Hubs de inovação fomentam negócios e movimentam a economia
Esses ecossistemas ganham cada vez mais relevância no Brasil
Os shoppings seguem em transformação e precisam estar perto de inovações e tecnologias. Essa busca se dá em feiras, eventos, congressos, missões internacionais e nacionais, programas de universidade, consultoria e, claro, por meio de serviços prestados por empresas. Daí, entram também os hubs de inovação, que facilitam demais esse trabalho. “Eles são um instrumento de conexão entre vários atores do ecossistema, como startups, instituições de ensino nacionais e internacionais, grandes empresas de tecnologia, governo, aceleradoras, incubadoras, investidores, consultorias, venture capital… São ainda centros de experiências, de conhecimento, de oportunidades de parcerias e geração de negócios. Podem tratar as necessidades e trazer as soluções para cada uma das dores de uma empresa”, diz Helio Biagi, cofundador da OasisLab e presidente do Conselho da SBVC (Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo).
Além de encontrar resolução para problemas, é possível identificar algo que não enxergava e achar oportunidades que eventualmente não imaginava. Atualmente, existe uma procura maior por eles. De acordo com Rodrigo Azevedo, diretor da Khanum – Consultoria em Inovação, houve um crescimento deles no país.
“O brasileiro tem como característica ser muito criativo e isso para a inovação é extremamente interessante, o que acaba refletindo nos ecossistemas de inovação. Nos últimos cinco anos, houve um salto de 200 para 1.030 hubs espalhados pelo país.
Em outros países, eles já são células estruturadas bem mais antigas e muitos têm como único objetivo gerar conexão. No Brasil, eles buscam construir e fomentar negócios, e isso tem movimentado a economia criativa e atraído grandes players”, explica Azevedo.
Para encontrar uma solução, é possível fazer uma triagem, mas outra maneira muito eficiente é contratar serviços de consultorias do próprio hub, que irá fazer a curadoria do que está precisando. Empresas mais consolidadas têm próprios hubs e alguns são referência do país. A Khanum é a consultoria que opera o inovabra, do Bradesco.
“Ele é um dos maiores do mundo e um dos mais relevantes da América Latina. Há 250 startups, 40 corporates de diversos segmentos, além das tech partners. Nosso papel é desenvolver o objetivo de fomentar negócios e o Bradesco é o grande patrocinador deste espaço. Fica em um dos edifícios mais visitados do mundo da WeWork, empresa de gestão de condomínios”, diz Azevedo.
A Khanum também atua em outros hubs e já atendeu mais de 100 empresas, realizando projetos pontuais ou perenes. Fundada em 2005, atuou inicialmente com uma agência de publicidade por dois anos e, logo em seguida, investiu no projeto Khanum IT, que buscava vender ideias, algo que era inédito no Brasil, mas já se fazia nos Estados Unidos. Chegaram a oferecer uma ideia voltada para o setor imobiliário ao Bradesco, mas não deu certo na época. Nem imaginavam o que o futuro reservava. “Após decidir engavetar o projeto, passamos a estudar mais e nos deparamos com o Design Thinking, como uma forma de levar inovação para as empresas. Criamos um movimento com outras consultorias da época e passamos a dar treinamento no Brasil todo. Trouxemos na época também o workshop do Global Service Jam”, relembra Lino Nader, diretor da Khanum.
Em 2014, criaram outros diferenciais, ao entrarem no mundo da neurociência. Com muito estudo, se especializaram em neurobusiness e depois pivotaram para a neuroinovação, com um método próprio. “Isso caiu no gosto do mercado. Trouxemos a governança de inovação e a metodologia de aplicar na prática, criando um modelo de recorrência da consultoria”, relembra Nader.
Quando isso foi consolidado, criaram outras frentes. Eles atuam em todas as etapas para que a área de inovação da empresa tenha perenidade.
“A inovação tem que trazer resultado, virar o motor da organização. É preciso ter um olhar de melhoria contínua, de agregar valor e receita. No nosso entendimento, o grande ganho de ter um ecossistema próprio é conseguir mobilizar pessoas, gerar fluxo, conexões e novos negócios, movimentando a economia local”, detalha Azevedo. De acordo com Nader, o maior benefício de um hub é de atrair, oxigenar e dar soluções ao mercado.
Especializada em varejo
O hubs brasileiros vivem um momento interessante. Por exemplo, a OasisLab surgiu há cerca de 10 anos em um momento de ebulição de startups e do Vale do Silício. Seus fundadores são advindos do varejo e tinham como foco fazer um hub especializado na vertical varejo. Chegaram a ter um espaço físico, inspirado em um hub que ficava dentro de um shopping nos Estados Unidos, mas fecharam na pandemia. “Se tornou um hub virtual. Começamos a trabalhar de uma forma digital e essa interação e conexão sem ter o espaço físico. E hoje também somos muito procurados para estruturar hubs de inovação pelo país. Em um de nossos estudos de mapeamento com cases no varejo, selecionamos 8 mil startups e chancelamos aproximadamente cerca de 290. E isso já aumentou, e estou me referindo apenas a vertical de varejo”, conta Biagi.
Entre os maiores do país
Pioneiro no Estado de São Paulo, o Parque de Inovação Tecnológica São José dos Campos (PITSJC) é uma política pública da prefeitura e governo, gerido pela Associação Parque Tecnológico de São José dos Campos. Se tornou uma referência por fomentar o empreendedorismo e as conexões para criação de novas tecnologias, produtos e processos. Diferentes programas e iniciativas são desenvolvidos a partir de objetivos públicos de desenvolvimento socioeconômico repassados pela prefeitura.
O PITSJC tem três clusters: o Aeroespacial Brasileiro com 140 empresas associadas; APL Tic Vale, voltado para a tecnologia da informação e comunicação com 130 empresas; e o Agropolo Vale voltado ao setor agroindustrial com 60 empresas. Todos têm como foco a geração de negócios.
“Um dos programas é o Nexus, hub de inovação do PITSJC, que tem basicamente a missão de acelerar o desenvolvimento sustentável do nosso ecossistema”, explica Leandro Costa, head de empreendedorismo e inovação do Nexus. É um ambiente para conexão de startups, empresas de todos os portes, investidores e instituições de ensino, com programas de aceleração e incubação que acompanham startups desde a fase de ideação até a escala, além de estimular programas de inovação aberta. E tem subdivisão a depender do estágio em que se encontram.
“O Nexus Lab é voltado para a ideação, ou seja, busca amadurecer programas em fase inicial. O Growth envolve as startups que estão no processo de ida ao mercado e validação das soluções deles. Temos ainda Scale Up para startups na fase de tração e escala e os demais, R&D, Corp e Base, são voltados para instituições grandes que vêm para dar suporte e se conectar com pesquisa, desenvolvimento ou inovação aberta”, explica Costa.
Há ainda um programa também voltado especificamente para a conexão entre academia e mercado, com as instituições de ensino. “Trabalhamos com modelo de setor privado, público, academia e a sociedade civil. Catalisamos projetos entre esses setores”, conta.
Apenas neste núcleo, há 405 empresas associadas, entre residentes ou não.
E Nexus se conecta ainda com outros hubs de inovação e outros parques tecnológicos, o que é muito produtivo para as partes envolvidas. Em relação ao varejo, existe uma vertical no PITSJC e no Nexus também, porém, mais voltada para a indústria por conta da região onde estão localizados. “Mas muitas das tecnologias desta vertical são adaptáveis ao varejo.” O hub de inovação Nexus é híbrido. “Acreditamos que faz uma diferença muito grande para o desenvolvimento dos negócios de não estar 100% aqui, mas é preciso beber desta água.” Afinal, é uma fonte inesgotável de conhecimento e trocas.
Desde o início do Nexus, já foram incubadas e aceleradas mais de 400 startups no local e há um índice de engajamento muito interessante: 63% delas foram até o final, ou seja, se formaram e passaram por esses programas.
E isso é resultado não só da infraestrutura física, mas do apoio para o desenvolvimento da tecnologia. Para agregar ainda mais a tudo o que é realizado, existe uma conexão com diversas instituições internacionais. É de São José dos Campos para o mundo.
Direto de Piracicaba
Atenta ao movimento de que as empresas precisam buscar novas tecnologias, modelos de negócios, ferramentas, formas de gerenciar pessoas, a ACIPI (Associação Comercial e Industrial de Piracicaba), investiu no Inova ACIPI, um hub de inovação e de empreendedorismo com foco no varejo e no agronegócio com o objetivo de conectar, colaborar, criar e trazer tecnologias, fazer programas de capacitação e ajudar as empresas a competir nesse novo contexto.
Segundo Thiago Salgado, diretor da Escola de Negócios e do Inova ACIPI, apesar da inauguração ter acontecido em maio deste ano, as discussões sobre esse projeto começaram há 3 anos. “Para a entidade, é um aprendizado muito grande. ACIPI tem 90 anos e mais de 7 mil empresas associadas, entre pequenas, médias e grandes. O nosso desafio no hub é trazer a indústria, o comércio e os serviços e, para isso, a entidade está tendo que mudar sua cultura, trabalhando de forma colaborativa.”
O Inova ACIPI envolve uma série de iniciativas como programas de inovação aberta, chamada para startups, conexão com investidores, missões técnicas para executivos, entre outras. A gestão do espaço e facilities fica a cargo a Co.W Coworking Space, responsável por criar processos, elevar o nível dos debates e provocar uma série de ativações. Outro grande parceiro é a New Innovation Partners. “Seguimos a premissa de ter parceiros estratégicos. A ACIPI está promovendo e potencializando, criando um ambiente e financiando todo um trabalho porque acredita que isso irá mudar o’ jogo’ no ambiente de negócio da região”, diz Salgado.
