Lojas autônomas oferecem uma experiência sem fricção e devem expandir cada vez mais

Conheça alguns modelos de negócio que têm agradado os operadores e os consumidores 

Experiências sem atrito fazem parte das tendências do varejo e, com isso, algumas empresas já investem em operações autônomas. Agora, elas não são vistas apenas como o futuro, pois já fazem presentes e com a expectativa de crescimento nos próximos anos. Confira algumas operações de sucesso no Brasil, que já nasceram com tecnologia embarcada e vieram romper barreiras, trazendo uma tendência irreversível e com o olhar para o amanhã. 

Muffato Go

O primeiro supermercado 100% autônomo da América Latina foi inaugurado em novembro de 2021, em Curitiba, e oferece uma experiência muito similar à Amazon Go. Tudo começou em 2019, quando o diretor Everton Muffato conheceu a Sensei durante a National Retail Federation (NRF), em Nova York (EUA) por meio Beautiful Brasil Retail e OasisLab. Desde então, houve um interesse crescente em explorar a tecnologia. 

“Em julho de 2021, durante a pandemia, conseguimos uma permissão para uma viagem de negócios com o CTO do Grupo Muffato, Fabio Donadon, em Lisboa. Esse encontro permitiu uma avaliação prática do formato, após a inauguração da primeira loja da Sensei na Europa”, relembra Alvaro Farana, diretor geral da Renovretail, empresa que desempenhou um papel importante na implementação deste projeto no Brasil integrando todas as soluções através de sua plataforma. “Elas permitiram que todos os sistemas funcionassem de forma nativa e se conectassem perfeitamente dentro da loja autônoma garantindo uma operação suave e eficiente da Loja Muffato Go.”

Com investimento de R$ 10 milhões, a operação tem 250 m² e é a maior loja autônoma da América Latina. Ao entrar na loja, o cliente precisa apenas baixar aplicativo da varejista, preencher os dados e cadastrar um cartão. Com o QRCode, o cliente acessa a loja. A partir daí, os itens escolhidos vão sendo computados. Se desistir de levar um produto, basta colocá-lo de volta à prateleira, que automaticamente é retirado do carrinho de compras. Após escolher todos os itens, o check-out é feito automaticamente. 

Para isso, a loja é equipada com 500 câmeras inteligentes, o que oferece uma visão abrangente e precisa do ambiente. Essas câmeras, juntamente com mais de 550 prateleiras inteligentes, 3.900 sensores nas gôndolas e etiquetas eletrônicas em cada produto, contribuem para uma operação altamente eficiente.

 “A utilização de tecnologias como inteligência artificial e visão computacional reforçam o compromisso do Grupo Muffato em adotar soluções inovadoras. A IA desempenha um papel crucial na análise de dados em tempo real, permitindo uma melhor compreensão dos padrões de compra, demanda de produtos e comportamento dos clientes. A visão computacional, por sua vez, permite que as câmeras inteligentes identifiquem itens, rastreiem movimentos e garantam uma experiência de compra segura e sem atritos”, explica Farana. 

É possível ainda que um grupo de pessoas possa entrar na loja com o acesso apenas por um celular. Com sistema de visão computacional, é possível identificar a presença de todos, rastrear os produtos retirados da prateleira e direcionar a compra para o cartão cadastrado. “Essa abordagem promove conveniência e agilidade, eliminando a necessidade de cada pessoa ter seu próprio dispositivo móvel para acessar a loja.”

Para gerenciar o estoque, possui um sistema de reposição online. Com isso, quando um produto é retirado da prateleira, o sistema automaticamente registra essa ação e atualiza as informações em tempo real. Essa abordagem melhora significativamente a eficiência operacional, reduzindo a possibilidade de produtos esgotados ou prateleiras vazias.

A loja conta com funcionários para esclarecer dúvidas, fornecer informações sobre produtos, auxiliar na localização de itens específicos e lidar com qualquer problema ou solicitação que os clientes possam ter durante sua visita à loja. Há ainda colaborados responsáveis por reabastecer fisicamente as prateleiras de acordo com as vendas. “Essa abordagem híbrida, que valoriza tanto a automação quanto o atendimento personalizado, é um diferencial significativo na experiência de compra oferecida pela Muffato Go e reforça o compromisso do Grupo Muffato em satisfazer as necessidades dos clientes.”

