MAI/JUN 2025 - Edição 259 Ano 38 - VER EDIÇÃO COMPLETA

O papel estratégico da análise de dados na gestão empresarial digital

26 de junho de 2025 | por Daniel Carnaval e Sávio Andrade

Vivemos hoje em um mundo no qual o acesso imediato, ou quase imediato, a dados já é uma realidade. Em seu best-seller “A Estrada do Futuro”, Bill Gates conseguiu prever com precisão como a interconexão global transformaria a realidade das pessoas. De acordo com o ex-presidente da Microsoft, “a ligação entre as pessoas, apesar da distância física, ficará cada vez menor. Tudo isso por causa da tal estrada virtual da informação”.

Um clique (que pode ser substituído por um toque na tela ou comando de voz; “Ei, Siri”, “Ok, Google” ou “Alexa”) e os dados estão ali, disponíveis e prontos para serem interpretados e utilizados de acordo com a necessidade do usuário. Porém, como explorar essa verdadeira massa de dados da melhor maneira possível em uma realidade transformada pelo digital, quando o usuário é uma organização ou empresa?

análise de dados
Daniel Carnaval – Advogado no Machado Meyer.  Mestre em Sociologia pela UFMG. Especialista em Direito Civil e Direito Penal pela PUC Minas.  Cursando MBA em Ciência e Análise de Dados pela USP

Nesse contexto, a gestão baseada em dados (data-driven management) deixa de ser apenas um diferencial, tornando-se uma necessidade para a sobrevivência e o crescimento sustentável de qualquer empresa.

Podemos compreender os dados como petróleo – uma comparação já conhecida. Na forma bruta, eles têm pouco valor, mas, quando refinados e analisados com método, podem se tornar uma fonte valiosíssima de conhecimento, inovação e riqueza. Assim, é inegável que aquelas empresas que conseguirem coletar, organizar, analisar e, principalmente, interpretar dados de maneira eficiente conseguirão entender melhor o mercado em que atuam, podendo até mesmo antecipar tendências e oportunidades, bem como mitigar riscos e tomar melhores decisões.

Segundo estudos da KPMG, empresas que atuam de maneira orientada a dados podem crescer mais ao ano quando comparadas àquelas que decidem com base na intuição ou experiência. Não é para menos, já que a análise crítica e metódica dos dados facilita a tomada de decisões embasadas. Nesse cenário, os dados desempenham um papel central para os gestores. 

Sem esquecer que a integração dos dados com ferramentas tecnológicas, principalmente a IA, traz uma visão ainda mais abrangente dos negócios e do mercado, identificando correlações e tendências que passariam despercebidas em análises tradicionais, permitindo que as empresas se antecipem às mudanças do mercado e personalizem suas ofertas de acordo com o perfil de cada cliente. Dessa forma, a combinação entre dados bem estruturados e tecnologias avançadas potencializa a capacidade de inovação, tornando as organizações mais ágeis, competitivas e preparadas para os desafios do futuro.

A análise dos dados empresariais responde a perguntas críticas, como, por exemplo: Quais são os meus clientes mais rentáveis? Onde estão os gargalos operacionais? Como está o meu desempenho em comparação aos concorrentes? Quais estratégias de marketing geram maior retorno sobre o investimento? Quais fatores influenciam a satisfação e a retenção dos clientes? Como prever demandas sazonais e ajustar estoques de forma proativa? 

análise de dados
Sávio Andrade – Sócio de Inovação e Legal Tech do Machado Meyer. Secretário-Geral da Comissão de Inovação e Tecnologia da OAB/SP.  Mestre em Direito e Tecnologia pela Escola de Direito FGV-SP, com MBA em Gestão de IA, Data Science e Big Data pela PUC-RS

Fica claro, dessa forma, que a abordagem de ciência de dados repercute em diferentes áreas da empresa, desde o planejamento estratégico até a gestão de pessoas, logística e relacionamento com o cliente, promovendo decisões mais embasadas e assertivas.

No campo da gestão jurídica, o uso de dados tem promovido verdadeiras revoluções. Indicadores jurídicos são analisados para gerar insights valiosos para a gestão. Por exemplo, os dados permitem identificar pontos de melhoria na atuação junto ao Judiciário. Também ajudam a detectar casos de litigância predatória, ou seja, processos repetitivos ou abusivos. Além disso, é possível mapear oportunidades para implantar políticas de acordo, tornando a resolução de conflitos mais eficiente. Contribuem ainda para maior precisão no provisionamento contábil, facilitando o controle de riscos e custos. Por fim, a análise de informações aponta áreas que precisam de aperfeiçoamento em estratégias e teses de defesa. Dessa forma, a gestão jurídica baseada em dados torna-se mais eficiente, estratégica e alinhada aos objetivos da organização.

Importante frisar que uma gestão orientada por dados não é a simples implementação, no ambiente empresarial, de diversas tecnologias sem qualquer tipo de mudança na cultura organizacional. É necessário compreender que a transformação para uma cultura orientada por dados vai além do uso da tecnologia: trata-se de uma mudança profunda na mentalidade da organização, em que decisões passam a ser fundamentadas em evidências concretas extraídas dos dados disponíveis. Isso implica investir em capacitação, promover a colaboração entre áreas e incentivar a curiosidade analítica em todos os níveis hierárquicos. Somente com esse engajamento coletivo é possível extrair o máximo valor dos dados, tornando a empresa mais ágil, inovadora e capaz de antecipar tendências e riscos, consolidando uma vantagem competitiva sustentável no cenário jurídico e empresarial.

A opinião dos autores não reflete, necessariamente, a opinião da Abrasce.

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