Com uma trajetória ampla na carreira artística, Bel Kutner sempre está pronta para levar arte para todos
A paixão e a dedicação da atriz e diretora inspiram e envolvem o público há mais de 30 anos
Nascer em uma família que respira arte e poder vivenciar muitas experiências enriquecedoras ainda na infância. Foi assim que Bel Kutner cresceu e se tornou artista ainda na adolescência, após estudar teatro. Filha de Paulo José e Dina Sfat, a arte era implícita em sua vida e na das irmãs, as atrizes Ana e a diretora Clara, e mais tarde de seu irmão caçula, o ator Paulo Henrique Caruso, fruto do relacionamento do seu pai com Beth Caruso.
“Eu cresci no meio teatral, em um set de filmagem, em uma ilha de edição, dentro de estúdio, com o meu pai fazendo locução e, depois, contando uma história para gente com o mesmo capricho que ele faria uma gravação. Essa é a minha vida, é a minha família, a minha família é da arte, da cultura e do entretenimento”, destaca.
Aos 51 anos, a atriz já viveu muitas personagens e voltou às telas para interpretar a baronesa Celestina, na novela Nos Tempos do Imperador, da TV Globo. Segundo ela, voltar a gravar durante a pandemia foi muito importante para sua saúde mental.
“Em março de 2020, fomos obrigados a parar e retomamos as gravações em janeiro de 2021. Apesar de toda a tensão, além da preocupação, dos cuidados e dos protocolos difíceis, isso me ajudou a me sentir produtiva porque eu teria enlouquecido ficando trancada em casa durante um ano e meio. Ao ver algumas cenas, penso como a gente conseguiu fazer esse lindo trabalho. As pessoas não podem imaginar o que foi.” O folhetim teve início em agosto de 2021 e terminou em fevereiro deste ano.
Para 2022, a diretora já tem vários projetos de teatro em andamento. O ano começou com a reestreia do monólogo O Prazer É Todo Nosso. Um texto de Beto Brown, dirigido por ela, inspirado e interpretado pela atriz Juliana Martins, que retrata os prazeres da liberdade e independência sexual de uma mulher de mais de 40 anos após o fim do casamento de quase duas décadas. Em abril, a estreia prevista é a da peça Lygia, com a atriz Carolyna Aguiar e baseada nos diários da artista plástica Lygia Clark. O espetáculo entrará em cartaz em São Paulo e Bel Kutner divide a direção com Maria Clara Mattos. Para o meio do ano, mais uma peça, mas desta vez com Bel em cena.
A atriz também gravou o audiobook Casa Gucci, o livro que virou filme e é baseado na história de Patrizia Reggiani, ex-mulher de Maurizio Gucci, membro da família fundadora e que dá nome à marca italiana. A narrativa revela os bastidores de três décadas da família Gucci, envolvendo histórias de glamour, cobiça e crime. “O enredo é muito interessante porque conta toda a trajetória deles e o assassinato. Gosto muito de fazer a locução, então, está sendo divertido. Vou fazer outros trabalhos, mas eu só conto depois que termino.”
Uma jornada inspiradora
Laura, Scarlett, Eduarda, Carla, Júlia, Helena, Darlene, Marialva… Ao relembrar da longa trajetória dedicada ao cinema, à TV e ao teatro, Bel diz que sua carreira foi construída com um projeto nascendo do outro.
“Sou o resultado de tudo o que fiz, passei e vivi na minha vida pessoal e profissional”, pontua. De 2017 a 2019, ela teve uma experiência também enriquecedora ao fazer a direção artística da Cidade das Artes, no Rio de Janeiro (RJ). “Posso ressaltar como sendo um turning point da minha maneira de ver cultura. A Cidade das Artes é um lugar com muitas possibilidades, o maior centro cultural da zona oeste do Rio de Janeiro, uma parte da cidade que precisa muito de um espaço de encontro, de manifestação, de cultura e de educação. Foi uma experiência linda”, diz.
Ela ainda exalta o fato de ter trabalhado com André Marine nesse período. “Tive a felicidade de tê-lo como chefe, colega e parceiro, uma pessoa que quero sempre estar junto e trabalhar. Ele possui uma sabedoria enorme e uma inteligência muito acima da média, com capacidade de gestão humana e técnica. É o chefe que queria ter a vida inteira”, relata. Na 7ª edição do Prêmio Cesgranrio de Teatro, realizado em janeiro de 2020, Bel ganhou o troféu na Categoria Especial por seu desempenho na Cidade das Artes.
De acordo com ela, o acesso à arte e à cultura durante o período com mais restrições foi essencial para manter a sanidade das pessoas em todo mundo. “Mesmo trancados em casa, era possível ouvir música, ver filmes ou assistir um teatro virtual, ler… As pessoas tiveram tempo para voltar aos livros, à poesia, à música. Ao vermos um espetáculo de dança ou ouvir uma orquestra tocando, mesmo que gravado, foi despertada a vontade de querer estar presencialmente nesses eventos. Tudo isso ajudou muito a segurar a onda”, confessa.
Presente sempre
Bel traz uma vivacidade contagiante em cada projeto e carrega muito dos ensinamentos de Dina Sfat e Paulo José. “Nem consigo distinguir o que veio do meu pai ou da minha mãe, já que a gente aprende, principalmente, com os pais. Com certeza, eu herdei um senso de justiça muito aguçado e a ideia da reciprocidade da minha mãe. Do meu pai, um savoir faire de lidar com as adversidades com muito senso de humor e leveza. E isso é uma qualidade que tenho orgulho em ter, sem humildade em falar. Eu tenho uma capacidade enorme, flexível e resiliente de lidar com as coisas de uma maneira bem-humorada. Isso não quer dizer que eu não sofra, mas passa rápido porque a curiosidade que está por vir é sempre maior.”
O lado materno
Bel é mãe de Davi, hoje com 16 anos, e, às vezes, mostra momentos que retratam sua relação com o filho nas redes sociais. Davi nasceu com uma síndrome rara – esclerose tuberosa – e tem autismo. Bel relata que, com o nascimento do filho, ficou mais próxima de questões que envolvem neurodiversidade, mas, ao mesmo tempo, se deparou com a realidade da inclusão dando passos ainda pequenos, além da falta de informação e preconceito. “Apesar das leis, elas são mal-colocadas em prática, mas há muita gente fazendo um trabalho forte e vigoroso. E a internet ajuda demais nesse ponto, vemos que as pessoas estão encontrando seus grupos e seus líderes, que falam disso e estão reeducando as pessoas para que possam saber como lidar, como tratar e como pensar a diversidade”, relata.
A atriz e diretora conta que, com a adolescência, Davi está em uma fase que não quer sair de casa e relembra de quando ele era menor, em que um dos passeios preferidos era ir à sessão azul do cinema. “Eu levei o Davi no começo em sessões azuis e eu amo, mais do que ele, inclusive. Mas, agora, ainda mais com a pandemia, ele não quer ir para lugar nenhum e pronto, mas daqui um tempo, se tudo der certo, estaremos de volta para todas as sessões, inclusive, as azuis”, conta Bel.
Bel assume ser uma frequentadora de shoppings e adora as facilidades que os espaços oferecem. “Moro na Barra da Tijuca que é o coração dos shoppings. São lugares que quebram mil galhos, você encontra tudo. Antes eu falava que gostava de um lugar mais aberto, mas, hoje, com esse calor e com a correria de cada dia, eu conheço cada centímetro de cada shopping do Rio de Janeiro e sei onde procurar o quê e isso facilita muito a vida”, destaca.
Os empreendimentos sempre ativam sua memória afetiva e a fazem lembrar de momentos que passou com Davi nos espaços, principalmente quando ele corria pelos corredores quando pequeno.
“É difícil para meu filho porque é lugar com muito barulho e muita gente, mas ir ao VillageMall era um programa que ele sempre adorou fazer, porque é um shopping tranquilo e chiquérrimo”, conta.
Além disso, Bel ressalta ainda a importância dos teatros dentro dos shoppings. “São lugares de resistência em que se pode contar uma história para um público de 200 a 300 espectadores, que, ao meu ver, é o número ideal para fazer esse teatro mais íntimo”, fala. E é essa resiliência e resistência que Bel Kutner também transmite a cada trabalho. São mais de 30 anos dedicados à arte. Um exemplo, uma inspiração e uma motivação para fazer diferente e mais todos os dias!