Com menos de um ano da operação em funcionamento, a perspectiva é extremamente positiva. A tecnologia autônoma tem sido bem recebida pelo público. “O Grupo Muffato está liderando brilhantemente essa quebra de paradigma no varejo brasileiro. Esperamos que essa parceria do nosso consórcio com Grupo Muffato e Sensei continue a trazer resultados positivos e a impulsionar o avanço do varejo autônomo no Brasil.”

Segundo Farana, esse formato da loja Muffato Go não possui restrições para ser implementada em shopping centers. Essa flexibilidade permite explorar oportunidades de expansão e alcançar um público ainda mais amplo. “A presença da Renovretail, uma empresa de tecnologia de varejo, dentro de um shopping center é um exemplo adicional de como o formato da loja autônoma pode ser adaptado a diferentes ambientes comerciais. Ao implementá-la em um shopping center, o Grupo Muffato pode se beneficiar da infraestrutura existente, como a disponibilidade de estacionamento, localização estratégica e fluxo constante de pessoas.”

OMO Lavanderia

O produto OMO está presente em 7 de cada 10 lares brasileiros e é a maior marca da Unilever. Com isso, a empresa entendeu que era preciso criar uma jornada de serviços para evoluir com essa experiência. Em 2016, fez uma tentativa com o licenciamento de marca, que não teve o sucesso esperado, mas que foi essencial para entender que os serviços eram uma grande oportunidade. Em 2018, começou a jornada de criar esse ecossistema com a marca OMO Lavanderia para entregar serviços de cuidado com a roupa para o consumidor final, sendo que a mais antiga é o modelo de lavanderia instalada em condomínios residenciais para que os moradores possam usar máquinas profissionais e produtos dosados automaticamente. 

Em 2020, a Unilever fez a aquisição do Grupo Acerte Franchising, que tinha as marcas Quality e Prima Clean. Daí, nasceu a rede de franquias OMO Lavanderia. “Fizemos uma migração dos franqueados ao longo de 2020 para a marca OMO e, desde então, viemos expandindo. Nisso, trouxemos um novo segmento: o self-service, que ainda não existia”, conta Teo Figueiredo, diretor geral da OMO Lavanderia.

Há três modelos de negócios para os franqueados. A especializada é mais completa e tradicional, com ticket médio mais alto e cobrança por peça; a express em que as peças são cobradas majoritariamente por cesto com serviços de um atendente; e a self-service, 100% autônoma, onde o franqueado apenas precisa trocar os químicos a cada 15 dias e contratar um serviço de limpeza, não tendo a necessidade de estar presente na operação. “Toda a interface do consumidor com as máquinas é feita por meio do aplicativo, inclusive, o pagamento. Isso habilita para um novo tipo de empreendedor que é o investidor”, explica Figueiredo. O modelo self-service chegou em 2021 e segue em franca expansão também.

Com operações próprias especializadas, a OMO Lavanderia já tinha 300 contratos assinados de franquias até o início de junho de 2023, sendo 127 de self-service com 31 inauguradas e mais 20 previstas para serem abertas até o início de agosto. 36% das lojas estão em shopping centers. “E isso faz muito sentido, porque tem uma relação simbiótica, trazemos um serviço adicional ao shopping, o que é um benefício para os consumidores, e o shopping é um gerador de fluxo. É uma relação bem de ganha-ganha e temos tido bastante sucesso. Queremos chegar a 500 operações até o final de 2025. Tudo indica que com isso seremos a maior rede de franquias de lavanderia do Brasil.” 

E o que não falta é demanda e oportunidade de mercado. Segundo dados do Sindilav, estima-se que existam 8 mil lavanderias no país, sendo 6 mil domésticas e 2 mil industriais. “Já estamos em 25 estados, mas temos uma missão de estarmos presentes em todas as cidades com mais de 100 mil habitantes.”

Em outros países, como Estados Unidos, faz parte do hábito lavar roupa fora de casa. A OMO Lavanderia pretende com esse modelo de autosserviço democratizar o serviço de lavanderia assim como já acontece em outras partes do mundo. “Apenas 4% da população brasileira usa o serviço de lavanderia ao longo de um ano. Cruzando os dados do Sindilav e de outras métricas de outros países europeus e dos Estados Unidos, temos um potencial de 20% de penetração.”

E a experiência vem atender ao novo comportamento do consumidor: tem tecnologia embarcada, sem fricção com o cliente e oferece um produto acessível com qualidade muito boa.

