Seminário de Operações e Segurança da Abrasce atualiza e capacita
Novas tecnologias, protocolo de segurança e práticas operacionais marcam a edição especial
Cerca de 140 profissionais de diferentes regiões do país se reuniram no Teatro do MorumbiShopping, em 14 de outubro, para acompanhar a edição especial do Seminário de Operações e Segurança. Com uma programação intensa, o evento trouxe muito conteúdo pela manhã. À tarde, foi a vez de um grupo participar do simulado no Shopping Market Place. Além disso, houve muito networking e encontros.
Gabriella Oliveira, diretora de Planejamento Estratégico e Operações da Abrasce, abriu o evento destacando a importância da capacitação das equipes de operação e de segurança e enalteceu que os temas foram pensados para serem aplicados na prática. “A Associação tem entendido cada vez mais a importância de estarmos preparados no back office. Somos um setor resiliente, que inova de forma muito constante, e a entrega ao consumidor final precisa ser eficiente e, sobretudo, segura.” Pontuou ainda que investir no conhecimento faz diferença, permitindo evoluir continuamente e cumprir com excelência o propósito do setor.

Os patrocinadores também estiveram presentes e reforçaram a relevância do trabalho desenvolvido pela Associação. Para Cassiano Antequeira, CEO da Intranet Mall, este é um dos encontros mais importantes do setor. “Somos da área de tecnologia, mas também apoiamos os times de operação e segurança, porque são, na prática, os nossos maiores usuários nos shoppings.” Presente em 350 shoppings no Brasil, a empresa traz mais uma novidade ao mercado:
“A implementação de inteligência artificial no módulo de notificações permitirá que os usuários interajam com a IA por voz ou mesmo envio de imagens, gerando automaticamente notificações para a loja e informando todos os envolvidos. O lançamento está previsto para janeiro, e a empresa já se dispõe a realizar testes com clientes interessados, por meio do time comercial”, conta Antequeira.

Douglas Moraes, diretor comercial e de marketing da Ourolux, também foi um dos patrocinadores e enfatizou o compromisso da empresa com eficiência energética. Com 33 anos de atuação, oferece sistemas de iluminação com menor consumo de energia e tem uma unidade de negócios de energia fotovoltaica, além de uma nova geração de baterias (BES), essa em parceria com a Sungrow, capaz de substituir geradores a diesel e garantir funcionamento contínuo em períodos de apagão. “Tudo isso integrado a sistemas de IoT e controles inteligentes, com segurança e eficiência. Esse conjunto de baterias armazena energia, podendo reduzir o consumo nos horários de pico com payback entre 2 e 3 anos dependendo do projeto, mesmo que o shopping compre a energia no Mercado Livre”, detalha Moraes. O BES (Battery Energy Storage) também permite conexão a estações de carregamento de veículos elétricos, gerando receita adicional e reforçando a sustentabilidade.

Medidas de combate a incêndios de veículos eletrificados
Entre os temas abordados nas palestras, um dos destaques foi o painel com Marcelo Valle, CEO da MValle, e Roger Salvador, gerente corporativo de segurança da Iguatemi, em que trouxeram orientações práticas de segurança e de combate a incêndios em veículos eletrificados, alinhando-se ao protocolo elaborado pela Abrasce. Por ser algo recente e com uma frota de veículos em ascensão, o assunto passou a fazer parte da rotina dos shopping centers.

E o protocolo vem justamente auxiliar os shopping centers sob esse aspecto e, em especial, sobre medidas preventivas nas estações de recarga. Segundo o CEO da MValle, o documento está alinhado aos pareceres técnicos recentes do Corpo de Bombeiros Militar de São Paulo e com as diretrizes da Liga Nacional dos Bombeiros Militares, composta pelos comandantes das corporações dos 27 estados brasileiros.
“Embora essa diretriz não tenha força regulamentar, ela compila todo o estudo feito pelas corporações. Cada estado deverá, dentro de sua lei orgânica, fazer a regulamentação de normas locais de segurança contra incêndio”, explica Valle.
Essa comissão de estudos do Comitê Brasileiro de Segurança Contra Incêndio (CB 24) tem sido fundamental para o desenvolvimento de orientações técnicas contra incêndio em veículos eletrificados, especialmente no que diz respeito às baterias. Existe um processo de co-organização de ensaios, saindo de um conhecimento teórico para um prático muito rápido. Especialista na área, Valle tem mais de 200 ensaios e treinamentos com fogo real em baterias. Trabalha com consultoria e treinamento para todo ciclo da bateria, desde a sua montagem da bateria até o processo de reciclagem, tendo uma grande expertise nesta área. E tem contribuído com muitas frentes.
Esses veículos estão revolucionando o mercado automotivo, oferecendo autonomia cada vez maior. Da mesma forma que se diminui o tempo de recarga das baterias, que, aliás, tem vida útil projetada para cerca de 20 anos, a manutenção tende a ser menos frequente do que nos veículos a combustão, devido à simplicidade dos sistemas elétricos e à maior eficiência dos motores. Então, existe um mercado em crescimento no mundo e há um olhar cuidadoso em relação à segurança, apesar dos índices de incêndios envolvendo veículos eletrificados serem relativamente baixos.
“São cerca de 40 milhões de veículos elétricos no mundo, um número ainda baixo em relação à frota total. Desde 2010 até junho de 2024, foram registrados apenas 511 casos de incêndios no mundo, com uma média anual de 38 incêndios. No Brasil, onde já ultrapassamos a marca de 500 mil veículos eletrificados, os registros somam cerca de 15 casos em 14 meses, considerando ônibus, automóvel, motocicleta e depósitos, o que representa menos de um incêndio por mês. Comparativamente, o risco de incêndio em veículos elétricos é significativamente menor que nos veículos a combustão, com uma proporção aproximada de um incêndio em elétricos para cada 7,3 em veículos a combustão, com base dos dados da Senasp de 2020, mas se pegarmos em termos absolutos trata-se de um incêndio de veículo elétrico para 1.686 a veículos a combustão”, explica o CEO da MValle.

O avanço da eletromobilidade trouxe novos desafios para o combate a incêndios. Apesar de apresentarem estatisticamente menor propensão a pegar fogo do que os modelos a combustão, a forma como esses incêndios se comporta é distinta e exige preparo técnico, pois é uma frota nova. A doutrina tradicional de combate a incêndios ainda está baseada em combustíveis líquidos, sólidos e gasosos. “Nós estamos lidando com um novo tipo de fogo, baseado em sistemas energéticos fechados e reativos”, explicou o palestrante, destacando que a falta de compreensão desse comportamento tem colocado bombeiros e equipes de resposta em risco.
Um erro comum é tratar incêndios em baterias como ocorrências convencionais, aplicando técnicas que funcionam em veículos a combustão, mas que se mostram ineficazes ou até perigosas. O fenômeno da fuga térmica — uma reação em cadeia que gera calor, gases e possíveis explosões — pode ocorrer de forma intermitente, reacendendo o fogo horas, dias ou até meses após o controle aparente. “O fogo apaga, mas o problema é que a fuga térmica pode reacender. Existe uma relação de retroalimentação entre o fogo e a bateria”, alerta Valle, reforçando que o combate exige monitoramento prolongado e isolamento do veículo.
O procedimento correto, segundo o palestrante, começa pela estabilização do veículo, o isolamento da área e a aproximação lateral em diagonal, com jatos de proteção. “A zona quente sempre será de 30 m em área aberta e todo o pavimento, quando em lugar fechado”, relata. O uso de grandes volumes de água é recomendado, não para extinguir o fogo diretamente, mas para resfriar as células da bateria e interromper o processo de fuga térmica, e uso de agente encapsulador. Após o controle, o veículo deve ser removido para área aberta e ventilada, sob observação térmica contínua. “Não se trata apenas de apagar o fogo, mas de entender o comportamento da energia acumulada”, afirmou o especialista, reforçando que o treinamento técnico e o planejamento pós-incêndio — o chamado aftercare — são fundamentais para evitar tragédias e garantir a segurança de todos. Valle trouxe exemplos de casos de incêndios para que a plateia pudesse ver os danos causados e os erros cometidos pelos brigadistas, explicando passo a passo, o que deveria ter sido feito. Trouxe técnicas corretas de combate, destacando o uso controlado da água como principal agente extintor, a importância da estabilização térmica das baterias e o manejo adequado das mantas e agentes encapsuladores.
Após a apresentação técnica sobre os riscos e particularidades dos incêndios em veículos eletrificados, Roger Salvador, gerente corporativo de Segurança da Iguatemi, destacou como o setor tem se mobilizado para lidar com essa nova realidade.
“Nós convidamos os clientes a carregarem seus carros nos nossos shoppings e as montadoras têm incentivado a colocarmos carregadores, o que é benéfico, mas ficamos com a responsabilidade de garantir a segurança por trás disso”, afirma. Segundo ele, a companhia passou a revisar a localização dos eletropostos – antes localizados em áreas de grande circulação, como portarias e valets – , e iniciou um trabalho de realocação para pontos mais seguros. “Além disso, foram criados protocolos próprios e realizados 15 simulados para treinar equipes e padronizar respostas rápidas em situações de emergência.”

