NOV/DEZ 2023 - Edição 250 Ano 36 - VER EDIÇÃO COMPLETA
ESG

Eficiência hídrica em shoppings 

10 de dezembro de 2023 | por Solange Bassaneze / Fotos: Divulgação
As soluções reduzem o consumo de água pelas concessionárias, trazem autonomia, autossuficiência e segurança no abastecimento e ainda melhoram os índices do relatório de sustentabilidade

A gestão de recursos hídricos é essencial para minimizar os impactos ambientais e uma parcela dos shoppings tem isso como mandatório. São diversas medidas adotadas para diminuir o consumo e há muitos avanços sendo feitos continuamente pelo setor. Segundo o Relatório de Sustentabilidade da Abrasce, 46% do suprimento hídrico são provenientes de concessionárias de abastecimento e a segunda fonte mais utilizada é poço artesiano, correspondendo a 33%. Outros dados trazidos pelo estudo mostram que 25% dos shoppings adotam sistemas de captação de água das chuvas. Além disso, 35% dos shoppings possuem Estações de Tratamento de Água (ETA) e Estações de Tratamento de Efluentes (ETE). 

Sistema de reúso premiado do Iguatemi Campinas

“Os sistemas de tratamento de águas, efluentes e reúso buscam reduzir o custo operacional, mediante à diminuição do consumo de água das concessionárias públicas”, explica Diogo Taranto, diretor de desenvolvimento de negócios do Grupo Opersan, companhia com atuação nacional, que presta serviços em mais de 20 empreendimentos comerciais, incluindo o Park Shopping Campo Grande (RJ). Mas há muitos mais ganhos que vão além da economia com a ETA e ETE. Segundo Élida Raquel Achete Drongek, engenheira ambiental e gerente de vendas da General Water, essas estações também geram autonomia e autossuficiência e dão segurança ao abastecimento. “Além disso, alguns shoppings nos procuram porque possuem problemas em sistemas mais antigos e querem melhorar esse processo, assim como há a questão do ESG (Environmental, Social and Governance) em que os grandes players buscam implementar essas boas práticas em todos os shoppings do grupo”, complementa Élida.

Roberta Boaventura, coordenadora de Novos Negócios da Cetrel, enaltece ainda que o ganho de autonomia na gestão dos recursos hídricos libera a concessionária para abastecer mais a sociedade, destinando os recursos hídricos para quem não possui outras fontes. “Esse ponto é crucial, pois em cenários de crise hídrica – em casos de seca ou de enchentes – , o abastecimento da população sempre será priorizado em relação a estabelecimentos comerciais ou industriais.” 

No caso da água de reúso, ao criar uma matriz de tratamento on-site, o cliente passa a contar com uma estação de tratamento de efluentes e isto permite que ele reutilize o efluente tratado para fins não potáveis, como sistema de resfriamento, irrigação e vaso sanitário. “Esta alteração no uso da matriz hídrica traz uma economia de água potável, contribuindo para a redução de pegada hídrica e, consequentemente, para o pilar ambiental do ESG”, diz Roberta. 

Atualmente, a General Water é a maior fornecedora de soluções de abastecimento de água potável e tratamento de esgoto com foco em reúso para o setor de shopping centers. Atendem 40 shoppings de 11 grupos empreendedores nas regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste.

Élida Raquel Achete Drongek, engenheira ambiental e gerente de vendas da General Water
“Em mais de 20 shoppings possuímos sistemas integrados completos, que contemplam água potável e o tratamento de esgoto com o foco na reutilização para fins não potáveis, como vasos sanitários, mictórios, torres de resfriamento, irrigação e água de serviço. Oito shoppings possuem apenas sistemas de reúso e, em dez empreendimentos, somos responsáveis pelo abastecimento de água potável. Em nossos contratos, assumimos os riscos e os custos relacionados ao projeto, implantação, operação e manutenção dos sistemas. A única contrapartida financeira do cliente ocorre através do pagamento pelo volume (m³) consumido, seja da água potável ou de reúso”, conta Élida.