Custa, em média, de R$ 16 a R$ 18, para lavagem ou secagem de um cesto com 10 kg, o que equivale a cerca de 25 peças. Ou seja, com R$ 32 ou R$ 36, o consumidor lava e seca sua roupa. E isso traz uma série de vantagens e vem de encontro com tendências de mercado de moradias cada vez menores, economia compartilhada, conveniência, pois o tempo de lavagem e secagem é muito mais rápido, e sustentabilidade já que traz uma redução de 65% do uso de água e energia. “Temos vários targets de audiência com potenciais consumidores como pessoas que moram sozinhas, que estão viajando, estudantes que moram fora de casa ou pessoas que não querem possuir uma máquina.”

Para usar o serviço, o cliente precisa ter o app, que pode ser baixado na hora já que todas as lojas contam com wi-fi, fazer a recarga e escanear o QRCode para a abertura da máquina. O app avisa quando o ciclo está completo. É um modelo com alta procura por investidores que não querem ter uma gestão de uma equipe.

Entre os planos de negócios de franquias de lojas autônomas, o menor valor é de R$ 99 mil e é necessário fazer o aluguel das máquinas ou R$ 200 mil, se quiser adquirir as máquinas. Todas as lojas self-service são equipadas com três máquinas de lavar e três secadoras. “O fluxo médio é de 50 ciclos por dia por loja, podendo ser lavagem ou secagem. As nossas lojas estão sempre cheias, a usabilidade acontece.” 

Onii

Criada em 2019, a Onii possui 720 pontos de venda autônomos em condomínios, faculdades, hotéis, hospitais e coworkings no Brasil. Desenvolveu a tecnologia para a operação automatizada das lojas e o processo de gestão das franquias, incluindo um aplicativo para acesso, meios de pagamento, emissão de notas fiscais, controle de estoque e inteligência para identificar as demandas dos consumidores. “Além disso, temos 390 unidades franqueadas e 330 operadas por empreendedores que utilizam a nossa tecnologia”, afirma Tom Ricetti, fundador da Onii. 

É um modelo de negócio que oferece praticidade e comodidade aos clientes, operando sem a necessidade de funcionários 24 horas por dia. Os clientes acessam a loja por meio do aplicativo da Onii, escolhem os produtos, realizam o pagamento e fazem a retirada nos módulos de venda. “Utilizamos tecnologia de inteligência artificial para analisar o comportamento dos clientes e identificar suas preferências de compra, o que permite à empresa otimizar sua oferta de produtos e serviços.”

Cada loja conta com cerca de 700 SKUs em estoque, sendo que 70% dos produtos estão disponíveis em todas as lojas, enquanto os outros 30% variam de acordo com a demanda dos consumidores de cada condomínio. A gestão e reposição do estoque é realizada por meio da tecnologia desenvolvida pelas empresas, o que permite um controle automatizado. Possui mais de 50 mil SKUs cadastrados para comercialização nas lojas e mais de 40 construtoras parceiras para instalação de suas unidades em todo o país.

A Onii oferece diferentes modelos de franquia, com investimentos que variam de R$ 15 mil a R$ 60 mil. Além disso, os formatos possuem um faturamento médio anual entre R$ 180 mil e R$ 650 mil, com um payback entre de 8 a 12 meses, e oferecem um lucro médio mensal entre 30% e 40%, com uma taxa de apenas 6% sobre o faturamento bruto mensal. Não há cobrança de taxa de propaganda. “A adesão dos clientes tem sido muito positiva. Nossos modelos oferecem uma variedade de opções para atender às necessidades dos clientes em diferentes regiões. Com nosso foco na qualidade do produto e no atendimento ao cliente, estamos construindo uma base sólida de clientes fiéis em todo o país.”

As principais vantagens de uma marca investir em operações autônomas são a rentabilidade dos pontos de venda, que pode chegar a representar de 15% a 20% sobre o faturamento, o aumento da conveniência para os consumidores e a possibilidade de oferecer produtos personalizados, atendendo a demandas locais.

“As lojas autônomas também são uma maneira das marcas coletarem dados sobre os hábitos dos consumidores e entenderem melhor suas necessidades. Além disso, a venda por metro quadrado de uma loja autônoma pode superar a de um supermercado, e o payback é rápido em comparação com outras franquias”, afirma Ricetti.

A experiência com menos fricção ainda torna o processo de compra mais fácil e agradável para o cliente, o que pode aumentar a fidelidade. Com a GOU!, novo web app,  a Onii está entrando agora quase como um self-checkout autônomo em lojas de shopping, mall e strip mall.