JUL/AGO 2024 - Edição 254 Ano 37 - VER EDIÇÃO COMPLETA

Vending machines, um canal a ser ainda mais explorado no Brasil

13 de agosto de 2024 | por Solange Bassaneze / Fotos: Divulgação
Modelo de negócio possibilita aumentar a capilaridade da rede varejista e da indústria e ainda trazer novas marcas ao mix

As vending machines têm uma história secular, com origem no século I no antigo Egito, em um equipamento desenvolvido pelo engenheiro e matemático Heron de Alexandria para vender água benta. No entanto, a primeira máquina automatizada foi patenteada por Simeon Denham, em 1867, na Inglaterra, e, a partir daí, a ideia se disseminou. Nos Estados Unidos, a companhia Thomas Adams Gum lançou máquinas de chicletes, instalando-as em estações de metrô de Nova York. 

Com o passar dos anos, houve uma grande evolução e, hoje, elas estão mais modernas e tecnológicas, sendo possível vender de tudo, muito além dos snacks e bebidas. O Japão é o país com o maior número de vending machines com mais de 4 milhões de unidades. Mas, agora, esse mercado enfrenta mudanças e será preciso trocar muitas delas, devido às novas notas de ienes com tecnologia de holograma lançadas em julho deste ano. 

Arlan Roque, diretor de expansão da Cacau Show

Esse modelo de negócio transacional está presente em todo o Planeta e, no Brasil, vem sendo explorado em diversas frentes e novos projetos passam a ser lançados pela indústria e o varejo. A Cacau Show, detentora de 15% do mercado de chocolates no país com 4.500 lojas, passou a oferecer aos franqueados da rede mais esse canal de venda em meados de maio deste ano, sendo que 16 máquinas já estavam em funcionamento até o início de julho, com mais 35 contratos assinados, e outros 50 já em negociação. A meta é fechar o ano com, pelo menos, 150. 

Segundo Arlan Roque, diretor de expansão da Cacau Show, esse projeto já vinha sendo desenvolvido e faz parte dos insights de multicanalidade, trazidos pela pandemia. Ao encontrar o parceiro certo, houve a criação de uma solução de custo-benefício para o franqueado. “A Sonda Tecnologia é uma empresa chilena com escritório no Brasil, que nos passou muita confiança, por oferecer apoio técnico. Com isso, customizou o equipamento, que tem climatização própria. Ele tem como objetivo dar mais potencial de faturamento para o nosso franqueado e de estar mais presente na vida do consumidor.” 

O faturamento por equipamento varia entre R$ 6 mil a R$ 20 mil por mês e ocupa apenas uma área de 1,5 ㎡. “Enquanto a loja tem uma margem líquida para o franqueado de 12 a 15%, o range é de 16% a 34% na vending machine, com a facilidade de poder realocá-la, caso necessário.

O modelo da Cacau Show aceita pagamento por cartão de crédito ou débito

Os produtos escolhidos para a venda são os com vocação de consumo imediato, como trufas, tabletes e marshmallow.


“Há mais dois modelos em desenvolvimento: o de gelato, que está praticamente pronto, e estamos desenhando outro para Ovos de Páscoa. E isso só será possível porque o produto escolhido pelo cliente sobe em uma prateleira, sendo entregue sem qualquer impacto.”


Ou seja, não danifica e quebra o chocolate. Esses equipamentos têm como foco supermercados, universidades, hospitais, faculdades, entre outros. “Estamos abertos a negociar com os shopping centers e vemos ainda um potencial para condomínios corporativos.”

De acordo com Roque, é um canal para capilarizar ainda mais a marca e o investimento do franqueado está na locação do equipamento de R$ 1.400 por mês mais a locação do local.

Direto da floricultura

A Giuliana Flores, pioneira no comércio on-line de flores no país, segue com plano de expansão de lojas físicas na Grande São Paulo. Até julho, a rede já tinha 12 operações em funcionamento e pretende fechar o ano com 20 pontos de venda. Essa estratégia vem para atender o hábito de muitos consumidores e complementar a jornada phygital.

Clóvis Souza, fundador e CEO da Giuliana Flores

A rede passou também a apostar também em vending machines em locais de alto fluxo de pessoas, como o Aeroporto de Guarulhos, onde há quatro unidades. Em shopping centers, a primeira foi implementada no Shopping Penha recentemente. Clóvis Souza, fundador e CEO da Giuliana Flores, conta que esse era um desejo de bastante tempo e a intenção é acelerar, inclusive, em ambientes como hospitais e maternidades.

Rosa encantada passa a ser comercializada em um formato exclusivo para as vending machines da marca
“Temos como escalar bastante. É algo inovador. Eu gosto de estar sempre à frente. Já estamos em negociação com outros shopping centers.”


O produto vendido é exclusivo para essa operação. “Tratam-se de rosas naturais que duram até 3 anos e vêm em uma embalagem desenhada para essa máquina. Além disso, é muito prático, a pessoa escolhe o produto, paga e está com a mercadoria.” Essa iniciativa proporciona aos clientes a conveniência de comprar a qualquer hora, no caso dos aeroportos, isso acontece 24 horas por dia. 

Esse modelo de negócio da rede de floricultura é franqueado pela Balcão Urbano. Com apenas 120 dias em operação, as máquinas já faziam de 200 a 300 vendas por mês. “Estamos esperando completar o ciclo de 6 meses para montar um DRE (Demonstrativo de Resultados do Exercício) e oferecer aos interessados.” Com todos os investimentos realizados e previstos para 2024, a projeção da empresa é de alta de 12% no faturamento. No primeiro semestre, houve um crescimento de 14%. 

