JAN/FEV 2021 - Edição 233 Ano 34 - VER EDIÇÃO COMPLETA

Marcos Piangers, a maior voz sobre paternidade do país

15 de fevereiro de 2021 | por Solange Bassaneze | Fotos: Divulgação
Conheça um pouco mais sobre comunicador que impacta a vida de milhões de famílias com seus conteúdos

Mais do que jornalista, palestrante e autor do best-seller O Papai é Pop, ele é filho da Eloísa, marido da Ana e pai da Anita e da Aurora. Sim, estamos falando de Marcos Piangers, uma das principais referências do país no assunto paternidade. Seu conteúdo tem impactado pessoas de diversas partes do mundo ao mostrar a relevância e importância da maior participação dos pais na vida dos filhos, especialmente depois de um ano tão difícil. 

Entrevista Marcos Piangers - Revista Shopping Centers
Foto: Renata Cechinel 

Do caderno para as telonas

Antes de virar esse fenômeno e ganhar a simpatia do público, o comunicador já se destacava como apresentador de TV e rádio no sul do país. As anotações que fazia sobre a sua primeira filha, Anita, começaram a ser publicadas no Facebook e ganharam a simpatia do público. Por fim, essas histórias viraram o livro O Papai é Pop, que já tem mais de 300 mil exemplares vendidos e o sucesso só aumentou. A obra vai virar filme – as gravações começaram em janeiro de 2021. 

O lançamento do filme deve acontecer ainda nesse ou no próximo ano e será estrelado por Paola Oliveira e o Lázaro Ramos. “Estamos profundamente emocionados de ver essa possibilidade tão familiar e de conexão com os filhos ser levada para mais pessoas através de atores brilhantes e inspirados. O Lázaro Ramos representa essa resiliência, esse talento e essa sensibilidade que o homem pode ter. Vai ser muito bonito ver isso nos cinemas”, conta Piangers. 

O Papai é Pop - Revista Shopping Centers
Considerado o pai mais cool do Brasil, o jornalista tem mais de 1,1 milhão de seguidores Instagram e 4,1 milhões no Facebook | Foto: Divulgação

Nos lançamentos de todos os seus livros, as filas nas livrarias eram enormes. “Todos foram lançados em shopping centers de Joinville, Blumenau, Curitiba, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Ficamos cinco e seis horas autografando, tirando fotos e conversando com as pessoas. Foi tremendamente gratificante e incrível, esses momentos vão ficar para sempre na minha memória.” 

Aliás, as livrarias estão entre os passeios favoritos em família. Em Curitiba, costuma ir ao Shopping Pátio Batel e a Livraria da Vila sempre está dentro da programação. “Temos um combinado de que os livros são presentes que eu e a minha esposa sempre vamos dizer sim às nossas filhas. Permitimos que escolham quantos elas quiserem. Depois, sempre paramos no café da livraria e começamos a lê-los. É um passeio muito gostoso.”

Foto: Divulgação 
“Poder ir em uma livraria de shopping, sentar em uma área kids e ficar lendo com as minhas filhas é um desses momentos mágicos.”

Marcos Piangers brinca que o shopping e a paternidade combinam demais. “Muitas vezes, um pai novo não sabe onde ir e nem o que fazer com o bebê e shopping se torna seu melhor amigo. Lá, não tem chuva, vento, sol no rosto, o ambiente é climatizado, o banheiro masculino possui trocador de fraldas, há praça de alimentação e o que olhar. Os shoppings são ótimos para esses primeiros meses e anos de vida. Lembro que íamos muito ao BarraShopping, quando morávamos em Porto Alegre. Quando a Aurora nasceu, tínhamos o hábito de comer um hambúrguer e tomar um suco natural com a nossa filha mais velha, que só tem lá. Mais tarde, passamos a ir ao cinema.”

Piangers passeando no shopping com a filha - Revista Shopping Centers
Marcos Piangers passeando com Anita no shopping | Foto: Divulgação

Uma pesquisa da Abrasce comprovou que as pessoas têm memória afetiva com o shopping center e Piangers já provou que são várias. Mas nem todas são alegres e muitos pais vão se identificar. Quando morava em Porto Alegre, frequentava também o Shopping Praia de Belas e sempre gostava de ir ao Press Café. Recorda que, em uma das visitas estava acompanhado das duas filhas. Época em que a Aurora deveria ter uns 2 anos. A caçulinha quis provar balas de gengibre que o Marcos Piangers sempre costuma ter no bolso. 

“Ela começou a mastigar aquela bala e ficar feliz com aquilo. No café, ela tomou um suco de laranja. Só que as balas e o suco não fizeram bem e, logo em seguida, voltou tudo. Eu não acreditei: estava no meio do shopping todo vomitado. As pessoas me reconheceram e foram muito generosas, me ajudaram para que eu fosse até o banheiro, abriram caminho para eu pagar o estacionamento”, relembra a cena rindo. 

Nos palcos 

Mesmo em 2020 com a pandemia, ele não parou de dar palestras e fez isso de modo remoto. Pelo contrário: conseguiu participar de mais eventos, sem ter que se deslocar de avião e dormir em hotel, o que fortaleceu ainda mais os laços familiares. Por outro lado, está morrendo de saudades da presença do público no mundo real. “As vantagens dos eventos ao vivo são incomparáveis. É cheio de energia e de interações imediatas, algo muito difícil de replicar no remoto. O público se alimenta da minha energia e eu da deles. Tirar fotos com centenas de pessoas por horas que enchem o meu coração de histórias e renovam o meu repertório. Isso faz falta e espero que volte logo”, diz. 

O comunicador no TedX Lisboa - Revista Shopping Centers
Piangers em palestra no TEDxLisboa | Foto: Divulgação

O antes e o depois

Após a paternidade, Marcos Piangers passou por um processo de transformação. Segundo ele, escondia sua sensibilidade e acreditava nas mentiras de que homem não chora, não sente, não diz eu te amo e precisa ser bruto o tempo todo. Não valorizava sua mãe como hoje, uma mulher que vivenciou a experiência de ser mãe solteira assim como quase 1/3 das mães brasileiras. 

“Acredito que a gente aprende a ser filho e entender as dificuldades que os nossos pais passaram quando viramos pai. Posso colocar que eu era ingrato e mais insensível. A Aurora e a Anita me deram a chance de me conectar com as minhas sensibilidades e de me tornar agradecido pela mãe que tive. Entendi e passei a agradecer tudo o que ela fez por mim e faz até hoje”, conta. 

Até mesmo alguns anos depois de ter a sua primeira filha, considera que tinha uma visão machista e limitada sobre as diferenças de gênero. “A sociedade é muito desrespeitosa com as mulheres e constrói uma série de privilégios para os homens. Não estou dizendo que os homens não sofrem, mas vivem nessa prisão insensível.” Ser pai de duas meninas o fez entender melhor isso e também de saber que, só por conta de serem mulheres, suas filhas podem sofrer violências, medos, assédios, agressões e diminuições, já nos primeiros anos de vida.

“É triste perceber que nós, os meninos, somos incentivados a diminuir e desmerecer as meninas, a dizer que elas não correm rápido, que não sabem jogar bola, que não são boas no videogame ou na brincadeira. E a gente começa a construir a nossa masculinidade em oposição ao que é feminino. Então, o menino vai só pegando tudo o que é da menina e dizendo: eu sou o contrário disso. É triste para os meninos também porque não podem demonstrar os sentimentos.”

Apesar de não ter tido a presença da figura paterna em sua vida, Marcos nunca sentiu medo de ser pai. Ao contrário, ele se tornou o pai que sonhou em ter. “Percebi que poderia quebrar esse ciclo de abandono e ser mais feliz, paciente, sensível, criativo, divertido, bem-humorado e equilibrado. Poder virar pai me ajudou a chegar onde estou. Tive medo apenas de não conseguir sustentar uma casa, algo que os homens sentem. Mas a empolgação superou isso”, recorda. 

Inovação no DNA

A mãe de Marcos Piangers foi a maior incentivadora de sua criatividade e aplaudiu todas as suas tentativas desde a infância. Isso fez com que ele sempre desafiasse os padrões na escola e, depois, na faculdade de jornalismo. Ao chegar ao mercado de trabalho, continuou com o pensamento crítico e a vontade de se reinventar. “Daí, é claro que é muito mais fácil se transformar profissionalmente quando você exercita isso todos os dias e não aceita cair em pequenas zonas de conforto desconfortáveis. Muitas pessoas odeiam aquele trabalho das 8 às 18 horas, de chegar atrasado para pegar o filho na escola e de almoçar com colegas que não escolheu conviver. E isso que eu sempre questionei e busquei remodelar para eu ter uma vida mais rica e também transformar a do outro.”  Esse exercício constante de antifragilidade o ajudou muito quando decidiu largar o crachá. 

