Novas tecnologias desenvolvidas por startups para reduzir o consumo de energia
Soluções fáceis de serem implementadas em shopping centers com resultados significativos
O consumo energético é um dos maiores custos de um shopping center e o setor sempre está atento às novidades trazidas pelas concessionárias de energia. Por sua vez, essas acompanham o ecossistema de startups, inclusive, algumas contam com programas de aceleração. Como energia é algo muito amplo e atende diferentes mercados, é preciso fazer uma triagem para se chegar a soluções que, realmente, tenham o interesse do setor de shopping centers. Nessa reportagem, vamos apresentar duas startups, uma portuguesa e uma brasileira, com tecnologias que reduzem o consumo de energia.
Bandora
Com sede em Portugal, é uma gestora de edifícios virtuais que utiliza a inteligência artificial e otimiza a operação dos sistemas de ar condicionado, sem necessitar de hardware adicional e sem qualquer supervisão humana. E isso vem de resultado de cinco anos de investigação tecnológica. A solução foi projetada e desenvolvida para ser aplicada em qualquer tipo de edifício, de qualquer dimensão e sob qualquer tipo de tecnologia de BMS (Building Management System) existente. Já vem sendo aplicada no varejo de alimentação, nas principais redes de fast-food mundiais, escritórios multiusos e, agora mais recentemente, em hotéis.
No Brasil, ela acabou de chegar. “Temos parceiros que entenderam as dores dos gestores dos edifícios e acreditam que, com a utilização da solução, irão reduzir os custos operacionais dos seus clientes, tornando-os ainda mais competitivos”, diz Márcia da Silva Pereira, CEO e cofundadora da Bandora. A empresa BBR – Beautiful Brain Retail será a representante no mercado brasileiro e a OasisLab irá apoiar e auxiliar a BBR em verticais de varejo, inclusive, nos shopping centers.
Segundo Márcia, o aumento dos custos energéticos é um problema transversal a todos os setores econômicos e 40% da produção energética mundial é gasta nos edifícios, sendo que cerca de metade dessa energia é consumida nos sistemas de ar condicionado.
“Nos shopping centers, a fatia de energia consumida nos sistemas de AVAC (Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado) pode chegar até 60%, no entanto, 90% das reclamações estão relacionadas ao conforto térmico, portanto, os atuais sistemas de gestão e controle, usualmente denominados por smart buildings, não conseguem resolver o problema. Então, é necessária uma gestão que vá para além dos horários rígidos de funcionamento, de temperaturas definidas estaticamente e de duas estações durante o ano”, explica.
Por meio de gestão dinâmica de todas as variáveis, correlacionando informação das condições ambientais do empreendimento, consumos energéticos, ocupação, feedback de conforto e previsão meteorológica, a Bandora consegue obter um conhecimento exato e profundo do comportamento energético do local. E tudo isso acontece pelo facility manager senior.
“Mas não é só na redução da energia, que poderá ir até 63%, mas também nos custos de recursos de facility management. Com o gestor de edifícios virtual, não é mais necessário técnicos especializados a monitorar um dashboard de um BMS, pois a empresa executa essa tarefa de forma automática”, detalha.
Além disso, o sistema detecta e alerta consumos energéticos anômalos dos equipamentos. Apesar de ainda não ter sido implementada em shopping centers, é uma solução que se aplica a esses empreendimentos.
A instalação é bem simples. “A gateway da Bandora é ligada ao console BMS e se comunica com a mesma através de protocolos de comunicação standard: BacNet, Modbus, KNX, DALI, Webservice, entre outros.” Além disso, a tecnologia terá que estar integrada com o hardware existente e também com uma boa conexão de internet. “Se já constar nos sistemas integrados e testados, a integração será imediata, caso contrário, poderá demorar até três semanas. A partir do momento em que a integração e a conexão são bem-sucedidas, é necessário apenas uma semana para começar a controlar todos os equipamentos de ar Condicionado por meio da Inteligência Artificial”, explica a cofundadora.
O modelo de negócio da Bandora é através de uma subscrição mensal indexada à quantidade de pontos monitorados, processados e controlados, o que reduz bastante o risco da adoção. “Mas, pela primeira vez, vamos testar o Savings as a Service, cuja subscrição está indexada à poupança efetiva dos clientes. Desta forma, anulamos totalmente o risco dos nossos clientes”, conta Márcia.
Time Energy
A startup brasileira desenvolveu um equipamento de monitoramento de energia, em que é possível fazer uma leitura completa do consumo. Por meio de sensores, o Neras faz medição de toda a área de facilities, áreas técnicas até monitoramento dos lojistas. A coleta e a análise dos dados são feitas por uma plataforma com diversas ferramentas, inclusive, possibilitando a avaliação da performance em diferentes shoppings de um grupo empreendedor.
Como o primeiro cliente foi o Shopping Vitória, o medidor e a plataforma foram desenhados para esse ambiente, um projeto desenvolvido em conjunto com o Grupo EDP, quando a Time Energy recebeu um aporte financeiro da EDP Ventures Brasil em 2020, mas a aproximação já tinha se dado um ano antes, quando a startup foi finalista do Starter Business Acceleration, programa global de aceleração do grupo. O projeto do Shopping Vitória é o maior realizado até agora com a instalação de 500 sensores. Pela EDP ser europeia, já se avalia a internacionalização da solução para outros países, principalmente para a Portugal.
Com o tempo, a Time Energy entendeu que só medir energia elétrica não era suficiente, pois o shopping é um ambiente complexo.
“Em parceria com o Grupo Saphyr, começamos um projeto desde 2021, em que aumentamos o desenvolvimento da plataforma com sensores de medição de água, monitoramento de temperatura, entre outros. Estamos no dia a dia monitorando, mas também avaliando e gerando benchmarking para que o grupo corporativo possa analisar a performance de seus ativos. Sempre buscamos reduzir, ao máximo, os gastos operacionais, que, hoje, não está limitado somente à energia elétrica”, explica Leandro Pereira, CEO da Time Energy.
Atualmente, todos os onze empreendimentos do Grupo Saphyr contam com a tecnologia desenvolvida pela Time Energy e, em média, cada empreendimento tem 250 sensores instalados.
Assim como o Shopping Vitória, os resultados aparecem rapidamente com redução monetária equivalente a 20%, mas esse índice não se refere apenas ao consumo, pois há diversas ações envolvidas que geram um ganho como custos operacionais que deixaram de existir, avaliação de equipamentos com problemas… E no final, chegasse a essa média.
“A instalação é simples e demora cerca de duas semanas, porque, além dos medidores, existe a parte de infraestrutura de telecomunicações e montamos a rede para o cliente.” No caso dos medidores, não é preciso fazer qualquer adequação no local. Para o shopping não ter qualquer preocupação com todo o processo, a Time Energy instala, opera e monitora, o que tem feito a startup expandir desde o desenvolvimento do Neras. Em 2022, foi eleita pela terceira vez como uma das dez principais energytechs do Brasil, de acordo com a 100open startups.