No Grupo Opersan, a água de reúso é aplicada principalmente nos sistemas de refrigeração e sanitários e gera um cumprimento a metas de sustentabilidade, além de possuir uma qualidade muito superior à água provida pela concessionária pública.

“De forma direta geram economia do consumo de água da concessionária pública e redução de custos operacionais dos processos de refrigeração em virtude da qualidade ser melhor e demandar menor consumo de energia e de aplicação de insumos químicos”, diz Taranto. 

Sistema de reúso no ParkShopping Campo Grande
Roberta Boaventura, coordenadora de Novos Negócios da Cetrel

Os serviços de água e efluentes on-site – nas instalações do cliente – também estão entre as soluções desenvolvidas pela Cetrel para trazer autonomia e segurança hídrica aos shopping centers.

E englobam o fornecimento de água potável, através da perfuração de poços e água de reúso para fins não potáveis, através da construção e operação de sistema de tratamento de esgoto doméstico.

“Temos flexibilidade para atender à necessidade do cliente, tendo como destaque a modalidade de contratação BOT (Build, Operate and Transfer), em que cuidamos dos projetos, da construção e da operação do sistema de águas e efluentes, enquanto o cliente – que não é especialista em águas e efluentes – tem tempo para focar em sua atividade principal”, elucida Roberta.

Segundo Taranto, o reúso é uma ferramenta com aderência total às métricas ESG: envolve proteção ao meio ambiente mediante à redução de lançamento de efluentes mesmos que tratados de volta aos corpos hídricos; o cunho social, por reduzir o uso do recurso da concessionária pública, deixando este mesmo recurso à disposição da população, que é a principal usuária; e a governança corporativa através da instituição de metas e controles de processos relacionados à sustentabilidade.

Análise do local 

A partir do momento que o shopping decide ter estações de tratamento de água e de efluentes, enfrentam desafios técnicos. “É necessário ter disponibilidade de área para instalação do sistema e, em muitos dos casos, precisa suprimir vagas de estacionamento, que são uma fonte de receita; encontrar um ponto de captação de esgotos que seja consolidado e represente a maioria dos efluentes gerado pelo empreendimento; realizar uma operação de excelência, para mitigar problemas operacionais e geração de odores desagradáveis; e ainda ter uma engenharia robusta para correto dimensionamento do sistema e aplicação de tecnologias condizentes às necessidades”, explica Taranto. 

Segundo ele, do ponto de vista comercial, em comparação ao custo da concessionária pública e, em determinados casos, ao perceberem que podem perder uma receita, aplicam tarifas diferenciadas e reduzidas em comparação a outros empreendimentos.

Diogo Taranto, diretor de desenvolvimento de negócios do Grupo Opersan.

Élida reafirma que um dos maiores pontos de atenção é o fato dos espaços serem reduzidos, tanto para a perfuração de poços como para a implantação e operação dos sistemas de reúso, o que exige maquinários de perfuração específicos. Por isso, é comum serem construídas em locais de acesso ao empreendimento, subsolos e, jardins externos.” É imprescindível ainda que o projeto executado não gere incômodo visual e nem de odor aos consumidores ao longo dos anos. Além disso, o tipo de efluente gerado – mais concentrado que o esgoto doméstico, com carga orgânica elevada e gordura –  e os picos de geração são um desafio. Por isso, para garantir o sucesso, é importante contar com uma empresa parceira que domine todos esses aspectos”, pontua Élida. Após as licenças, em média, um sistema de água potável leva cerca de quatro a seis semanas para ser implantado e um sistema de tratamento de esgoto e reúso, o tempo é de cerca de oito meses, a depender ainda das obras das estações e da distribuição de reúso, que entram no prazo e no valor do investimento. 

 “Para ter eficiência nestas etapas e alcançar uma gestão hídrica adequada, é essencial escolher com atenção o parceiro de tratamento.  Essa decisão deve prezar por empresas especializadas e com reputação reconhecida no mercado, que possuem know-how para analisar cada necessidade e decidir um caminho seguro para o sucesso operacional de um negócio”, recomenda Roberta.