Pontos de venda autônomos para a indústria e varejo

A Balcão Urbano desenvolve projetos para outros varejistas como Magnólia e Petz, e também direto para a indústria como Ambev. Até o primeiro semestre, a rede já contabilizava mais de 250 franquias com presença em todas as regiões do país. Segundo Marcel Magalhães, diretor da Balcão Urbano, elas têm como princípio o pouco contato, o autoatendimento, o grande fluxo e a alta rotatividade. Além disso, ocupam áreas de 1,5 ㎡ com necessidade técnica de uma tomada 220V. “É uma porta de entrada para o pequeno empresário devido ao baixo custo. Para os shopping centers, é uma oportunidade de continuar expandindo dentro de suas plantas, monetizando de alguma maneira espaços que não eram antes comercializados”, pontua.

Marcel Magalhães, diretor da Balcão Urbano

A empresa oferece diversos modelos de máquinas autônomas, como, algodão-doce, sorvete, açaí, farmácia express – com produtos de higiene, primeiros socorros e perfumaria, snacks, bebidas frias, café, toy e candy, acessórios para eletrônicos, papelaria, produtos para pets, entre outras. “A empresa encabeça o projeto, então, sempre estaremos com um parceiro. É um ponto de venda com investimento bem menor em que o varejo e a indústria conseguem capilarizar a marca em vários pontos”, afirma Magalhães. O valor do investimento de uma franquia começa a partir de R$ 60 mil. 

Segundo o diretor da Balcão Urbano, o consumidor está mais receptivo às vending machines, devido à aceleração digital ocorrida com pandemia. O passo a passo de instruções presentes na máquina facilitou a compra, que se dá em apenas três toques. E tudo é mais tecnológico, desde o pagamento até o acesso remoto.

Atualmente, as franquias do Balcão Urbano estão em hospitais, clínicas, faculdades, universidades e empresas. “Só não estamos mais presentes em shoppings por ainda faltar um ajuste, pois grande maioria não consegue ainda precificar.” Pelo fato do carro-chefe ser ainda de snacks e bebidas, toy e candy, pet e algodão-doce, o ticket médio dos equipamentos do Balcão Urbano varia de R$10 a R$15. 

Roberto Amorim Lemos, fundador e CEO da Cololido

Possibilidades diversas

Outro ponto interessante das máquinas é da entrada de novas marcas no mercado, como é o caso da Cololido, cujo desempenho é acompanhado pela Abrasce no estudo “O Varejo de Shoppings – Marcas em Expansão”, que apareceu como destaque do 1T22 ao 2T23. A história da primeira vending machine de algodão doce no país começou ainda durante a pandemia, quando Roberto Amorim Lemos, fundador e CEO da marca, decidiu importar as primeiras máquinas da China, após ter conhecido o fornecedor em uma feira em 2019. Ainda em 2020, começou a negociar com players do setor, mesmo com o lockdown e, em abril de 2021, inaugurou as três primeiras operações em shoppings em Curitiba (PR). O algodão-doce instagramável ganhou mídia espontânea. Com isso, filas passaram a se formar com esperas de até uma hora para comprar o produto.

“Influenciadoras começaram a fazer matérias porque elas queriam novidades para seus canais e o negócio explodiu. Com um mês de operação, vendi a primeira franquia. Em 2021, fechamos com 14 operações vendidas e, em 2022, chegamos a 98 unidades. No ano passado, foram quase 120 vending machines ativas.”

Com a desaceleração da economia associada a alguns ajustes do negócio, em 2024, esse número teve queda. Até julho deste ano, eram 60 vending machines da Cololido em funcionamento e 19 estados. “Percebemos que muitos franqueados quiseram se aventurar, estamos em um momento de reoxigenar a rede e crescer de forma mais orgânica, colocando empreendedores que já entendem do universo de shopping centers.” 

Atualmente, 95% das máquinas estão em shopping centers e o valor do algodão doce é, em média, R$15, podendo chegar a R$18, dependendo do ativo.

Morango, baunilha, abacaxi, framboesa e marshmallow são os sabores disponíveis com a possibilidade de fazer combinações

O faturamento, em média, é de R$10 mil por mês, o que equivale a venda de 700 unidades de algodão-doce.  Em outros pontos, como o famoso Bondinho do Pão de Açúcar ou mesmo no Cirque du Soleil, o produto é vendido por um valor maior e as máquinas chegam a faturar até R$ 28 mil por mês. Os insumos são fornecidos pelo franqueador e todos produzidos no Brasil. O açúcar desenvolvido tem uma volumetria maior assim como canudos precisarem ser customizados por aqui. 

Segundo Lemos, é muito importante que o equipamento esteja bem posicionado no mall. “Estamos chegando na casa de 3 milhões de algodão doce vendidos”, comemora. O produto centenário, que foi reinventado, continua fazendo sucesso entre todas as idades, desde crianças até idosos. A tecnologia é amigável e fácil de ser usada. No caso da Cololido, possibilita a combinação de sabores e ainda oferece formatos diferentes. Caso o usuário solicite ajuda, o atendimento se dá em tempo real. Esse é mais um modelo que vem atender uma demanda. Para quem achava que algodão-doce poderia ser encontrado só no modelo tradicional, está a prova de como o mercado evolui a cada momento.

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