O Ensino a Distância deve permanecer com alta demanda mesmo após a pandemia
A aceleração da educação on-line impacta instituições, alunos, professores e empresas e segue também em transformação
Nunca se falou tanto sobre Ensino a Distância (EaD) no mundo. Milhões de estudantes com acesso às aulas virtuais em casa desde a educação infantil até defesa de tese de doutorado com banca on-line. Além disso, a quarentena despertou o interesse dos profissionais em buscar capacitação. De um lado da tela, alunos de todas as idades e níveis aprendendo a usar as ferramentas disponíveis. Já do outro, um aumento de professores tendo que se aprimorar às plataformas e instituições revendo seus conteúdos. Além de empresas buscando qualificar seus colaboradores e milhares de vendedores aprendendo sobre consultoria digital. Enfim, uma mudança intensa em um curto período de tempo, mas totalmente necessária. Segundo os especialistas ouvidos pela Revista Shopping Centers, essa nova realidade do ensino a distância permanecerá no pós-pandemia.
A busca pela aprendizagem
Essa aceleração do processo de migração para o modelo híbrido está acontecendo em todo lugar. A crise sanitária forçou as instituições educacionais em todo o mundo a utilizar, de repente, ferramentas tecnológicas. Como o Ensino a Distância já tem um modelo consagrado e regulamentado, as aulas on-line foram alternativas encontradas por todas as instituições educacionais. “Trocamos o espaço da sala de aula presencial pela virtual com interatividade e experiência de aprendizagem ao longo do processo. Se tínhamos salas de aula que pareciam com os modelos do início do século 1920, agora, a possibilidade de mudar foi acelerada por esse momento. As empresas também tiveram que migrar para markeplaces, mas muitas não estavam preparadas para fazer vendas on-line e precisaram agilizar esse processo”, ressalta Wilma Freitas, diretora de educação do Senac-RJ.
Segundo um levantamento do Sebrae, realizado em maio deste ano, o número de sessões ativas de usuários cadastrados no portal aumentou 150% em relação ao mês de fevereiro, pré-pandemia. Desde o início da crise, a entidade tomou ainda medidas urgentes para orientar os empreendedores e, entre elas, está a oferta gratuita de cursos on-line no portal. “Esses conteúdos registraram um aumento de 106%, comparado ao período de janeiro a abril de 2019. Em abril deste ano, 122 mil usuários realizaram algum curso EaD e, em abril de 2019, foram registradas 35 mil matrículas”, declara Enio Pinto, especialista em empreendedorismo e gerente de Relacionamento com o Cliente do Sebrae.
As aulas mais procuradas são as de Gestão Financeira, Marketing Digital e Técnicas de Como Vender pela Internet. Os que mais procuram pelos cursos são os microempreendedores individuais, proprietários de micro e pequenas empresas e interessados em começar o próprio negócio.
Entendendo o momento e a necessidade da sociedade, o Senac também promoveu diversos cursos gratuitos desde o início da pandemia, recebendo mais de 40 mil inscrições até meados de junho. Educação, Gestão, Saúde, Gastronomia e Logística estão entre os mais procurados. Além disso, a instituição fez uma revisão de todo o portfólio para atender da forma mais adequada o estado do Rio de Janeiro. “Como a educação optou por um modelo não presencial, em que não existem barreiras geográficas, mapeamos as reais necessidades do estado. A partir disso, fizemos a oferta de programas de desenvolvimento profissional, de qualificação e treinamento que possam atender essa população”, detalha Wilma. Para buscar essa resposta, o Senac promoveu uma série de lives e, pela audiência, a necessidade das pessoas ficou explícita.
“Segura e efetiva, a Educação a Distância deve permanecer com alta demanda no pós-pandemia. O empreendedor consegue se capacitar no ritmo dele e sem a necessidade de deslocamento”, Enio Pinto.
Oportunidades
Segundo Marcelo Pimenta, professor especialista em inovação, não há um único indicador para medir o crescimento do Ensino a Distância. Nos shopping centers, os profissionais também estão passando por essa transformação. “Há um fenômeno acontecendo no mundo em que os vendedores do varejo estão se tornando consultores digitais. Ele ajuda o consumidor a escolher um produto por WhatsApp, telefone e videoconferência para depois ser adicionado ao carrinho de compras. Então, como educar um vendedor da sua loja para ser um consultor digital? De que maneira os clientes devem fazer o drive-thru? É preciso capacitar a equipe e o próprio consumidor. O Ensino a Distância só cresce e esse é apenas um exemplo do impacto”, explica Pimenta.
