SET/OUT 2024 - Edição 255 Ano 37 - VER EDIÇÃO COMPLETA

Fernanda Takai é um presente para a música brasileira

10 de outubro de 2024 | por Solange Bassaneze
Mais 30 anos de Pato Fu, além da carreira solo, a cantora segue construindo uma trajetória impecável

‘Tempo, tempo, mano velho. Falta um tanto ainda, eu sei.’ Só de ler o refrão deste hit do Pato Fu, a gente já se sente convidado a cantar o restante e até mesmo entrar no streaming para ouvir outros álbuns. Agora, vamos aproveitar e dar uma pausa no ‘tempo’ para conferir essa entrevista com a talentosíssima Fernanda Takai, uma das maiores cantoras do país. 

fernanda takai
Apresentação no Sesc Vila Mariana | Foto Nadja Kouchi

Apenas para relembrar, a história da banda, que conquistou vários prêmios, inclusive, o Grammy Latino (2011), já soma mais de três décadas, sendo que as primeiras apresentações começaram em 1992, em Belo Horizonte (MG). Para celebrar esse momento, o grupo segue com a turnê de ‘Pato Fu 30 anos’, que está rodando várias cidades, e lançou um disco alusivo com o título 30, que traz nove músicas inéditas. “Estamos celebrando esses anos todos juntos, as músicas mais importantes, as mais legais de serem tocadas ao vivo e também novas. Não queremos ficar estagnados só olhando pra trás. Acredito que conseguimos montar um espetáculo bem gostoso de ser visto, pois o lado visual, nossa videografia, sempre nos ajudou muito a ser referência de linguagens estéticas pouco previsíveis.”

São 13 discos e cinco DVDs lançados. E esse show é um mergulho nesta trajetória. Ao olhar para trás e ver tudo o que construiu vivendo de música, ela define: “Ter uma carreira longa e relevante era nosso objetivo, embora a gente não soubesse muito bem como fazer isso. Percebemos que a música pode ser apresentada em vários formatos, sem perder nossa essência e consolidar uma marca vocal, ser reconhecida num meio em que há muitas pessoas cantando de um mesmo jeito. Uma das características fundamentais é cuidar bastante do repertório.” E isso, fazem de um jeito único e autoral.

Nunca só, sempre em boa companhia

Mesmo sem deixar a banda, Fernanda sempre conseguiu equilibrar a carreira solo, que iniciou há 17 anos. Enfim, uma grande artista, que se entrega ao público de diversas formas e tem fãs de diferentes gerações.

Foto Fabiana Figueiredo

Ela não pensava em seguir uma carreira solo, mas o álbum dedicado à Nara Leão, com direção artística do Nelson Motta, ganhou praticamente todos prêmios no Brasil, foi Disco de Ouro e a levou a uma turnê de quase três anos. Ou seja, não tinha como deixar de trilhar esse caminho também. “Ao mesmo tempo, o Pato Fu estava começando o ‘Música de Brinquedo’, então, foi uma época muito agitada pra mim. Nunca parei as atividades da banda enquanto realizava meu projeto solo. Isso foi vital para que as pessoas tivessem certeza de que eu não sou uma vocalista que quer sair do grupo. O que eu experimento é uma amplitude musical que não tinha antes”, conta.

Atualmente, o Pato Fu conta com os integrantes Ricardo Koctus (baixo), que está desde o início da formação, Xande Tamietti (bateria), Richard Neves (teclados) e, obviamente, ele, John Ulhoa (guitarra), marido de Fernanda Takai. Os dois dividem o palco e a vida, como se pode dizer, desde sempre. E, claro, com a música no protagonismo também. Entre tantos momentos compartilhados juntos, Fernanda relembra um dos mais significativos, o nascimento da filha, Nina, hoje com 21 anos.

“Tanto eu quanto John viemos de famílias que não têm tradição musical. Somos os primeiros a viver de música há tanto tempo e também manter um casamento há 29 anos. São dois movimentos raros, ainda mais quando simultâneos. Uma fase marcante foi quando tivemos nossa filha. Ficamos quase um ano sem nos apresentar ao vivo, enquanto eu amamentava e produzíamos um novo álbum, sem pressa, em nosso estúdio. Foi uma escolha muito acertada que construiu laços definitivos entre a gente e a banda.” E para o público, é lindo ver a cumplicidade dos dois no palco. 

Nina ainda foi a inspiração para Fernanda Takai escrever ‘O Cabelo da Menina’, que ganhou um prêmio Jabuti com o livro digital. Cantora e compositora, ela também é escritora.  “Lancei, recentemente, ‘Quando Curupira Encontra Kappa’, pela editora WMF Martins Fontes, ainda vou viajar pelas feiras literárias do país divulgando este projeto em parceria com o Daniel Kondo. Já são seis livros! A literatura foi fundamental para que fosse uma pessoa capaz de produzir textos em estilos diferentes. Ser leitora, me fez escrever melhor: letras de músicas, contos e crônicas”, detalha.

Algo a mais sempre

Dentro do Pato Fu e de sua carreira solo, há sempre muita liberdade para se criar.

fernanda takai
Foto Nadja Kouchi

“Eu diria que temos álibi para propor um pouco de tudo, desde que tenha qualidade e certamente fizemos isso várias vezes. Ano que vem devo lançar um álbum solo novo, no segundo semestre, tenho cantado com vários outros artistas e saíram alguns singles (Vanguart, Lô Borges, Raphael Ota, Érika Machado, Sérgio Pererê, Sítio Rosa, Mutinho, Coral, Carlinhos Brown…). E este ano ainda sairão mais dois”, explica. 

O grupo sempre conseguiu entregar um trabalho singular em todos os quesitos e se manteve assim mesmo com as mudanças trazidas pela digitalização e pela forma de se consumir música. E segundo Fernanda, o grande desafio está em ter esse acesso democrático, sem os autores e músicos perderem a receita de seu trabalho. “Estamos correndo atrás das mudanças tecnológicas para regulamentar a ação de tudo que vai surgindo no mercado. Acho que a ferramenta da música digital é muito boa, só não podemos nos esquecer de que viver de música não é uma coisa simples. Alguns artistas fazem shows, comerciais, têm fontes de renda diversas, mas quem é só autor e autora, vive exclusivamente de sua propriedade intelectual”, pontua.

Vivências especiais

Entre tantos shows no decorrer de 2024, um deve ser relembrado:  apresentação no Rock in Rio, desta vez, com a banda Penélope.

“Essa foi minha terceira vez no festival (2001, 2008 em Lisboa e 2024). É uma honra ser escalada de novo para tocar no palco Sunset – que é o lugar de vários encontros. Tocar com a Penélope foi desafiador porque montamos um show novo do zero. São várias músicas em que temos as duas bandas inteiras no palco.”

E ela ainda reforça o quanto essa apresentação teve um significado ainda mais amplo: ” É importante que seja cada vez mais notado o protagonismo feminino também no pop rock.”

Durante a carreira, fez muitas parcerias com outros grandes artistas e essa experiência é sempre valorizada por Fernanda, que relembra com carinho desses momentos: “É sempre inacreditável quando se está no palco com alguém como Rita Lee, Gil, Duran Duran, Menescal, Marcos Valle, Titãs, João Donato, Erasmo Carlos, Joyce, Blitz, integrantes do Clube da Esquina, Andy Summers… a gente se sente muito realizado. A presença desses ídolos generosos junto a nós traz a validação de que estamos fazendo coisas boas”. Mas ela ainda tem um nome com quem deseja subir ao palco. “Eu tenho o sonho – nada secreto – de cantar com o Paul McCartney”, diz rindo. 

Luz pessoal 

Foto Nindi Sanches

Outra característica de Fernanda Takai é que ela transmite jovialidade e parece que não envelhece, mas ela diz: “Envelheço sim, mas acho que o tempo tem sido legal comigo, como diria uma canção…” Sem qualquer restrição alimentar, bebo bastante água. Fica aqui essa dica. Mas o que a faz parecer sempre jovem é estar perto do público e dos seus.

“Gosto muito de me apresentar ao vivo, isso faz com que o encontro com as pessoas seja feliz e harmonioso. Tenho uma família muito amorosa, amigos incríveis e uma equipe de trabalho que me deixa segura pra seguir em frente.”
fernanda takai
Foto Beto Staino

Por aí

Ela e sua banda já percorreram alguns malls do país, um local em que ela costumava frequentar também.  “Já fiz vários shows em shoppings pelo Brasil inteiro. A plateia é sempre surpreendente pois ali estão pessoas que nos conhecem bem e outras que estão passando e dando a chance à nossa música, podendo até querer conhecer mais sobre nós.

Quando eu era bem jovem, às vezes, os passeios em família incluíam muito os shoppings: cinema, almoço e compras em lojas e supermercados.” E para você, que chegou até aqui e trabalha no setor de varejo e shopping center, ela escolhe a versão de ‘Simplicidade do Pato Fu’ com a Orquestra Ouro Preto para encerrar esse texto. “Nossa canção mais singela que ganhou um arranjo lindo do Paulo Malheiros.

Acho que todo mundo gostaria de viver num mundo mais tranquilo, equilibrado e menos complexo.” Então, pode colocar o som em qualquer plataforma porque é bom demais ouvir a voz desta incrível artista brasileira. Ao vivo, no carro, no trabalho… ouvir Fernanda Takai nos transporta para os melhores lugares.

fernanda takai
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