A abordagem humanista do psicólogo é a base do conhecimento transmitido por ele em suas palestras, em seus livros e em suas redes sociais, que já ultrapassam a marca de 2,5 milhões de seguidores
Saber se comunicar é conseguir falar para diferentes públicos ao mesmo tempo. O psicólogo e professor Rossandro Klinjey tem o dom de levar informação com uma linguagem didática e de fácil compreensão para diferentes meios. Especialista em educação e desenvolvimento humano, ele ministra palestras Brasil afora – e em outros países – e ao mesmo tempo compartilha conteúdo digital para seus mais de 2,5 milhões de seguidores nas redes sociais.
Ainda grávida, a mãe dele sonhou que o filho faria palestras no mundo todo. “Imagina o que é ouvir isso na infância sem gostar de estudar muito e achar que sua mãe está viajando. De repente, tudo acontece como ela previu e sempre me dizia: ‘quando acontecer, mantenha sempre a humildade, porque senão perderá tudo’”, conta o psicólogo, paraibano de Campina Grande (PB). A produção de conteúdo na internet começou em 2017 e, em pouco tempo, ganhou projeção sem fronteiras que só o digital proporciona.
Com esse reconhecimento do público de forma muito rápida, ele diz que tenta manter o equilíbrio e uma visão de simplicidade da vida. “É preciso entender que essa visibilidade está a propósito das pessoas que vão me escutar. Sempre foco na responsabilidade de entregar um conteúdo que faça a diferença na vida das pessoas e vou lidando com o meu ego, para não me achar melhor do que os outros”, fala. Inclusive, ele lembra uma conversa que teve com o Padre Marcelo Rossi sobre isso, pois o sacerdote estava preocupado com a velocidade que tudo estava acontecendo. Para tranquilizá-lo, respondeu que a esposa o coloca muito rapidamente na realidade. “Quando você amadurece, percebe que a crítica de alguém que está ao seu lado como uma grande prova de amor. Você pode até aborrecer na hora, mas agradece profundamente que essa pessoa te ama e não quer que se perca”, diz.
Mudanças trazidas pela pandemia
Acostumado a falar para grandes plateias presenciais, o psicólogo Klinjey teve dificuldade em ministrar apenas palestras on-line ainda no início da pandemia. “Sou muito de interagir com o público e um palestrante tem os olhares das pessoas com um feedback. No primeiro momento, me desgastei profundamente porque ficava em uma angústia cognitiva para saber se o que eu estava falando estava atingindo o público, mas, depois de um tempo, como é comum do ser humano, me adaptei e passei a ficar mais relaxado, como se eu tivesse conversando com a pessoa ao vivo”, relata.
Ao mesmo tempo, esse modelo também trouxe vantagens. “É algo que veio para ficar. Palestras em cidades que eu não conseguia estar antes pela falta de ter um aeroporto próximo ou porque minha agenda não permitia que eu fosse, agora já consigo encaixar. Então, há perdas e ganhos, mas a gente tem que se adaptar”, fala.
Referência na área educacional, Klinjey diz que a pandemia antecipou certas angústias que eram percebidas pelas muitas mudanças tecnológicas e no mundo do trabalho. Como a aceleração de processos gerando, consequentemente, crises, inclusive, emocionais.
“E agora mesmo com as respostas e as vacinas que não existiam, há muitas pessoas angustiadas com o retorno. Apesar de reclamarem, as pessoas se acostumaram com o home office e tantas outras coisas que mudaram, então, há uma dificuldade de retornar”, explica.
A escola de modo presencial fez muita falta na vida das crianças e adolescentes. “Há um prejuízo significativo cognitivo em processos de aprendizagem e de interação social, pois o aprendizado também é relacionamento. Essa tecnologia também mostrou a relevância e a importância do professor. Sabemos que alguns jovens talvez nunca mais voltem para a sala de aula. Há vários estudos sendo feitos por instituições internacionais e nacionais sobre o impacto que isso vai ter ao longo de gerações”, revela.
Klinjey ainda relembra o momento em que as aulas voltaram com escalonamento. “Os alunos pareciam plantas que tinham sido aguadas, como se estivessem murchando por falta de contato, e, de repente, vibram. Somos gregários por natureza. Na ausência das pessoas, definhamos. Então, passamos por um processo de esgotamento emocional e também de falência da resiliência. Quando temos que ser repetidamente resilientes, há momentos que não damos conta”, fala o professor.
