Vending machines, um canal a ser ainda mais explorado no Brasil
Modelo de negócio possibilita aumentar a capilaridade da rede varejista e da indústria e ainda trazer novas marcas ao mix
As vending machines têm uma história secular, com origem no século I no antigo Egito, em um equipamento desenvolvido pelo engenheiro e matemático Heron de Alexandria para vender água benta. No entanto, a primeira máquina automatizada foi patenteada por Simeon Denham, em 1867, na Inglaterra, e, a partir daí, a ideia se disseminou. Nos Estados Unidos, a companhia Thomas Adams Gum lançou máquinas de chicletes, instalando-as em estações de metrô de Nova York.
Com o passar dos anos, houve uma grande evolução e, hoje, elas estão mais modernas e tecnológicas, sendo possível vender de tudo, muito além dos snacks e bebidas. O Japão é o país com o maior número de vending machines com mais de 4 milhões de unidades. Mas, agora, esse mercado enfrenta mudanças e será preciso trocar muitas delas, devido às novas notas de ienes com tecnologia de holograma lançadas em julho deste ano.
Esse modelo de negócio transacional está presente em todo o Planeta e, no Brasil, vem sendo explorado em diversas frentes e novos projetos passam a ser lançados pela indústria e o varejo. A Cacau Show, detentora de 15% do mercado de chocolates no país com 4.500 lojas, passou a oferecer aos franqueados da rede mais esse canal de venda em meados de maio deste ano, sendo que 16 máquinas já estavam em funcionamento até o início de julho, com mais 35 contratos assinados, e outros 50 já em negociação. A meta é fechar o ano com, pelo menos, 150.
Segundo Arlan Roque, diretor de expansão da Cacau Show, esse projeto já vinha sendo desenvolvido e faz parte dos insights de multicanalidade, trazidos pela pandemia. Ao encontrar o parceiro certo, houve a criação de uma solução de custo-benefício para o franqueado. “A Sonda Tecnologia é uma empresa chilena com escritório no Brasil, que nos passou muita confiança, por oferecer apoio técnico. Com isso, customizou o equipamento, que tem climatização própria. Ele tem como objetivo dar mais potencial de faturamento para o nosso franqueado e de estar mais presente na vida do consumidor.”
O faturamento por equipamento varia entre R$ 6 mil a R$ 20 mil por mês e ocupa apenas uma área de 1,5 ㎡. “Enquanto a loja tem uma margem líquida para o franqueado de 12 a 15%, o range é de 16% a 34% na vending machine, com a facilidade de poder realocá-la, caso necessário.
Os produtos escolhidos para a venda são os com vocação de consumo imediato, como trufas, tabletes e marshmallow.
“Há mais dois modelos em desenvolvimento: o de gelato, que está praticamente pronto, e estamos desenhando outro para Ovos de Páscoa. E isso só será possível porque o produto escolhido pelo cliente sobe em uma prateleira, sendo entregue sem qualquer impacto.”
Ou seja, não danifica e quebra o chocolate. Esses equipamentos têm como foco supermercados, universidades, hospitais, faculdades, entre outros. “Estamos abertos a negociar com os shopping centers e vemos ainda um potencial para condomínios corporativos.”
De acordo com Roque, é um canal para capilarizar ainda mais a marca e o investimento do franqueado está na locação do equipamento de R$ 1.400 por mês mais a locação do local.
Direto da floricultura
A Giuliana Flores, pioneira no comércio on-line de flores no país, segue com plano de expansão de lojas físicas na Grande São Paulo. Até julho, a rede já tinha 12 operações em funcionamento e pretende fechar o ano com 20 pontos de venda. Essa estratégia vem para atender o hábito de muitos consumidores e complementar a jornada phygital.
A rede passou também a apostar também em vending machines em locais de alto fluxo de pessoas, como o Aeroporto de Guarulhos, onde há quatro unidades. Em shopping centers, a primeira foi implementada no Shopping Penha recentemente. Clóvis Souza, fundador e CEO da Giuliana Flores, conta que esse era um desejo de bastante tempo e a intenção é acelerar, inclusive, em ambientes como hospitais e maternidades.
“Temos como escalar bastante. É algo inovador. Eu gosto de estar sempre à frente. Já estamos em negociação com outros shopping centers.”
O produto vendido é exclusivo para essa operação. “Tratam-se de rosas naturais que duram até 3 anos e vêm em uma embalagem desenhada para essa máquina. Além disso, é muito prático, a pessoa escolhe o produto, paga e está com a mercadoria.” Essa iniciativa proporciona aos clientes a conveniência de comprar a qualquer hora, no caso dos aeroportos, isso acontece 24 horas por dia.
Esse modelo de negócio da rede de floricultura é franqueado pela Balcão Urbano. Com apenas 120 dias em operação, as máquinas já faziam de 200 a 300 vendas por mês. “Estamos esperando completar o ciclo de 6 meses para montar um DRE (Demonstrativo de Resultados do Exercício) e oferecer aos interessados.” Com todos os investimentos realizados e previstos para 2024, a projeção da empresa é de alta de 12% no faturamento. No primeiro semestre, houve um crescimento de 14%.
