SET/OUT 2024 - Edição 255 Ano 37 - VER EDIÇÃO COMPLETA

Símbolo do desenvolvimento do litoral paulista, Grupo Mendes amplia investimentos

10 de outubro de 2024 | por Solange Bassaneze / Fotos: Divulgação
Companhia anuncia construção de greenfield e foca ainda no mercado de energia limpa no interior paulista

O Grupo Mendes investe em um greenfield em Praia Grande (SP), a partir de 2025, ano em que a empresa completará 50 anos. Com uma história sólida em incorporação imobiliária, no setor de shopping centers e em serviços, é o maior empreendedor do litoral paulista. Após a pandemia, resolveu novamente diversificar os negócios e investir em geração distribuída. As fazendas de energia fotovoltaica ficam localizadas no interior de São Paulo, sendo o único negócio fora da Baixada Santista. Em entrevista à Revista Shopping Centers, Paulo Mendes, CEO do Grupo Mendes, conta sobre a expectativa da companhia para essa atividade, resgata momentos da gestão do saudoso Armênio Mendes – seu pai – e fala sobre desafios atuais e futuros. Considerando todas as áreas de atuação, a empresa ainda gera cerca de 1 mil empregos diretos e mais de 20 mil indiretos. Uma trajetória de muito respeito, em que novas páginas são construídas a cada ano. 

Revista Shopping Centers – Com quase cinco décadas, o Grupo Mendes evoluiu ao longo dos anos. Quais foram os momentos mais marcantes que moldaram essa trajetória até aqui? 

Paulo Mendes – Em maio de 2025, completaremos 50 anos de existência. A primeira empresa foi a Miramar, fundada em 1975, que existe até hoje. Após quase 20 anos de atuação somente na área de incorporação, na gestão do meu pai, Armênio Mendes, buscou-se diversificar os negócios. Então, ele investiu no Miramar Shopping, localizado no Gonzaga, e fez dois hóteis – Mendes Plaza e Mendes Panorama – e um Centro Empresarial, um complexo no Gonzaga, na cidade de Santos. Tivemos ainda a inauguração do Praiamar Shopping, um excelente empreendimento tanto no âmbito da cidade como do Brasil, que fez com que a empresa atingisse outro patamar. Em 2022, fizemos outra diversificação após refletirmos bastante sobre o que aconteceu na pandemia. Claro, todo mundo que sobreviveu a crise sanitária, ficou mais forte. Buscamos outras atividades, procurando o setor de capital intensivo e tivemos a oportunidade de olhar para o mercado de energia solar no momento certo, um pouco antes do Marco Legal da Geração Distribuída, o que se fez com que o que se tinha em relação a esse assunto permanecesse até 2045. Entramos fortemente e temos certeza que, em 10 anos, a INEER Energia será uma das maiores divisões do Grupo Mendes. 

RSC – Seu pai, Armênio Mendes, sempre foi um visionário e atuou no desenvolvimento do litoral paulista. Como presidente do Grupo Mendes, quais os valores deixados por ele que continuam presentes na companhia? 

PM – Fizemos recentemente um trabalho de cultura para colocar no papel o que praticamos e o que ele já praticava. Temos como valores: integridade, respeito, servir o cliente seja interno ou externo, melhoria contínua, agilidade, foco em resultado, comprometimento de dono e qualidade. A sucessão é algo muito difícil, principalmente quando tem que suceder alguém marcante com a identidade do grupo, porque a comparação é inevitável e a expectativa que se gera é muito grande. Para facilitar esse processo, eu tive que tomar as decisões com base naquilo em que acreditava, nas minhas ideias e perspectivas. Não ficava muito preocupado em pensar no que meu pai faria naquele momento. Isso pode ser até um norte, mas não faz com que alguém esteja inteiro na decisão. No entanto, nunca abri mão de tomar qualquer decisão sem usar os valores que ele deixou marcado no grupo. Isso é essencial. 

GRUPO MENDES
Paulo Mendes, CEO do Grupo Mendes
RSC – Agora, gostaria que contasse como se deu a entrada no grupo e se já convivia desde muito cedo com assuntos relacionados aos negócios. Era um tema recorrente nos almoços e jantares em família? 

