
Saga Malls segue com foco no crescimento orgânico
Projetos de expansão e qualificação do mix dos ativos são a estratégia para 2025
Consolidado no Centro-Oeste, o Grupo Saga conta com 105 revendas de automóveis e soma mais de 50 anos de expertise no varejo. Entrar no ramo de shopping centers foi um movimento natural. A experiência em real estate de Fernando Maia, CEO da Saga Malls e presidente do Conselho Estatutário do Grupo Saga, fez com que a companhia passasse a ver as oportunidades deste negócio. Atualmente, possui seis ativos: Araguaia Shopping, Estação Goiânia, Aparecida Shopping, América Shopping, na região metropolitana de Goiânia; DF Plaza Shopping, em Brasília; e o Várzea Grande Shopping, na região metropolitana de Cuiabá. Os investimentos em expansões devem continuar e o mix qualitativo vem sendo trabalhado continuamente. Além disso, ambos negócios têm uma sinergia enorme, especialmente, no que se refere à atendimento e análise de dados dos clientes, sempre com o foco em melhorar a jornada do consumidor. O ano de 2024 foi de crescimento em vendas e fluxo com alta taxa de ocupação. Maia nos conta um pouco sobre a história de uma companhia, que faz a diferença nas regiões onde atua.

Revista Shopping Centers – Como avalia os anos de atuação da Saga Malls, divisão de negócios voltada ao setor de shopping centers? Quais foram os momentos mais marcantes desde a entrada do grupo no segmento de shopping centers?
Fernando Maia – Fazemos parte de um grupo de varejo, fundado há 52 anos, então, sempre tivemos esse DNA de ‘umbigo no balcão’. Como atuava no mercado de real estate, inaugurei o Goiânia Shopping, o primeiro ativo deste setor desenvolvido por nós há 30 anos, mas ainda não era sob a bandeira da Saga Malls. A Saga Malls foi criada em uma data icônica, em 11 de novembro de 2011, nosso número de sorte. Quando nasceu, já era fruto de uma experiência de vários empreendimentos que eu tinha desenvolvido na pessoa física com o perfil de real estate. Hoje, temos seis equipamentos, mas, claro, desenvolvemos mais do que isso. Os momentos mais marcantes foram os três primeiros empreendimentos: o Goiânia Shopping (1995), que não está mais em nossa carteira; o Araguaia Shopping (2001), a primeira experiência de varejo com transporte no Brasil porque ele incorporou o terminal rodoviário e é um sucesso até hoje; o terceiro foi o Pantanal Shopping (2004), que também não está no portfólio, mas é marcante por ser fruto de um negócio falido que estava parado há 15 anos. O mercado de shopping centers amadureceu na década de 2010 em diante. Até então, era muito fechado em termos de oportunidade. Apesar de não haver barreiras tão determinadas, por uma questão de cultura, elas não eram latentes. Esses três empreendimentos aconteceram em um momento de inexperiência, falta de capital e conhecimento, mas de uma garra, vontade e juventude muito fortes. A Saga Malls é a continuidade disto. Se não houvesse essa cultura de varejo, isso não iria adiante. Isso se fortaleceu e crescemos. Daí, desenvolvemos mais de 10 empreendimentos, alguns vendemos e outros mantivemos no portfólio.
Outro momento marcante também foi a pandemia porque a carência ensina muito mais do que a abundância. A pandemia foi a resiliência, reinvenção, refação dos projetos e dos negócios, aceleração do processo de digitalização e do complexo multiuso. Para contrabalancear, os primeiros momentos nos deram muita força e os últimos testaram a força do setor.

RSC – Existe alguma integração dos negócios do segmento automotivo com a Saga Malls? Aliás, gostaria também que nos contasse sobre o desempenho desta área da companhia, já que a história do Grupo está ligada à comercialização de veículos.
FM – Temos 105 revendas, que representam 20 marcas do setor automotivo em cinco estados do Centro-Oeste. Trabalhamos com novos e seminovos e vendemos cerca de 85 mil veículos em 2024. Ao longo dos anos, passamos a atuar em toda a cadeia do ecossistema deste negócio, como seguros, acessórios, autopeças, consórcios e locações. Agora mais recentemente com motocicletas e bicicletas high-end. É gratificante ver que somos uma companhia cinquentenária com o dinamismo de uma startup. E estamos sempre crescendo: tivemos uma alta de 25% na venda de veículos no ano passado. Praticamos a mesma essência em todas as frentes de negócio. Temos um processo de continuidade e é sinérgico.
RSC – Quais são os pilares em comum trabalhado no Grupo Saga e na Saga Malls?
FM – Saga significa S.A. Goiás Automóveis e esse nome representa algo muito interessante, porque a palavra se refere à batalha e à superação. Naquele momento, isso foi criado sem maiores pretensões. Meu pai sempre teve um lado muito forte focado em pessoas e a nossa companhia faz parte o Great Place to Work há 20 anos. Então, como primeiro pilar, temos uma cultura de gente muito forte, de reinvestimentos, energia e relacionamento. O segundo pilar é o umbigo no balcão, como mencionei anteriormente, e até a alta liderança é hands-on. Temos ainda a inovação como pilar, sendo que o último projeto foi o Primeira Mão, uma marca de seminovos tão grande como as demais, que representou a venda de 30 mil veículos. Existe toda a tecnologia por trás, o automóvel é precificado por algoritmo, o CRM é extremamente ativo na geração de leads. E isso tudo somado gera uma cultura identitária e muito forte. Esse DNA é construído lentamente. Os pilares são gente, varejo forte agregado a serviços e a inovação é amarrada em uma cultura que se consolida a cada dia.

