MAR/ABR 2025 - Edição 258 Ano 38 - VER EDIÇÃO COMPLETA
ESG

Lojas colaborativas em shopping centers dão visibilidade e oportunidade aos pequenos empreendedores

16 de abril de 2025 | por Solange Bassaneze / Fotos: Divulgação

As lojas colaborativas têm ganhado destaque, como um espaço inovador e acessível para pequenos empreendedores e artesãos, oferecendo uma alternativa para quem busca expor e vender seus produtos de forma mais acessível e com maior visibilidade. Elas têm se tornado cada vez mais populares em shoppings e oferecem, em sua maioria, produtos autênticos. Ao abrir espaço para o trabalho manual e a criatividade de pequenos negócios, elas representam uma forma de fortalecer a economia local e dar visibilidade ao talento de quem, muitas vezes, enfrenta dificuldades para se destacar em um mercado competitivo. Ao mesmo tempo, proporcionam aos clientes uma experiência de compra mais personalizada e rica em histórias. Contribuem ainda para a preservação de saberes tradicionais e o incentivo à produção artesanal. A seguir, conheça alguns destes espaços.

Um olhar diferenciado

A  SYN conta com o Instituto SYN, o qual administra a loja colaborativa Junto & Misturado, em parceria com o Instituto Ecoar e o Sebrae SP.

“Essa é a área social da companhia em que trabalhamos quatro pilares: empreendedorismo, empregabilidade, relacionamento e cultura. Esse projeto é um dos quase 30 que temos no Instituto. Ele nasceu em 2021 no momento em que começamos a capacitar empreendedoras e, depois, decidimos trazê-las para dentro do nosso shopping. O nosso orçamento é direcionado para fomentar o entorno dos nossos empreendimentos e atuar em projetos sociais”, explica Grasiela Caldeira, coordenadora de responsabilidade social do ISYN.

Então, é um 360º. O Ecoar faz essa gestão e coloca 18 empreendedoras por ciclo, que têm a chance de expor e vender seus produtos durante seis meses, inclusive, em datas bem conceituadas no varejo. A cada novo ciclo, 300 inscrições são abertas pelo Sebrae, em que passam pela trilha de aprendizagem e submetem os produtos a uma curadoria. Além disso, ela precisa cumprir alguns pré-requisitos.

lojas colaborativas
Grasiela Caldeira, coordenadora de responsabilidade social do ISYN

A Junto e Misturado tem lojas nos shoppings Grand Plaza, Cidade São Paulo e Tietê Plaza e todas são permanentes. A maioria dos itens comercializados é manual, como papelaria, crochê, mandala, guardanapos, fuxicos, camisetas personalizadas, bijuterias, roupas afro, entre outras.


“Quando o cliente entra na loja, sente uma conexão e o mais bacana é o fato de ser recepcionado pela própria empreendedora. É uma operação que cativa e o cliente retorna. Mais de 200 empreendedoras já passaram pelo projeto e temos alcançado um faturamento de mais de R$ 2 milhões. Em 2024,  tivemos uma alta de mais de 100% no faturamento, de um ciclo para o outro”, detalha Grasiela. 

Existe ainda um apoio dos ativos na divulgação do projeto. Algumas das empreendedoras que já participaram do projeto conseguiram montar o próprio negócio, inclusive, com quiosques. “Queremos cada vez mais que os shoppings abracem essas empreendedoras.”

Conexão valiosa

O Shopping Frei Caneca tem uma parceria com a Prefeitura de São Paulo no projeto Mãos e Mentes Paulistanas, uma iniciativa da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho de São Paulo, que chegou à marca de mais de 8 mil artesãos credenciados.

“A proposta é apoiar esses trabalhadores por meio de capacitação, acesso a eventos e oportunidades de comercialização de produtos, como a loja no Shopping Frei Caneca, tudo sem custos. Na prática, o programa cadastra os artesãos e oferece cursos e oficinas para eles desenvolverem habilidades empreendedoras. Depois, direciona para os pontos de vendas e até para feiras”, explica Eliane Oliveira, coordenadora de marketing do Shopping Frei Caneca.

