SET/OUT 2024 - Edição 255 Ano 37 - VER EDIÇÃO COMPLETA
ESG

A arquitetura sustentável agrega valor às marcas

10 de outubro de 2024 | por Solange Bassaneze / Fotos: Divulgação
Investir neste conceito no ponto de venda é mais uma forma da empresa demonstrar o comprometimento com o meio ambiente

O pilar da sustentabilidade está em diversos setores da economia, o que é fundamental para o futuro do Planeta. No varejo e no setor de shoppings centers, há uma série de iniciativas implementadas, atendendo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas. Entre as tantas vertentes, a arquitetura é uma delas, que já tem esse olhar há muitos anos com grandes exemplos inspiracionais no Brasil e no mundo. Seguir a premissa da sustentabilidade é um caminho sem volta, mas é preciso ampliar ainda mais esse olhar, sempre demonstrando aos consumidores e stakeholders o que está fazendo de forma clara e transparente. 

Gigantes como Nike e Ikea apontam todas as iniciativas realizadas e ainda as metas a serem alcançadas. Atualmente, existe um maior acesso à informação com os relatórios divulgados pelas companhias. O Grupo Madero, que opera restaurantes próprios com as bandeiras Madero Steak House, Madero Container e Jerônimo, é um dos que demonstram como o ESG está atrelado diretamente aos negócios. No caso desta rede, isso se dá desde a concepção dos projetos arquitetônicos, sendo um dos players do varejo com mais certificações LEED do país. Lembrando que este sistema avalia uma série de questões como implantação, uso racional de água, eficiência energética, seleção dos materiais, qualidade ambiental interna, estratégias inovadoras e prioridades regionais. No Grupo Madero, existe ainda um sistema de destinação de refugos de obras. 

O Boticário também tem um compromisso sério com a sustentabilidade e convida o consumidor a fazer parte de algumas iniciativas, como é o caso do Boti Recicla, atualmente, o maior programa de reciclagem em pontos de coleta no segmento de beleza, com mais de 4,5 mil pontos de coleta e 15 cooperativas homologadas. Em 2020, O Boticário deu início a transformação de resíduos plásticos em lojas sustentáveis, em que o plástico reciclável é transformado em blocos para serem utilizados nas paredes, pisos e tetos. Cada loja sustentável tem, pelo menos, 1 tonelada de plástico reciclado na sua estrutura. Segundo dados do relatório de ESG 2023, já são mais de 60 lojas sustentáveis em formato contêiner espalhadas pelo Brasil. A Nike também transforma calçados usados, recolhidos em seus pontos de venda, em pisos para lojas. 

A Renner é mais um case, que fez investimentos em lojas mais sustentáveis, que seguem conceitos como reutilização, descarte adequado de materiais, menor geração de resíduos e de emissões de gases de efeito estufa (GEE), economia de água, uso de fontes renováveis e menor consumo de energia, instalação de equipamentos automatizados e espaços verdes. E esse movimento começou em 2021 com a abertura das duas primeiras lojas circulares nos shoppings Rio Sul e ParkJacarepaguá.

Ou seja, existe uma atenção de alguns players, mas é algo que requer planejamento e, muitas vezes, mais investimentos. Segundo Renato Diniz, sócio-fundador e diretor criativo do Estúdio Jacarandá, diante de todo cenário, de modo geral, essa ainda não é uma realidade no Brasil, mas, os eventos climáticos têm trazido essa consciência mesmo que tardiamente. “No varejo, envolve a questão de investimento, mas há um maior entendimento agora. Ainda não temos a demanda que gostaríamos, falta ainda uma consciência geral do mercado em priorizar a sustentabilidade nos projetos”, diz. 

Apesar de não estar mais ativo, esse quiosque da Make B., d’ O Boticário, assinado pelo Estúdio Jacarandá, em 2018, tinha uma inteligência de uso racional construtivo dos materiais, o que gerou menos resíduos. Foi premiado pelo Retail Design Institute

Na prática

Renato Diniz, sócio-fundador e diretor criativo do Estúdio Jacarandá

Hoje, há produtos sustentáveis em toda a cadeia, mas, geralmente, com maior valor agregado. No entanto, Diniz reforça o quanto é importante que os materiais especificados sejam de empresas com responsabilidade social e ambiental. “Sempre visitamos as fábricas para entender e conhecer mais sobre as empresas e somos rigorosos na seleção dos materiais que especificamos.” 

O escritório Fernanda Marques Arquitetura trabalha com arquitetura sustentável no varejo por meio da implementação de soluções arquitetônicas e materiais que promovem a eficiência energética e o uso de recursos adequados. “Além de projetarmos espaços que integram esses conceitos, também desenvolvemos produtos em parceria com marcas que tratam a sustentabilidade como um aspecto prioritário. Isso nos permite criar projetos que não só otimizam a operação das lojas, mas também atendem às expectativas do consumidor moderno, cada vez mais atento a práticas ecológicas”, conta a arquiteta Fernanda Marques.