PM – Comecei a trabalhar com 15 anos porque eu nunca fui um bom aluno – parte que não me orgulho muito. Minha mãe sempre tentava me puxar para os estudos e, depois de várias tentativas, recorreu ao meu pai. Como ele sempre foi direto e objetivo, me deu dois caminhos: me empenhar na escola ou trabalhar com ele. Neste momento, perguntei quando ele gostaria que eu começasse. E isso aconteceu há mais de 30 anos. Foi uma forma de ele me preparar. Entre as atividades, comecei no estacionamento e, na sequência, passei a atuar na área de controladoria dos hotéis. E isso de alguma forma me moldou um pouco, pois tive a oportunidade e o privilégio de vivenciar o desenvolvimento e a implantação de um sistema. Essa experiência enriquecedora me deu uma linha de raciocínio lógico, fez com que eu entendesse o porquê das coisas. Nos hotéis, fui subindo de cargo até atingir a gerência geral aos 25 anos de idade. Neste momento, decidi tentar uma carreira solo. Em sociedade com meu irmão, construímos e fomos proprietários de um motel. Depois, construímos outra unidade em Campinas (SP). De alguma forma, eu tive como me testar como empresário. Logo quando compramos outro motel em São Paulo, meu pai inaugurou o Brisamar Shopping, em São Vicente (SP). Daí, retornei à companhia e assumi a diretoria dos malls. Com o falecimento do meu pai, eu assumi a presidência do Grupo Mendes. Fazendo um resgate de memórias dos momentos em família, me recordo que, quando eu era moleque, um dos meus prazeres era ficar ouvindo as conversas dele com os amigos, que se resumia em negócios. Gostava daquele ambiente. Com certeza, esse amor pelos negócios tem muito destes momentos vividos ainda criança, antes mesmo de eu começar a trabalhar. Captei muitos dos ensinamentos dele e de seus amigos, sendo os mais relevantes os do meu pai.

GRUPO MENDES
Brisamar Shopping, inaugurado em 2007, em São Vicente, fica a uma quadra da praia do Gonzaginha
RSC – O fato da empresa atuar na incorporação imobiliária, setor de shopping centers, serviços e energia, como se dá a sinergia entre os diferentes segmentos?

PM – Temos quatro divisões e são relativamente distintas uma das outras. A construção e a incorporação têm um ciclo curto – de três a quatro anos –  com relação ao capital intensivo com a característica de serem realizadas uma única vez com resultado alto. Tem a parte venda, na qual não realizamos, mas auferimos resultado mensalmente. O valor é menor do que o capital investido, porém perene e tem a possibilidade de agregar valor, isso me referindo especificamente a shopping. Bem, diferente da incorporação. Em serviços, temos a hotelaria, algo totalmente distinto, e temos a parte de energia, de capital intensivo, mas, optamos pela geração distribuída na qual vendemos para os pequenos consumidores, a qual também é perene. Há uma certa semelhança com a parte de renda, tendo um alto investimento no início e depois tem um resultado ao longo tempo. Pensamos no Mercado Livre de Energia com o objetivo de produzir para as nossas unidades consumidoras. Por conta do Marco Legal de Energia Solar, quando entramos neste segmento, optamos por vender a energia de forma pulverizada e, em um segundo momento, comercializaremos para os nossos empreendimentos e para outros parceiros. Haverá uma sinergia muito grande quando estivermos nesta segunda fase. Pretendemos visitar esses nossos locadores e oferecer energia em igualdade de condição. Com relação à incorporadora, a sinergia talvez esteja na retaguarda. Nós gostamos muito de greenfield, somos incorporadores e construtores, desenvolvemos e construímos os shoppings. Conseguimos entregar um empreendimento de nível a um custo razoavelmente mais baixo por conta da estrutura que temos na incorporadora e isso é mais retaguarda do que na parte de front.

RSC – A geração de energia solar está concentrada no interior de São Paulo, sendo o único negócio do Grupo Mendes fora do litoral paulista. Gostaria que me falasse mais sobre esses locais. 

PM – Na geração distribuída, as fazendas têm capacidade máxima de 5 MW (megawatts) por limitação da lei. As nossas são de 2 e 3 MW. Temos parecer para produzir 144 MW e estamos comprando pareceres ainda. Dos 144, 117 foram desenvolvidos internamente e compramos o restante. A gente continua prospectando e acreditamos que ficará estabilizado próximo a 200 MW, o que significa que teremos de 50 a 60 fazendas, o que depende muito dos pareceres que iremos comprar. Todas estão no interior de São Paulo. Primeiramente, prospectamos onde queríamos explorar a venda de energia já que é preciso vender onde se gera. Buscamos as cidades com mais insolação. Temos fazendas em municípios como Boituva, Itu, Iperó, Porto Feliz, Sorocaba, Jundiaí, Alumínio… Temos como parceiro a CPFL Piratininga, a CPFL Paulista e Elektro, em breve, estamos prospectando a CPFL Santa Cruz, todas no estado de São Paulo.

RSC – Há planos de investimento em greenfields? 

PM – Temos um terreno grande em frente à Prefeitura de Praia Grande e fica uma área nobre da cidade com um potencial muito grande de crescimento, o que nos seduziu bastante para adquirir o terreno. Desenvolvemos um projeto de greenfield e já está aprovado. Trata-se do Vilamar Shopping. A ideia é começarmos essa construção em agosto de 2025 e a previsão de entrega prevista é agosto de 2027. No final de outubro deste ano, começaremos a prospectar as âncoras e, no primeiro semestre de 2025, as satélites. A expectativa é muito grande e o shopping é de porte médio para grande, com 41.900 ㎡de ABL e 170 mil de ㎡ de área construída. e estamos em negociações avançadas para que esse empreendimento também abrigue um hospital, o qual provavelmente terá firmado contrato até o final do ano.

RSC – Quais foram os últimos investimentos em expansões? 

