Conheça dois grupos empreendedores do setor de shopping centers que têm políticas de recursos humanos que valorizam a pluralidade nas equipes
A diversidade no ambiente de trabalho traz uma série de benefícios, desde o maior engajamento dos colaboradores até a redução de conflitos. Ela pode ser por etnia, gênero, religião, classe social, idade, raça, orientação sexual… Desenvolver um programa com o objetivo de promover essa diversidade nas empresas envolve um planejamento e acompanhamento. No setor de shopping centers, alguns grupos empreendedores se estruturaram para isso e já veem os resultados positivos destas mudanças em sua organização. Aqui, você conhecerá dois deles.
Oportunidade para jovens negros
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a pandemia afetou, principalmente, os mais jovens. Estima-se que um em cada cinco jovens de todo o planeta tenha parado de trabalhar em decorrência da crise sanitária. Isso poderá ser sentido por longos anos ainda, principalmente, se não houver intervenção do governo e da iniciativa privada.
A história de Jamile Lima, 23 anos, auxiliar de serviços diversos na área de marketplace, do Salvador Shopping, é bem diferente destes milhões de jovens. Após terminar o Ensino Médio e fazer um curso técnico no Senai, se inscreveu nos cursos oferecidos pelo Instituto João Carlos Paes Mendonça de Compromisso Social. Logo em seguida, foi contratada como jovem aprendiz no Salvador Shopping e, depois, conseguiu uma vaga para trabalhar na área de auditoria.
Em janeiro deste ano, se candidatou para um departamento novo dentro do empreendimento e, hoje, atua na área de marketplace. “Iniciei minha jornada de trabalho após participar dos cursos ofertados pelo Instituto JCPM e estou muito feliz em integrar a equipe. Fico ainda mais satisfeita pois, neste momento de pandemia, vejo como o marketplace traz facilidade e segurança para o cliente do shopping”, relata.
Por meio da educação, o Instituto João Carlos Paes Mendonça de Compromisso Social capacita para o mercado de trabalho jovens entre 16 e 24 anos das comunidades do entorno de seus empreendimentos com histórico de desigualdade social. Está presente em Salvador (BA), Recife (PE), Fortaleza (CE) e Aracaju (SE).
O Salvador Shopping e o Salvador Norte Shopping receberam pela sexta vez consecutiva o Selo de Diversidade Étnico-Racial na categoria Compromisso. O reconhecimento é concedido pela Prefeitura Municipal de Salvador, por meio da Secretaria Municipal da Reparação. São certificadas as organizações que seguem um plano de trabalho de promoção das ações de combate ao racismo, por meio da inclusão da juventude negra no mercado de trabalho, do apoio a programas de primeiro emprego e formação de colaboradores para combater a discriminação.
Segundo Fabiano Mehmeri, coordenador de Desenvolvimento Socioambiental do Grupo JCPM, o programa incentiva a equidade racial, inclusão socioeconômica da população negra e valorização da diversidade. “Saber trabalhar com as diferenças é algo muito benéfico tanto para as pessoas e os empreendimentos. Para receber o selo, fazemos um planejamento minucioso e contínuo e precisamos comprovar vários aspectos como, por exemplo, o número de negros na equipe. A Secretaria da Reparação fiscaliza esse plano de atividade durante todo o ano”, relata Mehmeri.
O selo é muito representativo em Salvador, a capital com o maior número de negros no país. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 80% dos moradores são negros. A certificação estimula ainda que essa etnia frequente o empreendimento sem sofrer qualquer tipo de discriminação.
“O programa de empregabilidade de qualificação profissional das comunidades do entorno, promovido pelo Instituto, alavancou as oportunidades deste jovem da comunidade a um primeiro emprego de maneira igualitária. Uma parte deles acaba sendo absorvido pelo próprio empreendimento, por lojistas e fornecedores, que buscam uma mão de obra qualificada e selecionada”, explica Mehmeri.
O Instituto atua na capital baiana desde 2011. Desde então, certificou 9.254 jovens e, destes, 1.940 foram inseridos no mercado de trabalho. Em 2019, foram 1.531 jovens atendidos e 383 colocados no mercado formal.