Matriz de materialidade

A demanda de eficiência hídrica vem aumentando com o compromisso da agenda ESG. De acordo com Élida, grandes players do mercado têm buscado ativamente soluções de eficiência hídrica, principalmente com foco no reúso. “As empresas têm olhado as soluções de maneira corporativa e, cada vez mais, buscando incorporá-las em todos os shoppings de seu portfólio.” Ao mesmo tempo, os investidores acompanham esse movimento de perto. “Como nossas soluções de água trazem um impacto extremamente relevante e a sustentabilidade é um dos pilares da nossa companhia, vemos todo esse movimento de uma maneira muito positiva”, enaltece Élida. 

Roberta reforça que, com o aumento das crises hídricas e, em contrapartida, o incentivo às responsabilidades sustentáveis e práticas de ESG, o reúso da água tem se tornado assunto cada vez mais presente em grandes consumidores de água: “Além da indiscutível importância para o meio ambiente, a reutilização da água em shoppings pode gerar grandes benefícios; além do reúso, que diminui o uso de água potável, estudos apontam que 40% da água tratada no Brasil é perdida durante a distribuição. Captar e reutilizar a água dentro da própria empresa evita a necessidade de submetê-la a redes de distribuição, reduzindo o desperdício.”

Cases

Entre vários projetos de sucesso, um dos mais recentes da General Water é o Catarina Fashion Outlet, que  passou por expansão recentemente, quase dobrando a ABL. O ativo ampliou o sistema existente, tendo uma excelente água de reúso e garantindo o descarte seguro do efluente tratado (e não reutilizado) no corpo d’água receptor. “O sistema de tratamento de esgoto foi projetado para tratar 100% de todo o esgoto gerado, o que corresponde a 12 mil m³/mês, inclusive, com a expansão. Tecnicamente, optamos pela implantação de um sistema MBR e iniciamos sua operação em janeiro de 2023. A parceria deu tão certo que, em pouco meses, ampliamos nosso escopo e assumimos também a gestão da água potável do empreendimento. A água proveniente dos oito poços será enviada para uma nova ETA, garantindo total conforto, segurança e autonomia para o Catarina Fashion Outlet”, detalha Élida.

O Shopping Iguatemi Campinas é um dos pioneiros em sistema de reúso em shopping no Brasil, cujo projeto foi realizado pela General Water em 2010. “Após uma grande expansão do empreendimento há uma década, implantamos o sistema atual, composto por MBR de placas planas (UF) que tem capacidade de produzir 14 mil m³/mês de água de reúso, para consumida nos vasos sanitários, mictórios, irrigação e torres de resfriamento. Fora isso, o shopping conta com um sistema de água potável, que trata cerca de 7 mil m³/mês.  Esses sistemas de água potável e reúso no Iguatemi Campinas deixam de consumir da concessionária e disponibilizam um volume que consegue abastecer plenamente cerca de 6.400 pessoas/mês, considerando todas as demandas de água potável dessa população durante um mês inteiro”, destaca Élida. Esse case já foi vencedor do 6º Prêmio Ação pela Água, em 2012, e ganhou Prata na Categoria Newton Rique de Sustentabilidade, do Prêmio Abrasce, em 2014. 

Estação de Tratamento de Águas e Efluentes operada pelo Grupo Opersan

O ParkShopping Campo Grande, localizado no Rio de Janeiro, firmou uma parceria com o Grupo Opersan em 2012, para investimento em construção e prestação de serviços de operação e manutenção de um sistema de tratamento de esgotos domésticos e sanitários e produção de água de reúso. “70% dos resíduos tratados são reutilizados e a operação fornece, em média, seis milhões de litros por mês de água de reúso, que são destinados às torres de resfriamento, mictórios e vasos sanitários”, explica diretor de desenvolvimento de negócios do Grupo Opersan.

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