Os cinemas reabriram com protocolo rígido, mas a retomada deve se dar de forma mais intensa a partir de 2021 com a chegada dos grandes lançamentos
Na tela, dramas, suspenses, romances, aventuras ou comédias. Não há limites para a imaginação de quem faz cinema! Do outro, o público que se emociona, chora, ri… É extraordinária a experiência imersiva que o cinema proporciona. A sala escura com poltronas confortáveis com telona e som digital é o palco de muitas histórias. Afinal, quem não se lembra quando foi ao cinema pela primeira vez ou daquele encontro especial? Basta perguntar para qualquer pessoa e, logo, vem uma recordação. E agora, depois de tanto tempo fechados, estão retomando suas atividades de forma gradual e segura, para continuar fazendo parte da vida e da memória afetiva das pessoas. Inclusive, já é possível matar a saudade de ver alguns clássicos e lançamentos na telona.
Reabertura organizada
Para que o retorno acontecesse, a indústria se uniu e criou o movimento #juntospelocinema logo no início da crise. Mais de 200 distribuidores, exibidores, fornecedores e produtoras se juntaram para que pudessem estar alinhados e prontos para receber o público na reabertura com a máxima segurança. Seguindo um protocolo rígido, as salas seguem com a capacidade limitada e uma série de outras medidas foram implementadas.
A retomada ainda é gradual e lenta, mas a expectativa é de melhoria nos próximos meses, pois os lançamentos dos blockbusters ficaram para 2021. Isso faz parte da estratégia global das distribuidoras que precisam que a situação se normalize em todo mundo e dependem ainda da reabertura de alguns dos principais mercados da indústria cinematográfica dos Estados Unidos.
No Brasil, as salas têm exibido longas de catálogo e alguns lançamentos. As redes de cinema também acreditam em um cenário mais favorável no próximo ano. Afinal, o cinema é um dos programas preferidos dos brasileiros. Basta relembrar alguns sucessos de bilheteria no ano passado, como Vingadores: Ultimato, Rei Leão e Coringa. Os longas receberam de público 17,9 milhões, 15,9 milhões e 9,4 milhões de pessoas, respectivamente. Em 2019, foram mais de 176 milhões de espectadores.
Preparados para o retorno
Todas as redes de cinema se organizaram para esse momento. A Cinépolis reforçou, por exemplo, os controles existentes de segurança e bem-estar e adotou medidas mais rigorosas de limpeza e higiene.
“Todos os complexos da rede estão preparados com os protocolos de segurança definidos pelos órgãos competentes, criando um ambiente seguro e confiável para clientes e funcionários. Cada complexo respeita e segue integralmente a legislação vigente em cada cidade”, detalha Luiz Gonzaga de Luca, presidente da Cinépolis Brasil.
Segundo Daniel Campos, diretor de marketing da Cinemark, a reabertura está sendo muito cuidadosa. O protocolo foi bem estudado e tudo está sendo feito de maneira detalhada, minuciosa. O investimento é em muito treinamento e foco em todas as mudanças que ocorreram durante o período em que estiveram fechados.
“Os clientes têm cumprido muito bem as medidas e a experiência é que se sentem seguros, mas, claro, eles têm o desejo de assistir a outro tipo de filme”, complementa Carlos Marín, diretor executivo da UCI Cinemas no Brasil. Nesse aspecto, o movimento #juntospelocinema ajudou tanto para que os distribuidores entendessem a importância de se planejar para a retomada dos cinemas assim como para divulgar as medidas implementadas pelas redes.
O retorno do público
A retomada gradual do público já era esperada pelos exibidores. As salas reabriram com o “Festival de Volta Para o Cinema” e com alguns lançamentos.
“O público que é fã de uma das franquias do festival, como Harry Potter, voltou para assistir ao primeiro filme. Outros grupos de fãs também tiveram comportamentos similares. Quem estava ansioso por um lançamento na grande tela também já pôde aproveitar. Cada vez mais pessoas entendem que os cinemas estão abertos de maneira segura e começam a chegar. A rotina vai voltando ao normal”, relata Campos.
Segundo Gonzaga de Luca, por meio do movimento #juntospelocinema, foi realizada uma pesquisa com quase 30 mil pessoas. O resultado é que, depois de atividades ao ar livre, o cinema é o que as pessoas mais querem retomar.
O levantamento também mostrou que 18,4% voltariam na primeira semana e 44,8%, após o primeiro mês da reabertura. “A Cinépolis também realizou uma pesquisa com 10 mil pessoas de sua base de clientes. Quando questionadas sobre o que mais sentem falta no cinema, 33% disseram que a ‘experiência como um todo’; em segundo lugar, com 23%, ficou a opção de assistir lançamentos inéditos. Diante disso tudo, acreditamos que é uma experiência única e as pessoas estão prontas para voltar”, destaca o presidente da Cinépolis.
Adiamento das estreias
Os cinemas se alimentam basicamente dos grandes lançamentos, os quais são dirigidos majoritariamente às famílias e ao público jovem. “O fato de não termos esses filmes afeta demais o nosso desempenho, pois não temos como operar em condições economicamente viáveis”, aponta Marín.
