
Isaquias Queiroz sempre impressiona pela dedicação extrema e alta performance
O canoísta encara o Olimpíada de Paris como a última de sua carreira e o objetivo é o pódio
O medalhista da canoagem de velocidade brasileira, Isaquias Queiroz, segue focado para a disputa nos Jogos Olímpicos de Paris, que acontecem de 26 de julho a 11 de agosto. Mais uma vez, ele estará representando o Brasil e ele vem preparado para brigar por mais medalha. A rotina de treinamento se intensifica daqui para frente. Desde os 15 anos na Seleção Brasileira, o baiano, natural de Ubaitaba, é o maior atleta da modalidade. Suas conquistas são resultado de muito esforço e dedicação. Quem não se lembra do Jogos Rio 2016? Foi a primeira vez que a canoagem de velocidade subiu ao pódio e ele atingiu a marca de ser o primeiro atleta brasileiro a ganhar três medalhas. Foram duas pratas – uma ao lado de Erlon Souza – e uma de bronze. Na época, virou notícia em toda a imprensa. Na Olimpíada de Tóquio 2020, levou o tão almejado ouro e emocionou o país inteiro.

Aos 30 anos, ele está encarando essa competição como sendo a última Olimpíada de sua carreira e tem um motivo para isso.
“Eu quero acreditar que Paris será a última. Eu não quero colocar na cabeça: ai, eu vou até Los Angeles. Talvez, eu não chegue em Los Angeles. Quero ir para ganhar, mas também se eu não ganhar, não vou ficar triste como das outras vezes. Nos Jogos Pan-Americanos, eu chorei porque sabia que seria o último e não teria mais aquilo depois daquele momento. Por isso, vou treinar para Paris firme e forte com dedicação total e treinamento máximo. Estou indo com a vontade de ganhar uma ou duas medalhas, a vontade não mudou, é a mesma de Tóquio e do Rio de Janeiro.”

Além disso, destaca que a cobrança é a maior depois que um atleta atinge o auge. “O esporte é isso, às vezes, irá ganhar ou perder. Como eu percebi em 2023, o brasileiro não estava acostumado com o Isaquias fora do pódio. Só que ninguém perguntou o que aconteceu. Realmente em 2023 eu dei uma descansada a mais e optei por diminuir o treinamento. Até a vaga olímpica, sabíamos que seria difícil no Mundial, o objetivo seria no Pré-Olímpico.”
Ele segue treinando intensamente e confiante e relembra o momento no Japão.
“Estou indo tranquilo para Paris sem aquela carga. Até em Tóquio, eu não estava com essa carga e a confiança era bastante alta. Você sabe quando irá ganhar, às vezes, já percebe nos seus adversários. O que eu estava fazendo na fase de treinamento, era algo fora do comum. Estava bem em forma, de físico, resistência e mentalmente. Então, não tinha exatamente como perder aquela prova”, destaca.
Na terrinha e pertinho da família
Depois que voltou a morar na Bahia em 2023, passou a se sentir mais feliz e confortável, mas ainda há treinos em outros locais preparatórios para os Jogos de Paris, como já aconteceu em Capitólio e logo mais nos Estados Unidos.
“Estamos vendo a melhor forma de treinamento para chegar ao mais alto nível possível. Quero brigar pela medalha até porque acabo tendo essa responsabilidade depois de me tornar campeão olímpico. Qualquer coisa abaixo, às vezes, as pessoas não gostam.”

Casado com Laiana Guimarães e pai de Sebastian, 6 anos, e Luigi, 6 meses, tem a família como seu porto seguro e deseja sempre depois de um dia de treino voltar para a casa para desfrutar desse convívio. Como o treinamento da canoagem é muito complexo, são poucos momentos livres e ele tenta aproveitar para curtir os filhos pequenos. Seus horários livres são terça, quinta, sábado à tarde e domingo o dia todo, quando o descanso é essencial. “A paternidade me ajudou bastante. Cresci mentalmente e me fortaleci mais ainda.” Ele recorda ainda que sempre buscou a vitória com afinco, mas, hoje, a busca por uma medalha tem uma motivação diferente e mais que especial.
“Quero que meu filho me veja em Paris ganhar a medalha, por consequência, vem bônus, gratificações, mais apoio, patrocinadores e incentivos e isso me dá a possibilidade de ter uma vida melhor para o Sebastian e o Luigi. Essa questão de família acabou me dando uma obrigação maior de pai, de marido, companheiro, de amigo dos meus filhos…”
Destaca ainda que conta com o total apoio de Laiana, que, inclusive, cuida da alimentação dele. “Um atleta de alto nível costuma ter um nutricionista ou cozinheiro profissional. A minha alimentação é feita em casa pela minha esposa com o tempero dela e nunca cheguei ao treino com falta de energia, pelo contrário.” Segundo o atleta, se estivesse solteiro, já teria parado faz tempo, mas ele continua porque construiu essa linda família, que o fortalece diariamente.

