Simulado de Segurança envolve mais de 80 policiais no Shopping Eldorado

O exercício reforça a importância da integração da segurança pública e o setor privado

A 3ª edição do Seminário de Segurança e Operações, organizado pela Abrasce, contou com um Simulado, realizado no Shopping Eldorado, e os participantes inscritos puderam acompanhar o treinamento feito em parceria com as forças de segurança pública, antes da abertura do empreendimento ao público na manhã de 5 de outubro.

A ocorrência escolhida foi um feminicídio na Praça de Alimentação, que gerou quatro ‘vítimas’, a ‘esposa’ do agressor, atingida com um tiro na têmpora e levada pelo helicóptero Águia ao Hospital das Clínicas, um ‘vigilante’ baleado na perna e dois ‘visitantes’ que tiveram ferimentos leves.

A dinâmica ainda contou com ‘refém’, personagem incorporada por uma profissional que trabalha no empreendimento. Nesse terceiro simulado do Shopping Eldorado, optou-se por diminuir o número de vítimas e colocar uma complexidade maior no ferimento. 

Foram muitos dias de preparativos e reuniões para realizar esse exercício, que teve a atuação direta de 88 policiais militares e indireta de outros profissionais da segurança pública do estado de São Paulo, que não foram contabilizados neste número. Foram envolvidos o 23º Batalhão da Polícia Militar, o 4º Batalhão de Choque – GATE, o Comando de Aviação da PM, o 4º Grupamento do Corpo de Bombeiros, o Comando de Policiamento de Trânsito, o COPOM e o Centro de Comunicação da PM.

Segundo o coronel da Polícia Militar e comandante da região Oeste de São Paulo, Carlos Henrique Forner, o simulado mostra o trabalho conjugado e ainda faz com que se entenda melhor a dinâmica de uma circunstância grave como essa em um shopping center. “O mais interessante é que conseguimos envolver muitos atores e agregar a própria força de segurança, paramédicos e socorristas do empreendimento. É fundamental ter esse treinamento e essa sintonia para que possamos prevenir eventos fatídicos dessa ordem, que não queremos que aconteçam, mas que tenhamos a melhor solução para o futuro”, diz. 

O tenente-coronel e comandante do 23º Batalhão da Polícia Militar, Marcos Daniel Fernandes, afirma que esse exercício serve de exemplo para outras polícias e outros eventos. “Esse tipo de treinamento é fundamental para ter integração entre o setor privado e as instituições públicas, no caso, Polícia Militar e Corpo Bombeiros. Esperamos que não ocorra, mas, temos que estar preparados para caso haja uma situação grave para uma atuação rápida visando preservar vidas”, diz.

Ambos destacam a importância do simulado ter trabalhado com o feminicídio. “É um tema em voga, em segurança pública hoje, que choca a sociedade. Então, temos que ter condições de lidar com o causador da crise, de socorrer rapidamente a vítima, tentando trazer uma integridade o mais rápido possível. A Polícia Militar é muito atuante, não vamos de modo algum aceitar que circunstâncias dessa natureza sem nenhuma resposta policial”, pontua Forner. 

De acordo com Nelson B. Junior, gerente de segurança do Shopping Eldorado, um simulado dessa complexidade exige muito empenho e responsabilidade, porque tem a imagem da Polícia Militar, do Shopping Eldorado e da Abrasce. “É muito profissionalismo, temos que pensar em todos os detalhes e nada pode dar errado, para não virar uma situação de crise real como já aconteceu em alguns exercícios em outros empreendimentos. O intuito é passar para os demais gestores, que tendo planejamento, proximidade com as forças públicas, é possível treinar e, se vier a acontecer uma ocorrência, saber como agir e isso é preservar a vida de todos os que frequentam o empreendimento”, diz. Além dos profissionais de segurança pública, cerca de 60 pessoas do ativo estavam envolvidas no simulado. E a Praça de Alimentação foi escolhida para aumentar a complexidade do exercício, já que fica no terceiro piso e é mais complicado de se fazer o resgate. 

O tenente-coronel Daniel conta que, além das reuniões preparatórias com a Abrasce, o Shopping Eldorado e as forças policiais envolvidas, foram realizadas visitas preparatórias, um manual de instrução e um plano de ação.  Todas as pessoas presentes, sejam oficiais, colaboradores do ativo, cinegrafistas, fotógrafos, plateia e os atores da dinâmica, foram identificados com diferentes cores de fitas que foram colocadas no braço. Como tinham armas de fogo, foi nomeado um oficial para que as colocasse em condições de segurança. Após inspecionadas, uma fita azul foi passada em cada equipamento e foram usados lacres e retirados todos os carregadores e munições. Ao mesmo tempo, policiais em serviço fizeram a segurança dos colegas que estavam na dinâmica e sem munição naquele momento. “O controle do armamento deve ser colocado acima do resultado para que não haja nenhum incidente. O gestor de segurança do shopping deve checar pessoalmente”, ressalta Daniel. A imprensa foi comunicada da realização do simulado assim como toda a vizinhança do entorno. Faixas também sinalizavam que a realização do treinamento. 

“O simulado foi o mais próximo da realidade. O tema feminicídio é um tema possível de vivermos com uma crise nesse sentido, onde houve uma questão, motivado por uma situação passional, em que indivíduo armado se torna um atirador ativo”, diz o comandante Daniel. A Polícia Militar registrou tudo desde o planejamento até a execução da ação e o resultado foi formalizado em relatório, para que seja documentado e consultado no futuro. “Cada unidade especializada tem as suas considerações. Por mais que seja planejado, irão aparecer circunstâncias que serão pontos de observação para serem melhorados e cada melhoria pode ser a preservação de uma vida “, relata o tenente-coronel Daniel. 

O time do Shopping Eldorado também se reúne após um treinamento como esse para ver o que foi bom e os pontos que precisam ser melhorados. “O  intuito do simulado é estar preparado. Os gestores de segurança precisam fazer simulados em seus empreendimentos porque o treinamento é o que leva à perfeição. O nosso intuito é se acontecer, o risco se concretizando, as ações que precisam ser tomadas”, reforça Junior.

Após o treinamento, teve ainda uma palestra na plenária no WTC para mostrar como tinha sido a dinâmica e dar detalhes sobre o planejamento. Nesse momento, Gabriella Oliveira, diretora de Operações e Planejamento, da Abrasce, destacou a importância de trazer um tema atual, dolorido e sentido. “Os shoppings precisam estar preparados e entender como os órgãos atuam nessas circunstâncias.”

Mônica Vianna, gerente de Relacionamento e Insights da Abrasce, fez questão de exaltar a liderança do tenente-coronel Daniel durante o treinamento. No mesmo painel, André Faustino, sócio do escritório Faustino Advogados, falou sobre relações jurídicas estabelecidas entre o shopping, como prestador de serviço, e o usuário do equipamento, como consumidor, a partir do momento em que o cliente entra no empreendimento. “Qualquer ocorrência que surja dentro dessa experiência de forma direta ou indireta pode gerar responsabilidade ao estabelecimento em diversos prismas do Direito. Os simulados são bons instrumentos de mitigação dessa responsabilidade e de assumir o compromisso do empreendimento em oferecer um ambiente seguro.” 

Marcio Rossignoli, gerente corporativo de segurança do Grupo Tacla e membro do Comitê de Segurança da Abrasce, abordou brevemente como ele estreitou esse relacionamento com a segurança pública nos locais onde há ativos da companhia e ainda destacou: “É importante trazer essa realidade do simulado para que a gente mensure a relevância dessa integração. Não devemos deixar isso só para um momento de crise, diariamente, devemos reforçar essa conexão.”