Atuando em várias frentes
A Iguatemi Empresa de Shopping Centers tem um olhar muito atento para a questão da diversidade. Seu comitê de equidade conta com metas e roadmap de ações afirmativas para aumentar ainda mais a diversidade e garantir a verdadeira inclusão de todos. De acordo com Vivian Broge, diretora de Recursos Humanos, vários parceiros ajudam nesta missão, como EmpregueAfro, Talento Incluir, I Igual, Specialisteme, Diversidade RH e Turma do Jiló. “Sabemos que ainda há um longo caminho pela frente e muito para evoluir, mas temos nos dedicado para incorporar a diversidade nos seus mais diferentes âmbitos.”
Há ainda uma política voltada para as mulheres. Em março de 2019, a companhia assinou o Woman’s Empowerment Principle’s (WEP’s), um projeto da ONU e do Pacto Global, e deu um importante passo no reforço do compromisso e defesa da equidade de gênero. “Fomos a primeira empresa de shopping centers signatária do programa, que conta com a adesão de outras 150 companhias de diferentes setores de atuação. A iniciativa serve também como forma de assegurar as mesmas oportunidades de direitos para homens e mulheres no ambiente de trabalho”, explica.
Além disso, a Iguatemi possui um programa de mentoring com conteúdos voltados exclusivamente ao desenvolvimento da liderança feminina. Em junho, ficou na 20ª posição no GPTW Mulher (Great Place to Work) como uma das melhores empresas para as mulheres trabalharem no Brasil, em um ranking com outras 70 companhias de médio e grande porte. “Ao todo, foram 640 empresas inscritas, representando mais de 660 mil funcionários. Tudo isso reflete e reforça o nosso compromisso com esse propósito”, diz.
Quando essa diretriz de dar a mesma oportunidade é clara e organizada, os colaboradores se sentem mais motivados e engajados com o trabalho. Dessa forma, sabem que a empresa está olhando para eles e, no momento oportuno, serão reconhecidos por dedicação e empenho, de maneira justa. “Os nossos esforços são para que a Iguatemi seja percebida como uma marca desejada para se trabalhar. Para isso, temos desenvolvido um trabalho muito criterioso voltado ao desenvolvimento de nosso time.” Além dos programas Mindset Digital, Competências para o Futuro e Lidera Iguatemi, a empresa busca oferecer oportunidades para quem está começando uma profissão por meio dos programas Jovem Aprendiz e Summer Jobs.
“Ter uma equipe diversa é essencial em qualquer situação. É preciso conviver com ideias e pessoas diferentes de nós, pois é a melhor forma de sair da nossa zona de conforto e abrir a cabeça para diferentes pontos de vista.”
Durante a pandemia, a empresa tem promovido diversas lives em seus canais digitais. Uma delas foi um debate sobre a inserção de talentos negros e profissionais com mais de 50 anos no mercado de trabalho. E está nos planos da empresa se engajar ainda mais nesta missão. “Além da parceira com a EmpregueAfro, a área de Recursos Humanos estrutura implementar, ainda em 2020, uma mentoria ético racial. O intuito é capacitar os colaboradores negros para que assumam posições de liderança dentro da companhia, por exemplo”, reforça Vivian.
No caso dos profissionais com mais de 50 anos, a Iguatemi atingiu a meta esse ano e está em linha com as melhores práticas de mercado. Até 2021, o compromisso será em desenvolver um programa de longevidade que apoie os profissionais maduros em diversos âmbitos como o cuidado com a saúde física e emocional, relacionamentos, planejamento financeiro, desenvolvimento e carreira.
Em 2019, a companhia criou a série autoral intitulada Diversidade Iguatemi, com dez capítulos, que estão sendo disponibilizados a cada dois meses. Já foram lançados capítulos dedicados à igualdade de raça e etnia, às crianças em situação de vulnerabilidade social e às mulheres em posições de liderança. “Em junho, lançamos um curso sobre desenvolvimento em diversidade focada na liderança, com temas como ‘vieses inconscientes’, por exemplo. O nosso objetivo é propor uma reflexão sobre o tema, além de enaltecer a importância das diferenças na vida em sociedade”, conclui.