MAR/ABR 2023 - Edição 246 Ano 36 - VER EDIÇÃO COMPLETA
ESG

Os conceitos da inovabilidade

6 de abril de 2023 | por Solange Bassaneze / Fotos: Divulgação
A inovação para sustentabilidade em um só pilar

Termo usado para associar as iniciativas que unem inovação e sustentabilidade em uma estratégia única na agenda ESG (Environmental, Social and Governance), a innovability tem ganhado cada vez mais relevância em grandes companhias, especialmente nas indústrias, e, muitas vezes, são as startups que encontram as soluções. Mas o que a inovabilidade traz de novo?

Segundo Helio Biagi, cofundador do OasisLab, esse conceito propõe o desenvolvimento empresarial com a inovação permeada pela sustentabilidade, gerando ganhos econômicos, sociais e ambientais. “Há empresas que estão criando departamentos de inovabilidade, mas o mais importante é que ela seja trabalhada de forma estratégica e nunca isoladamente por uma área, ou seja, precisa estar presente na cultura da companhia. Empresas como Gerdau e Suzano fazem isso com excelência e servem de inspiração, impulsionando iniciativas em outros setores como o varejo.” No entanto, as companhias de energia foram as primeiras a unificar esses pilares, buscando fontes de energia limpa que causem menos impacto e seguem investindo em novos projetos.

Helio Biagi, cofundador do OasisLab

Ao mesmo tempo, a palavra inovabilidade pode trazer uma reflexão para que seja feita uma avaliação da integração de áreas diferentes.

“Por vezes, tínhamos práticas de sustentabilidade e de inovação geridas separadamente, sem necessariamente as áreas se comunicarem. Dessa forma, uma inovação nem sempre propunha uma política de sustentabilidade, na qual o outro departamento estava com o objetivo de construir. A união desses dois pensamentos e estratégias propiciou o termo de inovabilidade.”

De acordo com o Marcus Nakagawa, professor doutor e coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS), da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), há muitos conceitos sendo criados, mas o fundamental é trabalhar com uma base sólida de indicadores, que, realmente traga, uma mudança efetiva como o Sistema B, o Instituto Ethos, relatórios de sustentabilidade com parâmetros do Global Reporting Initiative (GRI), índices sustentáveis da Bolsa de Valores ou até algumas baseadas no capitalismo consciente.  

Ronald Nossig, CEO da Varejo180 e sócio do OasisLab, acredita ainda que a inovabilidade vem trazer um reposicionamento da sustentabilidade na vida das pessoas. Não é algo novo, porém precisou ser rotulado de uma forma diferente. “Há muitas questões a serem trabalhados, pois é preciso aprender a cuidar e redirecionar as nossas ações, senão, teremos um problema que não pode ser revertido. Como alerta o projeto Upcycling the Oceans, da marca moda sustentável espanhola Ecoalf, que tem o objetivo de limpar os oceanos, não existe Planeta Terra B”, enfatiza Nossig.

Por isso, o olhar atento para as startups é contínuo por companhias do mundo todo, já que boa parte está mergulhada em desenvolver projetos para os mais diversos negócios com esse propósito, sendo um braço muito importante no desenvolvimento tecnológico e sustentável. As empresas jogam os desafios e as startups buscam soluções. E quando isso é aplicado nos processos, diminuem-se os perigos socioambientais. “A startup, hoje, que não tiver isso no escopo, não irá avançar”, reforça Nossig.

Marcus Nakagawa, professor doutor e coordenador do CEDS/ESPM

No entanto, antes de tudo, é essencial haver uma mudança de minset. “Toda tecnologia deveria ser criada com os cuidados ambientais e sociais, propondo iniciativas para resolver os problemas do mundo, porém ainda há muitos negócios sendo realizados apenas para ganhar dinheiro. É essa mentalidade que deveria mudar e não apenas se pensar em segmentar as inovações. Muitas vezes, ficam atrás do disruptivo e não fazem o básico. Lembrando sempre que qualquer inovação deve seguir os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas”, provoca Nakagawa.  É preciso ainda que a alta liderança esteja envolvida e esse pilar esteja na cultura da empresa.

Nos malls

Para os shopping centers, validar uma iniciativa sempre dependerá do público, o que demanda um tempo maior. Ao mesmo tempo, como estudam cada vez mais a experiência do consumidor, sabem que a sustentabilidade completa essa jornada. “Os shoppings e o varejo têm um processo educativo envolvendo o consumidor, diferentemente dos produtos de massa das indústrias. Muitos ensinam o cliente a reciclar o lacre da latinha, descartar os resíduos, outros investem em energias limpas, abrem as iniciativas para visitação… Por isso, escutar mais o consumidor nessa jornada é fundamental”, reforça Nakagawa.

Ronald Nossig, CEO da Varejo180 e sócio do OasisLab

O Boticário é um grande exemplo dentro do varejo, pois coloca a inovabilidade em toda a sua cadeia. “O shopping pode entender e trabalhar, na medida do possível, junto com operações que praticam isso. Quando os propósitos são comuns, ampliam-se essas oportunidades”, indica Biagi.

Apesar de muitas vezes estar atrelada à tecnologia, a inovabilidade também pode vir do resgate de algo que já foi feito no passado. “Estamos encontrando hoje saídas, que, muitas vezes, são uma readequação do que foi feito tempos atrás, só que existem algumas formas de se colocar em prática com mais facilidade devido às tecnologias existentes na atualidade, o que se torna mais palatável ao consumidor. Um exemplo é o sistema de garrafas retornáveis da Alemanha, algo que já se fazia no passado, levando os vasilhames vazios para serem trocados, mas que, hoje, oferece benefícios aos clientes que praticam essa ação. Talvez, para gerações mais novas, alguns projetos são uma inovação. Então, a inovabilidade também pode ser um resgate da aplicabilidade sem necessariamente estar atrelada a uma questão tecnológica”, destaca Nossig. 

