JAN/FEV 2020 - Edição 227 Ano 33 - VER EDIÇÃO COMPLETA

O estacionamento do futuro e a mudança de comportamento do consumidor

21 de janeiro de 2020 | por Solange Bassaneze
O uso do espaço estará cada vez mais associado a um hub de serviços e integrado à mobilidade urbana

A primeira e a última experiência do consumidor no shopping acontecem sempre no estacionamento. Por isso, o serviço tem se aprimorado cada vez mais e, atualmente, possui muita tecnologia embarcada. Basta puxar na memória e fazer um comparativo de como era alguns anos atrás. A melhoria é visível e mostra a evolução de uma área muito representativa para o setor. 

Novas oportunidades

Segundo Roque Perachi, CDO da Group Indigo Brasil, o cenário de negócios e tecnologias disruptivas está mudando a forma de se deslocar e entender a relação da sociedade com as cidades. Dessa forma, surgem grandes oportunidades para o mercado de estacionamentos se reinventar.

Entre elas, está uma série de aplicativos e soluções de mobilidade. “Serviços de táxi e carros já são os mais usados via aplicativo pelos brasileiros, representando 32%. Estudos da Indigo mostram que as preferências de mobilidade individual variam conforme a distância a ser percorrida, entre patinete, bicicleta e veículo compartilhado”, conta.

Para Perachi, em 2030, o carro não será mais a escolha principal para todas as atividades pessoais. “Serão eleitos diferentes meios de transporte, incluindo carros compartilhados, para passeios, compras, trabalho ou negócios”, prevê.

Cidades inteligentes 

O conceito de smart cities pautará o debate sobre as garagens no futuro. É o que acredita Giuliano Martins, gerente comercial da Skidata. “Com o avanço da Iot (Internet das coisas, na sigla em inglês), devemos ter um grande potencial de investimentos na próxima década.”

Para ele, os serviços adicionais serão agregados, haverá tarifas dinâmicas, tornando os estacionamentos cada vez mais competitivos e servindo de drop in e drop off para veículos compartilhados e elétricos.

Sustentabilidade 

Martins prevê, ainda, que a mobilidade também será mais sustentável e isso se dará por meio dos veículos elétricos, micromobilidade e fontes renováveis de energia. As smart stations transformarão os estacionamentos em um hub com diferentes opções de modais. 


“Estacionamentos modernos precisam oferecer uma dinâmica com diferentes modalidades de locomoção. A garagem deixa de ser apenas um lugar para chegar e parar e passa a ser um meio de conexão”, Roque Perachi, CDO da Group Indigo Brasil

Segmento em transformação 

Segundo Marcelo Nunes, CEO da PareBem, a transformação já está acontecendo e os usuários são impactados diretamente, seja por ações gerais ou customizadas. 

Ambientação diferenciada, comunicação direcionada, uso adequado de dados de acessos dos usuários, programas de fidelidade, diferentes meios de pagamento, são algumas dessas ações. 

Os estacionamentos também já são responsáveis por diversos serviços, como lavagem e reparo de veículos, self storage, ponto de locação de veículos, pontos de recarga para carros elétricos e implantação de energia solar são alguns dos exemplos. 

Novas demandas 

A presença dos prestadores de serviços de aplicativos só cresce e os shoppings precisam de adaptar de forma rápida e eficiente. De acordo com Nunes, essas ferramentas são apenas o começo de uma mudança na forma como as pessoas se locomovem nas cidades. 


“O nível de transformação e inovação nunca foi tão grande e precisamos estar preparados para as demandas dos usuários. Eles exigem mais conforto, comodidade, agilidade, conveniência, rapidez e segurança e ainda valorizam cada vez mais o tempo e a tecnologia”, Marcelo Nunes, CEO da PareBem

Como receber os motoristas de apps 

Alguns shoppings já disponibilizam espaço para controle de entregas aos motoboys e possuem locais para embarque e desembarque de passageiros. “Mas muitos já estão aderindo ao drop in e drop off, oferecendo condições agradáveis. Alguns estabelecimentos têm feito parcerias com os aplicativos e liberam áreas não locadas, criando lounges específicos e tudo isso sem custo”, relata Perachi. 

Outra maneira de facilitar as duas partes é o uso de QRCode com os aplicativos ‘as a service’ (Software como Serviço). O gerente comercial Martins exemplifica como se daria essa integração. “Os motoristas e os motoboys de apps teriam um QRCode referente ao serviço adquirido antecipadamente no dispositivo móvel e essa credencial daria acesso às áreas de estacionamento por determinado período” diz.

“Com o uso da tecnologia de QRCode para serviços de entrega por app, o valor da tarifa estaria agregada à tolerância apenas para a retirada do produto. O custo fixo com ticket emitido não existiria ao empreendedor e o tempo de compra do serviço reduziria pela metade com um específico para drop”Giuliano Martins, gerente comercial da Skidata

O que permanecerá

A mudança de comportamento do consumidor não vai acabar com os estacionamentos. No Brasil, a frota de veículos leves cresce pouco mais de 3% enquanto a população registra crescimento médio de 0,8% ao ano. São mais 210 milhões de brasileiros e uma frota de mais de 65 milhões de veículos circulantes. 

Somado a isso, há falta de investimentos do setor público em infraestrutura e transporte coletivo, o que torna os espaços das ruas cada vez mais disputados. “A média anual que uma pessoa gasta procurando vagas é de 77 horas e 34% do trânsito é causado por veículos estacionando. É mais uma evidência que o serviço não irá acabar, mas se reinventará”, diz Perachi. 

A tecnologia será a responsável por essa evolução. De acordo com Martins, a melhor maneira de lidar com a constante transformação e aceleração é incentivar quem entende e sabe como operar o negócio num mundo cada vez mais digital e isso não está vinculado a recrutar um exército de especialistas digitais. 

De olho no exterior

O mercado de estacionamento tem evoluído com tanta velocidade que é preciso acompanhar de perto o que players de outros países têm feito. 

O investimento na implantação do CCO (Central de Controle Operacional) pela PareBem, em que se opera remotamente os nossos maiores estacionamentos, surgiu a partir de uma visita ao exterior.  “Entender como funcionam esses mercados, a preocupação dos usuários, a integração com mobilidade urbana e o futuro do setor é fundamental para tudo o que fazemos aqui”, conta o CEO.

Operações ticketless integradas à leitura e ao pagamento via placa feitas diretamente nas máquinas automáticas e o abastecimento de veículos elétricos integrados às tarifas de parking.

Isso já é realidade fora do país e a Skidata também disponibiliza esses serviços para as operações no mercado nacional. 

Adaptações nacionais

Em Paris, a Indigo atua fortemente na construção de garagens subterrâneas em grandes avenidas. “Elas são responsáveis pela revitalização urbana e por ofertar espaços de convívio social onde antes apenas tínhamos carros estacionados, como na Champs Élyssés”, explica Perachi.

No Brasil, a companhia tem dificuldade em implantar essas garagens subterrâneas. Então, concentra os investimentos por meio do aporte de capital para revitalizar alas hospitalares, ampliar shopping centers ou construir edifícios-garagem. 

No exterior, aposta ainda em novas soluções de mobilidade individual complementares. Entre elas, scooters elétricas, carros compartilhados, cadeiras de rodas elétricas e bicicletas elétricas. Todas simples de usar e ecologicamente corretas. 

Muito além das vagas

Conheça as novidades que as empresas preparam:

  • A Indigo firmou uma parceria com a Beep Beep, start up de compartilhamentos de carros elétricos para atuar na cidade de São Paulo com smart stations. A meta inicial é criar 50 pontos de retirada e devolução de carros. 
  • Os totens de recarga elétrica da Skidata, integrados ao parking, conhecidos como Ampere.Gate, prometem trazer uma significativa evolução, pois agrega serviço no estacionamento. O mercado já vem formatando alianças com grandes montadores do setor e deve vir muita novidade por aí.
  • A PareBem está avaliando um contrato que tem potencial para o funcionamento de dark kitchens, a nova tendência no segmento de food service, que oferece apenas comida para viagem. Além disso, tem projeto piloto em teste em um shopping: o usuário escolha a vaga mais conveniente e a cobrança será feita conforme a localização e serviços adicionais associados ao local em que o veículo está estacionado. 
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