O peso de tudo isso variou conforme o gênero, a pessoa, a região em que reside, o tipo de trabalho e outras variáveis. “Somente por meio de pesquisas nas próximas décadas, entenderemos tudo o que a gente perdeu e ganhou nesse processo”. Segundo Klinjey, haverá ainda um grau de ansiedade muito grande e uma angústia premente, inclusive, com alguns casos depressivos. Ele complementa fazendo um alerta de que talvez algumas pessoas desenvolvam, por exemplo, uma mania de higiene profunda. “Os transtornos vão variar conforme a capacidade de resposta que cada um tem para enfrentar os desafios da vida. Há quem vai sair bem, melhor até, aproveitando o evento para se transformar. No entanto, outras pessoas de fato vão sair transtornadas”, alerta.
Por isso, para o psicólogo, é muito importante que as empresas ainda mantenham o suporte aos seus colaboradores, pois há uma demanda de luto muito forte e é preciso oferecer acolhimento. A volta ao mundo do trabalho físico exigirá outras demandas e será necessário entender que é preciso trabalhar o emocional mais do que antes.
No início da pandemia, muito se dizia que todos sairiam melhores após a crise sanitária da Covid-19. Segundo o palestrante, isso acontecerá somente com quem já vinha trabalhando para ser melhor. “As pessoas egoístas têm uma tendência em se manterem egoístas. Lembra quando havia briga por papel higiênico no começo da crise ou de quando vimos entregador de pizza sendo humilhado em condomínio? A gente não pode criar uma ilusão de que um evento como esse é capaz de modificar a conduta e o comportamento enraizados na personalidade dos indivíduos. No entanto, não há como negar que eventos dessa proporção mexem com algumas pessoas que estavam a ponto de fazer algum tipo de transformação. Nesses casos, vão ter um desejo muito profundo de modificar a própria a vida”, explica.
E ainda reforça que o término de uma crise tende a trazer muitas transformações. “Depois da Primeira Guerra Mundial, houve uma efervescência econômica e cultural como a Semana de 22. No fim da Segunda Guerra Mundial, tivemos The Beatles, rock n’roll, Anos 60, Direito das Mulheres, Direitos Civis… A tendência é essa. E as pessoas ficam com vontade de viver experiências. Por isso, é um bom momento dos shoppings se concentrarem nisso”, reforça.
A presença do shopping
Em sua terra natal, no estado da Paraíba, Klinjey frequenta o Partage Shopping Campina Grande e, quando viaja dentro e fora do país, também inclui shoppings em seus roteiros. Gosta muito do Shopping Recife e RioMar Recife, na capital pernambucana. Quando está na capital paulista, frequenta o Shopping Cidade São Paulo e o Pátio Paulista. “Toda vez que estou em uma cidade, gosto de ir ao shopping para ir à livraria, comprar roupa, fazer massagem… Tem coisas que eu prefiro estar ali, tocando e vendo”, conta.
“Quando estou com a minha esposa em Campina Grande, como o tempo de mulher é outro, vou fazendo as minhas coisas enquanto ela faz o que precisa, e nos encontramos para jantar ou ir em alguma loja juntos.” Reunir a família e sentir toda a experiência que a sétima arte proporciona também está entre seus programas preferidos dentro de um shopping. “Gosto demais de cinema, de encontrar os parentes, comprar pipoca, ficar esperando na fila e viver aquela tensão. Quando é da Marvel, por exemplo, espero até o final para ver se terá algum spoiler.”
O cinema já foi utilizado algumas vezes como auditório por Klinjey. E claro, entre as centenas de palestras, algumas foram ministradas para o setor de shopping centers. O professor é autor de cinco livros e o último, “O Tempo do Autoencontro”, lançado no ano passado, ainda não teve sessão de autógrafos, mas ele aguarda por esse momento. Alguns dos lançamentos, inclusive, foram feitos em livrarias localizadas em malls. “O shopping sempre traz uma memória afetiva de felicidade, de contentamento e encontro com as pessoas”, afirma. Entre seus best-sellers estão “Help! Me Eduque”, “Eu Escolho Ser Feliz” e “As Cinco Faces do Perdão”.
Esse momento de ir em um ambiente seguro como o shopping também fez muita falta na vida dos jovens, já que este é um dos primeiros locais em que os pais confiam em deixar os filhos para se divertirem e encontrarem com os amigos. “É um lugar importante para o adolescente interagir. Eles têm uma necessidade muito grande de sair porque estão em uma época em que querem se diferenciar da família e, para isso, eles precisam encontrar grupos. Com a violência urbana, é muito mais comum levar e deixar o filho no shopping. Além disso, todos temos a necessidade de viver uma experiência coletiva.”
Agora ele já se prepara para a retomada de suas palestras presenciais após tomar a segunda dose da vacina. Enquanto isso, seus seguidores continuam acompanhando esse mestre em psicologia que ensina tanto sobre educação, comportamento e desenvolvimento humano e relações interpessoais nas redes sociais, na TV, no rádio e nos veículos impressos e digitais.