O Inova ACIPI fica em um prédio próprio moderno, construído para comportar os departamentos da associação e também o hub, este ocupa dois andares. Como já perceberam que será preciso ampliar, o prédio antigo passa por revitalização. Além de salas de inovação, há área de eventos, salas de reunião, open station… “Como acreditamos no hub phygital, vamos ter plataformas, eventos híbridos, momentos de presencial e de experiência. O objetivo é fomentar o desenvolvimento da região, mas já está transcendendo, inclusive, com outras empresas vindo para cá.”
Há um desejo genuíno de oferecer inovação e tecnologia a quem não está conseguindo competir.
“Queremos ainda nos conectar com outros hubs da região, somos uma entidade apartidária, que está buscando fazer com que Piracicaba se torne um polo visitado pelo mundo todo”, projeta Salgado. Além de soluções estratégicas da ACIPI, o hub conecta startups, investidores, empresas, instituições de ensino e empresas envolvidas com educação e governo.
Recém-inaugurado
Iniciativa do CEPEV-USP (Centro de Estudos e Pesquisas do Varejo), o Lab Varejo EACH|USP foi inaugurado em maio deste ano na USP Leste. O projeto já vinha sendo idealizado desde 2019 com o objetivo de desenvolver e criar conhecimento sobre o ecossistema do varejo, mas teve que ser adiado por conta da pandemia. “Do ponto de vista interno, os professores de alguns cursos. como Marketing e Têxtil e Moda, podem usar esse espaço como um benefício para os alunos da universidade. Pensando fora, o intuito é realmente buscar parcerias com empresas”, Marcos Luppe, coordenador do CEPEV-USP e do Lab Varejo EACH|USP. Será um local para fóruns de discussão, estudos, programas de ensino e desenvolvimento de equipes e envolve estudantes, empresários, executivos e profissionais.
Apesar de não estar totalmente concluído, sua abertura foi bastante comemorada. “No Lab Varejo, podemos fazer testes empíricos sobre categoria de produtos, ambiente de loja, estudo das novas tecnologias e muito mais E esse desenvolvimento acontece com os alunos e também por meio de parcerias com empresas e outros órgãos.” A grande vantagem é que esse campus conta com 5 mil alunos com diferentes perfis.
No entanto, existem critérios para se utilizar o espaço e qualquer um que queria desenvolver um atividade ou pesquisa terá que fazer um termo, que precisa ser aprovado pelo diretor. “Vamos criar ainda um conselho curador para desenvolver atividades ao longo do ano.” De acordo com Luppe, agora espera-se também firmar novas parcerias, além das existentes.
“Já estamos estudando fazer o pós-NRF em 2025, pois temos microempreendedores que podem se beneficiar de eventos desta natureza. Temos ainda a empresa Marketing Jr. que nos apoia, quando uma empresa quer fazer uma pesquisa. Ainda há possibilidade do Lab Varejo estar inserido em um hub de inovação.”
Enfim, são muitas possibilidades a serem trabalhadas a partir de agora e vindo da USP Leste, pode-se afirmar que vem muita novidade boa daqui para frente.
Inovador desde a arquitetura
Com 33 mil ㎡ de área construída, o Moinho fica em Juiz de Fora (MG) e se posiciona um polo de empreendedorismo, inovação e criatividade. Os prédios do antigo Moinho Vera Cruz passaram por retrofit e trouxeram modernidade para a Zona Norte da cidade em um projeto sustentável com certificação LEED. Ele foi desenhado para atender essa comunidade. “É um empreendimento imobiliário que se transformou em um minicentro urbano baseado em quatro eixos temáticos: saúde, educação, moradia e comércio. Queremos criar uma onda de prosperidade, que começa por essa região da cidade. Ele vem para transformar ideias, pessoas, cultura e comportamentos”, Rita Rodrigues, CEO do Moinho.
Para que isso acontecesse, criaram o Moinho Lab, considerado a área de inteligência do imobiliário. “É um hub que fomenta o empreendedorismo e, que, no futuro, esses atores podem ocupar esses espaços”, diz Rita. Para isso, baseiam-se nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (Organização das Nações Unidas), com muito foco na geração de renda. O local ainda tem espaços interessantes como um coworking, um auditório para 200 pessoas no formato de arquibancada e uma conexão no quinto andar, que interliga os prédios da edificação.
O hub fomenta startups dos segmentos de saúde, educação e cidades e tem mais 500 empreendedores em sua rede, que recebem informação, podendo participar de uma jornada de programas. Fazem parte do ecossistema: a mentoria, a incubação, a aceleração e a conexão. “A nossa visão é levar a Zona Norte para o mundo e trazer o mundo para a Zona Norte”, aponta Rita.
Recentemente, começaram a trabalhar com uma nova vertical, a de Inteligência Artificial. “Fizemos um evento para conectar essas empresas e tê-las como parceiras e financiadoras deste projeto, além de termos contato com as grandes corporações presentes nesta região.” E nesse ponto, os varejistas também podem e devem se conectar. Por aqui, tem novidade a todo momento e vale a pena colocar no seu radar.