Shoppings colaboram com a coleta de lixo eletrônico
Para ajudar na conscientização do público para o descarte correto destes materiais, muitos shoppings têm disponibilizado pontos de coleta adequados, uma ação que impacta diretamente na preservação do meio ambiente
De acordo com o relatório da Green Eletron, gestora para logística reversa de eletrônicos sem fins-lucrativos, realizado pela Radar Pesquisas, 87% da população já ouviu falar em lixo eletrônico, mas não tem clareza sobre seu significado, 33% confundem com lixo digital e 25% nunca fez o descarte em um ponto de coleta. O resultado deste estudo vai ao encontro dos dados divulgados pela Universidade das Nações Unidas que mostram que o Brasil é atualmente o quinto maior gerador de resíduos eletrônicos do mundo, com uma taxa de reciclagem de menos de 3%.
O Acordo Setorial de Logística Reversa de Eletroeletrônicos, firmado em 2019, e o Decreto nº 10.240/2020 instituíram as mesmas regras de responsabilidade de pós-consumo para as empresas que comercializam itens eletrônicos, o que foi um grande avanço para a Política Nacional de Resíduos Sólidos, já que estipula metas anuais e crescentes, prazos e ações concretas. Para 2022, a meta é 3% e cresce paulatinamente até chegar a 17% em 2025.
O ano de 2021 foi um marco para a Green Eletron, que conseguiu bater o recorde de reciclagem total com 878 toneladas de pilhas e eletroeletrônicos. Apenas com este último, a meta estabelecida com entidades de todo o setor e o Ministério do Meio Ambiente era de 600 e a empresa coletou 715 toneladas no período, o que corresponde a um acréscimo de 19%.
Esse número também é reflexo dos 100 novos associados que a gestora conquistou no ano passado e da parceira com os shoppings, varejistas, instituições de ensino, prefeituras, entre outras, que fez com que houvesse um aumento de Pontos de Entrega Voluntária (PEVs) de 561 para mais de 1 mil, com presença em 13 estados.
Ponto de coleta nos shoppings
Muitos players do setor também vêm aderindo ao movimento Eletrônico não é Lixo. O Shopping RioMar Recife foi o primeiro empreendimento do Nordeste a receber um coletor de e-lixo, com capacidade para 200 kg, no início desse ano. Segundo Jussara de Paula, analista ambiental do RioMar Recife, o equipamento tem grande preocupação com a sustentabilidade e, constantemente, promove ações e conteúdo que estimulam a reciclagem e a logística reversa. Para isso, firmou parceria com a Green Eletron, uma das entidades que participaram do Acordo Setorial de Logística Reversa de Eletroeletrônicos.
Com a instalação do PEV, ficou mais simples o cliente efetuar o descarte seguro e responsável dos eletrônicos. “Desde a instalação no início do ano até meados de abril, contabilizamos pouco mais de 1 tonelada de resíduos coletados, provenientes tanto da gestão interna do shopping (lojistas e administração) quanto dos clientes que utilizaram o coletor específico instalado no estacionamento do shopping em uma área de fácil acesso”, conta Jussara.
E os visitantes têm aderido a iniciativa. “A procura pelo coletor instalado no RioMar Recife tem sido constante, pois esse serviço ambiental não é fácil de encontrar. Vários lugares promovem a coleta seletiva, mas poucos atendem à demanda de gestão de resíduos eletrônicos, tendo em vista que são complexos e precisam de atuação especializada para descarte adequado”, reforça Jussara.
Levar esse projeto para outros empreendimentos do Grupo JCPM é uma possibilidade ainda em estudo, de acordo com a Thayara Paschoal, gerente de sustentabilidade da companhia. “A cadeia de reciclagem tem crescido e se profissionalizado a cada dia e temos certeza de que soluções adequadas serão encontradas para todos os cenários. De toda forma, atualmente, os demais shoppings do grupo possuem soluções locais de destinação de eletrônicos para atender as demandas de cada operação.”