Marcos Piangers - Revista Shopping Centers
Foto: Nuno Fontinha 

O poder do amor

Marcos Piangers fala muito sobre o verdadeiro sentido da vida, mas, muitas vezes, isso está adormecido nas pessoas. Mas, não é tão difícil começar a viver essas experiências. Segundo ele, o grande problema é que vivemos em uma sociedade de consumo e ocupação constante. “Todo mundo repete os padrões de felicidade e caminhos profissionais dos outros. Só que a felicidade é individual. Ao se acostumar com esses lugares de conforto desconfortável, a gente acaba com medo da mudança, de ser quem a gente realmente é e de ser feliz no final das contas.”

Todo o conteúdo que produz na internet é para inspirar. “Todas as vezes que publiquei algo e vi as pessoas brigando nos comentários, eu apaguei. Quero inspirar a melhor versão do outro. É sobre como eu posso melhorar e, se alguém puder aproveitar essa experiência, é fantástico. Diariamente, recebo mensagens, áudios, vídeos de pessoas dizendo que se transformaram de diferentes formas após serem expostas ao meu conteúdo. A verdade está dentro de cada um e algumas coisas que eu falo são bastante óbvias, mas em uma sociedade doente focada no consumo, em industrializar os nossos dias, é importante falar, ouvir e fazer o óbvio.”

Em um ano tão difícil como o de 2020, Marcos Piangers acredita que falar de amor, significado, propósito, afeto e família se tornou ainda mais essencial. “O período de perdas nos aproxima da possibilidade de dar valor à vida e perceber que ela é finita. Por isso, é preciso valorizar os nossos caminhos e o nosso tempo e escolher um trabalho com propósito. A gente merece uma vida mais gratificante e feliz todos os dias, e não só quando for aposentar, ganhar tal salário ou morar à beira praia. Você tem que ser feliz hoje, porque de um dia para o outro a vida pode acabar”, instiga. 

Marcos Piangers e família - Revista Shopping Centers
Piangers com as filhas e a esposa Ana Cardoso | Foto: Divulgação

Paternidade e trabalho

Para quem virou pai e mãe recentemente, Marcos Piangers indica comunicar a empresa que agora você tem outra prioridade na vida. E não deve ter vergonha em deixar isso claro. “As empresas precisam entender esse valor. O PIB não mede o esforço de passar 18 anos cuidando de outro ser humano. Lá na frente, haverá o retorno econômico do pai presente e da mãe que teve a tranquilidade e a capacidade de educar e construir esse ser humano. Os filhos não são as pessoas que atrapalham o trabalho importante, eles são o trabalho importante.”

Marcos Piangers e filhas - Revista Shopping Centers
O pai da Anita e da Aurora: Piangers | Foto: Evelen Torrens

Destaca ainda o quanto a participação dos pais é primordial na vida de um filho. Estudos científicos recentes dizem que um pai presente vive mais e desenvolve outras habilidades. Por outro lado, o filho cresce melhor quando brinca com o pai e fica mais preparado para enfrentar o estresse no futuro. “Se você quer ser bem-sucedido profissionalmente, é importante entender que tem uma série de benefícios para você aprender com os seus filhos. Entre eles, ter seu momento de produtividade e de conexão afetiva com a sua família de forma plena e atenciosa.”

Piangers ainda alerta sobre o uso excessivo do celular. “Esse dispositivo é incrível para nos tornar mais produtivos, se usarmos os aplicativos certos, mas, em geral, utilizamos três vezes mais aplicativos que nos deixam menos produtivos e mais deprimidos. Apagá-los ou usá-los menos fará com que tenha mais produtividade profissional e também de atenção paciente e afetuosa com os nossos filhos, familiares e amigos.”

Ele concorda que o mundo on-line pode atrapalhar as experiências reais. Isso ocorre porque os sistemas virtuais construídos estabeleceram uma relação biológica com o comportamento do ser humano e oferecem apenas prazeres e nenhum tipo de frustração. “O mundo real tem comida salgada demais, cerveja quente… O que o mundo virtual faz é nos mimar. Dessa forma, as experiências do mundo real vão ficando mais desconfortáveis, mas esses desconfortos são essenciais para a sobrevivência humana. É preciso exercitar a vida analógica, a capacidade de transformação humana e não apenas de ser bajulado por algoritmos. A máquinas estão sofrendo um up grade todas as vezes que relacionam com a gente e nós seres humanos estamos sofrendo um downgrade quando nos relacionamos com elas.” Investir na família, nos filhos e nos amigos a longo prazo é o maior sinal de felicidade. 

Os preferidos de Marcos Piangers - Revista Shopping Centers
Foto: Fabio Jr. Severo
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