JUL/AGO 2022 - Edição 242 Ano 35 - VER EDIÇÃO COMPLETA

Toda a potência de Fafá de Belém

17 de agosto de 2022 | por Solange Bassaneze | fotos: Aryanne Almeida
Referência na cultura brasileira, a artista é uma das vozes mais expressivas do Brasil e usa sua projeção para abrir o debate contra o etarismo

A cantora Fafá de Belém foi uma das estrelas que abrilhantou as tardes de domingo na segunda temporada do programa The Voice+, da TV Globo, e, não à toa, o público aguarda ansiosa a estreia da próxima temporada. Fafá se emocionou, gargalhou, compartilhou conhecimento, brilhou e acendeu a chama para a discussão sobre etarismo – preconceito contra idade.

“O The Voice + é uma oportunidade de retirar a capa de invisibilidade que a sociedade quer colocar nas pessoas a partir de determinada idade. É uma bandeira que eu levanto desde o início da pandemia, por exemplo. Nós somos a próxima revolução, não podemos ser colocados para escanteio. O programa mostra mulheres e homens que tiveram a coragem de dar a volta por cima em uma sociedade careta que fala que quem tem mais de 50 anos é velho. Mas eles foram lá, cheios de tesão e de coragem e foi muito forte e reconfortante para o meu coração. Eles deram, e dão, uma aula de que eles podem, sim!’, declara. 

A artista venceu inúmeras barreiras na carreira, o que demonstra sua resistência, e é um símbolo para as mulheres. 

A cantora Fafá de Belém foi uma das estrelas que abrilhantou as tardes de domingo na segunda temporada do programa The Voice+, da TV Globo, e, não à toa, o público aguarda ansiosa a estreia da próxima temporada. Fafá se emocionou, gargalhou, compartilhou conhecimento, brilhou e acendeu a chama para a discussão sobre etarismo – preconceito contra idade.

“O The Voice + é uma oportunidade de retirar a capa de invisibilidade que a sociedade quer colocar nas pessoas a partir de determinada idade. É uma bandeira que eu levanto desde o início da pandemia, por exemplo. Nós somos a próxima revolução, não podemos ser colocados para escanteio. O programa mostra mulheres e homens que tiveram a coragem de dar a volta por cima em uma sociedade careta que fala que quem tem mais de 50 anos é velho. Mas eles foram lá, cheios de tesão e de coragem e foi muito forte e reconfortante para o meu coração. Eles deram, e dão, uma aula de que eles podem, sim!’, declara. 

A artista venceu inúmeras barreiras na carreira, o que demonstra sua resistência, e é um símbolo para as mulheres. Foram diversas conquistas de Fafá que mostram o empoderamento feminino. O fato de assumir seus cabelos brancos, por exemplo, fez com que se conectasse com várias outras mulheres. E para quem tem mais de 50 anos, ela deixa a mensagem: “Não deem bola para envelhecer. Procurem aprender coisas novas todos os dias, é isso que eu faço. O mundo muda o tempo todo.”

Fatos memoráveis

Com quase 50 anos de carreira, o gosto pela música surgiu quando era menina e, ainda na adolescência, começou a se apresentar e fez suas primeiras composições.

Dois anos depois de mudar-se para o Rio de Janeiro, lançou Filho da Bahia, trilha sonora da novela Gabriela e seu primeiro disco, Tamba-Tajá, veio em 1976. Em seguida, gravou seu segundo álbum, Água e, depois Banho de Cheiro. O maior sucesso aconteceu em 1979 com a canção Sob Medida, do CD Estrela Radiante. Nas décadas seguintes, vieram mais lançamentos.

Os dois últimos foram Do Tamanho Certo Para o Meu Sorriso (2015), em comemoração aos 40 anos de sua carreira, e Humana (2019), considerado um dos 25 melhores discos do ano.

Com essa longa trajetória, o que não faltam são lembranças especiais. Fafá destaca algumas delas.

“Eu vivi muita coisa na minha carreira. Um dos momentos marcantes foi minha participação ativa na transição política do Brasil, na ditadura.”

A cantora foi uma das artistas mais atuantes durante a redemocratização do país. E continua: “Outros momentos importantes, sem dúvida, foram as apresentações para três Papas.” Católica, Fafá foi convidada pelo Vaticano para cantar na visita do Papa João Paulo II, em 1997, durante a missa realizada no estádio do Maracanã, em 2006, para Bento XVI, em uma cerimônia na Espanha, e, em 2013, diante do Papa Francisco, na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. 

