
A visão diferenciada do Grupo Mário Valadares para os negócios
Conheça um pouco da história de sucesso da companhia, que investe em outlets, autoshopping e shoppings populares
Com uma trajetória marcada pela ousadia e visão empreendedora, o Grupo Mário Valadares se consolidou no mercado de outlets no Brasil. Iniciando sua jornada nos anos 80 com a criação de um bar inovador e exclusivo para mulheres, o empreendedor Mário Valadares foi capaz de antecipar tendências e transformar espaços, sempre com um olhar atento às necessidades do consumidor. De transportadora a shopping popular e outlets, sempre criou modelos de negócios que se destacam pela originalidade e pela capacidade de transformar desafios em grandes oportunidades. Atualmente, segue com planos de expansão em alguns ativos e, ao mesmo tempo, visa ampliar a capilaridade com novos negócios. Hoje, os empreendimentos ficam concentrados em Guarulhos, Contagem e Belo Horizonte. No pós-pandemia, a companhia ainda fez aquisição do BH Outlet Só Marcas, ampliando seu portfólio, que conta ainda com os Shoppings Oiapoque, Só Marcas Outlet Guarulhos e Contagem, o AutoShopping e o Shopping do Avião. Em entrevista à Revista Shopping Centers, Valadares nos conta sobre essa jornada tão vencedora.

Revista Shopping Centers – Como se deu a sua entrada para o mundo dos negócios?
Mário Valadares – Minha história empresarial começou em 1984, quando montei o bar Aloha, com uma proposta só para mulheres, inclusive, tínhamos bebidas para atender esse público. Foi muito inovador e um sucesso, sendo o bar número 1 de Belo Horizonte, eleito pela Revista Veja todos os anos. Um lugar com mulheres bonitas também atrai homens. Depois, fiz uma expansão para o andar superior, que chamava Upstairs, em 1987, e também trouxe um novo conceito, porque o bar ficou ao centro e a pista de dança no canto, diferentemente das boates da época, o que, hoje, é denominado lounge. Como era formado em computação, neste tempo, eu trabalhava no segmento de informática. Então, minha mãe administrava o bar durante a semana e, nos fins de semana, era minha vez. Como sempre fui empenhado e gostava de exercer todas as funções, também fazia o atendimento como garçom. Chegou um momento em que decidi vender a minha parte nos negócios a meu irmão – que era meu sócio – para poder montar a transportadora Meridional.
Por meio do bar, eu conheci muitas pessoas do segmento da moda que o frequentavam, então, abri a transportadora dirigida ao mundo da moda. Logo, identifiquei que o mostruário precisava de uma tabela diferenciada e criei um frete de menor valor para pequenos volumes de até 5 kg. Com isso, ganhei mercado. Também assumi o compromisso de fazer entrega em 24 horas. Então, a transportadora cresceu demais e, obviamente, ela se adequou às necessidades da moda. Atendi o segmento têxtil e marcas como Farm, Animale, Forum, Zoomp e Ellus, pois, quando se segmenta, é possível consolidar a carga.
RSC- Em que momento vislumbrou o segmento de shopping. Como foi o início desta trajetória no setor?
MV – Meu primeiro investimento foi o Shopping Oiapoque, em Belo Horizonte, um ativo popular como os shoppings da região do Brás, na cidade de São Paulo. O imóvel histórico de 1916 abrigava antes uma antiga cervejaria, a primeira de Minas Gerais, mas estava desativada há muitos anos. No local, existiam aproximadamente 200 camelôs em frente. Como a construção era um quarteirão inteiro, inicialmente, conversei com eles para que se remanejassem da rua para um dos pátios da edificação e o restante do espaço seria destinado a um centro de distribuição da transportadora Meridional. Porém, vi um potencial enorme nos vendedores informais. Então, em vez de colocar a transportadora, resolvi expandir para um shopping popular. O imóvel estava todo depredado e já fazia 10 anos que estava à venda. Ficava inserido em uma área de muita criminalidade e prostituição e com todos esses camelôs em frente. Expandi e fiz um shopping popular, o qual foi fundado em agosto de 2003 e tem a fachada tombada. Em 2006, levei uma comitiva de camelôs para a China e abri um canal para que pudessem importar. Esse foi um dos turning points da história da companhia, pois, com isso, eles passaram a obter preços melhores e formalizar. Hoje, o Shopping Oiapoque de Belo Horizonte tem mais de 1 mil lojistas e um fluxo de, aproximadamente, 40 mil pessoas por dia, sendo o maior shopping popular de Minas Gerais e, talvez, um dos maiores do Brasil.

RSC – A partir daí, foi um movimento natural olhar para o segmento de outlets?
MV – Eu tinha várias filiais da transportadora em cidades como São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro, entre outras. Uma delas ficava na rodovia Fernão Dias, sendo um local de muito fluxo e visibilidade, próximo da divisa de Contagem e Belo Horizonte. “Nesta época, às vezes, os executivos vinham direto pegar o mostruário. Certo dia, durante uma visita destas, um dos diretores da Ellus me deu a ideia de fazer um outlet neste local. Daí, fiz um galpão na frente e comecei a investigar esse mercado. O SP Market e o Shopping D tinham tentado montar outlets com marcas nacionais, mas não deram certo. Porém, o Outlet Premium, em Itupeva (SP), estava em ascensão e, quando o visitei, observei que as marcas internacionais sabiam operar esse modelo de negócio. A partir disso, contratei alguns dos profissionais do Outlet Premium, inclusive, o arquiteto. O time comercial trouxe a Nike para esse galpão em Contagem. Esse primeiro teste deu muito certo e, com a Nike, vieram outras marcas majoritariamente esportivas e criamos uma identidade diferenciada dos demais. Coloquei o nome Só Marcas e busquei as marcas internacionais, principalmente esportivas. Então, desde o início, tive um bar para mulheres, tinha uma transportadora para moda e um outlet esportivo. Todos sempre com um diferencial. A partir do Só Marcas Outlet Contagem, abrimos em Guarulhos, na rodovia Dutra.