RSC – Houve novos investimentos na infraestrutura dos shopping centers nos últimos cinco anos?
FM – Temos três estudos de greenfields parados porque mudamos a estratégia a partir do pós-pandemia. Estamos com uma política contínua de investimento na modernização de todos os equipamentos. Expandir seis ativos é quase como investir em um greenfield em termos de geração de valor, de tráfego, de agregação de clientes etc. Isso tem se demonstrado uma atitude conservadora, mas, ao mesmo tempo, aumenta o share de mercado porque, ao final do dia, o que interessa é ganhar mais clientes e elevar as vendas. O greenfield é algo que tem que ser colocado com um pouco de cautela porque o mercado está relativamente ocupado e atravessamos um momento de uma instabilidade econômica maior, mas não deixamos de acreditar na indústria. O nível de risco de expansão é menor do que investir em um novo empreendimento. Em 2024, fizemos pequenas expansões, seja em retrofit, áreas de gastronomia, entretenimento e revitalizações. Acrescentamos um pouco de ABL e ganhamos muito em qualidade. Hoje, estamos identificados com a nova realidade de shopping centers porque investimos em ativos multiusos, com terminal rodoviário, hospital, centros empresariais, residenciais, serviços públicos e privados, gastronomia, entretenimento e até varejo. É a brincadeira que eu faço. Isso está absolutamente inserido na realidade da indústria. Para ser relevante, um empreendimento deve ter recorrência e, ao torná-lo multiuso, isso vira um binômio: recorrência com relevância e relevância com recorrência – um leva ao outro.

RSC – Quais são os principais fatores que influenciaram concentrar os investimentos na região Centro-Oeste do país?
FM – Meados de 1970, aconteceu uma revolução do agronegócio com a Embrapa. O cerrado até então não tinha apelo para a agricultura, apenas para a agropecuária extensiva. Então, o nível do Produto Interno Bruto (PIB) da atividade econômica do Centro-Oeste era extremamente baixo. Com essa revolução tecnológica e os avanços contínuos, passou-se a ter a agricultura de precisão. Com o agronegócio, houve um aumento populacional e do consumo. Há 65 anos Brasília não existia e, hoje, tem 3 milhões de habitantes. O estado de Goiás tem 7 milhões de habitantes e Goiânia é a segunda cidade do país em números absolutos de lançamentos imobiliários, perdendo apenas para São Paulo. Isso é fruto do crescimento do Centro-Oeste O Grupo Saga tem a cultura de imigrante, aqui, sabemos vender melhor, fazer networking e marketing. No Centro-Oeste, o mercado tem uma certeza bem maior porque o driver do desenvolvimento da exportação de carne e commodities agrícolas possui uma demanda muito forte mundialmente, onde o Brasil é extremamente competitivo.
RSC – Como avalia o ano de 2024 em relação às vendas, taxa de ocupação e fluxo de visitantes?
FM – Os nossos empreendimentos tiveram crescimento de vendas de 8 a 20% no ano passado. Atingimos uma taxa de ocupação média de 96,5%. Agora com a melhora do mercado, temos investido mais na qualificação dos equipamentos com a estratégia de um greenfield que demanda mais tempo de maturação. O nosso fluxo é de 40 milhões de pessoas, superando o índice da pré-pandemia. Apesar das trovoadas e tempo fechado que está se falando na economia em 2025, o ano de 2024 foi de crescimento econômico. Como nossos equipamentos estão maturados ou em fase final de maturação, então, entramos em um momento de inércia positiva, onde fica mais fácil de enfrentar a concorrência, de inovar, de viabilizar expansão e, assim, sucessivamente.

RSC – Como o mix dos shoppings da Saga Malls tem evoluído ao longo dos últimos anos e qual é a relevância destas mudanças para o consumidor?
FM – A grande mudança é a gastronomia com entretenimento. O cliente adiciona o prazer de estar no shopping com aquela convivência social. E isso é aliado à disponibilidade de espaços que, antes, não existia, porque o varejo convencional mudou e enxugou. Ele disponibilizou espaços nobres para a gastronomia que não tinham há 20 anos. Além disso, os visitantes aliam tudo isso à segurança. Em nosso caso específico, temos exemplos como a Universidade Estácio com 10 mil alunos (Shopping Estação Goiânia), interligação a um terminal rodoviário que movimenta 10 milhões de pessoas por ano (Araguaia Shopping), um hospital de alto padrão de pronto-atendimento com centro de diagnóstico em Várzea Grande. Cada vez mais, os prestadores de serviço buscam operar no shopping, entendem que os clientes têm tido essa adesão. O que observamos ainda no Centro-Oeste se refere ao clima mais quente, o que tem atraído uma série de varejistas de rua em função do conforto que o consumidor passou a exigir e os shoppings oferecem esse conforto térmico. Por último, acabamos de lançar um empreendimento em Várzea Grande de 80 salas comerciais e está totalmente vendido. Com isso, já lançamos a segunda etapa. A conveniência é a palavra-chave com a recorrência com a relevância.

RSC – Poderia ainda compartilhar de que forma a Saga Malls tem olhado e investido em inovação e tecnologia.
FM – Nós temos uma área com CTO (Chief Technology Officer), que tem uma equipe de cerca de 25 pessoas para atender o grupo inteiro, seja no desenvolvimento ou na atualização ou na busca ou gestão de parceiros. Esse plano estratégico trabalha com os dados captados dos clientes, em que, fundamentalmente, exploramos o que tem valor com integração, que pode vir dos shopping centers ou das revendas. Além de organizá-los, fazemos um compartilhamento destes dados porque vira lead e gera o retorno do cliente. Trabalhamos ainda essa base no CRM e temos utilizado a Inteligência Artificial, para nos aproximarmos dos clientes, otimizando o CRM e organizando a base de dados. Tudo isso só faz sentido se isso melhorar a experiência do cliente e já estamos colhendo frutos disso. Estamos muito mais assertivos. E isso é dinâmico, interativo e estimulante.
RSC – Pensando em 2025, qual é a perspectiva para os próximos meses?
FM – Viemos nos preparando. Do ponto de vista financeiro, somos uma companhia bastante conservadora, então, o crescimento tem sido orgânico tanto no segmento de automóvel como em shopping. No caso dos shoppings, estamos crescendo nos ativos existentes e os investimentos são feitos com 90% de recursos próprios, mantendo uma rigidez do financeiro, entendendo que os próximos anos serão desafiadores porque temos variáveis macroeconômicas desajustadas. A pandemia nos ensinou isso.
RSC – Atualmente, a companhia gera quantos empregos diretos e indiretos, considerando todas as frentes de negócios?
FM – Na área de automóveis, são 4.500 funcionários nas lojas, alguns de terceiros e tende aumentar porque abriremos mais dez revendas. Na gestão dos shoppings, temos cerca de 700 colaboradores entre diretos e indiretos, sempre como o desafio da retenção destes profissionais e de ensiná-los a aprender junto conosco. Não temos demitido ou enxugado o time porque temos crescido. Temos preparado os colaboradores para as expansões orgânicas. Os nossos shoppings somam uma ABL total próxima de 140 mil㎡ de ABL e em torno de 1 mil operações.
RSC – Como a companhia tem trabalhado a agenda de ESG?
FM – O ESG tem como bandeira o Instituto Saga, que organiza todas as ações. Nas lojas e nos shoppings, há gestão muito forte realizada com resíduos, que se transforma em recursos que são doados. Por exemplo, recolhemos 1 milhão de litros de óleo por ano. 100% dos recursos são investidos no social, especialmente com foco na educação. Somos parceiros de uma série de pequenas iniciativas, principalmente nas periferias.
RSC – O senhor já esteve à frente do Conselho Diretor da Abrasce e a Saga Malls é associada da entidade de longa data. Como descreveria o trabalho da entidade, que, em 2026, completará 50 anos.
FM – Nós temos uma vasta experiência porque fazemos parte de várias associações. A Abrasce está no topo do ponto de vista de organização, estrutura e atuação. Eu quero parabenizar, usando a pessoa do presidente Glauco Humai, simbolizando 100% do time. O dia a dia desta indústria é altamente demandado e a Abrasce faz uma entrega maravilhosa. Cito ainda a pandemia, que me envolvi inteiramente, o trabalho realizado foi excepcional. A entidade está entre as melhores. A atuação em relação à Reforma Tributária também é extremamente valiosa. Eu tenho orgulho de fazer parte desta associação e de ter contribuído um pouco com esta história.