Existem alguns materiais que ela costuma utilizar mais no varejo, como pedras naturais, madeiras de fontes responsáveis e estruturas metálicas.

“Eles são escolhidos pela durabilidade, estética e impacto ambiental reduzido. As pedras naturais oferecem longevidade e exigem pouca manutenção, a madeira proporciona uma conexão com a natureza, e as estruturas metálicas são eficientes e facilitam a construção com menor impacto ambiental”, diz Fernanda.

Diniz enaltece que uma das tendências é o uso de madeira engenheirada que vem para substituir as estruturas metálicas e deve ser algo visto com mais frequência daqui para frente e o upcycling também tem ganhado força novamente, mostrando a importância de se ressignificar o que já existe. Com tantas novidades, o Estúdio Jacarandá sempre atualiza toda a equipe sobre materiais, métodos construtivos, design de mobiliário e tecnologia, inclusive, visitando eventos internacionais.

Nos malls

Quando a execução se dá em um shopping center, os desafios são ainda maiores devido às limitações estruturais e restrições de tempo de reforma. “Muitas vezes, os espaços são pré-definidos, dificultando a adaptação de soluções sustentáveis, como ventilação natural ou aproveitamento da luz solar. Além disso, os prazos de execução de reformas tendem a ser curtos, o que demanda soluções criativas e inovadoras que integram sustentabilidade sem comprometer a funcionalidade e o cronograma da operação”, detalha Fernanda.

Arquiteta Fernanda Marques 

Diniz concorda:

“Em lojas de rua, é mais fácil, a depender do DNA da marca, ressignificar o espaço e gerar menos descarte de materiais”.

O Estúdio Jacarandá faz projetos para grandes redes de franquias e consegue ainda ter uma otimização neste tempo de projeto e de criação, com uma metodologia eficaz. “Escolhemos ainda métodos construtivos, que reduzem desperdício de materiais, além do uso racional de mobiliários ecológicos e com certificação. Nos envolvemos muito com a narrativa dos fornecedores com relação a isso”, afirma o sócio-fundador.

No caso das lavanderias OMO, Diniz afirma que essa característica de reaproveitamento na fase de obras e ambientar a loja com mínimo de custo possível é muito evidente.

Como muitas lojas buscam levar experiência ao cliente, esse também deve ser um ponto de atenção dos varejistas, já que esse olhar para o meio ambiente é mais uma forma de atrair e fidelizar este cliente. “Em um mercado altamente competitivo como o de shopping centers, não só contribui para a estética e eficiência do espaço, mas também cria um vínculo emocional com o consumidor. Ao integrar práticas sustentáveis, conseguimos proporcionar ambientes que ressoam com os valores de bem-estar e responsabilidade ambiental do consumidor moderno, fortalecendo a conexão entre o cliente e a marca”, diz Fernanda.

Isso pode ser visto ainda nos projetos Eco Parada Madero, desenvolvido pela arquiteta Kethlen Ribas Durski, e a Fábrica de Dengo, assinado por Matheus Farah + Manoel Maia Arquitetura. São sempre exemplos para se inspirar.

Mais uma forma de se comunicar

Segundo Diniz, as marcas têm cada vez mais a necessidade de expressar suas iniciativas ESG para o consumidor, seja no site, nas redes sociais, em eventos, na embalagem e, principalmente, nas operações. “Prefiro nomear os pontos de venda como pontos de conexão porque mudou demais essa relação dentro das lojas. É um espaço de diálogo da marca com o consumidor, comunicando o que está fazendo pelo cliente, para a comunidade e pelo mundo” Com isso, as áreas dedicadas ao storytelling especialmente ao ESG, história da companhia ou origem de produto têm sido uma constante, seja por meio de imagem, conteúdo audiovisual, de texto… 

“Como consumidor provoca isso, as lojas como ponto de contato também vêm se adaptando a essa mudança e trazendo essa transparência no ambiente da operação.”

O que tem sido mais inovador na concepção destes pontos de venda, segundo a arquiteta Fernanda, é uso de fachadas vivas e coberturas verdes, que contribuem para o isolamento térmico e reduzem o consumo de energia, além de criar uma conexão visual marcante. Além disso, a automação de sistemas de iluminação e o uso de LED ajustável oferecem flexibilidade e otimizam o consumo energético, promovendo uma experiência sensorial personalizada. Enfim, a arquitetura pode ajudar os players do varejo com ideias e soluções alinhadas à sustentabilidade.

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