MAR/ABR 2025 - Edição 258 Ano 38 - VER EDIÇÃO COMPLETA

Minha trajetória como conselheira, um relato pessoal sobre a minha bandeira pela diversidade além do gênero

16 de abril de 2025 | por Gabriela Baumgart

Em 8 de março, comemoramos o Dia Internacional das Mulheres. É uma data celebrada por muitos e criticada por outros tantos. Para mim, sem sombra de dúvida, à parte de qualquer polêmica, é uma oportunidade para trazer ao debate um tema muito claro à minha trajetória e bandeira pessoal: a diversidade.

Uma das causas que mais defendo é a importância da diversidade para a boa governança, e a consequente necessidade de um conselho com conhecimentos, formações, histórias de vida, experiências e pontos de vista também diversos.

Por isso, gostaria de compartilhar um pouco da minha experiência como conselheira e como ativista dessa causa.

Conviver com as diferenças e desenvolver soft skills

A minha jornada como conselheira começou muitos anos antes de me tornar membro de um conselho. Antes de tudo, essa função exige vivência em funções executivas, conhecimentos e experiências de vida que lhe tragam tanto um conjunto sólido de competências formais quanto de soft skills.

Arrisco dizer que teve início em meu primeiro emprego como vendedora em uma loja de shopping center, aos 15 anos.

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Gabriela Baumgart, empresária e presidente de conselhos e conselheira de administração

Nessa ocasião, me apaixonei pelo varejo, por servir, por estudar consumo e tendências de mercado e, principalmente, pelo contato com diferentes pessoas e pelos aprendizados únicos que essa oportunidade me proporcionou.

O ciclo profissional seguinte já foi adulta, como advogada, atuando na área fiscal e tributária em grandes escritórios. Sou da terceira geração de uma família empresária e busquei trilhar uma carreira independente no mercado, criando uma identidade própria.

Fui mãe jovem e a experiência da maternidade marcou uma nova e muito importante transição de carreira. Ser mãe aos 24 e aos 26 anos me fez refletir e despertar para o desejo de ter uma atuação mais dinâmica, com mais contato com tendências e com pessoas, assim como eu havia tido quando trabalhei no varejo.

Justamente em uma época de reflexão e de tantas novidades na minha vida pessoal, fui surpreendida pelo meu pai com o convite para trabalhar como executiva nas empresas do grupo familiar do qual eu pertenço. Foi uma surpresa, pois não era considerada sucessora: além de trabalhar até então no mercado, eu era a caçula e era a única filha mulher do meu núcleo familiar.  

Multiplicidade de experiências

É desafiador trabalhar na empresa da própria família. Responsabilidade, necessidade de ser exemplo o tempo todo e autocobrança marcaram os meus 18 anos de trabalho em meu grupo familiar, sendo que os últimos oito anos foram como presidente de um dos negócios, a Cidade Center Norte, função que exerci em parceria com um primo querido.

Com os aprendizados dessa jornada, teve início, de fato, a minha história de atuação em conselhos. Recebi o meu primeiro convite aos 35 anos para presidir o Conselho Deliberativo da Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers), função exercida em paralelo com a minha atuação executiva.

Eu seria a primeira mulher a estar à frente dessa organização e, justamente por isso, senti que não poderia recusar o convite: era uma grande oportunidade não só para mim, mas para representar e abrir as portas para outras mulheres e para outros perfis de profissionais.

Aceitei corajosamente e, à procura de aprendizados sobre o valor que um conselho efetivamente pode trazer a uma organização e sobre como eu poderia contribuir nessa nova oportunidade, bati à porta do instituto, que se tornaria um marco em minha vida, ao qual sou imensamente grata: o IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa). 

Nos anos seguintes, aprendi muito sobre dinâmicas pessoais, de como gerir adequadamente diferentes competências e como eu poderia ser uma boa influenciadora de governança nos colegiados que estivessem por vir.

Depois disso, por meio de head hunters, fui selecionada para participar de conselhos de outras empresas. Passei pelos setores de construção civil, calçados e transportes. Hoje, sou membro do Conselho Consultivo da Faber-Castell, organização centenária, multinacional e com controle familiar; sou presidente do conselho da Track&Field, empresa de capital aberto; exerço algumas posições pro bono em conselhos; e estou no conselho do meu grupo empresarial. Neste último, tenho a honra de ser a primeira mulher da família como conselheira, assim como fui em muitos colegiados nos quais atuei. Também vivi essa experiência tão singular de presidir por quatro anos o conselho do IBGC.

Cultivar diferenças para além de gênero

Outra oportunidade que me deu a chance de trabalhar pela diversidade foi ter participado da formação dos primeiros grupos de conselheiras e conselheiros negros em parceria com a Zumbi dos Palmares e com a B3.

Faço parte dos profissionais com 50+, sendo 15 de experiência em conselhos. Ainda sou muito jovem, tenho muita energia e sonhos para realizar: um deles é aproveitar esta grande janela de oportunidades que vivemos hoje com relação à diversidade em conselhos de administração.

Me sinto privilegiada por ter trabalhado com shopping centers por 18 anos, continuar no setor como empreendedora e ter sido presidente do Conselho Deliberativo da Abrasce de 2009 a 2011. São experiências pelas quais tenho enorme gratidão e que me trouxeram grandes aprendizados.

Para concluir, atuar pela diversidade em conselhos é um sonho que não vou realizar sozinha. Estamos, juntas e juntos, construindo uma rede de apoio e de influência para trazer diversidade aos conselhos para além de gênero. Assim, faço um convite para que vejamos o Dia Internacional das Mulheres como uma data que não se limita a polêmicas e comemorações: esta é uma ocasião para a reflexão, para o estudo e, principalmente, para a ação!

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