Os cuidados com prevenção e combate a incêndios nos shoppings
Um trabalho que depende de planejamento, tecnologia, equipamentos e consciência coletiva
Sistema de SPK, hidrantes, detectores de fumaça, extintores, blocos autônomos, automação das botoeiras, cozinhas dos restaurantes com sistema de CO2 nas coifas… Esses são alguns dos equipamentos de prevenção e combate a incêndios do Mauá Plaza Shopping, que passam por manutenção preventiva e testes mensalmente. Assim como o empreendimento do ABC Paulista (SP), shoppings de todo o Brasil contam com projetos cada vez mais complexos para evitar esse evento adverso e, se ocorrer, estar preparado para combater imediatamente.
Segundo Cleber Broch, gerente de operações do Mauá Plaza Shopping, há uma rotina contínua do bombeiro dentro do mall. “Ele realiza vistorias, verifica a validade dos extintores e suas localizações, o armazenamento de produtos e sempre orienta os lojistas sobre a importância da prevenção. Ainda temos o treinamento de Brigada com os colaboradores e os lojistas, que é realizado, em campo, uma vez por ano.” O empreendimento já teve dois casos de princípios de incêndio em lojas de alimentação, que foram combatidos automaticamente pelo sistema.
De acordo com Jayme Spinola Castro Neto, doutor em Arquitetura pela Universidad Politécnica de Madrid e diretor da SI2 – Soluções Inteligentes Integradas, o desenvolvimento e a implantação de um sistema em shopping centers são de alta complexidade. Isso ocorre porque o local pode agrupar uma grande quantidade de usuários, tem uma diversidade de espaços com dimensões e características diferentes, com grandes áreas de circulação e pés-direitos consideráveis. “Por essas razões, deve ser concebido de forma a atender todas essas variantes e estar integrado com as demais instalações do shopping para atuar, por exemplo, no auxílio à uma eventual necessidade de evacuação”, explica.
O erro mais comum é a relativização da importância de um bom projeto e instalação do sistema de detecção e alarme de incêndios. Neto reforça que a identificação precoce de um foco de incêndio, a integração com os demais sistemas de combate e de extração de fumaça e o cuidado com as rotas de fuga são imprescindíveis para minimizar o impacto de uma eventual ocorrência e salvar vidas.
O papel das lojas
É fundamental contar com a colaboração dos varejistas, pois as instalações de segurança contra incêndio das lojas fazem parte da estrutura. “E elas jamais devem ser negligenciadas”, ressalta Neto.
Os varejistas devem ficar ainda atentos com materiais de acabamento e decoração. Normalmente, eles são inflamáveis e o risco de propagação de um incêndio para as lojas adjacentes é grande. “No geral, devem ter a consciência que a segurança contra incêndio em um shopping é coletiva e não individual. Pois, um incêndio em uma única loja pode afetar todo o empreendimento”, alerta Renato Lima, engenheiro responsável pela linha de produtos de sistemas de incêndio da Bosch Brasil.
Integrado à CFTV
O diretor da SI2 ressalta que as respostas à uma ocorrência, tanto humana como as automáticas, são fundamentais e devem ser imediatas. Desta forma, o videomonitoramento pode ser uma ferramenta muito importante no auxílio à identificação de uma anomalia e pode reduzir o tempo de atuação dos Bombeiros.
A integração da CFTV ao Sistema de Detecção e Alarme de Incêndio principal do shopping é decisivo para diminuir o tempo de resposta. A confirmação do incêndio é realizada imediatamente por meio das câmeras, evitando ou reduzindo o número de vítimas e danos ao patrimônio.
“O que difere do procedimento mais comum hoje nas edificações com grande número de pessoas, incluindo os shoppings, é que quando o painel gera um alarme, um segurança ou brigadista se desloca até o local indicado para confirmar se é um evento real. Apenas depois da confirmação, todos os procedimentos de segurança são iniciados. No entanto, isso pode demorar de acordo com o local do evento e a localização do responsável por esta verificação, o que pode gerar vítimas e grandes danos materiais”, diz Lima.
Laudos técnicos
Qualquer empreendimento precisa ter laudos emitidos pelo Corpo de Bombeiros para poder operar. A documentação necessária é o AVCB (Auto de Verificação do Corpo de Bombeiros), que atesta as vistorias e a conformidade dos sistemas pelo Corpo de Bombeiros do local onde o shopping está localizado. “A validade do AVCB pode variar conforme a legislação estadual. No caso do Estado de São Paulo, deve ser renovado a cada a três anos para shopping centers”, afirma Neto.