Um novo momento
Isaquias conta ainda que aconteceram mudanças na forma de buscar o equilíbrio entre mente e corpo. Antes, era baseado na ganância de querer ganhar e ser o melhor de todos. “Isso me ajudou bastante durante um tempo. Às vezes, quando o treinador me passava um treinamento pesado, eu sentia até uma energia e ficava com esse gás, ânimo lá em cima…” A partir de 2020, conta que a distância da sua terra Natal, já que vivia em Lagoa Santa (MG), começou a mexer com o seu emocional. “Sempre fui muito apegado a Bahia. Isso foi me pegando e não consegui me concentrar ainda em 2020. Em 2021, quase não quis voltar para a seleção em um ano olímpico, mesmo assim retornei. Em 2023, foi o auge do meu problema. Eu achava que não chegaria nesse ponto de ter problemas psicológicos de estresse, raiva… Foi quando disse que não estava mais suportando e vim para a Bahia. Costumava dizer que não conseguiriam me ver no meu auge de 100%. Eu gosto de estar e treinar aqui. Me sinto bem.”
Agora ele e sua família vivem em Ilhéus, a apenas uma hora da cidade natal. “2023 foi um ano de provação. Estou tentando fazer um trabalho de fortalecimento mental, só que ainda é muito complicado. Mesmo tendo meus problemas de ansiedade, estresse, consigo chegar na água, deixar tudo pra fora e treinar, mas chegará um momento que isso irá me atrapalhar.”
Relembrando esses 15 anos na seleção brasileira, Isaquias recorda com carinho e gratidão de Jesús Morlán, o treinador espanhol que revolucionou o esporte por aqui e faleceu em 2018.
“Passei por muitos treinadores, mas quem me impulsionou a ter esse grande resultado, a ser o grande Isaquias, foi o Jesús. Ele me incentivou a querer ganhar medalhas no começo. Eu, Lauro de Souza Júnior, Erlon de Souza, Nivalter, a gente existe por causa de Jesús, que ensinou esse método de treinamento.”

Os conhecimentos transmitidos pelo antigo treinador são praticados até hoje pelo técnico Lauro e Isaquias considera que é o método de trabalho que funciona. O canoísta busca ainda referências em profissionais de outras modalidades. Do esporte, todos atletas o inspiram e destaca alguns como Serginho Escadinha, Pelé, técnico Bernardinho, Neymar…
Desejos e lembranças
Diferentemente de outros esportes, a canoagem tem locais de treino mais restritos. Com isso, Isaquias não teve a chance de conhecer todos os lugares que gostaria, mas espera poder desfrutar desses momentos também.
“Tenho condições financeiras, mas eu não consigo porque o treinamento não me permite. No Brasil, quero conhecer Natal, os Lençóis Maranhenses…, mas com fé em Deus, eu vou poder fazer isso.”
E ele tem um carinho especial pelo Rio de Janeiro, onde o amor entrou em cena. “Conheci a minha esposa na Lagoa Rodrigo de Freitas. Ela é baiana e morava no Rio de Janeiro, mas o nosso primeiro encontro foi no BarraShopping.” O empreendimento se tornou o seu favorito e sempre que está no Rio de Janeiro se desloca, não importa o bairro que esteja para dar uma passada por lá. Quando também viaja para competições como os Mundiais, sempre procura um shopping para se distrair e passear um pouco. “Aproveito para comprar uma lembrança ou algo que é mais barato lá fora. O brasileiro ama shopping.” Em Minas Gerais, frequentava bastante o Shopping Estação, o mais próximo de Lagoa Santa. Já em Itabuna (BA), costuma ir ao Jequiti. “Além disso, eu invisto em ações de fundo imobiliário associado a shopping.” Mas o local em que pode ser mais visto agora é nas águas de Ilhéus e, em breve, os olhares de todos os brasileiros e do mundo estarão voltados para acompanhar o seu desempenho em Paris. E, claro, a nossa torcida é por ele, o gigante e merecedor Isaquias Queiroz, que nos orgulha e inspira com sua trajetória.
