MAR/ABR 2023 - Edição 246 Ano 36 - VER EDIÇÃO COMPLETA

A maior de todas

6 de abril de 2023 | por Solange Bassaneze | Fotos: Divulgação
Perfeita, brilhante, genial, determinada, querida… Prestigiada dentro e fora do Brasil, Ana Botafogo é a soma de vários adjetivos

O nome de Ana Botafogo vem à mente assim que se pensa em ballet clássico, pois ela conquistou o país de ponta a ponta com muita dedicação e determinação, sempre buscando a perfeição em cada passo e interpretação.

Assim como centenas de milhares de meninas, tinha o sonho de ser bailarina ainda na infância, mas, como poucas, conseguiu alcançar o que parecia ser muito distante.

Com um talento inquestionável, ela inspirou e inspira profissionais de todo o planeta. Foram muitos momentos memoráveis em mais de 40 anos de carreira. Sua trajetória profissional começou na França na década de 1980.

“Viajei para estudar francês e, claro, fazer um aperfeiçoamento no ballet durante uma temporada de três meses. Quando cheguei ao Ballet de Marseille, de Roland de Petit – uma importante companhia francesa –, saí da audição com o primeiro contrato assinado e tudo mudou. Me via com uma profissional jovem, com muito a aprender, e nunca imaginei que teria uma carreira tão longa quanto eu tive.” Após retornar ao Brasil, Ana relembra com carinho quando dançou o ballet Giselle, interpretando sua primeira personagem principal com Teatro Guaíra no Paraná. Até hoje, considera esse momento importante. Mas logo em seguida, vem o grande marco da sua carreira: quando se torna a Primeira Bailarina do Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

“Com isso, minhas expectativas mudaram. Vivi uma época com muitas produções. Estou há 41 anos no TMRJ e minha despedida dos grandes ballets aconteceu 2012, com o espetáculo Onegin. Depois, ainda dancei como convidada pelo Brasil, mas não fiz mais um grande clássico.” 

Sempre pronta

Até o início da pandemia, Ana se mantinha muito ativa diariamente. Com a crise sanitária, continuou treinando de modo remoto. “Já era difícil para uma bailarina quando jovem fazer aula sozinha. No período de reclusão, senti perda de eficiência física e de tônus muscular. Hoje, faço aulas, pelo menos, três vezes na semana e mais musculação. Até os 60 anos, estava lá firme e forte, mas precisei dar prioridade para outras coisas no ano passado.” Com isso, diminuiu a intensidade, mas continua plena e em forma.

Para conseguir essa perfeição no ballet, Ana conta que, apesar de muitos fatos terem acontecido naturalmente, ela sempre se cobrou, colocando metas.

“A bailarina é competitiva com ela mesma, independentemente de ser uma profissão de emulação. Eu sempre gostei de ter outras bailarinas fazendo o mesmo papel porque olhava nelas e sabia o que tinha que fazer tão bem ou melhor. Essa sempre foi a minha emulação e nós éramos várias Primeiras Bailarinas no Municipal. É preciso se superar sempre. Acredito que foi assim o tempo todo, porque o último balllet que dancei ainda tinha muitos desafios técnicos e de interpretação.”

Ana confessa que, mesmo com toda essa bagagem rica, dá ainda um friozinho na barriga quando sobe ao palco porque são muitos elementos para que o espetáculo aconteça e cause encantamento no público. Inclusive, também sente esse frio quando está no júri da Dança dos Famosos, do Domingão com Huck, da TV Globo.

“Os jurados têm uma responsabilidade enorme, fico muito aflita, porque falamos para artistas, temos que ser justos e alertar sobre o que precisa ser melhorado. É um momento que adoro fazer, mas é tenso, por isso, me preparo e estudo.”

Além disso, Ana considera que esse quadro estimula a dança, incentivando as pessoas a irem para as escolas e as academias. “É um quadro queridinho do Brasil em que as pessoas param para assistir.”

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A grande voz 

Ana Botafogo não é só a maior referência do Brasil em ballet clássico como a grande responsável por sua popularização e os espetáculos ao ar livre em espaços públicos, como praça ou praia, realizados por ela, foram o grande chamariz, para que as pessoas assistissem, gostassem, entendessem e fossem ao teatro. Muitas vezes, dançava ballet com outros ritmos como MPB e chorinho, inclusive, alguns fizeram sucesso em apresentações fora do país. Nos dez primeiros anos de sua carreira, o TMRJ fazia temporadas de 20 a 22 espetáculos do mesmo ballet com produções belíssimas, atraindo um público incrível.

