A querida chef Paola Carosella!
Uma mulher admirável, apaixonada pela cozinha e pelo Brasil, que demonstra afeto e empatia pelo próximo por onde passa
Paola Carosella nasceu na Argentina e sempre conviveu com a experiência de cozinhar desde criança com sua família de imigrantes italianos. E isso envolvia plantar, colher e até limpar os alimentos caçados por seu avó. Até hoje, como ela mesmo diz, a cozinha continua sendo o seu lugar preferido da casa e do mundo.
Aos 20 anos, ingressou nos restaurantes e trabalhou com grandes chefs em Buenos Aires, Paris, Uruguai, Nova York, entre outros lugares. No Brasil, chegou há 20 anos para inaugurar e dirigir a cozinha do paulistano Figueira Rubaiyat junto a Francis Mallmann e Belarmino Fernandes Iglesias. Em 2003, abriu Julia Cocina, que lhe rendeu vários prêmios. Desde 2008, está à frente do Arturito, e, em 2014, investiu, com seu sócio Benny Goldenberg, no La Guapa Empanadas Artesanais e Café.
De 2014 a 2020, esteve no elenco de jurados do MasterChef e conquistou fãs em todo o Brasil, que puderam conhecer mais sobre Paola Carosella nas temporadas do programa ao lado de seus parceiros Érick Jacquin e Henrique Fogaça. A decisão de deixar a Band em janeiro de 2021 foi um processo que veio sendo avaliado e, segundo ela, aconteceu na hora certa. “Sou de sentir muito as coisas, mais do que pensar. Primeiro sinto e, depois, viabilizo. Grandes mudanças são difíceis, mas são boas e necessárias, nos chacoalham, nos acordam”, diz.
Na cozinha dentro e fora das telas
Sua vida segue agitadíssima com muitos projetos, especialmente para os restaurantes. O La Guapa está em fase de expansão com crescimento orgânico, mas bem ambicioso para 2022. “É meu projeto do coração, meu sócio Benny Goldenberg é o coração e o pulmão da La Guapa, por mais que sempre se fale do La Guapa da Paola, na verdade é La Guapa do Benny. Ele está quase 100% focado nessa operação junto a uma equipe incrível e o meu papel é mais de desenvolvimento e acompanhamento de qualidade, design de lojas e estilos e novas ideias. É uma delícia fazer parte de uma organização que vi crescer e se tornou uma ‘indústria artesanal’ como eu gosto de chamar, algo que é novo e bastante difícil de fazer”, conta.
O La Guapa Empanadas Artesanais tem 20 unidades na Grande São Paulo, sendo seis lojas localizadas em shoppings da capital paulista (Eldorado, Cidade Jardim, Pátio Higienópolis, Metrô Santa Cruz, Jardim Sul e Center Norte). “Ainda estamos testando o momento de consumo La Guapa dentro de malls, escolhemos bandeiras parceiras e que nos atendem com muito cuidado e carinho para conhecer melhor esse mercado, e abrimos lojas em diferentes regiões e formatos. Até agora a experiência tem sido agradável.”
Paola acredita que um dos diferenciais de uma operação dentro do shopping é o mix variado. “A facilidade de ter várias opções de consumo em um só lugar faz com que o consumidor esteja mais aberto a vários momentos de compra em uma janela de tempo. Todos os formatos têm prós e contras que devem ser pesados de acordo com a localização”, enfatiza.
E ela confessa que curte shoppings. “São Paulo tem espaços ótimos! Por ter morado um tempo nos Jardins (bairro da capital paulista), vou muito ao Iguatemi São Paulo. Agora resido mais perto do Shopping Pátio Higienópolis. Vou e resolvo tudo de uma vez só!” Entre seus restaurantes preferidos, a resposta só poderia ser esta: La Guapa!
No Arturito, também haverá novidades, mas este segredo Paola Carosella ainda não pode revelar. Ao mesmo tempo, a chef não para de produzir conteúdo para as redes sociais e também pretende trazer novidades para seu canal do YouTube, que tem mais de 1,5 milhão de inscritos. Aliás, ela é um fenômeno nas redes sociais, só no Instagram são quase 5 milhões de seguidores. Sobre seu canal no YouTube, declara: “Não é tão fácil assim fazer tudo! Criar conteúdo, montar a cena, gravar, ver a edição, pensar receitas, ler comentários… É uma experiência realmente diferente da TV onde tem muita gente para fazer tudo isso por você. Mas estou curtindo, aprendendo. Quero mudar o ano que vem, trazer algo novo, estamos trabalhando com a minha equipe e a querida e já famosa Samantha!”, revela.
Em paralelo, está começando a se envolver com agroecologia. Comprou uma área de 500 mil m2 na região de Parelheiros, que será destinada totalmente a esse projeto. Com tantos feitos e uma trajetória profissional inspiradora, ela ainda almeja muito mais. “Tenho tanto para aprender ainda! Sou curiosa e gosto de chacoalhar a vida. Adoro mudanças e desafios! Então, sempre estou prestando atenção a como me sinto, para entender para onde ir… e o que fazer.”
Na pandemia
Durante a crise sanitária da Covid-19, os restaurantes, assim como todo o varejo, precisaram se reinventar rapidamente. Segundo Paola, o La Guapa já flertava com a omnicanalidade fazia alguns anos e performava muito bem nesta estratégia. “Apenas continuamos executando o que fazíamos com muito foco, sempre buscando poupar a saúde e o emprego dos nossos colaboradores. Temos muito orgulho em dizer que não demitimos durante a pandemia, ao contrário, contratamos. Já Arturito se beneficiou de toda a experiência que já tínhamos no La Guapa e se adaptou rapidamente a um formato saudável de delivery e take out”, relata.
De acordo com Paola Carosella, esse é um canal de consumo para momentos específicos, mas não substitui a ida a um restaurante. “Quando falamos em comida, por mais simples que a operação seja, não existe nada que se compare a experiência física, ao cuidado, ao atendimento, ao carinho, à atenção e ao amor que o cliente recebe quando nos dá a oportunidade de estar conosco.”
Na retomada, Paola avalia que o consumidor continua mais cauteloso, como deveria estar, o que é muito bom em um momento de controle da pandemia. “ Ao mesmo tempo, vemos pessoas ávidas por se relacionar, celebrar, se divertir e ter boas experiências. O ser humano é coletivo, e, tanto tempo que passou isolado, gerou uma demanda reprimida pela volta.”
O retorno tem sido gradual em ambos restaurantes. “Estamos voltando aos poucos, e bem machucados, mas felizes em receber nossos clientes e poder proporcionar novamente uma experiência agradável de lazer e descontração”, fala.
A paixão pelo Brasil
Sua vida no Brasil começou com um convite para trabalhar aqui e, depois, ela ficou para vivenciar o desafio da abertura do seu primeiro restaurante. Após vender o estabelecimento e, mesmo ainda sem se sentir parte do Brasil, algo a fez ficar. Logo, vieram novas empreitadas: em 2008, abriu o Arturito e, em 2011, nasceu sua filha, Francesca, e isso foi muito determinante para continuar no país. Em seguida, veio a sociedade com Benny, o programa de TV e tantos outros projetos. “Sou latinoamericana. Morei na Europa e nos Estados Unidos, mas gosto de estar aqui, no olho do furacão … O Brasil é gigante e claro muito diferente que a Argentina, mas compartilham as mesmas dores e as mesmas injustiças. Gosto de fazer parte da realidade. Quero ser parte da transformação”, ressalta.
Da sua terra natal, revela que não sente falta e nem vai muito para lá. “Dou uns pulos rapidinhos para ver minha família, minhas tias e avó, gosto de andar pelas ruas. Buenos Aires é bonita para caminhar e, claro, curto o colo da minha família, mas virei brasileira já. Fico criticando tudo lá e quero voltar rápido para o Brasil.”
Memória afetiva
Uma mesa cheia carrega muitas lembranças, imagine, então, para quem coloca todo seu amor em cada receita e prato como ela. Suas cozinhas são recheadas de histórias. “O nosso cotidiano nos restaurantes está repleto de momentos afetivos. É olhar o menino que entrou lavando louça com 17 anos, hoje, tem 30 anos e ficou todo esse tempo ao nosso lado. É minha mão direita, chef de cozinha, pai presente, comprou sua casa, e ainda continua empolgado trabalhando. É observar os filhos de quem trabalha com a gente indo e vindo, engatinhando e andando, mandando vídeos para a tia Paola ou o tio Benny. É ver mulheres de origem simples que se ergueram no La Guapa e saem a procura de novas experiências agradecendo ter entrado num lugar que lhes deu valor, e que as fez sentir que importavam, e que podiam almejar mais. Nos discursos do meu sócio nas reuniões de fim de ano, as lágrimas escorrem ao ver tantas dores e tantas conquistas. Nossos restaurantes são grandes famílias”, resume.
O lado solidário
Paola sempre esteve envolvida em diversos projetos sociais e agora não é diferente e ainda mais necessário. “O momento atual é terrível e ainda mais terrível, quando entendo que poderia ter sido evitado. Meu maior projeto social é meu olhar crítico à política. Política é a organização e rumo que uma sociedade decide colocar nas mãos de um grupo, e o papel não acaba na decisão, mas no controle e na cobrança de um exercício ético e justo das ações. É o nosso direito reclamar, criticar, celebrar, acompanhar, e fazer política”, decreta.
E complementa: “A gente faz política quando escolhe trabalhar com determinada ética, se comportar de determinada forma, valorizar o trabalho de alguns sobre outros. Minha sensação é que ainda no Brasil a política parece um tabu, é compreensível, e mais agora, num momento tão sensível e tão radicalizado.”
Os trabalhos sociais em que a chef está envolvida são para tentar apaziguar pelo menos um pouco a desigualdade da sociedade. No momento, está envolvida no Cozinha e Voz, projeto criado em 2017 pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pelo MPT, com apoio da Casa Poema, que capacita profissionais como assistente de cozinha e promove a empregabilidade de pessoas em situação de exclusão socioeconômica. “Também colaboro com projetos da comunidade de Paraisópolis com doações mensais, com o FUA, Fundo para Agroecologia, que busca doações de dinheiro ou de terras em áreas agricultáveis para arrendar de forma justa a agricultores em risco de perder suas terras.” Uma parte da terra comprada pela chef de cozinha em Paraisópolis será doada a agricultores. Agora em novembro, também preparou um jantar junto a Casa do Povo servindo 1000 refeições para a população mais vulnerável do bairro Bom Retiro, na capital paulista. Não importa onde esteja, ela faz a diferença por onde passa de um jeito único com muita simplicidade, amor e empatia.
