Shoppings se unem a ONGs em prol da adoção de pets
A crise sanitária elevou o número de animais abandonados, mas o engajamento das ONGs, que contam com a parceria do setor de shopping centers e do varejo, continua fazendo a diferença na vida de muitos bichinhos
A assistente financeira Ohana Vinhas, frequentadora do Carioca Shopping (RJ), soube da feira de adoção de pets no empreendimento e decidiu ir com a intenção de levar um cãozinho para fazer companhia para a labradora da mãe dela. Ohana não só saiu de lá com um cachorro para a mãe como adotou um para ela também. Seu namorado, o programador Matheus Bonatti a acompanhou no dia e se encantou por Odin, um filhote que estava com 8 meses. O resultado? Dois cãezinhos adotados pela família no mesmo dia. “Quem gosta de bicho não tem jeito, a gente acaba se apaixonando”, diz.
Assim como Ohana, muitas pessoas adotaram um amigo de quatro patas durante a pandemia, mas o número de animais abandonados só aumentou em decorrência da crise e, ao mesmo tempo, as adoções caíram porque não era possível realizar eventos presenciais. Segundo levantamento realizado pela AMPARA Animal, houve um crescimento de 61% no abandono e recolhimento de animais entre julho de 2020 e fevereiro de 2021. Rosangela Gebara, médica veterinária e gerente de projetos da AMPARA, acredita que esse número segue em alta no segundo e terceiro trimestre desse ano. “Está cada vez pior por conta da crise econômica e social, pois exacerbou a falta de responsabilidade das pessoas com os animais, que, em um momento de dificuldade, abandonam o mais vulnerável. Houve muitos casos de pessoas que saíram das casas e deixaram os animais presos ou os abandonaram nas portas das ONGs e de clínicas veterinárias”, relata. A maioria das ONGs também passou por dificuldades desde redução de doações e de voluntários até situações muito difíceis de casos de maus tratos. “É bom frisar que o abandono é crise e, se não puder ficar com o pet, o responsável deve fazer isso da maneira mais humanitária possível”, ressalta a gerente de projetos.
De acordo com Rosangela, mais de 370 ONGs estão albergando mais de 170 mil animais em seus abrigos, sendo que mais 90% são cães. No Brasil, mais de 46% dos lares brasileiros, o que corresponde a 33 milhões de domicílios, têm pelo menos um cachorro e 19,3% possuem ao menos um gato. Não há dados oficiais de quantos animais estão abandonados no país, mas a estimativa da instituição é de 30 milhões.
Setor atuante
Há muito tempo o setor de shopping center também abraça a causa pet com os mais variadas ações desde feiras de adoção, arrecadação de ração, doação de sangue para os pets até reciclagem de tampinhas para ajudar os animais mais carentes. Na pandemia, alguns shoppings também fizeram campanhas de adoção virtuais.
De acordo com Rosangela, essa parceria com o setor de shopping centers e das grandes redes de varejo com as ONGs é importantíssima, pois são locais em que se consegue doar uma grande quantidade de animais. “Mesmo com as restrições, os malls podem ajudar a divulgar as ONGs por meio de campanhas digitais direcionadas ao público da região em que está localizado ou mesmo ser um ponto de arrecadação”, explica.
O Carioca Shopping, por exemplo, tem um pilar de responsabilidade e se engajar nessa causa foi algo natural. “Apoiamos e fortalecemos o ato da adoção responsável, por isso, mantemos uma parceria com a ONG Entre Pegadas e, com o apoio deles, propiciamos que mais pets tenham um lar”, conta Tatiana Mancebo, gerente de marketing do empreendimento. Somente esse ano, foram adotados 68 pets entre cães e gatos pelas ações realizadas pelo shopping.
Além das feiras de adoção que acontecem on-line e presencial, os clientes podem visitar a loja Pet Solidária do empreendimento, em que toda a renda obtida com a venda dos produtos é revertida para os projetos da ONG. “Inaugurada em fevereiro de 2020, a loja tem como propósito arrecadar donativos e dinheiro, assim, quando um cliente faz uma doação financeira ele pode escolher um produto no valor correspondente. As mercadorias são de fornecedores variados e, inclusive, de produção caseira dos próprios voluntários”, explica Tatiana.
Em outubro de 2020, o Bangu Shopping (RJ) firmou uma parceria com a Secretaria Estadual de Agricultura do Rio de Janeiro – responsável pelas políticas de proteção e bem-estar animal – e foi o primeiro a receber a campanha de adoção, que agora tem um calendário e acontece todo segundo sábado de cada mês, com gatos e cães. Segundo o secretário Marcelo Queiroz, o objetivo é realizar o máximo de eventos possível para conseguir um lar para os pets carentes. A decisão de preparar um calendário contínuo foi uma iniciativa do shopping juntamente a RJPET e serve para que, assim, as pessoas possam se programar para adotar seu amiguinho de quatro patas com mais conforto, em datas determinadas. Foram seis edições realizadas até agosto de 2021 e cerca de 100 animais adotados entre cães e gatos.
Nesse ano, a campanha de arrecadação de tampinhas de garrafas PET e lacres de latas de bebidas do Bangu Shopping também está sendo destinada à ONG Rio Eco Pets. “Além de dar o encaminhamento certo a resíduos como plásticos e alumínio, a organização ajuda na preservação do meio ambiente e nos cuidados com os animais abandonados”, afirma Monica Freitas, gerente de marketing do Bangu Shopping.