“Antes, minha responsabilidade era estar em cena e acredito que as pessoas não conheciam a minha dança até porque quando estava no auge da carreira e das interpretações, não havia internet. Por isso, sou grata à imprensa. Se fosse da geração do Instagram e Tik Tok, poderia ter ultrapassado mais muros na popularização. Hoje a minha responsabilidade é maior, não só por continuar falando da dança, mas dizendo como ela possível e encontrando novos talentos. Há muitos profissionais que são primeiros bailarinos em outras companhias”, diz Ana.

A imprensa escreveu tanto sobre a Ana Botafogo, dando subsídios para que seu pai, Ernani Ernesto Fonseca, fizesse uma pesquisa de cada espetáculo e escrevesse a biografia Ana Botafogo: palco e vida, publicada em 2021, que relata a trajetória dela ao longo de 45 anos. “O livro tem uma crítica ou uma reportagem sobre cada espetáculo. É impossível dizer isso que não fiz porque está tudo registrado pela mídia.” Há ainda duas obras sobre ela: Ana Botafogo na ponta dos pés e Ana Botafogo na Magia do Palco

Seus pais sempre foram seus grandes incentivadores e, entre os ensinamentos passados por eles, acredita que os principais são: a busca da concretização dos sonhos por meio do trabalho e a determinação. “Eles sabiam que eu tinha que me dedicar à minha dança, tendo a responsabilidade de cumprir os contratos.” Apenas um desejo precisou ser adiado por Ana, o de se formar em uma universidade. “Como me tornei bailarina, não consegui terminar a faculdade na época, porque eram muitas horas de ensaio e precisava também descansar. Mas eu voltei para a sala de aula e, em 2009, me formei no curso de Licenciatura em Dança. Como a universidade fez convênio com TMRJ, era uma turma diferenciada só de bailarinos.” 

Projetos e negócios

Ana também tem uma vida de empresária muito ativa. Possui a escola de dança Âmbar + AB, em Niterói (RJ); a Ana Botafogo Maison, uma loja com artigos voltados para dança, localizada em Ipanema, no Rio de Janeiro (RJ), e ainda a Anarte, gestora de negócios e detentora da marca Ana Botafogo. “A nossa loja é linda, mas é pequena. Só por isso não conseguimos ainda ir para um shopping, mas, claro, que seria o sonho dos sonhos ter uma unidade em shopping.”

Aliás, Ana tem muitas memórias com esses locais. “Tive muitos encontros em shopping centers, como Anália Franco, Iguatemi São Paulo, Nova Iguaçu Shopping, entre outros. Dei palestras e dancei em palcos montados no meio dos malls para o público em geral. No RibeirãoShopping, recordo que havia um festival de dança com o meu nome em que participava. Além disso, me apresentei em teatros, que ficam em shoppings. Lembro até que fizemos um espetáculo na inauguração do Teatro Frei Caneca. Em muitos, também levava a minha exposição.”

Com uma vida muito focada no trabalho, na época de bailarina, também recorria ao centro de compras mais próximo quando precisava comprar algo. “Eu nunca tinha tempo, então, os shoppings sempre quebravam um galho, justamente por funcionarem até às 22 horas. Quando estou viajando, costumo ir mais a esses locais, principalmente, se fico hospedada em algum hotel próximo de um deles. Geralmente, vou para comer ou compro e levo ao camarim ou quarto, e, como adoro chocolate, sempre gosto de escolher um diferente.”

Para 2023, Ana já tem uma agenda de workshops e palestras que dará em diversas localidades e também alguns projetos. Um deles é levar o espetáculo ST Tragédias para outras cidades, dirigido por ela e pelo bailarino e coreógrafo, Marcelo Misailidis, mas ainda dependem de patrocínios. Agora em maio, a dupla dirige uma remontagem do clássico de Don Quixote em Curitiba (PR), com a Curitiba Cia de Dança, na comemoração dos 330 anos da cidade. “Sinto que a parceria com o Marcelo renderá outros frutos. Somos parceiros da vida toda.” E isso é bom para quem está aqui lendo essa matéria, pois essa grandiosa mulher e bailarina continuará levando arte para diferentes lugares. E essa fluminense com sobrenome de Botafogo tem a torcida de todos os brasileiros. 

Os escolhidos por Ana Botafogo 

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