Certificados comprovam que a energia utilizada é de fonte renovável e com baixa emissão de carbono
A sustentabilidade é um dos pilares de muitas empresas, que buscam contribuir com práticas de ESG (Environmental, Social and Corporate Governance). Na questão energética, muitas companhias querem comprovar esse compromisso ambiental por meio de Certificados de Energia Renovável (REC). Essa certificação é emitida pelo Internacional REC Standard (I-REC) aos geradores e podem ainda ter a chancela da REC Brazil, fomentando o mercado de energia gerada por fontes renováveis e de alto desempenho sustentável.
Bom para todos os lados
De acordo com Dario Miceli, head de comercialização e trading da Enel Trading, o aumento das vendas de certificados está associado à crescente preocupação das empresas com a agenda ESG. “Em função das discussões sobre as mudanças climáticas, os consumidores – e a sociedade em geral – estão cobrando das empresas que demonstrem o que estão fazendo para promover uma economia de baixo carbono. Neste sentido, a sustentabilidade ganha cada vez mais relevância na estratégia das empresas de diversos setores”, explica.
Por isso, os certificados são importantes para quem quer mostrar esse comprometimento em colaborar com o meio ambiente utilizando energias de fontes renováveis. Segundo Ricardo Motoyama, diretor-presidente de Comercialização da CPFL Soluções, o I-REC funciona como um sistema global de rastreamento de atributos ambientais de energia. “Além de uma forma de contribuir para a redução das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera, usar energias renováveis é uma maneira de agregar valor ao produto ou serviço”, diz Motoyama. Shoppings e grandes varejistas já estão entre as companhias que buscam ter mais essa certificação e há muitos outros empreendimentos do setor interessados nessa aquisição.
Para as geradoras, é interessante ser certificada, pois atesta que a energia gerada é limpa e rastreada. Adriana Luz, executiva de vendas da Trinity Energia, destaca que, ao participar desse conceito, as usinas criam uma nova fonte de renda e ampliam a base de interessados. “Essa receita serve também de incentivo direto para que o produtor continue investindo em geração de energia renovável e em programas de sustentabilidade. As comercializadoras de energia podem transacionar esses certificados a partir do momento em que se tornam participantes homologadas pelo Instituto Totum com o direito de transferir e aposentar os certificados dentro da plataforma”, explica. Para empresas e usinas geradoras de energia, investir nesta área auxilia no fortalecimento da marca e aprimora o relacionamento do negócio com a sociedade e o meio ambiente.
Por serem reconhecidos internacionalmente, os certificados podem ser utilizados para o cumprimento de iniciativas e metas de sustentabilidade, como a Iniciativa Global RE 100, o Escopo 2 do Programa Brasileiro GHG Protocol e a Certificação Leed. “Servem ainda para melhorar os indicadores em programas de reporte, com Carbon Disclosure Program (CDP), Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) e o Down Jones Sustainability Index (DJSI)”, pontua Adriana.
Cada REC representa uma unidade de geração de energia renovável, ou seja, 1 REC equivale a 1 MWh (megawatt hora). “Ao adquiri-lo, o consumidor passa a contar com uma certificação global e auditada, permitindo zerar as emissões de gases de efeito estufa atreladas ao consumo de energia elétrica, em linha com metodologia do GHG Protocol. O I-REC incentiva investimentos na construção de novas usinas de energia limpa, na medida em que torna esses projetos mais atrativos e rentáveis. Deste modo, contribui para a descarbonização da matriz elétrica”, reforça Miceli.
Em ascensão
De acordo com o Instituto Totum, principal órgão responsável pela gestão dos certificados, o Brasil quase dobrou a emissão de RECs em um ano. Foram 2,5 milhões em 2019 e 4 milhões em 2020. “Para esse ano, a projeção é de fechar com mais de 8 milhões de certificados emitidos e 200 usinas”, relembra Adriana. No país, 167 usinas estão certificadas e 32,5% dos I-RECs emitidos em 2020 possuem a chancela REC Brazil de sustentabilidade, que está relacionado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
“Nos últimos anos, a responsabilidade socioambiental vem ganhando cada vez mais importância e mostrar ao consumidor que as ações sustentáveis estão de fato sendo feitas é um dos reflexos do crescimento do mercado de Certificados de Energia Renovável no Brasil”, afirma Motoyama.
