MAI/JUN 2025 - Edição 259 Ano 38 - VER EDIÇÃO COMPLETA

Oficial do BOPE aponta medidas preventivas para a segurança em shopping centers

26 de junho de 2025 | por Solange Bassaneze / Fotos: Divulgação
Orientações valiosas de quem atua na tropa de elite

Ao acessar um shopping, qualquer pessoa se sente segura, seja consumidor, prestador, lojista ou colaborador. Esses ambientes controlados exigem atenção constante, leitura de comportamento e protocolos bem estruturados para garantir a integridade de todos com eficiência, discrição e preparo técnico. O trabalho estratégico e silencioso de segurança precisa estar sempre um passo à frente. Para entender como esses ambientes podem se preparar para prevenir ou atuar diante de sinistros, consultamos o tenente-coronel Nascimento, do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais), unidade de elite reconhecida pela atuação em cenários complexos e de alta periculosidade. Com base em sua vivência no enfrentamento ao crime organizado e na condução de operações críticas, o oficial compartilha orientações.

“O shopping é um organismo vivo, faz parte da nossa sociedade e está com as portas abertas para todo mundo. Ou seja, não tem como bloquear a entrada de pessoas. E também está dentro deste universo da segurança pública. Como a polícia ostensiva não está lá dentro, patrulhando com suas viaturas e seus policiais, é preciso se prevalecer de muita inteligência e tecnologia e estar sempre antenado ao que está acontecendo em relação à segurança pública da região. Deve haver um planejamento e treinamento específico para cada cenário.”

Segundo o tenente-coronel do BOPE, é essencial ainda fortalecer a parceria com os órgãos oficiais e as autoridades policiais. Alguns ativos ainda precisam estreitar esse relacionamento. “É  importante terem acesso direto às unidades, aos batalhões de área ou de operações especiais. A depender do caso, esse contato pode salvar vidas.”

Tenente-coronel Nascimento, do BOPE

O policial relata que não se pode perder tempo tentando fazer contato durante uma ocorrência. O ideal é já ter protocolos estabelecidos e manter essa rede de contatos para saber quem acionar dependendo da ocorrência. Lembrando que isso também exige frequência assim como os treinamentos.

“No caso de um sinistro, por exemplo, que envolve um refém ou tiroteio, qual é a análise de risco a ser feita? Como se faz uma negociação preliminar? Como acionar os órgãos  policiais para atuar nesses casos? Como o colaborador orienta as pessoas? É um trabalho diário. Não dá para fazer um protocolo e guardá-lo, acionando só quando precisar. O treinamento precisa ser constante.”

O BOPE é uma tropa de elite respeitada por toda a sociedade por sua eficiência e isso se deve aos seus protocolos, sua doutrina e, especialmente, muito treinamento.

Com isso, a orientação do tenente-coronel é: “reúna sua equipe, trabalhe a liderança na veia com os colaboradores e pense de forma sistêmica. Na hora de uma ocorrência, deve existir a coordenação no gerenciamento dessa crise, para todos saírem com a melhor segurança possível.”

Em relação ao turnover dos colaboradores, o oficial indica prospectar esse colaborador e trabalhar a formação de equipe.

“Se tiver uma visão de time, de alta performance, de valorização propondo treinamento, tendo uma escuta ativa, de introduzi-lo na forma sistêmica do shopping, esse profissional entenderá a importância do seu trabalho e isso fará com que queira permanecer e fazer parte deste grupo. É o que a gente faz no BOPE: estabelece cultura. O shopping precisa ter governança junto com seus terceirizados.”

E os lojistas precisam estar inseridos nesta cultura? Segundo Nascimento, é importante compartilhar conhecimento para que todos colaborem de alguma forma. 

Mais recursos 

As equipes de segurança contam com a tecnologia como aliada e não existe uma regra para utilizar tudo o que existe hoje, como softwares, câmeras, reconhecimento facial, CFTV, leitor automático de placas etc. O importante é ter tudo muito bem coordenado e direcionado conforme a abordagem pretendida. Não existe uma regra, cada shopping é único e o gestor precisa liderar esse processo dentro da análise de risco. Com o uso de inteligência mais equipamentos e softwares integrados com equipes bem treinadas, diminuem-se os riscos. 

Setor unido

(Foto: iStock)

Em segurança, a ajuda mútua é fundamental para cuidar do negócio. Por isso, existe uma comunicação eficiente e rápida entre todos os gestores de shopping centers do país.  De acordo com o tenente-coronel Nascimento, assim como o BOPE enfrenta a criminalidade – que tenta o tempo todo ultrapassar suas metodologias -, determinados grupos e organizações criminosas podem estar atuando em algum lugar e, logo, migrar para outras regiões. “O crime tem essa ambição de ocupar espaços. Então, a comunicação é importantíssima para os gestores. Ao mesmo tempo, quando existe uma ação efetiva da polícia, acaba inibindo sua continuidade.” Ou seja, esses estudos de caso são importantes para frear novos fatos. 

Por isso, os shoppings devem procurar os comandos de unidade e as próprias delegacias para se criar, pelo menos de forma básica, um plano de contingência em qualquer caso de sinistro. 

Parceria público e privada

Os investimentos em segurança privada e pública são elevados e a parceria entre ambos é essencial. É impossível ver o Brasil hoje sem o apoio da iniciativa privada. Mesmo assim, a população segue assustada com o aumento dos crimes nas ruas. O país continua enfrentando uma escalada da violência.

“Em nações de primeiro mundo, a polícia é a última ferramenta e só é acionada quando tudo falha – educação, oportunidade, emprego, instituições públicas, saúde… Se a lei for descumprida, a polícia vai atuar. No Brasil, especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, é o inverso. Se coloca a segurança pública na frente de todos esses atores que já deveriam estar envolvidos. Existe a naturalização da violência. Então, em uma sociedade comum civilizada, não precisaria investir esses valores para gerar essa sensação de segurança. A própria população já deveria entender isso. Mas não é o que acontece. É uma grande bola de neve e não vejo uma saída, assim, tão fácil, para a segurança privada e pública. Cada vez mais, ela estará à frente de todas as pastas.”

Saúde mental

Assim como os oficiais precisam de apoio psicológico para enfrentar os desafios diários da profissão, quem trabalha no setor privado também deve ter esse suporte. É necessário oferecer treinamentos contínuos e, sobretudo, desenvolver um olhar atento por parte dos gestores, líderes e dos próprios colegas de trabalho. Esses profissionais lidam constantemente com situações de risco e, muitas vezes, embora estejam ali para garantir a segurança da sociedade, não têm sua própria segurança assegurada. Por isso, é sempre preciso ter atenção com a saúde mental. 

A realidade das polícias, por exemplo, mostra que quem deveria garantir segurança pode, em certas situações, ser o maior alvo da violência. Por isso, é fundamental que os líderes estejam próximos da operação, escutando e aprendendo com quem vive os desafios.

Resumindo, os gestores de shoppings, neste sentido, devem manter uma conexão constante com lideranças externas, como a de batalhões e outras frentes de segurança, para trocar experiências e atualizar práticas. Essa troca oferece não apenas conhecimento técnico, mas também apoio emocional e visão ampliada sobre os problemas enfrentados. O shopping precisa dialogar com o que está fora dele. É um trabalho desafiador, e todos os profissionais envolvidos na segurança merecem reconhecimento por enfrentarem essas realidades diariamente.

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