Manutenção
É um ponto fundamental e inadiável para que se tenha a garantia de que, no caso de uma ocorrência, tudo funcione conforme planejado. “A frequência da manutenção depende e varia conforme o sistema e o equipamento. Nos sistemas de detecção mais atuais, as verificações de ‘status’ de funcionamento dos componentes são feitas em tempo real e os sinais podem ser conferidos nos próprios painéis de controle. Tarefas de limpeza, testes de interligações e interfaces devem ser realizadas conforme a periodicidade indicada pelos fabricantes”, orienta o diretor da SI2 Consultoria.
De acordo com o engenheiro da Bosch Brasil, é necessário a alocação e a manutenção correta dos dispositivos (acionadores manuais, detectores, etc), tanto do shopping quanto das lojas âncoras e menores, de acordo com as normas vigentes.
Devem ser considerados outros pontos como área, ocupação, cargas de incêndio e pé-direito do ambiente. “Os circuitos são projetados com base na quantidade de dispositivos suportados pelo painel utilizado e o seu comprimento máximo, variando de acordo com cada modelo. A Bosch possui um software de validação do projeto onde o projetista insere os dados para gerar automaticamente a lista de equipamentos necessários, com seus limites e um diagrama unifilar do sistema”, detalha.
Lima diz ainda que a norma exige a vistoria anual de todos os dispositivos para verificar a revisão das conexões elétricas e funcionalidade por meio de testes práticos, além da checagem do nível de sujeira e limpeza. “Esta frequência poderá sofrer alterações de acordo com as características do estabelecimento. Algumas vezes pode ser necessária a cada seis meses e, em casos críticos, até com uma maior periodicidade”, explica o engenheiro.
Além de garantir o correto funcionamento dos equipamentos, a manutenção reduz drasticamente a possibilidade de falsos alarmes. Os detectores e acionadores do shopping são monitorados diretamente pelo painel de detecção e alarme. Porém, os mesmos dispositivos das âncoras e das lojas menores não são. Desta forma, a responsabilidade da manutenção fica com cada lojista e, caso os mesmos não a façam, colocam todo o empreendimento em risco devido à capacidade de propagação de um incêndio. Por isso, deve ser tratado com muita seriedade por cada operação.
Os sistemas elétrico e de ar condicionado também devem passar por inspeções frequentes e adequações em caso de mudança de layout e/ou aumento de carga. “Os curtos-circuitos gerados por falhas de instalação ou dimensionamento são frequentes causadores de incêndios”, destaca Lima.
Atenção redobrada
Os registros de ocorrência em shoppings mostram que existem as áreas mais vulneráveis e de maior risco. Lima aponta que esses locais precisam de ainda mais atenção. “A praça de alimentação é o espaço com maior risco e número de eventos devido aos gases combustíveis, temperatura e óleo ou gordura gerando uma combinação perigosa. As áreas de utilidades, como energia, automação, AVAC (Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado), também são de grande risco para este tipo de edificação”.
Bombeiros e Brigada
Todo sistema que detecta e gera um alarme de não conformidade necessita de uma resposta imediata, que pode ser automática, mas precisa estar em consonância com a atuação humana. Os Bombeiros e a Brigada de Incêndios, criada para situações de emergência, terão papel fundamental nas ocorrências. Uma vez confirmada a emergência, eles orientam o público a evacuação segura do local, identificando o funcionamento de todos os sistemas de combate para minimizar os danos causados.
Está comprovado que o ser humano também reage de forma diferente a um alarme associado a um comando de voz. Por isso, esses times são tão importantes no auxílio à evacuação dos locais, porque orientam o público a fazer o abandono de forma efetiva sem pânico.
De acordo com Lima, uma mensagem de voz dada por uma pessoa é clara e compreensível. Desta forma, o tempo de reação – abandono do local – em uma emergência é reduzido drasticamente quando comparado apenas com a sinalização por meio dos avisos sonoros.
No Brasil, não existe um toque de sirene padronizado para a indicação de uma ocorrência de incêndio. “Quando acontece um evento e os avisos sonoros são acionados, as pessoas não sabem o que fazer. Nem sequer sabem diferenciar se a sirene é proveniente de um incêndio ou de um roubo em uma joalheria, por exemplo. Isso sem contar quando ficam paralisadas e a maioria escolhe uma saída normal, geralmente por onde entrou, para o abandono do local – mesmo que a distância dela seja muito superior em relação a uma saída de emergência”, enfatiza o engenheiro da Bosch.