
Censo Brasileiro de Shopping Centers traz o panorama do setor em 2023
Em um ano com grandes desafios, o setor fecha com mais lojas, empregos, fluxo e recorde de vendas
Shopping centers faturam R$ 194,7 bilhões em 2023, de acordo com o Censo da Abrasce. O recorde de vendas com alta de 1,5% superou os R$ 192,8 bilhões de 2019 e comprova a relevância e a potência do segmento na economia.

De acordo com Glauco Humai, presidente da Abrasce, os resultados registrados mostraram não só a força do setor, mas a capacidade de recuperação dos associados após os anos de pandemia.
“Encerramos 2023 com crescimento em praticamente todas as frentes. Começamos o ano com um primeiro trimestre muito positivo, que, realmente, nos surpreendeu. O desempenho do agronegócio com alta de 16% não só impulsionou o PIB, cuja projeção estimada é +2,8%, como refletiu nas vendas do nosso setor, especialmente no Centro-Oeste. O Sudeste também teve o segundo melhor índice, quando comparamos as regiões. Tivemos ainda queda de preço dos alimentos, o que favoreceu os supermercados e os assemelhados, e, concomitante, aumentou a renda disponível para o consumo de outros itens, além dos essenciais. Passou para uma média 42,5% ante os 41,3% de 2022”, explica.
De acordo com Caroline Louise Gulisz, coordenadora de Inteligência de Mercado da Abrasce, outros fatores macroeconômicos também contribuíram para as vendas dos shopping centers. “A massa de renda das famílias teve elevação de 6,9% e o mercado de trabalho atingiu as menores taxas de desemprego. Impulsionada pela geração de vagas com carteira de trabalho assinada, especialmente no setor privado, a população ocupada avançou 1,6% na comparação interanual, no 4º trimestre do último ano, após novo recorde da série histórica iniciada em 2012. Fora isso, a inflação de 4,62% (IPCA) foi a menor desde 2020.”
Mesmo diante de um cenário macroeconômico instável, com o alto índice de inadimplência com o endividamento das famílias e a elevação da taxa de juros para conter a inflação – com juros bancários chegando a 54,9% ao ano em novembro de 2023 -, ao mesmo tempo, em que o segmento de vestuário e calçados sofreu queda com as mudanças de comportamento do consumidor, o setor superou os números de anos anteriores, como, por exemplo, houve acréscimo de 1,8% no índice de empregos diretos e de 4,3% no fluxo de visitantes.


Avanços
O setor fechou 2023 com 639 ativos no país. Cinco shoppings foram inaugurados e houve ainda seis entrantes, que passaram por adequação de mix.
“Dos greenfields, dois estão em capitais: Pontal Shopping, em Porto Alegre (RS) e Recanto Shopping, em Brasília (DF). O ParkShopping Mogi Mirim (SP) foi o primeiro da cidade. Mogi das Cruzes (SP) e Eusébio (CE) passaram a ter mais um ativo com a abertura do Shopping Patteo Urupema e Terrazo Shopping, respectivamente”, detalha Caroline.
Esses investimentos tanto em greenfields como expansão favoreceram todo o ecossistema alimentado por esse setor.
“Os shoppings são um importante motor da economia, não só por sua capacidade de geração de emprego, de renda e de arrecadação de tributos, mas por movimentar toda uma cadeia de parceiros e fornecedores em diversos segmentos – e com certeza 2023 não foi diferente. Com novos shoppings e diversos projetos de expansão, tivemos papel decisivo para contribuir com a recuperação do nível de atividade do comércio em todo o país”, pontua Humai.

Segundo o estudo, mais projetos seguem em andamento e a previsão é ter mais 18 empreendimentos inaugurados ainda neste ano. Três deles são outlets, quando o segmento completa 15 anos de atividade no país. Atualmente, são 16 outlets em operação. Caroline destaca ainda que cinco destes ativos estão localizados em capitais (28%) e oito cidades receberão o primeiro shopping. O total de ABL (Área Bruta Locável) teve um acréscimo de 1,9% em 2023, fechando em 17,837 milhões de m². Além dos greenfields e novos incorporados na base da Abrasce, 9% dos empreendimentos passaram por expansão em 2023. Para os próximos dois anos, 25% responderam que pretendem expandir.