Após o fechamento das salas por sete meses, não é possível concentrar todo esse line up no final 2020. Campos acredita que algumas estreias que já entraram na programação ainda em 2020 vão trazer, aos poucos, os espectadores de volta. Para o próximo ano, esse movimento estará ainda mais acelerado. E ainda acrescenta: “As grandes produções de 2020 adiadas vão somar-se às estreias que já estavam previstas para 2021. Com certeza, a recuperação mais encorpada será no próximo ano, mas ela já começou”, declara o diretor de marketing da Cinemark.
Os negócios
Por ter sido um dos últimos a voltar a operar, o cinema sofreu grande impacto econômico. “Segundo a Abraplex, devido à pandemia, estima-se que o setor de exibição tenha acumulado dívidas de mais de R$ 500 milhões. Isso representa mais de 20% do total do faturamento com bilheterias. Além disso, sem os grandes lançamentos, o setor deve seguir perdendo. Contamos com todo o apoio das distribuidoras para não adiarem mais as estreias já programadas e que podem ajudar o setor”, reforça o presidente da Cinépolis.
Na UCI, 20% dos cinemas ainda estavam fechados até o início de novembro. “A nossa retomada é muito lenta. Nosso nível de performance era de aproximadamente 8 e 10% no começo de novembro em comparação ao mesmo período do ano anterior. Já era algo esperado, mas é um pouco triste, porque os cinemas são pensados para ter público”, diz Marín.
Por outro lado, houve um grande movimento da indústria de se unir e se manter forte. “Distribuidores, exibidores e produtores se ajudaram para esse grande momento. A situação financeira é obviamente complicada. Com o fechamento, as principais fontes de receita não acontecem. Mas o movimento de união para manter o cinema vivo foi o grande equilíbrio para o impacto econômico e financeiro durante esses sete meses”, pontua o diretor de marketing da Cinemark.
Como quase 80% das salas ficam dentro de shoppings, negociações tiveram que acontecer de forma individual com muito diálogo entre as partes. “Os shopping centers são nossos parceiros, alguns inclusive desde a nossa chegada ao Brasil em 2010. Toda a negociação se deu de forma saudável, em um processo que fosse bom para ambas as partes”, frisa o presidente da Cinepólis.
Marín relembra que, como foi algo que chegou de um dia para o outro, ninguém estava preparado para a crise e não era possível prever as consequências ao longo do tempo. Sendo assim, as negociações se deram de diferentes formas. No entanto, diz que o diálogo ainda deve continuar.
“Agora, estamos com os cinemas reabertos, mas os resultados geram mais prejuízos economicamente do que quando estavam fechados. É necessário que as administrações dos shoppings entendam as características especiais do cinema. Porque, fora as restrições que temos de lotação, diferentemente de outras atividades, não temos produtos para oferecer aos clientes. A abertura foi feita com a distribuição de filmes antigos e outros de pouco potencial econômico e isso é uma nova realidade que estamos tratando também”, pontua o diretor executivo da UCI Cinemas no Brasil. Para ele, a melhoria da performance acontecerá a partir do segundo ou terceiro trimestre de 2021.
Inovação
Muitas das mudanças aceleradas pela pandemia vão se manter mesmo depois da vacina contra a Covid-19 e isso também acontecerá nos cinemas. Os protocolos de segurança aprimoraram ainda mais a experiência. Hoje, a jornada do cliente é diferente.
Os consumidores estão sendo incentivados a comprar seus ingressos pela internet ou terminais de autoatendimento. “Os itens da bomboniere também podem ser adquiridos nos canais digitais. Através de um QR Code, é possível disparar um comando para que a cozinha prepare o pedido. A fila da pipoca não existe. As pessoas ficam espalhadas esperando a sua vez e, quando o pedido estiver pronto, elas veem no monitor qual é o caixa para a retirada”, explica Campos.
Outras medidas também foram tomadas. “A bilheteria, que era um grande ponto de aglomeração, passa a aceitar apenas dinheiro. Não é uma mudança radical, mas, com certeza, ele precisa se acostumar com essas novas regras: uso de máscara o tempo todo, distanciamento social, não poderá ficar circulando pelo lobby do cinema para evitar aglomerações. Além disso, só poderá consumir sua pipoca e bebida quando já estiver sentado na sua poltrona marcada, a saída de sala é orientada por um colaborador da Cinépolis.”
Dentro das salas, um raio de, no mínimo, 1,5 m garante o distanciamento social e, com isso, as pessoas podem comer e beber. Nos corredores, há muita fluidez e poucos pontos de contato. Tudo foi repensado minuciosamente para ter uma experiência segura e com a mesma diversão de sempre.
Empregos
Com tantos meses fechados, como cada player lidou com o emprego?
Na Cinemark, todos os mais de três mil colaboradores continuaram com seus postos de trabalho. “A manutenção do quadro de colaboradores e da estrutura da Cinemark é um grande motivo de orgulho para nós”, destaca Campos.
Segundo o presidente da Cinépolis, a empresa entende que cortes na mão de obra devem ser o último passo a se adotar. Desta forma, definiram uma série de outras ações para contenção de despesas, preservando os empregos. A UCI tem utilizado até o momento as possibilidades oferecidas pela Medida Provisória 936/2020, mas o quadro de funcionários é praticamente o mesmo.