PM – Temos uma dificuldade em Santos pelo fato dos terrenos serem bem escassos. Quando se consegue uma área razoável, já a ocupamos em sua plenitude. Então, é difícil ter a possibilidade de expandir. Fizemos uma mudança de uso de uma área construída, onde era explorado um bingo, logo na época em que se fecharam esses locais, e tinha ainda um parque de diversões. Era uma área pouco rentabilizada e movimentada. Em 2005, entregamos o lounge, trouxemos marcas de renome e conseguimos mudar o perfil de público naquele espaço. As nossas expansões se dão mais fora do que dentro do shopping. Em 2018, inauguramos o Praiamar Corporate, um empreendimento multiuso em frente ao Praiamar, interligado ao ativo por uma passarela, com 100 apartamentos residenciais, um hotel da rede Sheraton e 400 salas corporativas. Em ABL, é maior do que o shopping, tendo 44 mil ㎡ de ABL ante os 40 mil ㎡ de ABL do centro comercial. Neste prédio, trabalham 5.500 pessoas diariamente, então, o fluxo que esse edifício corporativo propícia ao shopping é muito grande. Costumo dizer que é desenvolver as âncoras fora do mall. 

Localizado em Santos, o Praiamar Shopping recebe mais de 1 milhão de visitantes mensalmente
RSC – O setor de shopping centers evoluiu e se transformou nos últimos anos de forma acelerada. O que o Grupo Mendes adotou para criar uma experiência mais personalizada e atraente para os visitantes?

PM – A pandemia trouxe vários questionamentos, especialmente para o setor de shopping. Muitas pessoas questionaram as formas de ensino, trabalho, compras. Obviamente, temos que estar preparados para o futuro, mas acredito que é preciso ter um pouco de calma. Quase não tivemos devoluções no edifício do Corporate neste período, claro, que não tivemos também mais locações de 2020 ao primeiro trimestre de 2022. Assim como eu acredito que o ensino presencial é insubstituível já que envolve uma série de fatores, entre eles, o relacionamento da comunidade escolar. O shopping não é só compra, envolve entretenimento, passeio, com opções de gastronomia… e muitas das compras são realizadas por impulso. Pensamos no futuro do comércio, respeito muito a compra online, mas continuo acreditando no shopping, o qual precisa de pequenas alterações. É preciso investir mais em experiência para que se crie um ambiente propício e acolhedor para o cliente. Dá para existir de forma harmônica o digital e o físico. Alguns segmentos perderam força como perfumarias, livrarias, eletroeletrônicos e eletrodomésticos já que o produto é o mesmo em qualquer plataforma, diferentemente do setor de vestuário, em que provar uma peça faz toda a diferença. Fortalecemos também o mix de entretenimento e a gastronomia. 

RSC – Como estão as vendas, o fluxo e as taxas de ocupação até esse momento do ano de 2024 e qual é a expectativa até o fim do ano?

PM – Apesar do cenário desafiador, estamos indo bem. Nos primeiros cinco meses do ano, o índice de correção foi negativo, então, não tivemos aumento em nossos contratos vigentes, somente nos novos. Mesmo assim, em relação à parte de malls, estamos crescendo na ordem de 13%. As vendas estão em alta: o Praiamar, na ordem de 8%, e o Brisamar, de 12%, o que está bem satisfatório. A ocupação está acima dos 98%, em linha com outros anos. Não gostamos de trabalhar com o shopping 100% locado, pois a vacância permite aproveitar algumas oportunidades. O fluxo de visitantes está inferior à pré-pandemia, mas, por mais que houve uma queda, a conversão é muito maior hoje do que antes. 

RSC – Quais são as iniciativas do Grupo Mendes em termos de sustentabilidade e responsabilidade social nos shopping centers?

PM – Estamos investindo um valor considerável, tendo em vista que a maior divisão do grupo daqui a 10 anos será de geração de energia solar. Optamos pela solar por ser rápida de implantar e envolver menos burocracia, mas, principalmente, por ser limpa. Hoje, não cabe pensar diferente. Temos ainda várias ações sociais com uma política e orçamento voltados para isso, procurando atender as cidades onde atuamos de forma não recorrente. Gostamos de desenvolver projetos e o desafio é poder fazer com que essas organizações tenham iniciativas que se encaixem em nossas características. Vejo que a tendência é se acelerar um pouco mais e essa verba é extraída de uma fração do nosso resultado.

RSC – Como avalia o trabalho desenvolvido pela Abrasce em defesa do setor?

PM – Na pandemia, o presidente Glauco Humai e toda a equipe da Abrasce tiveram um trabalho incessante e fizeram negociações habilidosas e assertivas com os governadores. Por mais que o setor tenha sido impactado, sofreu menos por conta do mérito da Abrasce. Hoje, estamos vivendo outro momento desafiador com a Reforma Tributária. A entidade tem se empenhado bastante para passar a verdade deste importante setor da economia, que gera muito emprego e atrai desenvolvimento. Não sabemos ainda exatamente as modificações que, eventualmente, serão propostas pelo Senado e aprovadas em última instância. Estou confiante e seguro no trabalho desenvolvido pela Abrasce.

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