Os artesãos conseguem expor seus itens durante três meses na loja, e depois desse período, conforme logística e planejamento do projeto, outros artesãos chegam para apresentar seus trabalhos. 

lojas colaborativas
Eliane Oliveira, coordenadora de marketing do Shopping Frei Caneca

Ao conhecer a ação, o Shopping Frei Caneca abraçou a causa justamente por fazer conexão com a iniciativa de apoiar a cultura, a arte e os artesãos. Segundo Eliane, essa loja colaborativa fomenta a diversidade e o talento local, fortalecendo a economia criativa da região e, ao mesmo tempo, criando uma experiência autêntica. “É reflexo do nosso compromisso em apoiar pequenos negócios, valorizar a arte e a cultura e ainda oferecer aos nossos consumidores produtos exclusivos que traduzem a essência do trabalho manual.” Diversos itens manuais são comercializados como bolsas, bonecas, tapetes, almofadas, jogos americanos, carteiras, blusas, acessórios, itens decorativos, além da linha pet.

Essa foi a primeira experiência do empreendimento com uma iniciativa com esse propósito e o público tem recebido isso de uma forma muito positiva.

“O que mais chama atenção é a possibilidade de encontrar peças únicas e os clientes adoram o conceito de apoiar o trabalho manual e a economia local, pois muitos se sentem conectados ao processo de criação”, diz Eliane.

Com design atraente

No Cantareira Norte Shopping, a Nossa Feirinha contempla o trabalho de pequenos empreendedores e a gestão é realizada pela empresa que aluga o espaço diretamente com o shopping e subloca aos expositores, sendo responsável pela organização e disposição dos nichos e estandes. Cada vendedor, por sua vez, é responsável pela reposição e abastecimento do estoque. Esse modelo de negócio acontece desde a inauguração do shopping em 2016. Segundo Elizabete Henriques, gerente de marketing do Cantareira Norte Shopping, os clientes demonstram grande apreciação pela variedade e exclusividade dos produtos, além de se sentirem motivados a apoiar pequenos negócios locais.

“Por sua vez, os empreendedores enxergam na Nossa Feirinha uma excelente oportunidade para expandir sua visibilidade e alcançar novos consumidores de forma acessível e viável. O shopping colabora na divulgação por meio das redes sociais, atraindo visitantes e gerando visibilidade, sendo vantajoso para ambas as partes”, detalha Elizabete.  

Segundo Marcia Saad, diretora comercial e de marketing da Lumine, administradora do Cantareira Norte Shopping, as lojas colaborativas atraem marcas com menor capacidade de investimento ou que atuam apenas no ambiente virtual.

lojas colaborativas
Marcia Saad, diretora comercial e de marketing da Lumine
“Esse formato oferece a oportunidade de testar o mercado em um espaço físico sem a necessidade de um grande investimento inicial em uma loja tradicional. Além disso, a divisão de despesas, como aluguel e condomínio, torna o negócio mais acessível financeiramente”, relata Marcia.


Para os shoppings, a vantagem está na maior flexibilidade na locação dos espaços, permitindo contratos de curto prazo. Isso pode ser útil para preencher temporariamente áreas vagas, contribuindo para uma estratégia de ocupação mais dinâmica, ajustando-se conforme a demanda.

Esse formato enriquece o mix, estimula parcerias, networking e eventos e atrai ainda um público engajado com a sustentabilidade e o consumo consciente.

De cunho social

Fundado em 2007, o Instituto Olga Kos atua com projetos artísticos, esportivos e científicos em prol de pessoas com deficiência física ou intelectual e em situação de vulnerabilidade social. Há 11 anos promove corridas, sempre relembrando datas importantes como o Dia Internacional da Síndrome de Down e o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. Desde 2021, abriu uma loja no Shopping West Plaza, mas essa sinergia entre a organização e o empreendimento se deu anos antes, quando Wolf Kos, fundador e presidente do Instituto, buscava um local para a distribuição dos kits de corrida. Como atuava no mercado imobiliário, procurou os proprietários do Shopping West Plaza e a parceria se concretizou. De acordo com Kos, a operação aproxima o cliente do Instituto. 

“Toda vez que a pessoa compra algo com a marca, ela está abraçando a causa. O shopping foi sempre extremamente parceiro, nos cedeu um espaço maravilhoso e nos apoiou desde sempre. Hoje as nossas corridas conseguem levar um público anual de mais de 60 mil pessoas ao shopping na retirada de kit, sendo que temos um engajamento na ordem 5% de corredores novos a cada corrida”, diz o fundador.
Wolf Kos, fundador e presidente do Instituto Olga Kos

A loja tem 250 ㎡ e vende itens com a marca Olga Kos, como lápis, caneca, squeeze,camiseta, entre outros. “Com as corridas, o Instituto já impactou mais de 300 mil corredores, além de 40 mil participantes nas oficinas esportivas como karatê, judô, capoeira, futsal e basquete”, conta Kos. 

lojas colaborativas

Segundo Heli Queiroz, gerente de marketing do Shopping West Plaza, essas lojas colaborativas promovem um ambiente de diversidade e inclusão.

“Ao colaborar com instituições como o Instituto Olga Kos, estamos contribuindo para o fortalecimento da comunidade local e incentivando o empreendedorismo social. Além disso, essas parcerias ajudam a atrair um público mais amplo, que valoriza a responsabilidade social e a inovação, tornando o shopping um espaço mais dinâmico e engajado com as necessidades da sociedade.”

Esse modelo de operação geralmente tem boa aceitação do público do ativo e permite uma maior rotatividade de produtos, o que mantém o espaço dinâmico e atrativo para os consumidores. E há um olhar diferenciado para esse inquilino. “Existe uma negociação comercial diferenciada, pois o interesse do empreendimento com essas parcerias vai além do financeiro, se refere a cumprir seu papel social. O shopping enxerga a loja colaborativa como um diferencial, apoiando a divulgação e promovendo a sinergia com outras operações para atrair mais público”, pontua Heli.

Heli Queiroz, gerente de marketing do Shopping West Plaza

Para ser fixa, Heli reforça que a operação precisa ter apelo contínuo junto aos clientes, evitando que se torne apenas uma atração temporária. Estratégias como renovação do mix de produtos, campanhas promocionais e eventos dentro do espaço ajudam a manter o interesse do consumidor.


“Precisa complementar e agregar valor ao mix existente, sem concorrer diretamente com lojistas tradicionais. Além disso, esse tipo de loja colaborativa funciona também com o trabalho de voluntários e parcerias, que se torna desafiador a longo prazo, mas não impossível, como é o caso da Olga Kos, que está a mais de 2 anos em parceria com o empreendimento”, reforça Heli.

Nordeste, sempre uma inspiração 

O Grupo JCPM valoriza esses espaços colaborativos em seus ativos e todos sabem que o Nordeste pulsa arte e é reconhecido pela riqueza e talento dos artesãos. Ter essas lojas no mix só fortalece ainda mais esse trabalho, trazendo renda aos pequenos empreendedores. E tudo isso é desenvolvido em parceria com o Instituto JCPM.

lojas colaborativas

RioMar Recife, Instituto Fecomércio e Instituto JCPM de Compromisso Social são exemplos desta união. Desde dezembro de 2015, artesãos de comunidades do entorno do ativo são capacitados e adquirem conhecimento sobre empreender com aulas de gestão, precificação e artesanato. E eles têm a oportunidade de expor suas peças na loja colaborativa Artesanato de Talentos, que funciona em grandes datas para o varejo de adereços, como Carnaval, São João e Natal. A iniciativa oferece curadoria e o espaço sem custo para comercialização das produções. No último Carnaval, recebeu peças produzidas por 17 artesãos dos bairros do Pina e Brasília Teimosa e foram mais de 1 mil itens expostos para venda. 

Além disso, o empreendimento conta com Espaço 46, que reúne diversas marcas em uma loja de 430 m². Inaugurado em 2023, traz uma experiência completa. Além de beleza e gastronomia, no local é possível encontrar opções de moda, calçados, acessórios, brinquedos, casa e decoração, entre outros. 

No Shopping Jardins, em Aracaju (SE), há uma daquelas lojas cheia de trabalhos lindos, em que dá vontade de garimpar tudo. A Flor de Cactus reúne peças produzidas por 35 artesãos de Sergipe. Desde 2022, brinda o público com um belo acervo que inclui itens em macramê, renda irlandesa, crochê, bordados à mão livre, bonecas de pano, patchwork, produtos feitos com palhas de junco e taboa, redes, cerâmicas, esculturas em madeira, bijuterias, biscuit, objetos decorativos e de cama, mesa e banho, dentre outras preciosidades, que revelam a riqueza dos saberes e fazeres da gente sergipana.

lojas colaborativas

Fundada em 2013, a Elabore surgiu com o intuito de unir a paixão pelo empreendedorismo e a responsabilidade de trazer um novo modelo de negócio para Fortaleza. Localizada no RioMar Fortaleza, conta com mais de 20 empreendedores com uma curadoria, que possibilita encontrar produtos exclusivos, o ponto de venda se baseia na economia criativa, estimulando o consumo consciente. Seguindo esse propósito, a loja trabalha com produtos locais, onde todos os custos são compartilhados. Os produtos vendidos são versáteis e produzidos de forma consciente.  