Fazendo a diferença

Conheça algumas startups, recomendadas pelo OasisLab, que têm em seu DNA a inovabilidade.

Energy2GO

A empresa de energia móvel oferece soluções de compartilhamento de carregadores portáteis para smartphones, gerenciando toda a cadeia desde da produção até o descarte correto das baterias. “Além de gerar uma redução na quantidade de baterias, a iniciativa tem um uso mais responsável e uma gestão adequada”, conta Victor Gomes, CEO da Energy2Go. E o cliente tem isso à mão com muita facilidade: basta se dirigir até um terminal, fazer a leitura do QRCode, cadastrar o meio de pagamento e pegar um power bank carregado, podendo devolvê-lo em qualquer outro ponto, o que faz com que o usuário não tenha que parar suas atividades para carregar o celular. “Estamos presentes em 70 pontos no Rio de Janeiro e em São Paulo, o que envolve desde parques, varejo, estádios, shoppings, restaurantes e clubes, e pretendemos chegar a 100 locais em breve, com a intenção de entrar em Minas Gerais ainda esse ano. A adesão de usuários tem sido cada vez maior e estamos próximos de alcançar 20 mil aluguéis desde o início da operação no final de 2018.”

Victor Gomes, CEO da Energy2Go

Mas a Energy2Go não parou e agora traz uma novidade para o mercado, envolvendo a mobilidade urbana.

Em parceria com a Lev, está ofertando a primeira rede de battery swapping, ou seja, estação de compartilhamento de baterias para bikes elétricas.

“É o primeiro serviço do tipo na América Latina. Já estamos em alguns postos da rede Ipiranga no Rio de Janeiro e a ideia é expandir para todo o Brasil.”

A bateria de um ibike leva três a quatro horas para carregar. Nas estações, em menos de um minuto, o ciclista tem uma bateria totalmente carregada para usar e seguir viagem. “E isso viabiliza a mobilidade elétrica com a adoção de meio de transporte mais sustentável.

O cliente compra a bike elétrica a um preço mais barato e assina esse serviço de bateria Energy2Go”, explica Gomes. Há uma fila de pré-venda do serviço, mas esperam alcançar até dez estações no fim do ano. A ideia é expandir para todo o Brasil. 

Bendito Jardim

Ainda esse ano, os clientes de dois shoppings de São Paulo (SP), que ainda não podem ser divulgados, poderão viver uma experiência verde em pontos de venda idealizados por Anderson Borges, fundador e sócio da Bendito Jardim. Essa é a marca que pretende revolucionar a forma como as plantas são comercializadas, pois, muitas vezes, parecem ser simplesmente objetos de decoração. 

Anderson Borges, fundador e sócio da Bendito Jardim
“A ideia de biofilia precisa ser traduzida e está fazendo tanta falta na vida do ser humano que o homem está buscando-a por meio das plantas, pois elas são capazes de fazer essa conexão com a natureza. Mas é preciso saber que as espécies precisam de cuidados de cultivo adequados, conforme suas características. Ao comprar uma planta, o consumidor está levando a natureza para casa e poderá aproveitar todos os seus benefícios.” 

Nas lojas da Bendito Jardim, o cliente receberá todas as informações necessárias e saberá realmente o que é indicado para o ambiente. “Vamos trabalhar ainda com fornecedores que praticam o cultivo sustentável e teremos esse olhar de inovação e conscientização, envolvendo a sustentabilidade, pois os recursos são finitos”, explica Borges. 

Uma das operações será um megaquiosque, que funcionará por 60 dias, e servirá de termômetro para a abertura de uma loja, e o outro será uma concept store. 

SaveAdd

Pensar no que poderia ser reaproveitado ou doado. É assim que nasceu a SaveAdd, uma plataforma que cria a governança do que fazer com o excedente por meio uma metodologia de Inteligência Artificial, evitando o desperdício de alimentos. Para poder mensurar os resultados, em apenas duas operações, supermercado e indústria, 100 toneladas de alimentos foram salvas, gerando uma economia superior a R$ 500 mil em compras para ONGs e restaurantes, com incremento de 10% na lucratividade, no caso do supermercado, em um período de um ano. A ferramenta pode ser também implementada em shopping centers. “Esses locais têm muita perda, sendo que não é necessariamente do shopping, mas de terceiros. No entanto, o empreendimento tem um papel importante nessa governança do que pode ser feito e até orientar esses parceiros locais para diminuir os resíduos, gerando receita ou mesmo promovendo doações. E tudo isso acontece em uma central única de vendas”, explica Salvador Iglesias, CEO da SaveAdd. O plano é não deixar o excedente virar lixo. O sistema organiza se a operação quer destinar para a venda ou doação. “A meta é recuperar 50% do custo que essa operação teria com a perda”, diz Iglesias. 

Salvador Iglesias, CEO da SaveAdd

Para ter esse cunho comercial, esses itens ainda precisam estar em condições de uso para os atores que ainda vão explorá-lo financeiramente e, na maioria das vezes, esse processo tem que ser muito rápido. A ferramenta também consegue atender quem necessita de uma regularidade maior de produtos com um volume mais assertivo. “O sistema ainda faz um controle e uma gestão de indicadores relevantes de ESG e gera dinheiro onde não tinha mais dinheiro, sem comprometer processos operacionais de todos os envolvidos”, explica Iglesias. 

A SaveAdd tem atuação em quatro estados e ganhou destaque internacional no Websummit e no processo da Climate Lauchpad 2021. Recentemente, foi anunciada como uma das finalistas do Mercadão for startups para atender o Mercado Municipal de São Paulo.

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