MAI/JUN 2024 - Edição 253 Ano 37 - VER EDIÇÃO COMPLETA

Pegue essa onda com a Tati Weston-Webb

28 de junho de 2024 | por Solange Bassaneze / Fotos: Divulgação/Tauana Sofia
Preparada e confiante, a surfista é promessa de medalha olímpica

Os Jogos Olímpicos de Paris se aproximam e milhares de atletas de mais de 200 países estão prontos para competir. É um espetáculo para quem assiste e a busca por resultado para quem compete. O fato de estar lá já demonstra o quanto esse esportista é determinado, dedicado, obstinado, focado… São anos de trabalho para brigar por uma medalha. O Brasil chega com favoritos também e um destes nomes é a surfista Tatiana Weston-Webb. Respeitada, ela integra a Liga Mundial de Surf (WSL), estando entre as dez melhores do ranking. Garantiu sua classificação em abril de 2023. As disputas olímpicas acontecerão em Teahupo’o, no Tahiti, na Polinésia Francesa. E ela estará lá em busca dessa medalha inédita para o Brasil. Já demonstrou o quanto é diferenciada e quanto pode entregar nas competições.

Sua ligação com o surfe é embrionária e o incentivo em casa começou muito cedo, sendo toda a família adepta. Então, não faltavam referências: a mãe, Tanira Guimarães, ex-bodyboarder profissional; o pai, Douglas Weston-Webb, surfista inglês; e ainda tinha como exemplo o irmão Troy. “Apesar de ter nascido no Brasil, fui ainda bebê para o Havaí. Peguei onda com boias no braço com apenas 2 aninhos, na época, com a ajuda do meu pai. Surfei a minha primeira onda sozinha aos 8 anos por influência do meu irmão que já praticava. Todos são apaixonados e isso me conquistou, acho que minha vontade de vencer e a paixão pelas ondas vêm muito de observá-los. De lá pra cá, não parei mais”, conta Tatiana.

Viver no berço do surfe influenciou seu estilo de surfar. “Foi uma coisa natural, morava na ilha de Kauai e o esporte fazia parte da minha vida.”  No entanto, a partir de 2018, a gaúcha passou a competir pelas terras tupiniquins. “Não tinha como não escolher o Brasil, me sinto brasileira, nasci aqui, minha mãe é brasileira assim como meu marido (Jessé Mendes) e minha equipe. Foi muito fácil escolher. É uma honra.”

Mais uma à vista

Em um ano de grandes competições, a rotina se intensifica e Tatiana encara tudo com naturalidade.”Busco estar preparada o máximo possível para realizar um bom desempenho, com treinos dentro e fora d’água.” E isso se repete todos os dias. Desperta, às 5 horas ou 6 horas, dependendo de onde está e surfa sem hora para terminar. O Comitê Olímpico Brasileiro tem estado muito próximo dela, dando suporte.

“Disponibilizou uma equipe de nutrição, preparador físico e fisioterapeuta, que tem me ajudado bastante a fortalecer meu treino. E claro, tenho trabalhado a mente também.”

As expectativas são as melhores possíveis: “Estou muito feliz em conquistar o meu sonho de estar no maior evento esportivo do mundo e bastante otimista. Sigo evoluindo cada vez mais e treinando todos os dias para trazer orgulho para o Brasil.” 

Antes de competir, adota algumas técnicas para se concentrar, como exercícios de respiração e de afirmações positivas, além da meditação. “Também escuto livros de preparações psicológicas, e tenho minha psicóloga, que é muito importante.”

De todas as vitórias até agora, ela se recorda de algumas com mais carinho. “Venho conquistando momentos muito importantes, como o Ouro nos Jogos Pan-Americanos do Chile em 2023. Foi emocionante! Também conquistei o vice-campeonato do ISA Games, possibilitando que o Brasil pudesse levar mais uma atleta, a Luana Silva, para as Olimpíadas de Paris. Sendo assim, somos o único país a mandar seis surfistas para a competição”, enaltece. Tainá Hinckel também já tinha garantido sua vaga e o masculino tem Gabriel Medina, Filipe Toledo e João Chianca. 

Essa mulher com uma riqueza cultural única, filha dos mares, integra a elite mundial do surfe e isso é muito especial para ela.

“Essas conquistas me deixam muito orgulhosa do meu trabalho até aqui, da equipe que dá todo o suporte que preciso, e de todos que estão sempre ao meu lado e da torcida que me motiva e me faz feliz.”

Nem sempre é um mar de flores 

Quem surfa não consegue viver longe do mar jamais, mas há desafios muito além das baterias, das ondas gigantes e mares revoltos. Ela acredita que a parte mais desafiadora na carreira de um atleta é durante os campeonatos. “Precisamos ficar longe da família e de casa, passar pela adaptação cultural e alimentar de diferentes países, encarar longas viagens, além de se dedicar integralmente aos treinos com foco em atingir os melhores resultados .” Apesar de ser um trabalho árduo, Tatiana diz que é gratificante. “Todo o esforço vale a pena quando atingimos o nosso objetivo e conseguimos mostrar o surfe brasileiro feminino para o mundo.”

E até dentro da água, existem situações em que a mulher precisa mostrar o quanto pode e deve ocupar seu espaço. A surfista já enfrentou situações delicadas no mar.

“Uma que vez um homem passou na minha frente para pegar a onda que era pra mim e justificou que ele não poderia deixar uma série para uma menina. Foram situações pontuais que, claro, me deixaram chateadas, mas cada vez mais as mulheres estão mostrando sua capacidade no esporte, conquistando lugares importantes e lutando pela igualdade.” 

Ela não só desmarcou seu espaço, com muito afinco, como virou essa referência. “Acredito que minhas conquistas inspiram outras mulheres a correrem atrás de seus sonhos. Existe uma pressão e uma responsabilidade, mas a sensação de ver o esporte crescendo é muito boa.” Tatiana considera muito bom o momento da modalidade no feminino e vê uma evolução. “Podemos perceber uma nova geração de atletas quebrando barreiras. Desejo que mais mulheres alcancem esse lugar.”

Com uma rotina bastante agitada com treinos, competições e viagens, o maior tempo é dedicado ao mar. Mas, quando precisa de algo, costuma ir ao shopping. “São extremamente práticos, pois geralmente encontramos tudo o que precisamos. Por isso, é onde costumo fazer minhas compras. Por viajar frequentemente, já tive a oportunidade de conhecer diversos shoppings ao redor do mundo.” No entanto, se um dia cruzar com ela, será muito mais provável encontrá-la com sua prancha em alguma praia com ondas de respeito. Por enquanto, é mais fácil acompanhar suas aventuras, treinos e rotina pelas redes sociais, mas a torcida por ela sempre irá ultrapassar os oceanos e, com certeza, sentirá a vibração dos brasileiros.

  • GOSTOU? COMPARTILHE: