
Áreas de descompressão: conheça este espaço
Empresas investem em ambientes com decoração leve e divertida para promover o bem-estar mental, a desconexão da rotina no trabalho e a interação entre o time e ganham colaboradores mais motivados e produtivos
O ambiente corporativo de uma forma diferente – muito mais leve e descontraído, por sinal. O movimento de criação de espaços de descompressão, que começou com as startups, já se espalha entre os mais variados tipos de companhias e soma benefícios para o colaborador e, consequentemente, para a produtividade do negócio. Essas áreas de desconexão agregam valor para todos os lados, mas, vale ressaltar, que elas devem estar alinhadas à cultura da empresa. “Não adianta colocar um videogame, se o CEO não joga porque o funcionário ficará com receio de usar. A cultura deve vir de cima. É preciso ainda entender as necessidades dos colaboradores da empresa”, afirma Luciana Araújo, arquitetura e urbanista da Óbvio Arquitetura.






Existe, inclusive, uma área interdisciplinar, chamada neuroarquitetura, que combina a neurociência e a psicologia à arquitetura e ao design, com foco em entender como os ambientes nos afetam e, consequentemente, fornecer evidências científicas para embasar o processo de design. Segundo Andréa de Paiva, criadora do NeuroAU e professora de neuroarquitetura na FAAP, em São Paulo (SP), diferentes elementos do ambiente – como iluminação, aromas, sons, texturas, cores, formas, proporções, presença de natureza, por exemplo – podem afetar o cérebro e o comportamento dos usuários no curto e no longo prazo.
“Os estudos científicos que investigam os efeitos de tais características trazem muitas respostas que podem ajudar os arquitetos a tomar decisões na hora de projetar. Com a neuroarquitetura, o entendimento de arquitetos e designers sobre os impactos do seu design nas pessoas pode ficar muito mais completo”, explica Andréa.
De acordo com a arquiteta Luciana, esse conceito de descompressão está muito presente em startups e se espalhou para o mercado pelos benefícios que proporciona. “Está comprovado que esses espaços aumentam a produtividade, ajudam a reter talentos e ainda geram pertencimento já que o colaborador sente que a empresa se preocupa com ele. A geração mais nova é mais exigente com a infraestrutura de uma empresa, pois busca ter qualidade de vida no trabalho”, diz a arquiteta e urbanista.





Mais uma vantagem das áreas de relaxamento – e explicada pela neuroarquitetura – é a manutenção do bem-estar e o auxílio no controle dos níveis de estresse. “Em diferentes contextos, as pessoas estão sobrecarregadas, o que eleva o estresse e consome os recursos mentais. Esses são limitados e quando não são restaurados, habilidades como tomada de decisão, a cognição e o aprendizado, o autocontrole, a atenção, entre outras, ficam prejudicadas. Esses espaços ajudam as pessoas a restaurá-los durante uma pausa. E isso afeta positivamente a produtividade e a performance dos colaboradores”, destaca Andréa.
Entre os efeitos positivos de um ambiente pensado em detalhes para provocar a restauração e trazer novo fôlego, está a diminuição da ruminação, que acontece quando pensamentos negativos ficam voltando à mente quando temos um problema. “Estudos mostram ainda que a presença da natureza nesses espaços é bastante importante para facilitar esse processo. Além disso, a diminuição do estresse resulta em menos comportamentos agressivos. Num ambiente corporativo, isso é essencial para o convívio das pessoas e para o estímulo à colaboração. Por fim, colaboradores com acesso a espaços de descompressão de qualidade tendem a se sentir mais satisfeitos e motivados”, conclui a professora de neuroarquitetura.





Híbrido

Com o retorno ao trabalho presencial, o ambiente corporativo ganha ainda mais relevância.
“Agora, os escritórios competem com as casas das pessoas e precisam ser confortáveis e agradáveis”, diz Luciana.
Por outro lado, Andréa afirma que nem sempre a casa tem as qualidades físicas para suprir as necessidades mais primitivas em relação ao ambiente como exposição à luz natural, natureza e oportunidade de mudanças de postura e movimento físico. “As empresas não têm como controlar a qualidade dos espaços de home-office dos seus colaboradores. Estudos mostram, por exemplo, que a ausência de contato com a luz natural prejudica o ritmo das atividades internas do organismo, afetando nosso pico de energia e performance de dia e a qualidade de sono à noite. Além disso, está associada ao aumento nos riscos de depressão, dado que a luz natural estimula a produção de serotonina, associada à sensação de bem-estar e felicidade.”
É importante ainda destacar que cada empresa é única e o que funciona em um local pode não ter mesmo efeito em outro. Por isso, é essencial contar com um profissional da área no desenvolvimento e execução do projeto. Mas é lógico que projetos bem executados sempre devem servir de inspiração.