Entre as medidas práticas adotadas, Salvador citou a criação de ‘carrinhos de crise’ equipados, lanças para ajudar no resfriamento, extintores específicos, mantas, além da capacitação de brigadas compostas por funcionários da limpeza e manutenção, para atuar antes da chegada dos bombeiros. O executivo ressaltou ainda a importância das trocas de experiência entre os shoppings e o acompanhamento das futuras normas e protocolos técnicos. “Na área de segurança, não há concorrência. A mesma dor que acontece no meu shopping pode acontecer no de qualquer outro”, concluiu, defendendo a colaboração mútua diante da expansão da mobilidade elétrica.
Salvador ressaltou que o investimento, embora elevado, é essencial. “Toda a área de carro elétrico está avaliada na análise de risco e dentro do plano de ação”, afirma. Essa palestra reforçou que a preparação humana e a padronização de procedimentos são hoje as maiores ferramentas de proteção diante dos desafios trazidos pela mobilidade elétrica. O protocolo sobre o tema da Abrasce está disponível para associados na área restrita do site e do aplicativo.
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A plateia ainda teve a oportunidade de assistir mais três palestras. Em Eficiência Energética, Clóvis Filho, gerente de operações do Shopping SP Market, e Felipe Ramalho, gestor de Utilidades da Iguatemi, apresentaram as principais estratégias trabalhadas para reduzir o consumo de energia. O Novo Estatuto do Código Civil foi o tema tratado pelo advogado e professor André Faustino que esclareceu os impactos das novas exigências relacionadas a cargos da área de segurança. E para fechar, Alexandre Judkiewicz, consultor da A.JUD Security Intelligence, mediou uma conversa sobre Diretrizes para Grandes Eventos, com o Tenente Coronel Gustavo Packer Mercadante e Nelson Barbosa Junior, advogado e gestor de segurança e estacionamento do Shopping Eldorado.
Vivenciando a prática
No período da tarde, um grupo de cerca de 50 participantes participou do simulado de combate a incêndio em veículo elétrico no Shopping Market Place. Com foco no uso do agente encapsulador F-500 e nas técnicas específicas para controle térmico e resfriamento de baterias, o treinamento foi conduzido pelo CEO da MValle.

Antes de iniciar, explicou tudo o que aconteceria passo a passo por meio de miniaturas. Segundo ele, o ideal seria uma guarnição com seis pessoas: um chefe de equipe, um controle hídrico e duas duplas em cada linha. Mas, como muitas vezes, é preciso trabalhar com efetivo reduzido, adaptou a operação. Durante o exercício, a equipe foi composta por quatro bombeiros. Um deles ficou responsável pela logística e pelo fornecimento de material, enquanto três atuaram diretamente nas linhas de combate. “O chefe de equipe terá que se desdobrar entre dar apoio e também atacar o incêndio.” E foi possível observar a maneira correta de aplicar o uso do agente extintor F-500, aplicado por meio de um esguicho proporcionador especial.

O produto tem ação altamente eficaz e é reconhecido por extinguir as chamas rapidamente. “Ele tem um cheirinho de detergente, é uma característica do aditivo. O sistema “esgota rápido, mas é muito eficaz — bateu, apagou”. Segundo Valle com o uso do F-500, o tempo estimado para controle total do incêndio é de até três minutos, enquanto o combate tradicional com água pode levar de sete a dez minutos. “O nosso problema não acaba quando o fogo apaga. Ele começa ali. O importante é garantir que a bateria esteja estável e que o veículo não volte a entrar em combustão.”

No cenário simulado, uma das linhas operou com o F-500, servindo como linha de proteção, enquanto a outra utilizou água, responsável pelo resfriamento e movimentações iniciais. “Se eu não tiver vítima, a primeira ação é calçar o veículo. Então, uma linha faz a proteção e a outra faz o calçamento. Calçou, voltou, e aí sim iniciamos o combate.”
Valle explicou ainda o conceito de zonas de segurança, fundamentais para a segurança da equipe durante o combate. A área de 3 metros ao redor do veículo é chamada de zona de evento, considerada crítica, enquanto o raio de 10 metros é definido como zona de perigo. “Carro buzinou, piscou farol, é sinal que o sistema do freio pode estar comprometido, então, ele pode se mover. A primeira ação é se aproximar e calçar as rodas.” Ao entrar na zona crítica, os bombeiros devem sempre utilizar o jato de proteção totalmente aberto e neblinado, para se protegerem contra calor e partículas projetadas. E daí se inicia o combate.

Após a extinção inicial das chamas, deve-se verificar o controle térmico da bateria. Com o fogo controlado, o líder da equipe utiliza uma câmera termográfica para medir a temperatura. “Se estiver abaixo de 150 °C, a gente inicia o resfriamento da bateria.” O resfriamento é feito com o chamado “jato mole”, técnica em que o bombeiro abre a manopla do esguicho em um terço, reduzindo a pressão da água. “Coloca a mangueira no ombro e faz o resfriamento da parte interna. A ideia é manter a temperatura da bateria abaixo do ponto de fuga térmica.”

Cada veículo exige um cuidado diferente, e o posicionamento da bateria é identificado por meio do aplicativo Ancap Rescue.

Encerrado o combate, inicia-se a fase de aftercare — cuidados pós-incêndio. Então, deve-se aplicar a manta térmica sobre o veículo, que deve permanecer isolado por até 30 horas. “Eu não posso mexer no veículo durante esse período. Se movimentar, a célula aquece de novo. O ideal é cobrir, colocar o carro em área aberta e aguardar.” Caso o carro precise ser removido de locais fechados, como shoppings ou garagens, o transporte deve ocorrer com o cobertor aplicado.

O simulado reforçou a importância do preparo técnico das guarnições para o enfrentamento de novos desafios trazidos pela frota de veículos elétricos. Com a técnica certa, o combate é rápido, seguro e eficiente. O segredo está em respeitar os protocolos e entender o comportamento do carro elétrico.
Para saber mais


O protocolo sobre carros elétricos com dicas de prevenção e segurança da Abrasce está disponível na área restrita do site para todos os associados. O conteúdo teve a consultoria do especialista Marcelo Valle, que também participou de um episódio sobre o tema no podcast Portas Abertas, disponível no Spotify. Não perca essa oportunidade de se aprofundar ainda mais neste assunto que entrou para o cotidiano dos shopping centers.