Fluxo de visitantes
Como apontado pelo estudo Comportamento dos Frequentadores de Shopping Centers, realizado pela Abrasce, existe uma procura cada vez maior por gastronomia e lazer nesses equipamentos e há um aumento da permanência dos clientes. Em 2023, houve um acréscimo de 4,3% no fluxo de visitantes em relação a 2022, de acordo com o Censo Brasileiro de Shopping Centers. Foram 462 milhões de pessoas que visitaram os shoppings mensalmente, o que equivale a mais de duas vezes o total da população brasileira. Ou seja, é um número muito significativo, que demonstra a relevância que o setor tem nas cidades em que está inserido. São 245 municípios com shoppings, do total de 5.565 presentes no país. A distribuição dos ativos se dá da seguinte forma: 43% em capitais e 57% em outras cidades.
Indicadores em alta
Conforme elucidado por Humai, o setor de shopping centers também gerou mais empregos, seguindo o desempenho da queda da taxa de desemprego, que chegou a 7,8% na média anual de 2023, o menor patamar desde 2014 (7%), e 7,4% no 4º trimestre do último ano, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. São 1.062.813 postos de trabalho diretos.

Na medição do número de lojas, os 639 ativos contam com 121.010 lojas, o que representa um acréscimo de 4,5% do total de operações em relação a 2022. “Há dois anos a Abrasce começou a monitorar o desempenho dos quiosques e, hoje, o setor conta com 15 mil operações com esse modelo de negócio, o que dá uma média de quase 24 por empreendimento. Houve ainda um movimento de mais lojas satélites com a readequação de megalojas, que reduziram a ABL, consequentemente, trazendo mais lojas menores “, explica Caroline.

“A taxa de ocupação também se manteve em 2023 com um índice de cerca de 95%, resultado considerado saudável para o setor, que busca constantemente renovar e adequar o mix, conforme acompanhamos no Estudo de Marcas e Expansão, em que as operações de Alimentação e Bebidas lideram entre as marcas que mais inauguram novas unidades”, conta Caroline.
Cinema
A sétima arte lidera o mix de lazer: 92,4% dos shoppings oferecem essa atividade. Em 2023, alguns filmes exibidos nas telonas, especialmente Barbie – que teve a maior bilheteria com R$ 207 milhões -, contribuíram para o fluxo e as vendas nos malls. De acordo com a Ancine, os cinemas receberam 114 milhões de pessoas, um aumento de 19,6% em relação a 2022. A renda chegou a R$ 2,24 bilhões em 2023, uma alta de 22,8% comparado ao ano anterior.
De acordo com o Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual – OCA, da Agência Nacional do Cinema – Ancine, eram 3.415 salas em operação em 2022, o que indica que 90% delas estão em shopping centers. Em 2023, essa operação cresceu no mix do setor e já contabiliza 3.073 salas. Os outlets também passaram a olhar o cinema como um grande player do varejo. O City Center Outlet Premium, em Campo Largo (PR), foi o primeiro a trazer essa operação para o mix. Em breve, o Catarina Fashion Outlet, em São Roque (SP), inaugura também seu cinema.

Perspectiva 2024
A Abrasce segue com o otimismo para esse ano e prevê crescimento, pois as vendas devem ganhar tração ao longo do ano, em um cenário de menor pressão da política monetária no mercado de crédito, com juros menores e redução na inadimplência, ampliando as concessões. “Isso significa uma expectativa de crescimento de 3,9% no faturamento, que deverá ultrapassar a casa dos R$ 200 bilhões. Além disso, as inaugurações previstas irão promover o avanço do emprego em diversas regiões do país, além de levar mais opções de locais de compras e lazer para milhões de brasileiros”, destaca o presidente da entidade.
Onde encontrar
Os associados da Abrasce têm acesso gratuito ao Censo Brasileiro de Shopping Centers pela área restrita do site. O estudo, que contempla o detalhamento de todos os shoppings do país, também pode ser adquirido pelos demais interessados no portal da entidade.