A professora do curso de neuroarquitetura da Faap destaca o projeto do Glumac Shangai Office, na China, como um bom exemplo de aplicação dos conceitos desta ciência, em especial o efeito positivo do contato com a natureza. “A reforma do Glumac Shangai Office aconteceu em 2014 e incorporou acesso à natureza e aos processos naturais. Como resultado, a empresa observou um aumento de 73% na percepção de conforto no espaço em comparação ao projeto antigo”, explica. Os escritórios que adotam o design ativo, muito aplicado nas startups do Vale do Silício, também são exemplos de sucesso. “Um estudo de 2014 investigou empresas com essa prática e observou que em escritórios que oferecem a possibilidade de se trabalhar caminhando em esteiras, por exemplo, o desempenho geral nas atividades e as interações com os colegas aumentaram”, conta.
No setor de shopping

Bons exemplos também podem ser observados na indústria de shopping de centers. A Ancar Ivanhoe possui um núcleo de arquitetura em cada shopping, responsável por todos os espaços da rede, bem como pelos conceitos e planejamentos em conjunto com o escritório central. A área é responsável também pela concepção das estruturas de trabalho de cada equipamento. Desde o início, é criada com o objetivo de promover um ambiente aberto, integrado e que possibilite a fácil comunicação e a interação entre os colaboradores.

Em cada shopping, a empresa aplicou um modelo de espaço de descompressão. “Alguns contam com salas de convivência amplas equipadas com televisores, sofás, livros e videogames, enquanto outros disponibilizam no meio da administração, por exemplo, mesas de sinuca e pingue-pongue. Há os empreendimentos que optam por disponibilizar espaços abertos, como uma varanda arborizada ao ar livre com mesas e lounge, o que possibilita uma conexão maior com a natureza. E tem também os que escolhem espaços com churrasqueiras e ar livre totalmente equipados para o happy hour”, destaca Léia Cardoso, Head de Recursos Humanos da Ancar Ivanhoe.

Para ela, esse é um caminho para cuidar também da saúde mental de todos que trabalham diariamente para botar a ‘máquina’ shopping center para funcionar. “A Ancar Ivanhoe acredita que pessoas felizes realizam entregas melhores e de mais qualidade. A interação das equipes, o entendimento que a empresa valoriza a vivência e a essência de cada um dos colaboradores e não apenas a entrega de resultados são, sem dúvida, os maiores benefícios desses espaços”, enaltece a head.
No período de pandemia, o uso dessas áreas exigiu uma cautela maior e os cuidados precisaram ser redobrados para que todos pudessem usufruir com toda segurança. Não existem regras físicas e escritas, mas são cuidadas por todos os colaboradores.
“O pertencimento de dono de quem trabalha diariamente nos nossos shoppings é tão nítido, que transparece nesse zelo e cuidado que cada um possui com os ambientes que são de todos”, afirma Léia.
Um dos valores da Aliansce Sonae é ‘Gente em primeiro lugar’, o que comprova que os colaboradores são peças-chave do negócio.

Por isso, sempre buscam por inovações que possam tornar a empresa um lugar cada vez mais convidativo e agradável. Em janeiro de 2021, inauguraram dois novos escritórios da holding – na Barra da Tijuca (RJ) e na Vila Olímpia (SP).
“Na contramão do que se via naquele momento de pandemia, optamos por ampliar os nossos espaços, garantindo uma experiência ainda melhor para o nosso time, tornando os dias de trabalho ainda mais prazerosos. Entendemos que existe uma demanda no mercado pela reinvenção dos espaços corporativos, com escritórios open space que gerem trocas mais frequentes e fluidas entre os times, rotinas mais flexíveis etc. Então, coube nosso olhar especial sempre para esse público, como forma de estimular o engajamento e a relação”, conta Renata Corrêa, diretora de Gente e Performance da Aliansce Sonae.

Os projetos convidam a momentos de descontração, inspiração e interação entre as equipes.
“Do ponto de vista de negócios, o efeito é positivo – funcionários motivados e felizes são capazes de oferecer resultados ainda melhores e tornam-se verdadeiros embaixadores da nossa marca”, relata Renata.
Com a pandemia esses locais se tornaram ainda mais relevantes, já que os times ficaram bastante tempo afastados fisicamente. Os ambientes foram pensados de acordo com os aprendizados recentes, contando com modelo mais flexível de trabalho, e considerando a nova realidade híbrida – remoto e físico – que proporciona maior conforto e qualidade de vida aos nossos colaboradores. De acordo com Renata, com o retorno parcial do trabalho presencial, esses espaços tornam-se ponto de (re)encontro e, inclusive, interação entre colaboradores que ainda não se conheciam pessoalmente.
“O mundo todo passou por um período de grande estresse com a pandemia, então, é fundamental também que, ao retornar ao trabalho presencial, os nossos funcionários tenham ambientes amigáveis e que fomentem a troca, a criatividade e o respiro”, reforça.
Vale ressaltar que, em geral, não existem regras de uso para as áreas de descompressão, mas, sim, boas práticas. O colaborador fica livre para usar os espaços durante a jornada no escritório – seja para fazer uma reunião, sair do ambiente (mesa), tomar um café, bater-papo com um colega. “A ideia é que o espaço seja, realmente, um local prazeroso e que traga benefícios para todo o time”, enfatiza Renata.