RSC – Em que momento decidiu investir no Shopping Avião e AutoShopping?
MV – Eu queria expandir em Contagem, mas o terreno ao lado era uma fábrica e na esquina havia uma agência do banco Bamerindus, que também não tinha interesse em vender. Então, eu fiz a aquisição desse imóvel que fica a duas quadras do outlet em uma avenida de muito fluxo, que liga a via expressa da rodovia Fernão Dias, com a ideia de fazer o outlet. Porém, eu percebi que existia uma vocação para o segmento automotivo nesta região. Tinham várias concessionárias e revendas de seminovos no entorno. Finalmente, consegui comprar o imóvel do Bamerindus e fiz um projeto de verticalização para o outlet, onde eu montei o AutoShopping, no qual o cliente encontra no mesmo lugar as revendas e algumas operações de varejo na parte do shopping como Decathlon, Apoio Mineiro, Petz e Tramontina. Em gastronomia, temos operações temáticas Somadruga, Mundo Animal e ainda Gastropub The Chris, uma referência ao seriado Todo Mundo Odeia o Chris, entre outras. Tem ainda o Hangar Parrila & Chopp e uma loja de conveniência grande.
RSC – Como se deu a escolha do mix do Shopping do Avião que está integrado ao AutoShopping?
MV – O local já tinha uma faculdade vizinha, de 12 mil ㎡, que precisava de uma área de estacionamento. Neste período, a rede de atacarejo Apoio Mineiro me procurou para montar uma operação neste local. Depois, outros varejistas entraram em contato, como Petz, Americanas e Tramontina. Então, fizemos essas operações e o Auto Shopping veio em um terceiro momento, ocupando o segundo piso e, depois, o terceiro piso. São aproximadamente 35 revendas de seminovos, que venderam 800 carros em fevereiro deste ano, o que corresponde a uma média de mais de 20 carros por loja, sendo que cabem 15 automóveis por revenda. Então, girou o estoque uma vez por mês, o que é muito bom. Como está em uma ascensão enorme, agora estamos com projeto de expansão. No quarto piso, fica a Decathlon e, depois, fizemos um polo gastronômico. Agora, está vindo uma unidade do Uai (Unidades de Atendimento Integrado). Há ainda um quinto andar destinado à realização de shows, onde acontece a Feira do Mineirinho, aos sábados e domingos, recebendo grandes nomes da música.
RSC – Em 2022, o que motivou a aquisição do BH Outlet, que passou a se chamar Só Marcas BH Outlet?
MV – Foi o fato de não terem as marcas esportivas e já ter algo de moda. Desde a aquisição, levamos praticamente 80% das marcas esportivas e o empreendimento teve um boom também, pois essas operações ocupam 30% da ABL do outlet e representam 70% da venda bruta.
RSC – Existem planos de expansão para os ativos?
MV – Compramos um imóvel adjacente ao Só Marcas Outlet Contagem e estamos fazendo uma vila temática como se fosse a cidade mineira de Ouro Preto. Será um polo gastronômico com algumas lojas em uma área de 12 mil ㎡. Com isso, o ativo deve chegar a 25 mil ㎡ de ABL e 40 mil ㎡ de área construída. Teremos ainda um parque de dinossauros da Magic Games de 2.500 ㎡.



RSC – Está nos planos da companhia investir em greenfields ou aquisições?
MV – Estamos sempre analisando o mercado. Somos sempre convidados a participar de operações, alguns shoppings nos procuram para montarmos um outlet esportivo dentro de um shopping convencional como se fosse uma âncora. Estamos avaliando algumas propostas, mas temos o perfil de não termos sócios e ter todo o investimento sendo feito pelo Grupo Mário Valadares. Estamos olhando Brasília e a região da rodovia Raposo Tavares e novidades devem vir ainda esse ano.
RSC – O Grupo Mário Valadares gera quantos empregos diretos e indiretos e qual é o número total de lojas dos ativos?
MV – Temos aproximadamente 1.500 inquilinos e geramos, aproximadamente, 13 mil empregos em nossos sete empreendimentos.


RSC – Como analisa o consumidor de outlet nos dias atuais?
MV – Historicamente, o consumidor de outlet tem desejo por marcas, porém não possui um poder aquisitivo para comprar essa marca no shopping convencional. Hoje, com todo o endividamento, a classe A também está comprando em outlet. Não é mais só classe média. Então, nosso outlet de shopping oferece uma infraestrutura para receber esse cliente, por exemplo, o piso é de granito, temos climatização, o time é orgânico, o que oferece um melhor atendimento desde o estacionamento, enfim, tudo com o perfil de shopping, porém é um outlet. Em nossos empreendimentos, o cliente busca qualidade e preço.
RSC – Como analisa o papel da Abrasce em defesa do setor?
MV – Somos muito participativos em projetos e treinamentos realizados pela associação. Acredito que a Abrasce tem uma visão macro do que está acontecendo e passa isso para os associados, o que é de suma importância.