No Caxias Shopping, também localizado no Rio de Janeiro, o engajamento vem desde o momento em que o empreendimento passou a ser petfriendly e a promover a campanha de arrecadação de tampinhas plásticas, revertidas em doações, “A parceria com a Rio Eco Pets surgiu através da Aliansce Sonae, nossa administradora. O material arrecadado no shopping é entregue para a ONG que cuida das demais etapas do processo, desde a destinação das tampinhas até a distribuição do auxílio”, explica Michelle Coutinho, gerente de marketing do shopping.
De março de 2021, início da campanha, até julho foram entregues 360 kg do material reciclável para a Rio Eco Pets. Na instituição, as tampinhas são vendidas para reciclagem e o valor é revertido em tratamento veterinário e rações para animais abandonados.
E o Caxias Shopping tem planos para ampliar ainda mais sua atuação. “Neste momento, estamos acertando detalhes para concretizarmos uma parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Proteção Animal para a realização de Feiras de Adoção de animais abandonados, com previsão de realização da primeira edição em outubro”, revela Michelle.
No interior de São Paulo, o Pátio Cianê Shopping organiza feiras de adoção desde 2016 em parceria com a Associação de Abrigo Temporário de Animais Necessitados (AATAN) e, durante um período mais crítico da pandemia, o Adota Pet foi readaptado para o formato on-line. “Somos o shopping center mais petfriendly da região e estamos sempre de portas abertas para receber os bichinhos de estimação. Realizamos, uma vez por mês, a feira de adoção para incentivar cada vez mais essa prática”, relata Tássia Carvalho, gerente de Marketing do empreendimento.
Desde o começo da feira, em 2016, já foram adotados aproximadamente 600 animais, entre cachorros e gatos. O público é muito aderente às campanhas do shopping e foi assim também durante a crise sanitária.
Os eventos já voltaram para o presencial e são realizados no Pet Pátio, um espaço criado especialmente para os animais. “Para a segurança e o conforto de todos os nossos clientes, seguimos com todos os protocolos sanitários, como distanciamento seguro, uso obrigatório de máscaras, disponibilização de álcool em gel e intensificação na limpeza. É muito importante para nós fazermos parte dessa iniciativa e sabermos que estamos fazendo a diferença”, reforça Tássia.
O varejo engajado
A Cobasi, uma das principais players do mercado e parceira da AMPARA Animal, mantém espaços para adoção em algumas de suas lojas e também compartilhou deste momento quando teve que interromper os eventos de adoção por conta da crise sanitária. “Com a suspensão nos períodos mais críticos da pandemia, muitas ONGs relataram dificuldades em doar os animais, pois a maioria depende dos eventos para isso. As que registraram crescimento no número de animais adotados são ONGs que já digitalizavam melhor seus processos, estando fortemente presentes em redes sociais”, relata Daniela Bochi, gerente de marketing da Cobasi.
Mas o dado mais importante registrado pelas ONGs parceiras da Cobasi é que o índice de devolução dos animais adotados em suas lojas é baixo. “Nossos clientes são conscientes da responsabilidade em adotar os animais e são apaixonados por pets”, reforça Daniela.
Na Cobasi, os eventos ainda não voltaram em sua totalidade, já que algumas ONGs possuem voluntários em grupos vulneráveis e optaram por aguardar ter mais gente com a segunda dose da vacina tomada para o retorno. Com isso, em 2021, são doados entre 400 e 500 animais por mês nas lojas da Cobasi. Com 125 operações, a rede tem 34 delas em shoppings. Em nove empreendimentos, realiza eventos proprietários dentro de seus pontos de venda ou em um espaço cedido pelo mall com a escolha da ONG. Ainda apoia os que são organizados por alguns empreendimentos oferecendo produtos como bebedouros, comedouros e kits para os adotantes.
A Vivo, uma das maiores operadoras de telefonia do país, também se engajou nessa causa e lançou o projeto Vivo Pets em abril deste ano, seguindo o propósito de Digitalizar Para Aproximar. “Acreditamos que a conexão é um meio para aproximar as pessoas do que realmente importa para elas e o universo Pet é uma realidade dos novos tempos. Nos unimos a diversas ONGs de acolhimento animal do Brasil para incentivar a adoção consciente e conectar milhares de pets e seus futuros donos. Nosso objetivo é unir a força da nossa marca, a tecnologia e a presença no Brasil todo para estreitar ainda mais essa relação”, esclarece Marina Daineze, diretora de Marca e Comunicação da Vivo.
Desde o início do projeto, houve mais de 10 mil interessados na iniciativa, realizada por meio plataforma de relacionamento da Vivo, o Vivo Valoriza. Ao acessar a aba do programa pelo app Meu Vivo, o cliente pode consultar as ONGs cadastradas, escolher a que mais se identifica e iniciar o processo de adoção diretamente com elas, de maneira virtual. Atualmente são mais de 50 instituições parceiras nas cidades e regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte e também no estado do Espírito Santo.
A Vivo ainda criou a PETernidade dentro da companhia. “Acreditamos que todo o posicionamento deve ser de dentro para fora, por isso, passamos a conceder uma licença de dois dias para quem adotar um cachorro ou gato. Para ter direito, os colaboradores precisam apresentar os documentos que comprovam a adoção”, explica Marina.
Como o Brasil é o segundo maior país com número de animais de estimação, a parceria e o apoio às ONGs são fundamentais para reduzir essa enorme quantidade de pets carentes.