Outro parceiro da Green Eletron é o Cantareira Norte Shopping. De acordo com Elizabete Henriques, gerente de marketing do empreendimento, a motivação partiu pelo incentivo à prática consciente em benefício do meio ambiente. “Sabemos da extrema importância do descarte consciente desses tipos de materiais, assim como entendemos que muitos consumidores acabam não praticando por falta de informação ou de local próximo”, diz.
Por serem muito colaborativos, os visitantes e os lojistas do Cantareira Norte Shopping aderiram muito bem a iniciativa. O PEV fica local bem visível, onde há grande fluxo, e as ações de divulgação nas redes sociais têm uma interação muito positiva. “O ponto de coleta, que recebe eletrônicos, acessórios de informática de uso doméstico, pilhas e baterias, está no shopping há três anos e, com o passar do tempo, temos percebido cada vez mais adeptos para a reciclagem”, afirma Elizabete.
De acordo com Larissa Santos, analista de sustentabilidade da Green Eletron, nesse período, já foram coletados e destinados o volume de 838 kg com o ponto de coleta do Cantareira Norte Shopping. “O coletor deles é o segundo maior tamanho disponível com capacidade para receber aproximadamente 250 kg de lixo eletrônico. Recebe equipamentos de até 30 x 60 cm, como furadeiras, secadores de cabelo, balanças, batedeiras, cabos, pilhas, entre outros.”
O Santana Parque Shopping, um empreendimento que já nasceu com a filosofia de iniciativas sustentáveis desde sua fundação, em 2007, também adotou essa prática através da parceria com a Green Eletron. “Queremos sempre ser o melhor vizinho para nossos clientes e ser também um ponto de incentivo para o descarte responsável de e-lixo. Muitas pessoas não sabem, por exemplo, que não podem descartar pilhas e baterias em lixo comum. É fundamental a nossa preocupação com o futuro, dando a destinação correta para esses tipos de materiais”, afirma Amanda Tavela, gerente de operações do Santana Parque Shopping.
E a aderência dos clientes aumenta a cada ano, o que demonstra a preocupação com o futuro. “Temos uma ótima adesão dos nossos clientes que tinham essa demanda e não sabiam onde descartar. O advento do home office também fez com que as pessoas procurassem destino certo para eletrônicos como computadores, monitores, mouse, pilhas, entre outros”, relata Amanda.
A maior parte dos shoppings da Multiplan conta com pontos de coleta de resíduos eletrônicos. “Temos algumas lojas parceiras, que fazem o processo de coleta e também são responsáveis pelo descarte. Nos pontos próprios, mantemos parcerias com empresas especializadas em logística reversa de resíduos eletrônicos. A maioria é destinada para pilhas e baterias. Alguns shoppings fazem também a coleta de aparelhos eletroeletrônicos, como, celulares, notebooks, tablets, câmeras fotográficas, carregadores, secador de cabelo, entre outros”, conta Vander Giordano, vice-presidente Institucional da Multiplan.
E o público sempre recebeu muito bem essa iniciativa. “A Multiplan valoriza o engajamento da sociedade nas atividades ambientais que propõe e o resultado disso é uma boa adesão do nosso público, que contribui bastante. Disponibilizamos esses pontos de coleta para que as pessoas tenham a oportunidade de descartar seu lixo eletrônico com responsabilidade e garantia de que o material terá um destino seguro e sustentável. Essas iniciativas reforçam nosso compromisso de fazer de nossos shoppings verdadeiros hubs sociais, onde é possível resolver tudo em um só local”, conclui Vander.
No São Bernardo Plaza Shopping, há um espaço de Ecoponto para todos os recicláveis, inclusive, e-lixo, na entrada principal. “Os eletrônicos geram muitas dúvidas, então, não deixamos de incluir esse item. A nossa coleta vem aumentando a cada dia, principalmente, de celulares sem uso, quebrados, carregadores e cabos. É a partir de pequenas ações de cada um, por menores que sejam, que conseguiremos transformar a realidade do setor de reciclagem de e-lixo”, afirma Monica Dalostto, gerente de marketing do São Bernardo Plaza Shopping.
No Ecoponto, coletam-se pilhas e baterias, que têm cuidados específicos por se tratarem de resíduos de Classe 1 (contaminante) e eletrônicos. “Computadores, aparelhos de celular, cabos, carregadores, fios, teclados… é quase tudo que mais usamos atualmente, mas substituímos com mais rapidez do que seria interessante para o meio ambiente”, destaca Monica.
Para a coleta de todos os recicláveis, o São Bernardo Plaza Shopping tem como parceiros a Cooperluz, que separa os materiais, e a Koleta Ambiental, responsável pela descaracterização dos materiais e devido descarte.
De adubo à coleta de recicláveis
A Ecoloja no Shopping ABC, inaugurada no final de 2019, tem o objetivo de distribuir aos clientes adubo feito a partir do lixo orgânico da Praça de Alimentação por meio de uma máquina de compostagem acelerada, instalada na própria dependência do shopping. O fertilizante também é utilizado no paisagismo do centro de compras. “Até o momento, foram mais de 304 toneladas de reaproveitamento de alimentos descartados e mais de 40 mil pacotes (400g) retirados pelos clientes na Ecoloja. O empreendimento transforma cerca de 36% do lixo orgânico em adubo”, diz Joelmir Oliveira, gerente de operações do Shopping ABC.
Diante do sucesso dessa iniciativa, o local passou a ser ponto de descarte para muitos itens. “Os visitantes podem levar ao local lâmpadas fluorescentes, mistas e incandescentes; pilhas, baterias e reatores; embalagem de medicamentos; gordura saturada (óleo de cozinha); Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs); filtros de ar-condicionado; baterias estacionárias e eletrônicas; cápsulas de café e aerossol spray e celulares. Percebemos que o público, depois de conhecer melhor a Ecoloja, colocou na rotina esse processo de descarte consciente. Isso vai além do que estamos acostumados a reciclar, ou seja, muita coisa pode ser reutilizada se for direcionada da forma correta”, conta Oliveira.
A coleta mensal passa por triagem, segregação, destino correto e certificação dos resíduos destinados. Todo o material é recolhido pela empresa parceira Matarazzo & Associados Administração Comércio e Serviços.
Destino
Após a coleta do e-lixo, acontece o processo de logística reversa. Segundo Larissa, no caso da Green Eletron, os resíduos são enviados para recicladoras parceiras, onde passam por triagem seguindo alguns critérios, como tipo de eletroeletrônicos, pilha e composição. A partir disso, são desmontados e separados mecanicamente por tipo de matéria-prima: plástico, ferro, cobre, papel, entre outras.
“Após esse processo, são enviados para a indústria da transformação, responsável pela produção de novos produtos. Como a reciclagem dos resíduos eletrônicos exige maquinários específicos – muitas vezes caros – e pode causar problemas para o meio ambiente e a saúde do ser humano quando realizado de forma incorreta, a Green Eletron exige uma série de certificados para comprovar que a reciclagem será feita de forma correta. Por isso, ainda são poucas as recicladoras que conseguem fazer esse processo seguindo nosso padrão e critérios legais”, ressalta a analista de sustentabilidade da Green Eletron.
De acordo com Jussara, a parceria com a Green Eletron garante a coleta, transporte e a destinação final ambientalmente adequada dos eletroeletrônicos descartados no RioMar Recife, com apoio de toda uma cadeia certificada que faz a separação, o tratamento e posterior reinserção na cadeia industrial. “Diferentemente de outros materiais recicláveis, os eletrônicos precisam de muito cuidado na destinação, pois alguns de seus componentes podem ser altamente tóxicos e contaminantes. É um processo de gestão especializada, de alta complexidade.” Além disso, é importante que, antes do descarte, as pessoas removam os dados pessoais dos aparelhos.
Mas o que é possível descartar?
O lixo eletrônico necessita de um tratamento adequado. É sempre bom verificar os itens que podem ser descartados. Notebooks, impressoras, tablets, celulares, acessórios de informática, câmeras, cabos, carregadores, pilhas e baterias, equipamentos eletroeletrônicos em geral, inclusive as embalagens desses produtos, podem ser descartadas no coletor do RioMar Recife. Por isso, cheque em cada ponto de entrega ou mesmo no site das gestoras.