Pontos de venda autônomos para a indústria e varejo
A Balcão Urbano desenvolve projetos para outros varejistas como Magnólia e Petz, e também direto para a indústria como Ambev. Até o primeiro semestre, a rede já contabilizava mais de 250 franquias com presença em todas as regiões do país. Segundo Marcel Magalhães, diretor da Balcão Urbano, elas têm como princípio o pouco contato, o autoatendimento, o grande fluxo e a alta rotatividade. Além disso, ocupam áreas de 1,5 ㎡ com necessidade técnica de uma tomada 220V. “É uma porta de entrada para o pequeno empresário devido ao baixo custo. Para os shopping centers, é uma oportunidade de continuar expandindo dentro de suas plantas, monetizando de alguma maneira espaços que não eram antes comercializados”, pontua.
A empresa oferece diversos modelos de máquinas autônomas, como, algodão-doce, sorvete, açaí, farmácia express – com produtos de higiene, primeiros socorros e perfumaria, snacks, bebidas frias, café, toy e candy, acessórios para eletrônicos, papelaria, produtos para pets, entre outras. “A empresa encabeça o projeto, então, sempre estaremos com um parceiro. É um ponto de venda com investimento bem menor em que o varejo e a indústria conseguem capilarizar a marca em vários pontos”, afirma Magalhães. O valor do investimento de uma franquia começa a partir de R$ 60 mil.
Segundo o diretor da Balcão Urbano, o consumidor está mais receptivo às vending machines, devido à aceleração digital ocorrida com pandemia. O passo a passo de instruções presentes na máquina facilitou a compra, que se dá em apenas três toques. E tudo é mais tecnológico, desde o pagamento até o acesso remoto.
Atualmente, as franquias do Balcão Urbano estão em hospitais, clínicas, faculdades, universidades e empresas. “Só não estamos mais presentes em shoppings por ainda faltar um ajuste, pois grande maioria não consegue ainda precificar.” Pelo fato do carro-chefe ser ainda de snacks e bebidas, toy e candy, pet e algodão-doce, o ticket médio dos equipamentos do Balcão Urbano varia de R$10 a R$15.
Possibilidades diversas
Outro ponto interessante das máquinas é da entrada de novas marcas no mercado, como é o caso da Cololido, cujo desempenho é acompanhado pela Abrasce no estudo “O Varejo de Shoppings – Marcas em Expansão”, que apareceu como destaque do 1T22 ao 2T23. A história da primeira vending machine de algodão doce no país começou ainda durante a pandemia, quando Roberto Amorim Lemos, fundador e CEO da marca, decidiu importar as primeiras máquinas da China, após ter conhecido o fornecedor em uma feira em 2019. Ainda em 2020, começou a negociar com players do setor, mesmo com o lockdown e, em abril de 2021, inaugurou as três primeiras operações em shoppings em Curitiba (PR). O algodão-doce instagramável ganhou mídia espontânea. Com isso, filas passaram a se formar com esperas de até uma hora para comprar o produto.
“Influenciadoras começaram a fazer matérias porque elas queriam novidades para seus canais e o negócio explodiu. Com um mês de operação, vendi a primeira franquia. Em 2021, fechamos com 14 operações vendidas e, em 2022, chegamos a 98 unidades. No ano passado, foram quase 120 vending machines ativas.”
Com a desaceleração da economia associada a alguns ajustes do negócio, em 2024, esse número teve queda. Até julho deste ano, eram 60 vending machines da Cololido em funcionamento e 19 estados. “Percebemos que muitos franqueados quiseram se aventurar, estamos em um momento de reoxigenar a rede e crescer de forma mais orgânica, colocando empreendedores que já entendem do universo de shopping centers.”
Atualmente, 95% das máquinas estão em shopping centers e o valor do algodão doce é, em média, R$15, podendo chegar a R$18, dependendo do ativo.
O faturamento, em média, é de R$10 mil por mês, o que equivale a venda de 700 unidades de algodão-doce. Em outros pontos, como o famoso Bondinho do Pão de Açúcar ou mesmo no Cirque du Soleil, o produto é vendido por um valor maior e as máquinas chegam a faturar até R$ 28 mil por mês. Os insumos são fornecidos pelo franqueador e todos produzidos no Brasil. O açúcar desenvolvido tem uma volumetria maior assim como canudos precisarem ser customizados por aqui.
Segundo Lemos, é muito importante que o equipamento esteja bem posicionado no mall. “Estamos chegando na casa de 3 milhões de algodão doce vendidos”, comemora. O produto centenário, que foi reinventado, continua fazendo sucesso entre todas as idades, desde crianças até idosos. A tecnologia é amigável e fácil de ser usada. No caso da Cololido, possibilita a combinação de sabores e ainda oferece formatos diferentes. Caso o usuário solicite ajuda, o atendimento se dá em tempo real. Esse é mais um modelo que vem atender uma demanda. Para quem achava que algodão-doce poderia ser encontrado só no modelo tradicional, está a prova de como o mercado evolui a cada momento.