e fluxo dos shoppings estão voltando aos patamares de 2019. Entretanto, a taxa de ocupação dos nossos shoppings, por serem no interior, ainda não voltou aos mesmos índices, pois perdemos muitos lojistas locais, que não suportaram a crise e fecharam suas lojas.
RSC – Qual é expectativa para 2023?
AG – As nossas projeções mostram que teremos o ano da retomada do varejo.
RSC – Como a Tenco e a Everest Empreendimentos têm trabalhado a agenda ESG (Environmental, Social and Governance)?
AG – Esta agenda sempre foi importante para a Tenco, mesmo antes da alcunha da sigla ESG. Sempre trabalhamos o tripé da sustentabilidade com ações economicamente viáveis, ecologicamente corretas e socialmente justas.
RSC – Por acompanhar a atuação da Abrasce em defesa do setor, como analisa o papel da entidade?
AG – O papel da Abrasce defendendo o setor é muito importante, uma vez que a entidade trabalha pautas de relevância nacional e busca mostrar ao poder público a importância da indústria de shopping centers para a economia nacional na geração de empregos e no recolhimento de impostos entre outros.