MAI/JUN 2020 - Edição 229 Ano 33 - VER EDIÇÃO COMPLETA

Robert Scheidt, o maior atleta olímpico do Brasil

16 de junho de 2020 | por Solange Bassaneze | Fotos: Divulgação
O veterano disputará as Olimpíadas pela sétima vez e teve que adaptar sua rotina de treinos durante o isolamento social

Sem esporte. Ninguém imaginou que isso poderia acontecer, mas esse foi mais um dos impactos da pandemia da Covid-19 no mundo. Por causa da transmissão comunitária do novo coronavírus, todas as atividades esportivas foram suspensas por tempo indeterminado. Ligas internacionais e campeonatos nacionais interrompidos, canais reprisando grandes momentos do esporte e atletas recolhidos treinando em seus lares para manter a forma. Dessa forma, os Jogos Olímpicos de Tóquio (Japão) tiveram que ser adiados para 2021. 

Robert Scheidt O maior medalhista olímpico do Brasil - Revista Shopping Centers
O velejador Robert Scheidt é o maior medalhista olímpico do Brasil e participará também dos jogos em Tóquio

O maior atleta olímpico do Brasil, Robert Scheidt, também teve que se manter longe dos treinos e do mar. Ele vive na Itália, um dos países europeus mais impactados pela crise sanitária.

“Ficamos em casa, respeitamos as normas de segurança. A região onde moro, na cidade de Tórbole, no Lago Di Garda, é pequena, por isso, não foi muito afetada. Tudo isso trouxe tranquilidade para minha família”

Experiente, ele sempre soube enfrentar as adversidades e a imprevisibilidade do mar. Praticante do iatismo, modalidade que depende muito dos ventos e do desempenho individual, o velejador deixa uma mensagem para todos no combate à Covid-19. “Vivemos um momento de extrema dificuldade, no qual é importante manter a serenidade, o equilíbrio e seguir as orientações da Organização Mundial de Saúde. A união das famílias e amigos, mesmo que seja por meio da tecnologia, também é fundamental. Tudo isso vai passar e precisamos nos manter saudáveis física e mentalmente para quando os dias de normalidade retornarem. Tomara que seja o mais breve possível”, diz. 

Jogos Olímpicos

O atleta garantiu em fevereiro a vaga para disputar as Olimpíadas de Tóquio, durante a etapa do Mundial da Classe Laser, em Melbourne (Austrália). Com isso, conquistou mais um recorde, pois essa será sua sétima participação em Jogos Olímpicos. Além disso, é o maior medalhista olímpico do país, com cinco conquistas (dois ouros, duas pratas e um bronze). “Atingir um objetivo sempre traz uma sensação boa, uma alegria pelo dever cumprido. Mas a classificação foi apenas uma etapa. A meta é fazer uma boa Olimpíada e lutar por mais uma medalha.” 

Para isso, já está se reorganizando. “O adiamento dos Jogos de Tóquio foi correto. No tempo de confinamento, foquei no treino físico. Tenho bicicleta, remador e equipamentos de musculação e fiz exercícios aeróbios, de força, resistência e flexibilidade em dois períodos. Aproveitei ainda para refazer toda a programação, que deve incluir treinos em Ilhabela e Búzios, além das principais competições internacionais.” A partir do início de maio, pedalar e praticar atividade física ao ar livre foram permitidos no país, após dois meses de lockdown. Em junho, Scheidt pode voltar a velejar de forma gradual.

Para todos os atletas, a quarentena foi bastante complicada e, para Scheidt, não foi diferente. “Ficar em confinamento é sempre difícil para quem se habituou a viver em contato com a natureza, como eu. Mas aproveitei esse período para cuidar de outros aspectos da campanha olímpica que exigem, além do treino físico. Fiz programação de viagens, hospedagens, inscrições em campeonatos e estudo de regras e técnicas de regatas em livros e vídeos”, conta. 

“Acredito que sairemos dessa pandemia mais fortes, mais resilientes. A lição mais importante: é preciso pensar coletivamente.”
Robert Scheidt - Revista Shopping Centers

Foco e determinação

Aos 47 anos, o atleta é um esportista que oferece muita emoção e pode erguer a bandeira do Brasil mais vezes. Ciente disso, almeja ainda mais em sua trajetória profissional. Eu amo velejar, é a minha vida e não pretendo parar tão cedo. Esta será minha última Olimpíada na classe Laser, mas seguirei competindo em outras classes, como a Star. Também posso ingressar em equipes de vela oceânica ou atuar como treinador.”

Ele nunca parou de velejar, mas achou que depois dos Jogos Olímpicos Rio 2016 deixaria a vela. Mas os ventos não permitiram e mostraram a direção certa. “Acredito que, talvez, até mesmo a frustração de ficar em quarto lugar no Rio 2016 me levou a encarar novamente o desafio dos Jogos Olímpicos. Quando fiquei sem patrocínio após a conquista da medalha de ouro na Olimpíada de Atlanta, em 1996, também pensei em colocar o diploma debaixo do braço e procurar emprego. Ainda bem que persisti”, relembra. Ele retornou a classe Laser depois de três anos ausente e cumpriu seu principal objetivo: carimbar o passaporte para Tóquio.

Foram muitos episódios marcantes na carreira, mas ele considera três, como os momentos principais: as duas medalhas de ouro conquistadas nos Jogos Olímpicos, de Atlanta (1996) e de Atenas (2000), e o momento de ter sido porta-bandeira da delegação brasileira, em Pequim (2008). “Os outros três pódios nos Jogos e os 14 títulos mundiais também são muito importantes para mim”, complementa o velejador.  

Para alcançar a vitória em uma disputa de vela, Robert Scheidt diz que, primeiramente, é preciso chegar bem preparado. Depois, seguir com equilíbrio para construir uma boa média. “Uma competição de vela é composta por 11 regatas. Por isso, não adianta vencer uma e não ir bem nas demais. Regularidade é o caminho para o pódio.” O Brasil irá acompanhar de perto seu desempenho e torcer por ele no ano que vem!

Robert Scheidt velejando - Revista Shopping Centers
Nascido em São Paulo, Scheidt sempre teve uma relação intensa com a cidade. Foi no Yacht Clube Santo Amaro que começou a treinar ainda garoto. Quando morava na metrópole, sempre frequentava a academia do MorumbiShopping, onde fazia natação e malhava. No Brasil, seu destino preferido é Ilhabela, litoral norte de São Paulo

O esporte no DNA

Robert Scheidt começou a treinar na infância assim como a maioria dos velejadores de alto nível. Segundo ele, é fundamental gostar do que se faz e amar o processo. “Ou seja, aprender a gostar de treinar muito para competir bem”. 

Seu filho Erik, de 10 anos, já segue seus passos de forma natural. “É muito bom vê-lo interessado em velejar. Mas nem eu e nem a Gintare colocamos pressão para que isso acontecesse ou cobramos resultados. Afinal, o importante é ele encontrar prazer na velejada, curtir o contato com a natureza e fazer muitos amigos. Mas ele tem ido bem e já ganhou títulos, inclusive, o Paulista e o Brasileiro na classe Optimist.” Exemplos em casa não faltam. 

Robert Scheidt entrevista - Revista Shopping Centers
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