No RioMarKennedy, quem faz esse trabalho é Rede Estrela de Iracema, que surgiu em 2005 e contribuiu para a geração de renda das mulheres, oriundas da periferia da capital cearense, que trabalham com atividades ligadas à confecção: desde costureiras que produzem moda adulta até tecelãs que fabricam, com teares manuais, redes e tapetes de algodão cru. A iniciativa atende 265 mulheres diretamente de 28 grupos sociais. A loja social acontece em parceria com o Instituto JCPM desde 2016.

Além disso, RioMar Fortaleza e RioMar Kennedy têm uma operação da Feira Negra de Fortaleza. Esse coletivo surgiu em 2019, como resposta ao Plano Municipal de Igualdade Racial de Fortaleza, e visa dar visibilidade e estrutura ao afroempreendedorismo, bem como à economia negra na cidade. Atualmente, o projeto reúne cerca de 80 empreendedores que participam de eventos e expõem seus produtos em praças, eventos governamentais e centros comerciais.

O Salvador Shopping e o Salvador Norte Shopping possuem duas lojas do Centro Público de Economia Solidária (Cesol), considerados espaços multifuncionais e de caráter comunitário, por meio da política do Governo do Estado da Bahia e executada pela Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte – Setre. Os centros são instrumentos importantes para a consolidação da política pública transversal para a economia solidária na Bahia. As lojas comercializam peças de arte, decoração, roupas e acessórios, muitos deles feitos à mão por empreendimentos coletivos e populares locais, além de produtos oriundos da agricultura familiar, tais como: geleias, doces, rapadura, sequilhos, chocolates, café, farinha de milho, tapioca, entre outros.

lojas colaborativas

No ano passado, o Salvador Norte Shopping abriu ainda o Espaço Empreender. A ideia é que, a cada mês, o espaço seja ocupado por negócios diferentes, oportunizando e incentivando empreendedores dos bairros do entorno. O empreendimento tem ainda A Casa de Taipa – Associação Vitória na Vida, destinada à arte e ao artesanato de diversos empreendedores. No local, é encontrada uma variedade de produtos feitos à mão.  

Sempre na vanguarda

A Multiplan instalou sua primeira loja colaborativa em 2018 e 2019, no MorumbiShopping, com o Espaço Colletivo, inspirado no evento Mercado Manual, com foco em pequenos produtores e oficinas criativas. Na época, repercutiu muito em todo o setor pela inovação como foi concebido. 

lojas colaborativas

Atualmente, alguns ativos da companhia contam com essas operações, que oferecem uma curadoria de produtos e marcas autorais e exclusivas. Na Moonbox, os clientes encontram mais de 50 marcas que se renovam periodicamente e é uma operação fixa no BarraShopping. O quiosque Mãos e Mentes Paulistanas, no ShoppingAnáliaFranco, é mais uma loja de uma parceria feita com a Prefeitura de São Paulo. Inicialmente temporário, tornou-se permanente, inclusive a renovação do contrato por tempo indeterminado, além de estar em uma localização mais estratégica no mall. 

No ShoppingSantaÚrsula, o Espaço Colletivo apresenta bijuterias, roupas, objetos de decoração, brinquedos educativos e aromatizadores, além da Casa da Maratona, espaço temático em parceria com a Prefeitura, que expõe troféus e kits de corrida e oferece oficinas culturais. Neste ativo, os espaços colaborativos são cedidos gratuitamente para ONGs e associações, com curadoria responsável pela seleção dos expositores. 

E a receptividade do público tem sido bastante positiva. Há ainda espaços temporários, como a Galeria Pop Up, no DiamondMall, e sempre é uma forma de se aproximar de novos públicos e tendências de consumo. No passado, o ShoppingAnáliaFranco também recebeu o projeto Costurando o Futuro, da Fundação Volkswagen, com peças feitas a partir de tecidos reciclados e o ParkShoppingCampoGrande (RJ) já abrigou uma loja com esse conceito, que depois se transformou em um brechó.

lojas colaborativas

Para 2025, estão previstas a continuidade da Moonbox, que deve passar por uma reestruturação e renovação de marcas, e a manutenção do quiosque Mãos e Mentes Paulistanas, com contrato já renovado. No ShoppingSantaÚrsula, as operações colaborativas seguirão ativas, com a proposta de receber novas associações e curadorias. 

São muitos ativos abertos a novas oportunidades e atentos às tendências de mercado a fim de impulsionar a economia criativa e circular.

  • GOSTOU? COMPARTILHE: