A Casa Reviva, que mantém projetos de impacto social no Brasil e na África, inaugura novas lojas, expande operação com modelo de franquias e leva para o consumidor o acesso ao consumo com propósito
Beatriz Marcelino, 25 anos, e Bruno Silvestre, 27 anos, são amigos e fundadores da Rede Reviva. Desde a adolescência, pensavam em como poderiam contribuir com uma sociedade mais justa e para dar o primeiro passo começaram a fazer ações sociais com um grupo de amigos na cidade de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Após Beatriz fazer uma expedição humanitária para Moçambique em 2013, fundaram a ONG Reviva, que hoje é responsável por levar água potável, educação e renda para comunidades remotas no Brasil e na África.
Para conseguir manter e expandir ainda mais o impacto social, a dupla procurou outra forma de manter os projetos. “Conseguir doações é sempre complicado. As pessoas param de doar, mas não param de comprar. Por isso, decidimos vender”, explica Silvestre. E assim, fundaram a primeira loja da Casa Reviva em 2018, no bairro de Pinheiros, em São Paulo (SP). Não demorou muito tempo e eles entraram em shoppings do Rio de Janeiro e agora em São Paulo. “Esses empreendimentos precisam diversificar o mix e a compra com propósito é uma tendência”, pontua.
Em expansão
Em 2020, foram duas lojas-conceito abertas no Rio Design Barra e Rio Design Leblon, ambos da Ancar Ivanhoe. Como era um momento bem delicado com as restrições devido à pandemia, os shoppings concederam descontos e isenções. Em junho deste ano, a primeira flagship de São Paulo foi inaugurada no MorumbiShopping. O espaço tem proposta inovadora e conceitua o que é o phygital, já que integra os ambientes físico e digital, movimento que já estava em alta no varejo, mas que foi acelerado com o isolamento social causado pelo coronavírus.
A Casa Reviva reúne um coletivo de marcas conscientes de 150 pequenos produtores de diferentes localidades, além das marcas próprias. Nas flagship stores, como a do MorumbiShopping, por exemplo, o cliente tem acesso aos itens expostos ali e também à curadoria do site, podendo adquirir qualquer produto do digital no ambiente físico e recebê-lo em casa em poucos dias. Para revender os produtos nas lojas, é preciso passar por uma curadoria bem criteriosa. “Trabalhamos com uma remuneração justa com produtos de baixa e média escala. Os produtores deixam uma comissão para a Casa Reviva e esse valor paga os custos fixos. Temos ainda marcas próprias que representam 40% do faturamento e levam o impacto social. Então, as marcas próprias são bem importantes”, explica.
Denise Spada, proprietária da Annesso, loja especializada em arte popular brasileira, é parceira da Casa Reviva nas operações dos três shoppings – Rio Design Barra, Rio Design Leblon e MorumbiShopping. “Fechamos essa parceria justamente por conta da venda com propósito e ainda conseguimos levar uma curadoria da arte brasileira de uma forma ampla e para um público mais jovem”, relata. Denise vende peças de maior valor agregado, com uma saída média de dez peças por mês, mas, só no primeiro dia de abertura da operação do MorumbiShopping, foram seis obras vendidas.
Para Keli Neves, fundadora da Koisas da Keli, fazer parte da curadoria da Casa Reviva traz um envolvimento muito mais amplo. Segundo ela, que também participa de ações sociais, é gratificante saber que está colaborando com projetos grandiosos como o fornecimento de água potável para comunidades que não têm abastecimento. “A vivência é maravilhosa. Do ponto de vista comercial, tivemos a oportunidade de aumentar as vendas com ampliação das lojas. Não é simplesmente um espaço colaborativo. É muito bacana fazer parte de tudo isso e saber ainda que está beneficiando várias pessoas”, conta.
Para o fundador, as lojas vieram para mudar a relação de compra e de venda.
“Começamos a contar de fato o que há por trás de cada produção, desenvolvendo o consumo com propósito e, ao mesmo tempo, o impacto social dos nossos projetos”, diz.
Sob os holofotes
Com esse propósito diferenciado, somente em junho, a Casa Reviva recebeu nove convites para entrar nos malls. “Os shoppings precisam desse refresco no mix, especialmente depois da Covid-19, pois as pessoas estão buscando comprar com mais significado”, explica. É isso o que reflete o público consumidor da loja, em sua maioria das classes A e B e predominantemente formado por mulheres, que buscam desde artigos para casa e presentes até cosméticos veganos.
A Casa Reviva pretende expandir ainda por meio do modelo de franquias. A decisão por esta abertura de mercado está ligada ao engajamento dos fundadores em acompanhar os projetos atendidos. “A operação própria requer muito tempo de dedicação para o crescimento. A gente quer ir a campo com mais frequência. Por isso, decidimos abrir para franquias.” A procura tem sido alta e há até quem já esteja interessado em internacionalizar a marca, levando uma operação para Paris, na França. “Tudo ainda em fase de negociação”, reforça. Certo mesmo são duas novas franquias já comercializadas para esse ano: uma em Florianópolis (SC) e outra em Curitiba (PR), essa última dentro de um shopping. “Estamos negociando com mais três. As pessoas têm recebido muito bem. No entanto, os nossos critérios para abertura de franquias também são muito fortes”, completa.
O foco do negócio
Hoje, os projetos sociais são mantidos 100% pelas lojas. De acordo com Silvestre, a organização não recebe doações faz um bom tempo. “Quando alguém quer doar, direcionamos para a compra em nossas lojas. Cada operação dispõe, em média, de 7% do faturamento bruto para sustentar os custos com impacto. Lembrando que temos mensalmente um valor fixo em cada projeto para manter a roda girando. O excedente de vendas é utilizado para melhorias de infraestrutura e abertura de novas ações”, explica.
Graças ao recurso proveniente das lojas, mesmo num ano de desafios econômicos como foi 2020, as ações mantiveram a mesma média de investimento anual de 2019, cerca de US$ 50 mil, sem deixar de cobrir as que já eram atendidas. “Adiamos pra 2022 a entrada no Nordeste, que aconteceria no ano passado, mas devido ao cenário, não conseguimos evoluir.”
Ao lembrar das primeiras conversas com Beatriz, o fundador declara: “sabíamos que seríamos grandes de alguma forma. Por isso, queremos valorizar cada momento agora. A vida nos surpreende. Até 2019, eu dividia meu tempo entre a loja e a atuação no mercado de trabalho em uma multinacional. Não tive dúvidas quando precisei optar. Escolhi o que estamos construindo juntos”, finaliza.