Há ainda outras memórias afetivas que carrega em um lugar reservado do coração. “Lembro também da emoção de cantar em Fátima no dia do meu aniversário, em 9 de agosto 2020, e, de todas as vezes, em que conduzi a Varanda de Nazaré, durante o Círio.” A live em Portugal aconteceu durante a pandemia, no auditório do Centro de Estudos de Fátima, onde fica a basílica da santa padroeira, e Fafá também comemorou seus 45 anos de carreira. 

A artista tem uma ligação muito forte com o povo português, inclusive, gravou em Portugal, o disco Meu Fado, em 1992. É uma admiração de muitos anos também. “Eles têm realmente um carinho enorme comigo, mas me tratam como uma pessoa normal. Não tem o culto ao ego como aqui. Como tenho um apartamento em Lisboa, sempre que posso, estou em Portugal”, conta.

Criada em 2011 por Fafá, a Varanda de Nazaré é o principal projeto em andamento da artista e acontece em outubro em Belém (PA), durante o Círio de Nazaré, a maior festividade católica do Brasil. “Ele volta na forma presencial. Será uma retomada linda e estamos planejando muitas atividades.” 

De volta às origens

A maior artista do Pará faz questão de retornar a sua terra natal para, inclusive, matar a saudade. “Procuro ir sempre a Belém. Ainda tenho família e muitos amigos lá. Sinto falta do cheiro da cidade e das comidas da minha avó. Trago muita coisa do Pará em mim, gosto de andar descalça, da culinária, do tempero, dos banhos de ervas… Belém está dentro de mim. Tenho lembranças lindas da casa sempre cheia, do som do violão, dos almoços grandes e da gente brincando na rua. Fui criada solta, tomando banho de rio em Belém”, recorda. 

Dona de uma energia contagiante e da gargalhada mais cativante do país, Fafá eleva o astral por onde passa. A receita para encarar a vida com tanta leveza, ela mesmo conta:

“Eu não tenho um temperamento de humor depressivo, sou mais para eufórica mesmo. Sempre fui assim. Acredito que o grande segredo é nunca esquecer as origens, ser sempre grata que o retorno vem. Eu trabalho muito, mas sempre com felicidade e alegria.”

Na pandemia

Assim como todo mundo, ela também sentiu falta do convívio durante o período de isolamento na crise sanitária. “Ficar longe dos palcos e das pessoas, sem dúvida, foi a maior dificuldade. Eu sou muito livre, viajo muito durante o ano, então, ficar em casa, sozinha, foi complicado. Há muitos anos que não permanecia um mês inteiro em casa. Tive que mudar toda a escala do ano por conta da pandemia. Tive alguns dias complicados. Eram 15 dias, que viraram quatro meses, e que parecia que ia durar pra sempre.” Ao mesmo tempo, ela buscou como preencher essa lacuna do tempo.

“Por outro lado, aproveitei o isolamento social para cozinhar, aprender a mexer com essas coisas de computador e a partir das redes sociais conversar com os fãs. Também meditei, maratonei algumas séries e escrevi muito.” E na retomada das atividades, segundo Fafá, foi maravilhoso reencontrar o público.

Mãe e avó

Fafá é mãe de Mariana Belém, filha fruto relacionamento com Raul Mascarenhas, e também avó de Laura e Julia. E ela também vive intensamente os momentos em família.

“Na maternidade, estamos construindo a nossa vida e ser mãe vira uma caixinha de surpresa. Você quer que tudo dê certo. Agora quando você vira avó, você já tem mais sabedoria. Eu fui uma mãe muito rigorosa, não queria que Mariana fosse aquela filha de artista chata. Como avó, minhas netas sabem que podem transgredir comigo. Mas eu não ultrapasso as regras dos pais.”

Nas redes sociais, Fafá compartilha alguns desses momentos para a alegria dos fãs.

E o nosso desejo é venham muitas histórias, canções, apresentações, shows para que o público possa aprender, se inspirar e admirar essa artista que carrega o nome de Belém e merece todo o reconhecimento por onde passa. E segundo Fafá ainda tem muito o que mostrar na sua carreira: “Tenho muito orgulho da minha trajetória e muito respeito por tudo o que construí. Mas ainda tenho mais 50 anos pela frente.”

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