A Enel comercializa certificados de energia renovável no país desde 2018. Ano a ano, a companhia tem observado um crescimento no volume de certificados renováveis comercializados em contratos de longo prazo. “Para efeito de comparação, a companhia saltou de 11 mil I-RECs negociados em contratos, em 2018, para 1,5 milhão negociados ao final do primeiro trimestre de 2021”, destaca Miceli.
Atualmente, o parque de geração renovável da Enel no Brasil totaliza uma capacidade instalada de 3,4 mil MW, sendo 1,210 mil MW de projetos eólicos, 979 MW de usinas solares e 1,269 mil MW de empreendimentos hidrelétricos. Os certificados negociados pela Enel, emitidos pelo Instituto Totum, são oriundos da hidrelétrica Cachoeira Dourada, localizada na divisa entre Minas Gerais e Goiás, da usina eólica Modelo I, no Rio Grande Norte, e do parque solar Fontes Solar, em Pernambuco – os dois últimos empreendimentos são operados pela Enel Green Power Brasil. “Este ano, a Enel está registrando outros projetos no I-REC Service, sistema global de rastreamento de atributos ambientais, para atender à crescente demanda dos clientes corporativos pelos certificados.
O grupo CPFL realiza o cadastro de usinas de geração desde o início de 2020, assim como o cadastro da CPFL para a venda dos certificados. Dessa forma, garante agilidade no processo e disponibilidade de selos de energia renovável aos clientes. “Considerando nosso portfólio de geração, temos a capacidade de comercializar cerca de 7 milhões de certificados ao ano. Em 2020, contávamos com três projetos já registrados no I-REC (PCH – Pequena Central Hidrelétrica – Santa Luzia, Usina Eólica Eurus I; e Usina Eólica Praia Formosa) e temos mais dois em processo de registro (Usina Eólica Vento de Santo Dimas e Usina Eólica Ventos de Santa Úrsula).”
A Trinity Energia aderiu a plataforma de I-RECs do Instituto Totum no final de 2020 e vem sendo procurada por empresas, principalmente multinacionais, interessadas em adotar práticas de sustentabilidade dentro da sua empresa.
Aquisição do certificado
Adriana explica que todo o consumidor do mercado cativo (regulado) ou do mercado livre pode adquirir esse certificado. “Ele pode ser negociado de duas formas: posterior ao consumo de energia, ou seja, adquire-se RECs retroativamente referente ao consumo verificado; ou junto com a contratação de energia quando o fornecedor deve repassar a energia junto com os RECs. As fontes autorizadas a serem negociadas são eólica, solar, biomassa e pequenas centrais elétricas (PCH)”, explica a executiva de vendas da Trinity Energia.
De acordo com Motoyama, para empresas que compram energia convencional, os certificados são ainda mais interessantes, pois elas neutralizam suas emissões. Vale lembrar que o I-REC tem reconhecimento global e é usado mundialmente para rastreio de atributos ambientais. “Qualquer consumidor de energia, a despeito da classe de consumo, pode adquirir os certificados de energia, inclusive pessoas físicas e organizações sem fins lucrativos”, complementa Miceli.
Os interessados encontram os participantes registrados na plataforma I-REC. Os preços definidos em R$/MWh são negociados livremente entre consumidores e geradores registrados. “Uma vez acertada as condições financeiras e contratuais entre as partes, os RECs são transferidos para os clientes – ao ser emitido para um cliente não pode ser comercializado novamente pelo gerador para outro consumidor. O consumidor paga pela compra do certificado, ao passo que o gerador é o responsável por pagar as taxas de transferência e emissão dos certificados”, explica head de comercialização e trading da Enel Trading.
Todas as transações financeiras entre as partes ocorrem fora da plataforma do I-REC. Por sua vez, ela garante a existência do certificado e a origem da energia, além de evitar a duplicidade de venda. A precificação é de acordo com a quantidade de RECs que a empresa precisa, o que depende da fonte, do consumo de energia e do período.
O certificado traz informações como o padrão de certificado adotado, a origem da emissora, o prazo de validade, o volume de energia certificada, QRCode de verificação da veracidade do certificado, entre outros dados.
E podem ser divulgados ao público, o que é interessante para as empresas. “Algumas inserem as informações em displays, documentos comerciais, notas fiscais, homepage em seus sites, entre outros materiais”, ressalta Motoyama. Com certeza, mostrar ao consumidor o compromisso da companhia com o meio ambiente é algo cada vez mais relevante para os negócios.