Ele ainda alerta que a empresa que não buscar novas soluções, provavelmente, irá fechar. “É preciso se conectar com esse novo consumidor. Em momentos de crise também surgem novos negócios. Estima-se que devam surgir de 10 a 15% de novas empresa e cerca de 35% vão crescer, mas de 40 a 50% vão fechar as portas esse ano.”
As empresas de e-commerce e e-learning nunca venderam tanto e tudo aconteceu de forma inesperada. Muitas empresas têm optado pelo microlearning, por ser consistente e constante. “Estão vendo que é mais interessante mandar pílulas de pequenas lições todos os dias do que fazer uma convenção anual”, diz Pimenta, que dá cursos em diversas instituições como ESPM, Sebrae e meusucesso.com.
A crise sanitária trouxe ainda a necessidade de se repensar os modelos de negócios. “Uma empresa existe para resolver um problema e ela precisa ver se este problema ainda persiste no pós-pandemia. Muitos negócios vão reavaliar se ainda suas existências fazem sentido ou pelo menos no porte que são”, esclarece Pinto.
Capacitação contínua
Com a dinâmica de gestão dos negócios muito acelerada, existe uma preocupação do profissional em se atualizar. Segundo Pinto, os empreendedores buscam todas as opções e alternativas possíveis para ter um processo de aprendizagem continuado. “Não é uma capacitação pontual como no passado, mas permanente. Em 2019, o Sebrae atingiu mais um milhão de matrículas na plataforma EaD. Foi recorde e um canal muito efetivo, por ser gratuito e o empreendedor poder se capacitar no tempo dele.“
É essencial que os profissionais do comércio busquem se aprimorar ainda mais neste momento, pois o retorno se dá com um fluxo menor de clientes e as empresas com mais itens de operação. “A necessidade de se profissionalizar, ainda mais no pós-crise, é evidente. A tendência é tirar proveito desse momento para se tornar um gestor mais profissional”, reforça o especialista em empreendedorismo.
Em meio a tudo isso, é essencial o exercício da criatividade pelo setor de shopping centers. Segundo Pimenta, o drive-thru, por exemplo, é uma medida que resolve o problema do contato. “O consumidor quer tudo o que for mais aberto do que fechado, amplo do que estreito, rápido do que é demorado.
Qualquer shopping, serviço ou loja deve olhar para isso. O consumidor mudou e está menos suscetível a marca e mais suscetível à conveniência. Quer resolver tudo em uma jornada curta e isso é uma superoportunidade para os shoppings”, dita Pimenta.
Em seu curso Criatividade e Design Thinking pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), são aplicados elementos do pensamento do design como empatia, prototipação e colaboração para que a inovação possa acontecer por meio do design thinking. O exercício da criatividade é essencial para se conectar com o usuário. “A criatividade é individual e o trabalho de design é coletivo com a soma das criatividades e a colaboração de todos. E é preciso fazer junto, em equipe, mesmo a distância”, diz Pimenta.
“Estamos tendo diversos problemas, mas é importante entender que a oportunidade acontece na adversidade. São nesses momentos de crise que surgem novos negócios. A empresa precisa se reinventar e não ficar esperar que um concorrente lance um produto adequado para o cliente dela”, Marcelo Pimenta.
Nova postura
Uma pesquisa, realizada pelo Senac-RJ antes da pandemia, mostrou que 33% da população do estado pretendiam fazer um curso, sendo que pouco mais da metade tinha a intenção de fazer um pelo Ensino a Distância. Então, as pessoas buscam essa capacitação para poder trabalhar em empresas que exigem outros skills. “No mundo pós-Covid, as habilidades socioemocionais são essenciais para sobreviver no mercado de trabalho. Além da adaptação ao digital, esse mundo novo exigirá do profissional uma nova forma de agir e atuar diante dos outros”, ressalta Wilma.
Os próprios cursos de educação profissional estão passando por algumas mudanças. A sociedade, as empresas e a educação devem dar conta deste novo desafio. “Os negócios, por exemplo, precisam ter um olhar de parceria, de compartilhamento e construção coletiva”, destaca Wilma.
Mesmo dentro de casa por questões de saúde e segurança, não se deve parar. O momento é ideal para crescer profissionalmente e se capacitar em cima de skills que ainda não tem. São habilidades, conhecimentos e competências que devem ser trabalhados de uma forma interativa com instrutores especializados. Entre as competências socioemocionais dentro desta nova realidade, a diretora de educação do Senac-RJ destaca:
1. Empatia: essencial para viver em sociedade
2. Emoção: é preciso ter sensibilidade para perceber o outro. É necessário estar junto e compartilhar
3. Ética e transparência: sem elas não é possível prosseguir
4. Aprendizagem ao longo da vida: com pandemia ou na nova realidade, o importante é continuar aprendendo